{"id":156573,"date":"2020-01-21T09:44:00","date_gmt":"2020-01-21T12:44:00","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=156573"},"modified":"2020-01-20T20:51:05","modified_gmt":"2020-01-20T23:51:05","slug":"por-que-a-maca-vermelha-corre-risco-de-desaparecer","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2020\/01\/21\/156573-por-que-a-maca-vermelha-corre-risco-de-desaparecer.html","title":{"rendered":"Por que a ma\u00e7\u00e3 vermelha corre risco de desaparecer"},"content":{"rendered":"\n
\"Ma\u00e7\u00e3s
At\u00e9 no ‘ber\u00e7o’ das ma\u00e7\u00e3s silvestres, variedades estrangeiras e conhecidas pela forte cor vermelha est\u00e3o sendo cultivadas<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Quando voc\u00ea pensa em uma ma\u00e7\u00e3, provavelmente a imagina na cor vermelha.<\/p>\n\n\n\n

At\u00e9 existem outras variedades, como as amarelas e verdes que \u00e0s vezes vemos no supermercado. Em alguns lugares, \u00e9 poss\u00edvel at\u00e9 encontrar variedades listradas e manchadas com uma profus\u00e3o de tons, como a do tipo Cox.<\/p>\n\n\n\n

Mas \u00e9 o vermelho que costuma colorir as ma\u00e7\u00e3s dos livros usados para alfabetizar. Isto n\u00e3o \u00e9 trivial, porque as ma\u00e7\u00e3s nem sempre foram t\u00e3o monocrom\u00e1ticas.<\/p>\n\n\n\n

Os ancestrais da ma\u00e7\u00e3 moderna eram \u00e1rvores silvestres que cresciam no que \u00e9 hoje o Cazaquist\u00e3o, na encosta ocidental das montanhas que fazem fronteira com a China. Hoje, macieiras selvagens ainda crescem ali, perfumando o ar com frutas ca\u00eddas e alimentando os ursos que cruzam a floresta \u2014 embora o n\u00famero de ma\u00e7\u00e3s silvestres tenha diminu\u00eddo 90% nos \u00faltimos 50 anos, gra\u00e7as \u00e0 interfer\u00eancia humana.<\/p>\n\n\n\n

As ma\u00e7\u00e3s silvestres variam do amarelo p\u00e1lido ao vermelho cereja e o verde primavera, mas o vermelho n\u00e3o \u00e9, geralmente, mais proeminente do que as outras cores.<\/p>\n\n\n\n

A cor da ma\u00e7\u00e3 corresponde ao n\u00edvel de express\u00e3o de certos genes em sua casca, conforme j\u00e1 demonstraram cientistas. David Chagne, geneticista da Plant and Food Research na Nova Zel\u00e2ndia, explica que conjuntos de enzimas trabalham juntos para transformar certas mol\u00e9culas em pigmentos chamados antocianinas, as mesmas que d\u00e3o cor \u00e0 batata doce roxa, \u00e0s uvas e \u00e0s ameixas.<\/p>\n\n\n\n

\"Vale
Ancestrais de muitas variedades de ma\u00e7\u00e3s que apreciamos at\u00e9 hoje v\u00eam do Cazaquist\u00e3o<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Os n\u00edveis dessas enzimas s\u00e3o controlados por um fator de transcri\u00e7\u00e3o \u2014 uma prote\u00edna que regula a express\u00e3o de um gene \u2014 chamado MYB10, de modo que quanto mais MYB10 houver, mais vermelha ser\u00e1 a casca da fruta. Em ma\u00e7\u00e3s com listras vermelhas, um estudo mostrou que os n\u00edveis de MYB10 eram mais altos nas por\u00e7\u00f5es listradas das frutas.<\/p>\n\n\n\n

Mas a cor tamb\u00e9m depende da temperatura. Para obter uma ma\u00e7\u00e3 totalmente vermelha, ela deve permanecer relativamente baixa, diz Chagne, Isso porque, segundo ele, se atingir cerca de 40\u00b0 C, o MYB10 e os n\u00edveis de antocianina caem.<\/p>\n\n\n\n

Na regi\u00e3o dos Pireneus, na Espanha, o geneticista e seus colegas descobriram que ma\u00e7\u00e3s com listras bastante vermelhas estavam completamente p\u00e1lidas depois de um julho bastante quente. Com o aquecimento global, prev\u00ea ele, pode ficar mais dif\u00edcil as ma\u00e7\u00e3s ficarem vermelhas.<\/p>\n\n\n\n

Ainda assim, explorando a biologia por tr\u00e1s da cor, a equipe est\u00e1 tentando produzir frutas muito vermelhas para o mercado asi\u00e1tico, onde um rubi profundo \u00e9 muito popular.<\/p>\n\n\n\n

Talvez a amea\u00e7a que as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas representam \u00e0 ma\u00e7\u00e3 vermelha seja contrabalan\u00e7ada por nossa determina\u00e7\u00e3o de continuar cultivando-as, mesmo que sejam necess\u00e1rios investimentos mais altos na produ\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Mesmo antes de entendermos a gen\u00e9tica, as ma\u00e7\u00e3s com cores marcantes exerceram forte influ\u00eancia sobre os humanos. John Bunker, um colecionador de ma\u00e7\u00e3s em Palermo, nos EUA, j\u00e1 salvou da extin\u00e7\u00e3o algumas variedades quase esquecidas. Isso inclui ma\u00e7\u00e3s que eram cultivadas um s\u00e9culo ou mais atr\u00e1s, ou variedades com particularidades encantadoras, como a Black Oxford, cujo vermelho \u00e9 t\u00e3o escuro que voc\u00ea pode confundi-la com uma ameixa enorme antes de ver sua brilhante polpa branca.<\/p>\n\n\n\n

“As cores s\u00e3o fenomenais. E acho que para algumas pessoas, inclusive eu, essa foi a primeira fonte de atra\u00e7\u00e3o”, diz ele.<\/p>\n\n\n\n

A cor provavelmente n\u00e3o superou outras caracter\u00edsticas de uma ma\u00e7\u00e3 quando os produtores do passado estavam avaliando o que plantar. Outros fatores determinantes podiam ser o sabor ou o objetivo de uso da fruta: algumas s\u00e3o melhores para cidra, outras, para tortas, outras, para doces, outras, para comer na hora…<\/p>\n\n\n\n

N\u00e3o importava exatamente a apar\u00eancia da fruta, porque os\u00a0agricultores\u00a0estavam produzindo alimentos para si e para o mercado local \u2014 assim, a fun\u00e7\u00e3o importava mais.<\/p>\n\n\n\n

Bunker diz que tudo mudou h\u00e1 cerca de 100 anos.<\/p>\n\n\n\n

“Em uma cultura de pequenas fazendas diversificadas, a uniformidade tem um valor limitado”, diz ele.<\/p>\n\n\n\n

Mas se ma\u00e7\u00e3s cultivadas a milhares de quil\u00f4metros de dist\u00e2ncia entre si forem compradas como intercambi\u00e1veis, a cor se tornar\u00e1 uma esp\u00e9cie de marca. Em um mercado globalizado, a uniformidade foi se tornando mais valiosa. Ao mesmo tempo, as ma\u00e7\u00e3s come\u00e7aram a ser colhidas antes de estarem realmente maduras \u2014 para que pudessem viajar longas dist\u00e2ncias sem apodrecer.<\/p>\n\n\n\n

\"Dezenas
Aumento de temperaturas dificulta mudan\u00e7as qu\u00edmicas que deixam cor da casca da fruta vermelha<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Surgiu um problema, no entanto.<\/p>\n\n\n\n

“A cor \u00e9 um indicador de maturidade”, lembra Bunker.<\/p>\n\n\n\n

Assim, ma\u00e7\u00e3s colhidas cedo n\u00e3o tinham a cor “certa”.<\/p>\n\n\n\n

E a\u00ed veio outra novidade: uma ma\u00e7\u00e3 com uma muta\u00e7\u00e3o que lhe dava um tom vermelho forte antes de amadurecer. Ela acabou sendo apelidada de Red Delicious e, em 1921, foi lan\u00e7ada comercialmente para pomaristas.<\/p>\n\n\n\n

Outras ma\u00e7\u00e3s tamb\u00e9m cresceram nas prefer\u00eancias \u2014 variedades com cores mais uniformes e regulares, especialmente se essas caracter\u00edsticas j\u00e1 se mostrassem antes da matura\u00e7\u00e3o total, eram boas para os neg\u00f3cios.<\/p>\n\n\n\n

O n\u00famero de variedades cultivadas pelos agricultores come\u00e7ou a encolher. E pouco a pouco, algumas delas pararam de ter um sabor t\u00e3o bom, pois a \u00eanfase na apar\u00eancia n\u00e3o incentivou o investimento no sabor.<\/p>\n\n\n\n

David Bedford, criador de ma\u00e7\u00e3s da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, diz que cresceu comendo Red Delicious e, consequentemente, n\u00e3o gostava muito de ma\u00e7\u00e3s. Foi preciso tentar outras variedades na faculdade para finalmente descobrir que sim, ele apreciava a fruta \u2014 ou suas v\u00e1rias formas.<\/p>\n\n\n\n

Ele e seus colegas est\u00e3o por tr\u00e1s do bem sucedido cultivo da variedade Honeycrisp, lan\u00e7ada h\u00e1 alguns anos e conhecida por sua suculenta croc\u00e2ncia. Na apar\u00eancia, a Honeycrisp mescla listras amarelas e vermelhas.<\/p>\n\n\n\n

Mas mesmo em ma\u00e7\u00e3s criadas para fugir do padr\u00e3o Red Delicious, a inexor\u00e1vel busca pelo vermelho continua. As pessoas j\u00e1 introduziram Honeycrisps com muta\u00e7\u00f5es que as tornam cada vez mais vermelhas.<\/p>\n\n\n\n

“Isso acontece com todas as ma\u00e7\u00e3s do mercado”, diz Bedford. “Essa \u00e9 a natureza do nosso desejo de ter ma\u00e7\u00e3s com a apar\u00eancia que queremos. Desde que o homem come\u00e7ou a fazer escolhas, ele o faz tornando a fruta cada vez mais vermelha.”<\/p>\n\n\n\n

“O vermelho vende, esse \u00e9 o problema”, resume.<\/p>\n\n\n\n

Para estimular mudan\u00e7as de h\u00e1bitos, a Universidade de Minnesota lan\u00e7ou um sistema de produ\u00e7\u00e3o chamado de modelo de clube. Nele, os produtores n\u00e3o podem selecionar frutas mais vermelhas.<\/p>\n\n\n\n

Surge ent\u00e3o uma variedade selvagem de cores a apreciar \u2014 na vista e no paladar. Mas ser\u00e1 que a verdadeira e estranha natureza da ma\u00e7\u00e3 triunfar\u00e1 sobre a mania vermelha?<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"