{"id":156763,"date":"2020-01-27T14:50:00","date_gmt":"2020-01-27T17:50:00","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=156763"},"modified":"2020-01-26T21:54:47","modified_gmt":"2020-01-27T00:54:47","slug":"estamos-presos-naquele-dia-1-ano-apos-rompimento-de-barragem-de-brumadinho-os-impactos-duradouros-da-tragedia","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2020\/01\/27\/156763-estamos-presos-naquele-dia-1-ano-apos-rompimento-de-barragem-de-brumadinho-os-impactos-duradouros-da-tragedia.html","title":{"rendered":"\u2018Estamos presos naquele dia\u2019: 1 ano ap\u00f3s rompimento de barragem de Brumadinho, os impactos duradouros da trag\u00e9dia"},"content":{"rendered":"\n
\"Agricultor
Helio Murta, de 72 anos, no lugar onde ficava sua horta<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Quando se conversa com afetados pelo rompimento da barragem de Brumadinho, muitos citam um mesmo sentimento, sejam essas pessoas parentes de v\u00edtimas, sobreviventes da trag\u00e9dia, moradores da cidade ou agricultores da regi\u00e3o. “\u00c9 como se eu tivesse sido aprisionada em um dia”, “voc\u00ea acorda e todo dia \u00e9 25 de janeiro”, “\u00e9 como se aquele dia n\u00e3o tivesse acabado”.<\/p>\n\n\n\n

A barragem I da Mina de C\u00f3rrego do Feij\u00e3o, da Vale, se desfez no dia 25 de janeiro de 2019, e em menos de meia hora, matou 270 pessoas. Mas um ano depois, aqueles impactados direta ou indiretamente ainda n\u00e3o conseguem escapar das consequ\u00eancias psicol\u00f3gicas e materiais da trag\u00e9dia.<\/p>\n\n\n\n

“Quando aconteceu o rompimento da barragem de Mariana, em 2015, eu pensei que aquilo seria uma fase ruim para eles, que uma hora passaria. Mas hoje eu vejo que n\u00e3o \u00e9 assim. Existia uma Brumadinho que nunca mais vai existir”, diz Marina Oliveira, articuladora social da Arquidiocese de Belo Horizonte e moradora da cidade.<\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m de mudan\u00e7as f\u00edsicas na cidade, como bairros atingidos pela lama que est\u00e3o se esvaziando, h\u00e1 crian\u00e7as sem pais, fam\u00edlias que ainda esperam achar seus parentes na lama, dramas financeiros e judiciais, agricultores endividados.<\/p>\n\n\n\n

O incidente ainda n\u00e3o teve um desfecho judicial. Na \u00faltima ter\u00e7a-feira, o Minist\u00e9rio P\u00fablico de Minas Gerais apresentou den\u00fancias contra 16 pessoas da Vale e da T\u00fcv S\u00fcd, empresa alem\u00e3 respons\u00e1vel pelo laudo que atestou a seguran\u00e7a da barragem, por homic\u00eddio doloso (quando h\u00e1 a inten\u00e7\u00e3o de matar ou se assume o risco de matar) e crimes ambientais.<\/p>\n\n\n\n

Para o MP, “ficou demonstrada a exist\u00eancia de uma prom\u00edscua rela\u00e7\u00e3o entre as duas corpora\u00e7\u00f5es denunciadas, no sentido de esconder do Poder P\u00fablico, sociedade, acionistas e investidores a inaceit\u00e1vel situa\u00e7\u00e3o de seguran\u00e7a de v\u00e1rias das barragens de minera\u00e7\u00e3o mantidas pela Vale”, diz o \u00f3rg\u00e3o, em nota.<\/p>\n\n\n\n

Antes e depois da barragem em Brumadinho<\/h2>\n\n\n\n

25 de janeiro de 2019<\/h3>\n\n\n\n
\"CBMMG\"\/<\/figure>\n\n\n\n

In\u00edcio de 2019<\/h3>\n\n\n\n
\"Google<\/figure>\n\n\n\n

A Vale diz, tamb\u00e9m em nota, que “desde logo expressa sua perplexidade ante as acusa\u00e7\u00f5es de dolo. Importante lembrar que outros \u00f3rg\u00e3os tamb\u00e9m investigam o caso, sendo prematuro apontar assun\u00e7\u00e3o de risco consciente para provocar uma deliberada ruptura da barragem”.<\/p>\n\n\n\n

J\u00e1 a T\u00dcV S\u00dcD afirma que at\u00e9 que se apurem as reais causas do acidente de forma conclusiva, a empresa n\u00e3o poder\u00e1 fornecer mais informa\u00e7\u00f5es sobre o caso.<\/p>\n\n\n\n

Ambas as empresas afirmam que colaboram com as autoridades.<\/p>\n\n\n\n

As 11 fam\u00edlias que ainda n\u00e3o acharam seus parentes<\/h2>\n\n\n\n

“No dia 22 de novembro, identificaram mais uma v\u00edtima. Era uma mulher, de cabelo preto. A minha irm\u00e3 tamb\u00e9m tinha cabelo preto. Tive esperan\u00e7a, mas n\u00e3o era ela. A cada vez que encontram algu\u00e9m, fico com expectativa. Espero todos os dias”, diz Nat\u00e1lia Oliveira, irm\u00e3 de Lecilda de Oliveira, que trabalhava na Vale havia quase 30 anos.<\/p>\n\n\n\n

Foram encontrados e identificados corpos ou fragmentos de 259 pessoas (123 empregados da Vale, 117 terceirizados e 19 moradores da regi\u00e3o); outras 11 seguem desaparecidas. Os parentes recebem informes di\u00e1rios das buscas pelo Whatsapp e, todas as quartas-feiras, acontece uma reuni\u00e3o com o Corpo de Bombeiros.<\/p>\n\n\n\n

\"Bombeiros
Bombeiros trabalharam todos os dias desde o rompimento da barragem; 11 pessoas ainda est\u00e3o desaparecidas<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Bombeiros trabalharam todos os dias desde o rompimento da barragem; 11 pessoas ainda est\u00e3o desaparecidas
Passado tanto tempo, o trabalho de busca fica cada vez mais dif\u00edcil, j\u00e1 que a \u00e1rea \u00e9 extensa e o n\u00famero de corpos n\u00e3o encontrados, pequeno. Al\u00e9m disso, esses corpos provavelmente est\u00e3o em estado avan\u00e7ado de decomposi\u00e7\u00e3o. Os Bombeiros trabalharam todos os dias desde o dia 25 de janeiro de 2019 \u2014 n\u00e3o pararam nem para as festas de fim de ano.<\/p>\n\n\n\n

Est\u00e3o na quinta fase de buscas. Nesta etapa, m\u00e1quinas retiram pilhas de lama e caminh\u00f5es as transportam para uma tenda, onde bombeiros reviram a lama seca tr\u00eas ou quatro vezes, processo que chamam de “dobras”, em busca de algum material humano que possa ser identificado, mesmo que seja pequeno. Esse material \u00e9 encaminhado ao Instituto M\u00e9dico Legal.<\/p>\n\n\n\n

N\u00e3o h\u00e1 previs\u00e3o de quando a opera\u00e7\u00e3o ser\u00e1 encerrada \u2014 isso s\u00f3 acontecer\u00e1 quando todos os corpos forem achados ou quando n\u00e3o for mais poss\u00edvel, devido \u00e0 decomposi\u00e7\u00e3o do material, encontr\u00e1-los.<\/p>\n\n\n\n

“Me sinto como se estiv\u00e9ssemos numa fila e nossa vez nunca chega. \u00c9 uma ferida aberta isso de voc\u00ea n\u00e3o poder dar dignidade para a pessoa. Para n\u00f3s, que ficamos, \u00e9 como se estiv\u00e9ssemos pulando uma etapa”, diz a irm\u00e3.<\/p>\n\n\n\n

A Vale diz que segue apoiando o trabalho do Corpo dos Bombeiros e da Pol\u00edcia Civil na busca e identifica\u00e7\u00e3o de mortos, doando materiais que viabilizam a continuidade do trabalho.<\/p>\n\n\n\n

‘Ela pega meu celular e fica vendo fotos do pai’: como as fam\u00edlias lidam com crian\u00e7as \u00f3rf\u00e3s<\/h2>\n\n\n\n

A filha de Kenya Bernardes e Leonardo Godoy, funcion\u00e1rio terceirizado da Vale, tinha dois anos quando o pai morreu no rompimento da barragem. Na \u00e9poca, n\u00e3o tinha vocabul\u00e1rio para expressar o que sentia, mas agora, diz a m\u00e3e, est\u00e1 come\u00e7ando a faz\u00ea-lo.<\/p>\n\n\n\n

“Eu n\u00e3o puxo o assunto, quando ela quer, ela exp\u00f5e”, diz Kenya. Recentemente, a filha, hoje com 3 anos, falou pela primeira vez de forma mais articulada que estava com saudade do pai. “M\u00e3e, vamos ligar pra ele?”, pediu. Ent\u00e3o Kenya explicou que n\u00e3o seria poss\u00edvel, que ele “tinha virado estrela”, mas que ela tamb\u00e9m estava chateada.<\/p>\n\n\n\n

Kenya passou a falar para a menina sobre como ela \u00e9 parecida com o pai, “para aliviar a dist\u00e2ncia”. “Ela \u00e0s vezes pega meu celular e eu acho que \u00e9 para ver alguma coisa, mas n\u00e3o, \u00e9 para ver fotos dele. Decidi revelar algumas para ela poder ter sempre e olhar quando quiser.”<\/p>\n\n\n\n

Nas escolas, a orienta\u00e7\u00e3o \u00e9 n\u00e3o falar sobre o rompimento da barragem. “Os alunos n\u00e3o gostam de comentar. J\u00e1 falam disso em casa, com a fam\u00edlia, ent\u00e3o na escola querem descontrair”, diz Leide Parreiras, que ensina geografia para estudantes do ensino m\u00e9dio da Escola Estadual Paulina Aluotto Ferreira.<\/p>\n\n\n\n

Quando um aluno demonstra sofrimento ou seu n\u00edvel de aprendizado cai, a escola o encaminha para o servi\u00e7o de sa\u00fade. Alunos que ficaram \u00f3rf\u00e3os recebem atendimento psicol\u00f3gico pago pela Vale.<\/p>\n\n\n\n

“N\u00e3o adianta a gente insistir para fazer os alunos falarem. O que a gente pode fazer \u00e9 proporcionar uma escola melhor para eles”, diz a professora.<\/p>\n\n\n\n

\"Homem
At\u00e9 o momento 76 produtores rurais procuraram a Defensoria em busca de indeniza\u00e7\u00f5es. Destes, 33 fecharam o acordo e 43 j\u00e1 aceitaram as condi\u00e7\u00f5es e aguardam os tr\u00e2mites legais<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

As indeniza\u00e7\u00f5es<\/h2>\n\n\n\n

Uma parte das fam\u00edlias de v\u00edtimas aceitou um acordo firmado em julho entre a Vale e o Minist\u00e9rio P\u00fablico do Trabalho de Minas Gerais.<\/p>\n\n\n\n

Ele prev\u00ea R$ 500 mil pagos para c\u00f4njuges, pais e filhos das v\u00edtimas e R$ 150 mil para irm\u00e3os, e o pagamento de um seguro adicional por acidente de trabalho no valor de R$ 200 mil aos pais, c\u00f4njuges ou companheiros(as) e filhos. Tamb\u00e9m estabelece recompensa por danos materiais compat\u00edveis com sal\u00e1rio e gratifica\u00e7\u00f5es dos empregados, num valor m\u00ednimo de R$ 800 mil, al\u00e9m de plano de sa\u00fade para c\u00f4njuge e filhos e aux\u00edlio para pagamento de escola.<\/p>\n\n\n\n

Nem todos aderiram. “Isso n\u00e3o foi um acordo, a Vale sentou com a Justi\u00e7a e decidiu um valor. A gente n\u00e3o foi ouvido, n\u00e3o participou de nada. Foi uma imposi\u00e7\u00e3o. Estamos lutando na Justi\u00e7a para conseguir algo melhor”, diz Nayara Ferreira, que n\u00e3o aceitou a indeniza\u00e7\u00e3o proposta pela empresa.<\/p>\n\n\n\n

Ela perdeu o marido, Everton Ferreira, que trabalhava no almoxarifado. Era ele quem bancava a casa. Quando a reportagem da BBC a conheceu, logo ap\u00f3s a trag\u00e9dia, em 2019, Nayara estava preocupada porque a empresa havia feito pagamento emergencial \u00e0 filha de Everton, de um casamento anterior, mas n\u00e3o a ela. Depois, ela tamb\u00e9m foi ressarcida. Agora, recebe aux\u00edlio da Vale, no valor de um sal\u00e1rio m\u00ednimo, e pens\u00e3o do INSS, e incrementa sua renda trabalhando como cabeleireira.<\/p>\n\n\n\n

A Vale nega que as fam\u00edlias tenham sido exclu\u00eddas das negocia\u00e7\u00f5es. “Os termos do acordo trabalhista foram discutidos e acordados na 5\u00aa Vara de Trabalho de Betim, entre a Vale, MPT e os sindicatos representativos das categorias envolvidas, perante o juiz federal respons\u00e1vel pela media\u00e7\u00e3o. Ap\u00f3s a negocia\u00e7\u00e3o e antes da assinatura, houve reuni\u00e3o do MPT e sindicatos com as fam\u00edlias para explicar a elas os termos do acordo e para que os familiares decidissem se celebrariam ou n\u00e3o tal pactua\u00e7\u00e3o”, diz a empresa.<\/p>\n\n\n\n

Mar\u00edlia (ela pediu para ter seu nome ocultado) tampouco aceitou o acordo. “N\u00e3o entendemos o crit\u00e9rio que o MP usou para estabelecer os valores. Um estudo encomendado pela pr\u00f3pria Vale dizia que, se acontecesse um incidente como o que aconteceu, o valor pago seria superior ao que o MP negociou \u2014 seria de R$ 2,5 milh\u00f5es”, diz ela.<\/p>\n\n\n\n

Procurada sobre essa diferen\u00e7a de valores, a Vale n\u00e3o respondeu at\u00e9 a publica\u00e7\u00e3o deste texto.<\/p>\n\n\n\n

\"Parentes
Parentes de funcion\u00e1rios da Vale aguardando informa\u00e7\u00f5es logo nos dias seguintes ao rompimento da barragem<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Mar\u00edlia \u00e9 psic\u00f3loga, mas est\u00e1 desempregada \u2014 foi demitida do centro socioeducativo onde trabalhava quando seu rendimento come\u00e7ou a cair, segundo ela, em decorr\u00eancia do trauma e das muitas viagens que tinha que fazer para participar de audi\u00eancias ligadas ao processo.<\/p>\n\n\n\n

“Quando uma coisa dessas acontece, ela te toma muito tempo. Eu tive que aprender sobre temas, assuntos, voc\u00e1bulos, termos t\u00e9cnicos, tive que me informar para saber quais eram meus direitos. Tudo isso toma muito tempo. Fora o impacto psicol\u00f3gico e emocional. Eu n\u00e3o estava rendendo o que a empresa queria”, diz ela.<\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m das indeniza\u00e7\u00f5es \u00e0s fam\u00edlias de v\u00edtimas, a Vale tamb\u00e9m faz pagamentos mensais a todos os moradores de Brumadinho no valor de um sal\u00e1rio m\u00ednimo (R$1.039 em 2019) para adultos, 50% para adolescentes e 25% para crian\u00e7as.<\/p>\n\n\n\n

Quando o rompimento aconteceu, a empresa fez pagamentos emergenciais de R$ 100 mil para 276 fam\u00edlias de v\u00edtimas e R$ 50 mil para cem fam\u00edlias que residiam perto da barragem.<\/p>\n\n\n\n

‘Tive que passar o trator em cima’ \u2014 as perdas de quem vivia da terra<\/h2>\n\n\n\n

O Assentamento Pastorinhas \u00e9 cercado de mata por todos os lados. Nenhum de seus 152 hectares, 10 deles destinados \u00e0 agricultura agroecol\u00f3gica, foi atingido pela lama. No entanto, as 20 fam\u00edlias que vivem l\u00e1 tamb\u00e9m sofrem consequ\u00eancias indiretas do rompimento da barragem. “A agricultura pagou por um erro que n\u00e3o cometeu”, diz Val\u00e9ria Carneiro, que costuma representar o assentamento em entrevistas e outras apari\u00e7\u00f5es p\u00fablicas.<\/p>\n\n\n\n

O assentamento se sustenta com a venda de legumes, frutas e verduras para clientes individuais e para o governo, fornecendo merenda para escolas p\u00fablicas, como parte do Plano Nacional de Alimenta\u00e7\u00e3o Escolar.<\/p>\n\n\n\n

No entanto, em 2019, viu o n\u00famero de contratos fechados cair de 60 (em 2018) para 12 \u2014 tudo, segundo Val\u00e9ria, por receio dos clientes de que os produtos estariam contaminados com os componentes qu\u00edmicos presentes na lama de rejeitos de minera\u00e7\u00e3o que inundou o vale.<\/p>\n\n\n\n

“N\u00e3o tem divulga\u00e7\u00e3o das \u00e1reas que foram realmente afetadas, n\u00e3o tem uma ferramenta para desmistificar isso”, critica Val\u00e9ria. “As pessoas dizem para a gente, ‘quero comprar, mas como me garante que n\u00e3o est\u00e1 contaminado?'”<\/p>\n\n\n\n

“Eu mesma tive que passar o trator em cima de uma planta\u00e7\u00e3o de abobrinha porque n\u00e3o tinha comprador para elas”, diz a agricultora.<\/p>\n\n\n\n

Segundo ela, h\u00e1 muitos trabalhadores do campo endividados e, consequentemente, caindo em tristeza profunda. “2018 foi um ano bom para a gente, ent\u00e3o muita gente pegou empr\u00e9stimo para ampliar sua produ\u00e7\u00e3o. A\u00ed veio o rompimento da barragem, a produ\u00e7\u00e3o caiu e as pessoas n\u00e3o conseguem pagar esse investimento. Quem n\u00e3o consegue pagar sofre.”<\/p>\n\n\n\n

\"Planta\u00e7\u00e3o
Helio Murta, 72, plantava mandioca, banana e car\u00e1, al\u00e9m de produzir mel, que vendia no centro de Brumadinho<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Logo ap\u00f3s o incidente, a Vale deu R$ 15 mil para 91 produtores rurais e comerciantes e R$ 50 mil para propriet\u00e1rios rurais com atividades produtivas na Zona de Autossalvamento \u2014 a regi\u00e3o de proximidade imediata \u00e0 barragem. Mas esse n\u00e3o foi o caso do assentamento.<\/p>\n\n\n\n

“Foi feito um trabalho com os afetados diretos, mas uma coisa dessas tem efeito domin\u00f3”, diz Val\u00e9ria.<\/p>\n\n\n\n

A Defensoria P\u00fablica de Minas Gerais assinou Termo de Compromisso com a Vale para o pagamento de indeniza\u00e7\u00f5es extrajudiciais. O \u00f3rg\u00e3o avalia que n\u00e3o h\u00e1 como mensurar o n\u00famero de agricultores atingidos com direito a repara\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

“Isso porque o Termo de Compromisso contempla uma ampla diversidade de atingimento sujeita a repara\u00e7\u00e3o, e todos aqueles com alguma perda nos mais variados graus s\u00e3o considerados atingidos, independentemente de estarem ou n\u00e3o na \u00e1rea geogr\u00e1fica alcan\u00e7ada pela lama”, diz o \u00f3rg\u00e3o, em nota.<\/p>\n\n\n\n

“Desde o agricultor que perdeu uma pequena planta\u00e7\u00e3o at\u00e9 aquele que perdeu toda uma propriedade, ou teve sua terra desvalorizada (provavelmente todos), ou perdeu renda por fuga de compradores ou por dificuldade de escoamento, entre outras das mais diversas situa\u00e7\u00f5es.”<\/p>\n\n\n\n

At\u00e9 o momento, 76 produtores rurais procuraram a Defensoria em busca dessas indeniza\u00e7\u00f5es. Destes, 33 fecharam o acordo e 43 j\u00e1 aceitaram as condi\u00e7\u00f5es e aguardam os tr\u00e2mites legais.<\/p>\n\n\n\n

Em rela\u00e7\u00e3o \u00e0s atividades rurais, a Vale diz que tem uma equipe especializada para o atendimento. “Caso necess\u00e1rio, \u00f3rg\u00e3os competentes como Instituto Mineiro de Agropecu\u00e1ria (IMA) s\u00e3o acionados para an\u00e1lise t\u00e9cnica.”<\/p>\n\n\n\n

“Al\u00e9m disso, toda atividade econ\u00f4mica em \u00e1reas diretamente afetadas pelo rompimento \u00e9 pass\u00edvel de solicita\u00e7\u00e3o para indeniza\u00e7\u00e3o e a empresa permanece em di\u00e1logo aberto com as comunidades. A Vale est\u00e1 tamb\u00e9m garantindo o fornecimento de \u00e1gua pot\u00e1vel e mineral para irriga\u00e7\u00e3o, dessedenta\u00e7\u00e3o animal e consumo humano para todas as propriedades que n\u00e3o s\u00e3o atendidas pela Copasa e captavam diretamente no rio Paraopeba. A empresa tamb\u00e9m forneceu bebedouros, ra\u00e7\u00e3o e cercas para evitar o contato dos animais com o rio”, diz a Vale, em nota.<\/p>\n\n\n\n

Tamb\u00e9m para esses agricultores que n\u00e3o foram afetados diretamente, a mem\u00f3ria daquele dia tem consequ\u00eancias emocionais.<\/p>\n\n\n\n

Val\u00e9ria diz que sente como se “tivesse sido aprisionada em um dia. Amanhece, anoitece e \u00e9 dia 25 de janeiro.” Naquela tarde, ela havia sentado para almo\u00e7ar quando um amigo ligou para o seu celular dizendo “corre, a barragem rompeu, est\u00e1 matando todo o mundo aqui”.<\/p>\n\n\n\n

“Sa\u00edmos correndo sem saber para onde. Quando chegamos num lugar alto, vi a cena. Era como uma massa de bolo carregando tudo \u2014 casa, poste, carro. Penso nisso todos os dias.”<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Quando se conversa com afetados pelo rompimento da barragem de Brumadinho, muitos citam um mesmo sentimento, sejam essas pessoas parentes de v\u00edtimas, sobreviventes da trag\u00e9dia, moradores da cidade ou agricultores da regi\u00e3o. “\u00c9 como se eu tivesse sido aprisionada em um dia”, “voc\u00ea acorda e todo dia \u00e9 25 de janeiro”, “\u00e9 como se aquele dia n\u00e3o tivesse acabado”. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":156764,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[4029,446,730,10],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/156763"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=156763"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/156763\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":156765,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/156763\/revisions\/156765"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/156764"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=156763"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=156763"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=156763"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}