{"id":156231,"date":"2019-12-26T19:54:58","date_gmt":"2019-12-26T22:54:58","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=156231"},"modified":"2019-12-26T19:55:00","modified_gmt":"2019-12-26T22:55:00","slug":"a-tragica-historia-do-tsunami-contada-por-sobreviventes-15-anos-depois","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/12\/26\/156231-a-tragica-historia-do-tsunami-contada-por-sobreviventes-15-anos-depois.html","title":{"rendered":"A tr\u00e1gica hist\u00f3ria do tsunami contada por sobreviventes 15 anos depois"},"content":{"rendered":"\n
\"Sobreviventes
Sobreviventes andam pelos escombros da praia de Patong, em Phuket, no dia seguinte ao tsunami<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Pouco antes das 8h do dia 26 de dezembro de 2004, um terremoto de magnitude 9,1 atingiu o mar no norte da Indon\u00e9sia.<\/p>\n\n\n\n

Nas horas que se seguiram, um enorme tsunami varreu o Oceano \u00cdndico, matando cerca de 230 mil pessoas, a maioria na Indon\u00e9sia.<\/p>\n\n\n\n

Para marcar o 15\u00ba anivers\u00e1rio da trag\u00e9dia, o rep\u00f3rter Chaiyot Yongcharoenchai, da BBC Thai, o servi\u00e7o de not\u00edcias em tailand\u00eas da BBC, visitou o sul da Tail\u00e2ndia, que foi devastado pelo tsunami.<\/p>\n\n\n\n

Confira abaixo os relatos de alguns dos que sobreviveram e o que eles fizeram para ajudar os demais afetados por essa trag\u00e9dia.<\/p>\n\n\n\n

Wittaya Tantawanich – socorrista, praia de Patong – “N\u00e3o parecia a onda assassina que voc\u00ea v\u00ea nos filmes”<\/h2>\n\n\n\n

Naquela manh\u00e3, a praia de Patong estava muito tranquila. Estava estacionado perto do Hospital Patong em uma viatura de resgate. Ent\u00e3o fiquei com fome e dirigi em dire\u00e7\u00e3o \u00e0 praia para encontrar algo para comer. Sentei l\u00e1 para desfrutar o meu caf\u00e9 da manh\u00e3 com vista para a praia. Enquanto estava sentado, senti o terremoto por volta das 8h. Ningu\u00e9m entrou em p\u00e2nico ou ficou preocupado. Continuei sentado ali esperando receber uma liga\u00e7\u00e3o de emerg\u00eancia.<\/p>\n\n\n\n

\u00c0s 10h, comecei a ouvir vendedores de comida locais, que estavam apontando para a praia. Todos disseram ‘Vamos pescar’. A \u00e1gua tinha recuado muito, para o meio do mar, e havia muitos peixes espalhados por todo o lugar.<\/p>\n\n\n\n

Ri com o que vi, mas n\u00e3o demorou muito para perceber que algo estava errado. Quando a \u00e1gua voltou, um vendedor de alimentos apareceu correndo e disse a todos naquela \u00e1rea que fugissem da praia o mais r\u00e1pido poss\u00edvel.<\/p>\n\n\n\n

\"Wittaya
Socorrista Wittaya Tantawanich: “Fechei os olhos, orei e me preparei para morrer”<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

N\u00e3o parecia a onda assassina que voc\u00ea v\u00ea nos filmes. O que vi no in\u00edcio foi apenas uma inunda\u00e7\u00e3o repentina que trouxe consigo uma quantidade enorme de \u00e1gua. \u00c0 medida que a inunda\u00e7\u00e3o se aproximava, come\u00e7ou a ganhar velocidade. Finalmente chegou ao n\u00edvel da rua e a \u00e1gua continuou a subir. Voltei para a minha viatura e subi a colina. Naquele momento, tudo estava louco. V\u00e1rias pessoas estavam fugindo da \u00e1gua.<\/p>\n\n\n\n

Ouvi no meu walkie-talkie que a segunda onda havia chegado. N\u00e3o demorou muito para que toda a cidade mergulhasse em um caos. Voltei depois que a segunda onda recuou. Naquele momento, ainda n\u00e3o tinha ideia do que havia acontecido. Tudo que sabia era que tinha que ajudar as pessoas.<\/p>\n\n\n\n

Recebi um pedido para ir a um supermercado na estrada da praia, onde muitas pessoas estariam presas. Quando cheguei, vi funcion\u00e1rios flutuando de bru\u00e7os na \u00e1gua que inundava o por\u00e3o do edif\u00edcio. Alguns deles ainda estavam vivos, mas muitos deles j\u00e1 haviam morrido.<\/p>\n\n\n\n

Quando tentamos ajudar mais pessoas no supermercado, ouvi de fora que outra onda estava chegando. Estava procurando a sa\u00edda mais pr\u00f3xima, mas sabia que n\u00e3o conseguiria. Ent\u00e3o fechei os olhos, orei e me preparei para morrer. Felizmente, chegou ao n\u00edvel da rua e parou.<\/p>\n\n\n\n

\"Centenas
Centenas de caix\u00f5es foram acomodados dentro do templo Yan Yao em dezembro de 2004<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Trabalhei como socorrista durante toda a minha vida, mas nunca havia experimentado algo t\u00e3o grande.<\/p>\n\n\n\n

Dr. Weerawit Sarideepan – ex-m\u00e9dico do Hospital Vachira Phuket – “Senti o cheiro de cad\u00e1veres como nunca antes na minha vida”<\/h2>\n\n\n\n

Era o dia seguinte \u00e0 festa de fim de ano da equipe do hospital – estava curtindo meu dia de folga e passei muitas horas deitado descansando.<\/p>\n\n\n\n

\u00c0s 8h, ouvi as janelas do meu quarto de madeira tremendo. Disse \u00e0 minha esposa que deveria ser algum carro do lado de fora. Ent\u00e3o, voltei a dormir.<\/p>\n\n\n\n

Quando acordei novamente por volta das 10h, levei minha fam\u00edlia para tomar caf\u00e9 da manh\u00e3 antes de receber um telefonema do hospital me chamando para uma emerg\u00eancia. T\u00ednhamos um plano para lidar com um desastre em grande escala. Mas n\u00e3o t\u00ednhamos nenhum plano para algo de tamanha grandeza.<\/p>\n\n\n\n

O diretor do hospital me pediu para ajudar a implantar microchips nos cad\u00e1veres, conforme solicitado pela pol\u00edcia forense. Quando cheguei, a pol\u00edcia local me levou a Wat Yan Yao, onde havia milhares de cad\u00e1veres esperando para serem identificados. Ao entrar no templo, pude sentir o cheiro de cad\u00e1veres como nunca antes na minha vida. Notei o ch\u00e3o do templo coberto de sangue e fluidos corporais.<\/p>\n\n\n\n

Centenas de pessoas foram enviadas. A maioria delas teve fraturas nos ossos ou cortes em seus corpos. Ent\u00e3o come\u00e7amos a receber cad\u00e1veres.<\/p>\n\n\n\n

Samran Chanyang – mestre de cerim\u00f4nias e agente funer\u00e1rio no templo Yan Yao – “Meu filho ficou preso e morreu dentro do pr\u00e9dio”<\/h2>\n\n\n\n

Liderei a cerim\u00f4nia de ora\u00e7\u00e3o na manh\u00e3 de 26 de dezembro de 2004, um dia sagrado budista. Fiz a prece no microfone, para que todos pudessem ouvi-la. De repente, a luz acabou e sentimos o terremoto. Continuei sem o alto-falante depois.<\/p>\n\n\n\n

A cerim\u00f4nia terminou como qualquer outro dia. Depois voltei para minha casa, logo atr\u00e1s do templo.<\/p>\n\n\n\n

\"Samran
Samran Chanyang n\u00e3o pode buscar paradeiro do filho<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

De repente, ouvi muitos carros passarem na rua principal. Todos eles estavam acelerando e buzinando. Ent\u00e3o os moradores come\u00e7aram a falar sobre como os vilarejos ao longo da praia desapareceram por causa da onda.<\/p>\n\n\n\n

Liguei a TV e vi o que aconteceu na minha \u00e1rea. N\u00e3o sabia sobre o tsunami at\u00e9 ent\u00e3o. Fiquei chocado e preocupado porque que meu filho foi trabalhar em Khao Lak [na costa continental ao norte de Phuket]. Ele era pintor e aquele seria seu \u00faltimo dia \u00fatil antes de um longo recesso. Liguei para ele, mas n\u00e3o consegui contat\u00e1-lo.<\/p>\n\n\n\n

No dia seguinte, mais corpos come\u00e7aram a aparecer. Os militares come\u00e7aram a trazer cont\u00eaineres para manter os corpos. Na metade do segundo dia, vi uma montanha de cad\u00e1veres se acumulando e foi uma cena muito triste de ver.<\/p>\n\n\n\n

Os tr\u00eas amigos do meu filho me disseram que ele estava desaparecido. Estava prestes a sair para procur\u00e1-lo, mas o hospital entrou em contato comigo. Eles disseram que precisavam de um lugar para colocar os mortos do tsunami, ent\u00e3o tive que aguardar no templo, esperando o carregamento dos corpos.<\/p>\n\n\n\n

\u00c0s 19h, centenas de cad\u00e1veres come\u00e7am a chegar. Como n\u00e3o t\u00ednhamos lugar para eles, foram embrulhados em len\u00e7\u00f3is de pl\u00e1stico e brancos antes de ocuparem todo o ch\u00e3o do templo.<\/p>\n\n\n\n

Sa\u00ed com meus outros filhos e amigos para procurar meu filho mais velho. Levei metade de dia para encontr\u00e1-lo. Ele ficou preso e morreu dentro do pr\u00e9dio onde estava.<\/p>\n\n\n\n

\"Capit\u00e3o
Navio do capit\u00e3o Sathaporn Sawangpuk atravessou onda do tsunami<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Sathaporn Sawangpuk – capit\u00e3o do navio Mahidol – “Foi uma onda como nenhuma outra”<\/h2>\n\n\n\n

Est\u00e1vamos voltando de uma viagem de pesquisa marinha de um m\u00eas no Oceano \u00cdndico. Fizemos uma parada na ilha Koh Racha Yai em Phuket para uma aula de mergulho para nossos estagi\u00e1rios. O mar estava bastante calmo, o c\u00e9u estava t\u00e3o claro e azul. Disse \u00e0 minha equipe: ‘Que dia perfeito para estar no mar’.<\/p>\n\n\n\n

Depois do caf\u00e9 da manh\u00e3, todos n\u00f3s fomos ao conv\u00e9s do navio para assistir ao estagi\u00e1rio mergulhando com instrutores. De repente, senti a embarca\u00e7\u00e3o levantar e girar para a esquerda e para a direita. N\u00e3o t\u00ednhamos ideia do que aconteceu, mas meu instinto me disse para ligar os motores e seguir para o meio do mar.<\/p>\n\n\n\n

Quando olhei em dire\u00e7\u00e3o \u00e0 costa da ilha, vi uma grande onda atingir a praia e varrer guarda-chuvas e cadeiras para dentro do mar.<\/p>\n\n\n\n

Ent\u00e3o a \u00e1gua recuou, bem longe, antes que a segunda onda atingisse a praia novamente.<\/p>\n\n\n\n

Desta vez, arrastou bangal\u00f4s e restaurantes at\u00e9 o mar. Foi uma onda como nenhuma outra.<\/p>\n\n\n\n

Primpraow Jitpentom – enfermeira em uma viagem de mergulho perto do navio Mahidol – “Tudo o que vi foram os cad\u00e1veres flutuando na \u00e1gua”<\/h2>\n\n\n\n

Levei meus amigos de Bangcoc para passeio do navio naquela manh\u00e3 de domingo. Fiz isso muitas vezes, mas meu marido nunca tinha mergulhado. Disse a ele que realmente valeria a pena.<\/p>\n\n\n\n

\"Somchai
Somchai e Primpraow Jitpentom, que trataram feridos durante f\u00e9rias<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Nossa lancha estava se aproximando da costa. De repente, o instrutor de mergulho mandou o motorista parar, pois percebeu que havia algo errado. Ele apontou para o mar e me disse que n\u00e3o havia \u00e1gua na praia. Ele me disse: ‘Isso n\u00e3o pode ser bom.’<\/p>\n\n\n\n

Decidimos ir para a ilha de Phi Phi, pois n\u00e3o era muito longe e eles haviam sido gravemente atingidos. Quando chegamos, n\u00e3o era algo que eu esperava. Tudo o que vi foram cad\u00e1veres flutuando na \u00e1gua.<\/p>\n\n\n\n

Decidimos ajudar apenas os sobreviventes feridos. Finalmente resgatamos pelo menos 414 turistas e moradores locais e os transferimos para um hospital mais equipado em Phuket. Ficamos felizes em ajudar muitas pessoas naquele dia.<\/p>\n\n\n\n

Dei um abra\u00e7o apertado nos meus filhos e disse a eles: ‘Mam\u00e3e e papai amam muito voc\u00eas. Se alguma coisa acontecer, usem este colete salva-vidas. N\u00e3o tentem nadar, algu\u00e9m vai encontr\u00e1-los e ajud\u00e1-los.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"