{"id":155981,"date":"2019-12-10T13:00:00","date_gmt":"2019-12-10T16:00:00","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=155981"},"modified":"2019-12-09T22:48:43","modified_gmt":"2019-12-10T01:48:43","slug":"como-enfrentei-e-mudei-empresas-poluidoras-que-deixaram-meus-filhos-doentes","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/12\/10\/155981-como-enfrentei-e-mudei-empresas-poluidoras-que-deixaram-meus-filhos-doentes.html","title":{"rendered":"‘Como enfrentei e mudei empresas poluidoras que deixaram meus filhos doentes’"},"content":{"rendered":"\n
\"John
Contra a polui\u00e7\u00e3o do ar, John Kieti mobilizou uma comunidade inteira<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

John Kieti sempre verificou se as janelas e cortinas do seu apartamento estavam fechadas.<\/p>\n\n\n\n

Era sua maneira de conter o ar fedorento e polu\u00eddo em Syokimau, um distrito pr\u00f3ximo \u00e0 capital do Qu\u00eania, Nairobi.<\/p>\n\n\n\n

A polui\u00e7\u00e3o estava afetando a\u00a0sa\u00fade\u00a0de seus dois filhos.<\/p>\n\n\n\n

“Decidimos que bastava. N\u00e3o aguent\u00e1vamos mais”, disse ele \u00e0 BBC. “Todos os dias, acord\u00e1vamos com o cheiro ruim e o ar empoeirado. As crian\u00e7as da regi\u00e3o come\u00e7aram a desenvolver problemas respirat\u00f3rios”, lembra.<\/p>\n\n\n\n

Syokimau \u00e9 um bairro de renda m\u00e9dia, lar de mais de 5 mil pessoas, muitas delas vivendo em apartamentos de dois ou tr\u00eas quartos.<\/p>\n\n\n\n

Mas h\u00e1 tamb\u00e9m v\u00e1rias f\u00e1bricas espalhadas por ali e pr\u00f3ximas aos blocos residenciais \u2014 entre elas uma usina sider\u00fargica, uma f\u00e1brica de cimento e uma de asfalto.<\/p>\n\n\n\n

\"Homem
O n\u00edvel de polui\u00e7\u00e3o do ar em Nairobi est\u00e1 acima do recomendado pela OMS<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Kieti, junto com a esposa e filhos, mora perto da f\u00e1brica de asfalto que costumava liberar densos vapores no ar, o que era poss\u00edvel ver pela fuma\u00e7a escura que rondava a \u00e1rea.<\/p>\n\n\n\n

Em geral, a OMS registra que em Nairobi o n\u00edvel de material particulado fino est\u00e1 70% acima do recomendado. \u00c9 uma mistura t\u00f3xica que combina a fuma\u00e7a pesada de carros antigos, a queima de lixo e o subproduto de f\u00e1bricas.<\/p>\n\n\n\n

‘Os resultados foram chocantes’<\/h2>\n\n\n\n

“A polui\u00e7\u00e3o era muita. A maioria dos meus vizinhos se mudou para outros lugares”, lembra Kieti.<\/p>\n\n\n\n

Quem ficou, foi envolvido em uma mobiliza\u00e7\u00e3o da comunidade que ele passou a liderar, pedindo que a f\u00e1brica ali perto fosse fechada.<\/p>\n\n\n\n

Mas ele n\u00e3o tinha dados para mostrar com precis\u00e3o o n\u00edvel de polui\u00e7\u00e3o que a planta industrial estava causando.<\/p>\n\n\n\n

“Entrei em contato com um amigo de uma ONG que tinha medidores de\u00a0polui\u00e7\u00e3o\u00a0do ar. Conseguimos tr\u00eas sensores, que instalamos em diferentes \u00e1reas da comunidade.”<\/p>\n\n\n\n

A organiza\u00e7\u00e3o Code for Africa fornece sensores para ativistas locais preocupados com a polui\u00e7\u00e3o do ar.<\/p>\n\n\n\n

“Nossos dados s\u00e3o precisos, o que significa que qualquer pessoa em qualquer cidade pode us\u00e1-los. Eles d\u00e3o dados locais em tempo real que podem ser usados \u200b\u200bpara cobrar os governos por medidas referentes \u00e0 polui\u00e7\u00e3o do ar”, explica Yazmin Jumaali, do Code for Africa.<\/p>\n\n\n\n

“Os resultados foram chocantes. O indicador de medi\u00e7\u00e3o mostrou que o ar estava muito polu\u00eddo”, lembra Kieti.<\/p>\n\n\n\n

Os sensores de polui\u00e7\u00e3o do ar medem a quantidade de material particulado fino (PM2.5), que s\u00e3o part\u00edculas com di\u00e2metro igual ou abaixo de 2,5 micr\u00f4metros \u2014 para se ter uma ideia um gr\u00e3o de areia \u00e9 cerca de 20 vezes maior \u2014, ou seja, a part\u00edcula \u00e9 suficientemente pequena para entrar na corrente sangu\u00ednea.<\/p>\n\n\n\n

Esses dados s\u00e3o ent\u00e3o transmitidos para um site, onde podem ser acessados \u200b\u200bgratuitamente por qualquer pessoa.<\/p>\n\n\n\n

“Acord\u00e1vamos no meio da noite para monitorar a qualidade do ar. Faz\u00edamos capturas de tela que eram ent\u00e3o usadas como evid\u00eancia em nossa campanha”, diz Kieti.<\/p>\n\n\n\n

Em junho, ele e outros membros de sua comunidade lan\u00e7aram uma campanha nas redes sociais expondo os dados que haviam coletado.<\/p>\n\n\n\n

\"\"<\/figure>\n\n\n\n
\"\"<\/figure>\n\n\n\n

“Deixamos a Autoridade Nacional de Gest\u00e3o Ambiental em situa\u00e7\u00e3o delicada, marcando-as nas mensagens das redes sociais.”<\/p>\n\n\n\n

Os ve\u00edculos de comunica\u00e7\u00e3o acompanharam a campanha, produzindo reportagens sobre a polui\u00e7\u00e3o do ar n\u00e3o s\u00f3 na comunidade de Kieti mas em toda a capital queniana.<\/p>\n\n\n\n

Foram reveladas hist\u00f3rias como a de uma fam\u00edlia que acredita ter perdido sua filha por conta da polui\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Rashidah e Nazir Hakada vivem em Sawada Estate, a cerca de 30 minutos de Syokimau, que tamb\u00e9m tem v\u00e1rias f\u00e1bricas.<\/p>\n\n\n\n

Eles ainda est\u00e3o de luto pela filha de dois anos, Hafsah, que morreu em junho depois de sofrer uma infec\u00e7\u00e3o aguda do trato respirat\u00f3rio, uma condi\u00e7\u00e3o na qual os pulm\u00f5es ficam t\u00e3o inflamados que n\u00e3o conseguem fornecer oxig\u00eanio suficiente aos \u00f3rg\u00e3os vitais.<\/p>\n\n\n\n

Os m\u00e9dicos associam a inspira\u00e7\u00e3o de altas concentra\u00e7\u00f5es de fuma\u00e7a como um fator para a doen\u00e7a.<\/p>\n\n\n\n

\"Foto
Hafsah Hakada perdeu a vida ap\u00f3s uma infec\u00e7\u00e3o aguda do trato respirat\u00f3rio<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

“Nossa filha teve problemas respirat\u00f3rios. Ela foi internada primeiro em abril, depois recebeu alta. Em junho, voltamos com o mesmo problema. Ela s\u00f3 passou 48 horas l\u00e1 e morreu”, diz Hakada.<\/p>\n\n\n\n

O casal tem outros dois filhos e um deles tamb\u00e9m foi internado recentemente com problemas respirat\u00f3rios.<\/p>\n\n\n\n

“Olhe para todos esses inaladores”, diz Hakada, furiosa, enquanto o filho usa as bombas de asma. “\u00c9 muito para ele. Ele tem apenas seis anos.”<\/p>\n\n\n\n

“Quando ele tosse, tosse por toda a semana. \u00c9 um menino t\u00e3o pequeno e muito fraco.”<\/p>\n\n\n\n

Hakada e outros membros da comunidade instalaram sensores em sua vizinhan\u00e7a. E, assim como em Syokimau, eles est\u00e3o usando os dados para exigir ar limpo.<\/p>\n\n\n\n

‘Ficamos feliz<\/strong>es<\/strong> por nossa campanha ter valido \u00e0 pena’<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Eles se inspiraram em Kieti, pois seu trabalho de coleta de dados obteve resultados.<\/p>\n\n\n\n

“Finalmente tivemos a aten\u00e7\u00e3o das autoridades ambientais, que antes nos ignoravam”, diz ele.<\/p>\n\n\n\n

“Eles vieram e inspecionaram a f\u00e1brica, conversaram com os membros da comunidade e ordenaram que a f\u00e1brica fechasse at\u00e9 que fossem colocado filtros de ar”.<\/p>\n\n\n\n

Agora, os sensores est\u00e3o registrando n\u00edveis muito mais baixos de polui\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

“Ficamos felizes por nossa campanha ter valido \u00e0 pena. O mau cheiro e a fuma\u00e7a pesada n\u00e3o existem mais.”<\/p>\n\n\n\n

“A taxa de adoecimento de nossos filhos por infec\u00e7\u00f5es respirat\u00f3rias est\u00e1 diminuindo”, diz ele, sorrindo.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"