{"id":156567,"date":"2020-01-20T20:21:36","date_gmt":"2020-01-20T23:21:36","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=156567"},"modified":"2020-01-20T20:21:38","modified_gmt":"2020-01-20T23:21:38","slug":"o-grupo-de-cientistas-que-descobriu-as-regras-que-orientam-a-vida-no-planeta-e-mudou-nossa-visao-do-mundo","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2020\/01\/20\/156567-o-grupo-de-cientistas-que-descobriu-as-regras-que-orientam-a-vida-no-planeta-e-mudou-nossa-visao-do-mundo.html","title":{"rendered":"O grupo de cientistas que descobriu as regras que orientam a vida no planeta e mudou nossa vis\u00e3o do mundo"},"content":{"rendered":"\n
\"Robert
Robert Paine descobriu a primeira pe\u00e7a do quebra-cabe\u00e7a e cunhou o termo ‘esp\u00e9cie-chave’<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

“Esta \u00e9 uma hist\u00f3ria de esperan\u00e7a aut\u00eantica, fundamentada na\u00a0ci\u00eancia\u00a0e baseada em experi\u00eancias da vida real, sobre o que pode ser feito.”<\/p>\n\n\n\n

A hist\u00f3ria a que o bi\u00f3logo Sean B. Carroll se refere \u00e9 sobre a recupera\u00e7\u00e3o de paisagens, ressurgimento de florestas, retorno de esp\u00e9cies e o florescer de novas vidas.<\/p>\n\n\n\n

Tudo isso gra\u00e7as ao trabalho pioneiro de cinco cientistas de quem talvez voc\u00ea n\u00e3o tenha ouvido falar, mas que t\u00eam algo importante a dizer.<\/p>\n\n\n\n

No espa\u00e7o de seis d\u00e9cadas, cada um deles foi adicionando seu conhecimento para testar uma hip\u00f3tese \u2014 at\u00e9 chegar a uma teoria reveladora.<\/p>\n\n\n\n

“Eles viram coisas que ningu\u00e9m havia visto antes, pensaram coisas que at\u00e9 ent\u00e3o ningu\u00e9m havia pensado e o que descobriram mudou a maneira como vemos a natureza”, diz Carroll, em entrevista \u00e0 BBC News Mundo, servi\u00e7o em espanhol da BBC.<\/p>\n\n\n\n

E ele n\u00e3o est\u00e1 exagerando.<\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m disso, demonstraram que, embora a interven\u00e7\u00e3o do homem possa ser \u2014 e tenha sido \u2014 prejudicial ao planeta, ela tamb\u00e9m pode ser ben\u00e9fica, “algo que precisamos levar em conta nesse momento”.<\/p>\n\n\n\n

O que sab\u00edamos<\/h2>\n\n\n\n

Todos esses cientistas come\u00e7aram a partir de uma vis\u00e3o de mundo que talvez, hoje, seja familiar a todos n\u00f3s.<\/p>\n\n\n\n

As plantas recebem luz solar e a transformam em alimento; alguns animais comem essas plantas e, em seguida, predadores se alimentam de alguns desses devoradores de plantas.<\/p>\n\n\n\n

\"Pir\u00e2mide
A cadeia alimentar \u00e9 um conceito amplamente conhecido, mas h\u00e1 mais<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Mas, na d\u00e9cada de 1960, um destes cientistas, o ambientalista americano Robert Paine, se perguntou se os predadores n\u00e3o eram realmente nada al\u00e9m disso, se o seu papel na natureza se reduziria apenas a comer carne na cadeia alimentar.<\/p>\n\n\n\n

O problema era como investigar…<\/p>\n\n\n\n

“Voc\u00ea n\u00e3o pode tirar todos os le\u00f5es de um ambiente para ver o que acontece”, escreve Carroll no livro The Serengeti Rules – The Quest to Discover How Life Works and Why It Matters <\/em>(“As regras dos Serengeti – a miss\u00e3o de descobrir como a vida funciona e por que ela \u00e9 importante”, em tradu\u00e7\u00e3o livre).<\/p>\n\n\n\n

Ele precisava de um lugar onde todo o ecossistema estivesse contido e tivesse um tamanho gerenci\u00e1vel.<\/p>\n\n\n\n

At\u00e9 que encontrou as po\u00e7as de mar\u00e9 da Ba\u00eda de Makah, no noroeste dos Estados Unidos, onde havia tudo o que ele precisava: cerca de 15 esp\u00e9cies de organismos, gastr\u00f3podes carn\u00edvoros se alimentando de cracas, ouri\u00e7os-do-mar se alimentando de algas…<\/p>\n\n\n\n

\"Po\u00e7a
As po\u00e7as de mar\u00e9 estavam cheias de vida… e de estrelas do mar<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

… e, o mais importante, um grande predador: estrelas-do-mar.<\/p>\n\n\n\n

“As pessoas veem e pensam: ‘Que lindas!’ Mas elas s\u00e3o ferozes. S\u00e3o grandes devoradoras. Comem cracas, s\u00e3o fascinadas por mexilh\u00f5es… s\u00e3o os le\u00f5es das po\u00e7as de mar\u00e9”, diz Paine no document\u00e1rio The Serengeti Rules <\/em>(“As regras dos Serengeti”, em tradu\u00e7\u00e3o livre), baseado no livro de Carroll.<\/p>\n\n\n\n

Com e sem estrelas<\/h2>\n\n\n\n

Ele podia dar in\u00edcio ent\u00e3o ao experimento.<\/p>\n\n\n\n

Paine tirou as estrelas-do-mar de uma das po\u00e7as de mar\u00e9, mas de outra, n\u00e3o \u2014 e, durante meses, observou o que acontecia.<\/p>\n\n\n\n

Logo ele come\u00e7ou a notar as mudan\u00e7as na piscina sem estrelas-do-mar: os mexilh\u00f5es come\u00e7aram a se multiplicar, enquanto outras esp\u00e9cies desapareciam.<\/p>\n\n\n\n

\"Po\u00e7a
As po\u00e7as de mar\u00e9 foram um laborat\u00f3rio natural para Robert Paine<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Ap\u00f3s alguns anos, das 15 esp\u00e9cies que existiam originalmente restavam apenas os mexilh\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n

Paine retirou esp\u00e9cies diferentes de outras piscinas \u2014 mas em nenhum dos casos aconteceu o mesmo.<\/p>\n\n\n\n

Claramente, a diversidade nas po\u00e7as de mar\u00e9 dependia das estrelas-do-mar.<\/p>\n\n\n\n

O predador era o basti\u00e3o do ecossistema.<\/p>\n\n\n\n

Os experimentos dele mostraram que em ecossistemas maduros alguns animais s\u00e3o mais importantes que outros.<\/p>\n\n\n\n

E decidiu chamar esses animais de “esp\u00e9cies-chave”, por terem um papel vital na estrutura do ecossistema.<\/p>\n\n\n\n

A exce\u00e7\u00e3o ou a regra?<\/h2>\n\n\n\n

Paine havia estabelecido as bases, mas era necess\u00e1rio saber se o que descobrira era uma regra de vida ou uma peculiaridade.<\/p>\n\n\n\n

Felizmente, a ci\u00eancia costuma ser um trabalho em equipe \u2014 que n\u00e3o precisa ser feito ao mesmo tempo, tampouco no mesmo local.<\/p>\n\n\n\n

\"Detalhe
A ci\u00eancia \u00e9 geralmente como um quebra-cabe\u00e7a: Paine encontrou a primeira pe\u00e7a<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

No sudoeste do Alasca, h\u00e1 uma ilha vulc\u00e2nica chamada Amchitka, onde voc\u00ea \u00e9 recebido por uma placa com os dizeres: “N\u00e3o \u00e9 o fim do mundo … mas daqui voc\u00ea pode v\u00ea-lo”.<\/p>\n\n\n\n

O fim do mundo n\u00e3o era exatamente o que o ecologista marinho Jim Estes estava estudando nesse remoto lugar.<\/p>\n\n\n\n

O interesse dele estava debaixo d’\u00e1gua, onde havia encontrado uma floresta de algas que, assim como os bosques na superf\u00edcie terrestre, fornecia um habitat para muitas esp\u00e9cies, incluindo um grande n\u00famero de lontras-marinhas.<\/p>\n\n\n\n

Um dia, Paine resolveu ir at\u00e9 o lugar seguindo um novo ponto de vista: em vez de ver a floresta como o suporte para as lontras-marinhas, pensaria nas lontras como esp\u00e9cie-chave predadora desse habitat.<\/p>\n\n\n\n

“Esse foi o come\u00e7o do resto da minha vida”, conta Estes no document\u00e1rio.<\/p>\n\n\n\n

\"Lontra\"\/
A lontra-marinha era a esp\u00e9cie-chave na ilha de Amchitka, na costa do Alasca<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Para ver que efeito esses mam\u00edferos carn\u00edvoros tinham no ecossistema, ele visitou uma ilha pr\u00f3xima chamada Shemya, onde n\u00e3o havia lontras. Quando mergulhou, em vez de encontrar uma floresta cheia de vida, se deparou com um deserto povoado apenas por ouri\u00e7os.<\/p>\n\n\n\n

Estes sabia que as lontras comiam muitos ouri\u00e7os, e que os ouri\u00e7os se alimentavam de algas. Sem as lontras, os ouri\u00e7os se multiplicaram de forma descontrolada e comeram todas as algas. E, sem as algas, todas as outras esp\u00e9cies haviam desaparecido.<\/p>\n\n\n\n

Sem os predadores que a protegiam, a floresta subaqu\u00e1tica n\u00e3o podia existir.<\/p>\n\n\n\n

\u00c1gua doce<\/h2>\n\n\n\n

Na d\u00e9cada de 1970, a ecologista Mary Power \u2014 que havia sido aluna de Paine e lera os relat\u00f3rios de Estes \u2014 comprovou algo semelhante em c\u00f3rregos de Oklahoma, nos EUA.<\/p>\n\n\n\n

Ela notou que alguns desaguavam em uma s\u00e9rie de lagos est\u00e9reis intercalados por lagos de cor verde esmeralda vibrante.<\/p>\n\n\n\n

Depois de investigar, ela descobriu que a diferen\u00e7a se devia \u00e0 presen\u00e7a ou falta da esp\u00e9cie-chave, que nesse ecossistema era o Micropterus salmoides<\/em>, um peixe de \u00e1gua doce mais conhecido como achig\u00e3.<\/p>\n\n\n\n

\"Mary
Mary Power descobriu que o fen\u00f4meno tamb\u00e9m acontecia em \u00e1gua doce<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Em terra firme…<\/h2>\n\n\n\n

O resultado do trabalho de Power nos c\u00f3rregos, de Paine nas po\u00e7as de mar\u00e9 e de Estes no oceano provou que a hip\u00f3tese das esp\u00e9cies-chave era verdadeira em uma ampla variedade de ambientes aqu\u00e1ticos.<\/p>\n\n\n\n

Faltava um experimento em terra \u2014 que foi realizado na Venezuela.<\/p>\n\n\n\n

Um imenso lago foi criado com a constru\u00e7\u00e3o da represa de Guri, no rio Caroni, que deu origem a muitas ilhas, a maioria sem predadores.<\/p>\n\n\n\n

O ecologista e bi\u00f3logo John Terborgh foi quem explorou essas ilhas \u2014 e lembra que, quando chegou l\u00e1, “parecia que tinham sido arrasadas por um furac\u00e3o”.<\/p>\n\n\n\n

\"Ilhas
que antes era uma bela floresta, alguns anos depois era pura devasta\u00e7\u00e3o…<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Em algumas ilhas, as formigas-cortadeiras haviam se reproduzido descontroladamente, dada a aus\u00eancia de formigas-guerreiras, e, por isso, foram desfolhando as \u00e1rvores at\u00e9 mat\u00e1-las.<\/p>\n\n\n\n

“O fen\u00f4meno se repetia, de diferentes maneiras e com diferentes esp\u00e9cies-chave, mas o resultado era sempre o mesmo: o que havia come\u00e7ado como uma bela floresta verde, em 20 ou 25 anos era apenas devasta\u00e7\u00e3o”, diz Terborgh.<\/p>\n\n\n\n

O mist\u00e9rio das lontras<\/h2>\n\n\n\n

O que esses cientistas estavam construindo era uma maneira totalmente nova de ver o mundo \u2014 derrubando preconceitos e revelando conex\u00f5es ocultas completamente inesperadas entre as criaturas e a natureza.<\/p>\n\n\n\n

Mas ainda faltava entender qu\u00e3o profundas e duradouras eram essas conex\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n

\"Ilha
Quando Jim Estes retornou \u00e0 Ilha Amchitka, ficou assustado com o que viu (ou melhor, com o que n\u00e3o viu)<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Essa descoberta ficou para Jim Estes, quando retornou \u00e0 Ilha Amchitka, no in\u00edcio dos anos 1990.<\/p>\n\n\n\n

“Foi uma loucura: quando sa\u00ed, havia 8 mil lontras; e cinco anos depois, n\u00e3o restava quase mais nenhuma!”<\/p>\n\n\n\n

N\u00e3o apenas l\u00e1, mas em todo o arquip\u00e9lago das Ilhas Aleutas, do qual Amchitka faz parte.<\/p>\n\n\n\n

“Se tratava do desaparecimento de v\u00e1rias centenas de milhares de lontras, uma redu\u00e7\u00e3o de 95% a 99%, elas desapareciam sem que ningu\u00e9m encontrasse seus restos mortais nas redondezas.”<\/p>\n\n\n\n

Logo, Estes notou outra mudan\u00e7a espantosa:<\/p>\n\n\n\n

“Nos anos 1970 e 1980, se deparava com uma orca a cada tr\u00eas ou quatro anos. Nos anos 1990, comecei a v\u00ea-las tr\u00eas ou quatro vezes por dia… elas estavam comendo n\u00e3o s\u00f3 as lontras, mas tamb\u00e9m outros animais que tinham sumido.”<\/p>\n\n\n\n

O que havia acontecido?<\/h2>\n\n\n\n

Embora naquele momento n\u00e3o fosse \u00f3bvio, aquilo tinha sido obra do controlador-chave: o ser humano.<\/p>\n\n\n\n

Muitas vezes, removemos o predador-chave dos ecossistemas naturais \u2014 mas, neste caso, n\u00e3o se tratava de eliminar um predador, mas seu alimento.<\/p>\n\n\n\n

A causa de desse evento t\u00e3o dram\u00e1tico foi a ca\u00e7a industrial \u00e0s baleias, que come\u00e7ou no Pac\u00edfico Norte ap\u00f3s a Segunda Guerra Mundial e continuou at\u00e9 o in\u00edcio da d\u00e9cada de 1960.<\/p>\n\n\n\n

Naquela \u00e9poca, as enormes baleias no Pac\u00edfico Norte haviam sido dizimadas.<\/p>\n\n\n\n

\"Orca\"\/
Linda… e faminta<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

O sumi\u00e7o das baleias abalou o ecossistema, uma vez que elas eram grandes e altamente nutritivas para as orcas (que, ali\u00e1s, n\u00e3o s\u00e3o uma esp\u00e9cie de baleia, pois s\u00e3o da fam\u00edlia dos golfinhos), que foram for\u00e7adas a diversificar sua dieta.<\/p>\n\n\n\n

As primeiras v\u00edtimas foram as focas, at\u00e9 serem exterminadas. Em seguida, os le\u00f5es-marinhos. E, quando estes foram eliminados, foi a vez das lontras-marinhas.<\/p>\n\n\n\n

Praticamente tudo foi afetado \u2014 do salm\u00e3o \u00e0s aves marinhas e \u00e1guias-carecas. Todo o ecossistema entrou em colapso.<\/p>\n\n\n\n

Revolu\u00e7\u00e3o no pensamento cient\u00edfico<\/h2>\n\n\n\n

Para Estes, reconhecer que a natureza est\u00e1 conectada em escalas t\u00e3o vastas de espa\u00e7o e tempo de uma maneira t\u00e3o importante foi uma revolu\u00e7\u00e3o no pensamento cient\u00edfico.<\/p>\n\n\n\n

Munidos dessa vis\u00e3o completamente nova, eles come\u00e7aram a perceber coisas que n\u00e3o se via antes, apesar de estarem bem diante do nosso nariz.<\/p>\n\n\n\n

“Se eu te disser, assim do nada, ‘as \u00e1rvores precisam dos lobos’, talvez isso te surpreenda, mas esse tipo de revela\u00e7\u00e3o n\u00e3o surge ao olhar para a natureza como se fosse apenas uma imagem bonita, \u00e9 o resultado dessa compreens\u00e3o de como funciona a natureza”, diz Carroll \u00e0 BBC News Mundo.<\/p>\n\n\n\n

Para entender melhor, veja a imagem abaixo… voc\u00ea consegue notar algo estranho?<\/p>\n\n\n\n

\"\u00c1rvores\"\/<\/figure>\n\n\n\n

Se voc\u00ea n\u00e3o notou nada de peculiar, \u00e9 porque nos acostumamos a ver como “normais” paisagens degradadas.<\/p>\n\n\n\n

Esta foto \u00e9 t\u00edpica de uma floresta na qual, na aus\u00eancia de um predador, no caso o lobo, os cervos se multiplicaram de forma descontrolada para se tornar uma praga e comeram tudo o que deveria estar vivo entre o solo e os ramos mais baixos que aparecem na imagem.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 uma floresta em extin\u00e7\u00e3o: n\u00e3o haver\u00e1 \u00e1rvores novas porque foram comidas; portanto, quando estas que est\u00e3o na foto morrerem, n\u00e3o haver\u00e1 mais floresta.<\/p>\n\n\n\n

E n\u00e3o \u00e9 um caso isolado.<\/p>\n\n\n\n

Na verdade, “grande parte do mundo que vemos hoje em dia est\u00e1 degradado”, diz Carroll.<\/p>\n\n\n\n

E, mais uma vez, ele n\u00e3o est\u00e1 exagerando.<\/p>\n\n\n\n

Mas tudo isso est\u00e1 soando muito pessimista e prometemos uma hist\u00f3ria de esperan\u00e7a.<\/p>\n\n\n\n

O fato \u00e9 que falta uma pe\u00e7a fundamental desse quebra-cabe\u00e7a, descoberta pelo bi\u00f3logo Tony Sinclair enquanto trabalhava em um dos lugares mais ic\u00f4nicos do planeta: o Parque Nacional Serengeti, na Tanz\u00e2nia.<\/p>\n\n\n\n

Mais de tudo<\/h2>\n\n\n\n

Quando Sinclair come\u00e7ou a trabalhar em Serengeti \u2014 embora ainda n\u00e3o tivesse percebido naquele momento \u2014, o parque nacional mais famoso do mundo estava bastante degradado.<\/p>\n\n\n\n

\"Gnu\"\/
Os gnus tinham sido v\u00edtima da peste bovina<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

H\u00e1 120 anos, uma epidemia de peste bovina, muito semelhante ao sarampo, dizimou os animais locais, particularmente os gnus, cuja popula\u00e7\u00e3o permaneceu baixa por 70 anos, at\u00e9 que, nos anos 1960, os veterin\u00e1rios conseguiram erradicar a doen\u00e7a na maior parte da \u00c1frica.<\/p>\n\n\n\n

Quando Sinclair chegou, a mudan\u00e7a come\u00e7ava a ser \u00f3bvia.<\/p>\n\n\n\n

“Quando cheguei, havia cerca de 250 mil gnus. Oito anos depois, j\u00e1 havia 1,4 milh\u00e3o”, relembra.<\/p>\n\n\n\n

“Era um recorde mundial, a maior popula\u00e7\u00e3o de ungulados do mundo”.<\/p>\n\n\n\n

Em 1982, Sinclair participou entusiasmado de uma reuni\u00e3o para contar ao mundo o que estava acontecendo.<\/p>\n\n\n\n

“Quando eu disse o n\u00famero de 1,4 milh\u00e3o, houve um sil\u00eancio mortal. Eu n\u00e3o esperava de forma alguma aquela rea\u00e7\u00e3o.”<\/p>\n\n\n\n

Os colegas dele acreditavam que era irrespons\u00e1vel permitir que os animais se multiplicassem dessa maneira e, na opini\u00e3o deles, deviam ser sacrificados porque destruiriam o habitat e causariam um colapso do ecossistema.<\/p>\n\n\n\n

“Mas, pensei, por que os homens deveriam interferir? Esses ecossistemas existem h\u00e1 milh\u00f5es de anos sem precisar que os humanos interfiram para se manter.”<\/p>\n\n\n\n

\"Tony
Tony Sinclair se recusou a sacrificar os gnus e preferiu confiar na natureza<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Ciente de que estava colocando em risco um dos lugares mais ic\u00f4nicos da Terra, a equipe de Sinclair decidiu se manter firme e convenceu as autoridades do parque a n\u00e3o sacrificar os animais.<\/p>\n\n\n\n

O censo dos quatro anos seguintes apresentou o mesmo resultado: 1,4 milh\u00e3o. O ecossistema havia se nivelado sozinho e n\u00e3o havia danos ao meio ambiente.<\/p>\n\n\n\n

“Pelo contr\u00e1rio: para nossa surpresa, descobrimos que o ecossistema estava se recuperando por contra pr\u00f3pria. De repente, tudo come\u00e7ou a se reconectar”, diz Sinclair.<\/p>\n\n\n\n

“Os gnus produziam esterco, que fertilizava as pastagens, que se tornavam altamente nutritivas. E, ao com\u00ea-las, havia menos material combust\u00edvel no solo e, portanto, menos inc\u00eandios.<\/p>\n\n\n\n

“Isso permitiu aumentar as popula\u00e7\u00f5es de \u00e1rvores que provavelmente n\u00e3o cresciam desde o s\u00e9culo 19. Essas \u00e1rvores forneciam mais alimento para elefantes, girafas e muitas esp\u00e9cies de p\u00e1ssaros.”<\/p>\n\n\n\n

“E isso atraiu muito mais predadores, porque tamb\u00e9m havia mais comida para eles”, completa.<\/p>\n\n\n\n

“Percebi que o gnu era uma esp\u00e9cie-chave e que, ao contr\u00e1rio do que Robert Paine havia presumido \u2014 que a esp\u00e9cie-chave era sempre um predador \u2014, na verdade, podia ser um herb\u00edvoro”.<\/p>\n\n\n\n

\"Gnus\"\/
O retorno dos gnus mudou completamente o cen\u00e1rio do parque<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Al\u00e9m disso, e talvez mais importante, o que os estudos de Tony Sinclair mostraram foi que, embora essas esp\u00e9cies-chave estivessem ausentes h\u00e1 70 anos, a capacidade de recupera\u00e7\u00e3o do ecossistema n\u00e3o havia se esgotado.<\/p>\n\n\n\n

E quando a esp\u00e9cie-chave reapareceu, o Parque Nacional de Serengeti mudou profundamente: havia mais \u00e1rvores, mais girafas, mais p\u00e1ssaros cantando, mais borboletas, mais besouros, mais de tudo.<\/p>\n\n\n\n

Foi uma prova em larga escala de que a degrada\u00e7\u00e3o n\u00e3o \u00e9 uma condena\u00e7\u00e3o: \u00e9 revers\u00edvel.<\/p>\n\n\n\n

Em busca da ‘estrela do mar’<\/h2>\n\n\n\n

Robert Paine foi o primeiro a vislumbrar isso: se voc\u00ea eliminar a estrela-do-mar, a biodiversidade entra em colapso.<\/p>\n\n\n\n

Seis d\u00e9cadas ap\u00f3s o experimento dele, ecologistas renomados compararam suas experi\u00eancias e ficou claro que \u00e9 assim que a natureza funciona. Em todas as partes.<\/p>\n\n\n\n

Eles haviam descoberto as regras da vida no planeta.<\/p>\n\n\n\n

“Se voc\u00ea quer consertar algo, precisa saber o que est\u00e1 danificado”, declarou Paine.<\/p>\n\n\n\n

E gra\u00e7as a ele e a um punhado de cientistas, \u00e9 poss\u00edvel averiguar isso.<\/p>\n\n\n\n

\"Rio
Veja a diferen\u00e7a que fez reintroduzir o salm\u00e3o neste rio<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Agora, ao nos deparar com paisagens degradadas, em vez de ficar fazendo coment\u00e1rios negativos, pessimistas e fat\u00eddicos, podemos nos perguntar: estamos condenados? O destino est\u00e1 selado para esses lugares e esp\u00e9cies?<\/p>\n\n\n\n

E, em muitos casos, a resposta \u00e9: “N\u00e3o”.<\/p>\n\n\n\n

“N\u00e3o \u00e9 que voc\u00ea vai encontrar esp\u00e9cies-chave em todos os lugares, mas elas s\u00e3o predominantes!”, observa Carroll.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 uma quest\u00e3o de encontrar o equivalente \u00e0 estrela-do-mar para cada ecossistema.<\/p>\n\n\n\n

Um exemplo conhecido \u00e9 o do Parque Nacional de Yellowstone, no noroeste dos Estados Unidos, no qual h\u00e1 cerca de 20 anos, a popula\u00e7\u00e3o de lobos aumentou mediante a interven\u00e7\u00e3o do homem para controlar o n\u00famero de alces, que estavam afetando seriamente a vegeta\u00e7\u00e3o do parque.<\/p>\n\n\n\n

Com o retorno dos lobos ap\u00f3s 70 anos de aus\u00eancia, os salgueiros se recuperaram, os choupos prosperaram, os castores voltaram e os ursos se expandiram.<\/p>\n\n\n\n

E na Argentina, algo surpreendente aconteceu: com o regresso dos pumas para os altiplanos, a grama cresceu e criou um habitat para todos os tipos de criaturas.<\/p>\n\n\n\n

\"Lobos
Lobos, t\u00e3o temidos no passado, agora s\u00e3o bem-vindos em Yellowstone<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n
\"Puma
Os pumas mudaram o cen\u00e1rio dos altiplanos na Argentina<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

E h\u00e1 cada vez mais exemplos disso.<\/p>\n\n\n\n

No Centro-Oeste dos EUA, h\u00e1 pessoas adicionando peixes-chave a lagos verdes e turvos, que se tornam cristalinos.<\/p>\n\n\n\n

Nos arrozais, as aranhas s\u00e3o as esp\u00e9cies-chave. Ent\u00e3o, se voc\u00ea quiser comer arroz, proteja as aranhas.<\/p>\n\n\n\n

Na Esc\u00f3cia, enquanto isso, est\u00e3o mostrando como as belas pradarias n\u00e3o deveriam ser… pradarias.<\/p>\n\n\n\n

\"Pradarias<\/figure>\n\n\n\n

Este cercado na foto acima, onde crescem \u00e1rvores e flores, revela o impacto dos animais que pastam e como seria a paisagem escocesa sem eles.<\/p>\n\n\n\n

E assim, em muitas partes do mundo, h\u00e1 projetos semelhantes que est\u00e3o recuperando lugares e esp\u00e9cies.<\/p>\n\n\n\n

Ressurrei\u00e7\u00e3o<\/h2>\n\n\n\n

Uma das hist\u00f3rias que mais emocionam Carroll \u00e9 a do Parque Nacional da Gorongosa, em Mo\u00e7ambique, que, como costuma acontecer com experi\u00eancias inspiradoras, come\u00e7a com uma grande perda: da vida selvagem devido a uma das guerras civis mais longas e destrutivas das \u00faltimas d\u00e9cadas (1977-1992).<\/p>\n\n\n\n

Mas a paz acabou trazendo o interesse de recuperar o que muitos chamavam de “o para\u00edso perdido” da Gorongosa.<\/p>\n\n\n\n

Hoje, como bem resumiu um artigo da revista National Geographic, “voc\u00ea pode ver a natureza dando um suspiro de al\u00edvio”.<\/p>\n\n\n\n

\"Por
Durante a guerra que se seguiu \u00e0 independ\u00eancia de Portugal, Gorongosa foi um dos principais campos de batalha e foi destru\u00edda. Hoje, o para\u00edso est\u00e1 em processo de recupera\u00e7\u00e3o<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

“O projeto levou pouco mais de 15 anos e ficamos assustados que as coisas possam se recuperar a essa velocidade”, exclama Carroll, em conversa com a BBC News Mundo.<\/p>\n\n\n\n

“Isso prova que, se voc\u00ea d\u00e1 a ela uma chance, a natureza \u00e9 muito resiliente.”<\/p>\n\n\n\n

“N\u00e3o \u00e9 que eu n\u00e3o seja realista… sou um cientista: acredito em dados emp\u00edricos!”, completa.<\/p>\n\n\n\n

Com base nestes dados, ele se dedica a divulgar que h\u00e1 luz no fim do t\u00fanel.<\/p>\n\n\n\n

“Grande parte da hist\u00f3ria humana \u00e9 sobre superar desafios. Para isso, \u00e9 necess\u00e1rio lan\u00e7ar m\u00e3o de energia e perspectiva; o pessimismo \u00e9 uma profecia autorrealiz\u00e1vel e muitos de n\u00f3s est\u00e3o preocupados que as pessoas desistam.”<\/p>\n\n\n\n

“N\u00e3o \u00e9 hora de desistir, \u00e9 hora de redobrar nossos esfor\u00e7os e perguntar ‘o que pode ser feito’ repetidas vezes.”<\/p>\n\n\n\n

“Voc\u00ea precisa se concentrar no trabalho, n\u00e3o no desespero.”<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

“Esta \u00e9 uma hist\u00f3ria de esperan\u00e7a aut\u00eantica, fundamentada na ci\u00eancia e baseada em experi\u00eancias da vida real, sobre o que pode ser feito.” <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":156568,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[36,1007,1142,2406],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/156567"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=156567"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/156567\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":156569,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/156567\/revisions\/156569"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/156568"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=156567"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=156567"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=156567"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}