{"id":156775,"date":"2020-01-28T01:26:00","date_gmt":"2020-01-28T04:26:00","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=156775"},"modified":"2020-01-27T21:37:59","modified_gmt":"2020-01-28T00:37:59","slug":"a-humanidade-tornou-se-assassina-de-si-mesma-diz-leonardo-boff","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2020\/01\/28\/156775-a-humanidade-tornou-se-assassina-de-si-mesma-diz-leonardo-boff.html","title":{"rendered":"“A humanidade tornou-se assassina de si mesma”, diz Leonardo Boff"},"content":{"rendered":"\n
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Leonardo Boff: “Devemos refletir sobre esse tipo de sociedade que s\u00f3 pensa no lucro e que n\u00e3o pode continuar”<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

De bengala, o te\u00f3logo Leonardo Boff sai \u00e0s ruas para pedir valoriza\u00e7\u00e3o \u00e0 vida em vez do lucro, al\u00e9m de cuidado com o planeta Terra, toler\u00e2ncia e justi\u00e7a. Aos 81 anos, ele participou de uma romaria no \u00faltimo s\u00e1bado (25\/01) em Brumadinho, que prestou\u00a0homenagens \u00e0s 270 v\u00edtimas\u00a0soterradas ap\u00f3s o rompimento da barragem da Vale em 2019.<\/p>\n\n\n\n

Segundo Boff, em nome do lucro, os humanos transformaram a Terra num matadouro. “N\u00f3s nos transformamos no Sat\u00e3 da Terra […] Matamos animais, florestas, \u00e1guas, matamos os pobres, os negros, os que t\u00eam outra op\u00e7\u00e3o sexual. Nos tornamos assassinos de n\u00f3s mesmos”, afirmou em entrevista \u00e0 DW Brasil.<\/p>\n\n\n\n

O te\u00f3logo disse ainda que aqueles que negam as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas o fazem “por maldade, por estupidez, porque interessa a eles mais o dinheiro e o lucro”.<\/p>\n\n\n\n

Com doutorado em Teologia pela Universidade de Munique, na Alemanha, Boff foi professor na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e um dos expoentes da Teologia da Liberta\u00e7\u00e3o, corrente da Igreja Cat\u00f3lica fundada na Am\u00e9rica Latina que enfatiza a \u00e9tica social crist\u00e3 em defesa dos pobres e oprimidos, e que teve influ\u00eancia do marxismo. Boff tamb\u00e9m tem hist\u00f3rico como assessor de movimentos populares e \u00e9 autor de v\u00e1rios livros sobre temas ligados \u00e0 teologia, filosofia, \u00e9tica e ecologia.<\/p>\n\n\n\n

DW Brasil: O senhor est\u00e1 acompanhando uma romaria, que tamb\u00e9m tem  presen\u00e7a de movimentos sociais, na cidade que sofreu o impacto de uma trag\u00e9dia humanit\u00e1ria e ambiental. Como o senhor enxerga o papel da Igreja Cat\u00f3lica e sociedade civil neste cen\u00e1rio?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Leonardo Boff: <\/strong>Este cen\u00e1rio coloca em xeque o modelo de produ\u00e7\u00e3o e o tipo de civiliza\u00e7\u00e3o que n\u00f3s temos \u2013 que n\u00e3o coloca a vida no centro, mas o lucro. Ela [a civiliza\u00e7\u00e3o] sacrifica a vida humana, a vida da natureza, dos rios, em fun\u00e7\u00e3o dos lucros.<\/p>\n\n\n\n

Este momento \u00e9 de chorar os mortos, porque houve um crime, eles sabiam do risco e n\u00e3o tomaram as medidas necess\u00e1rias para evitar esse mortic\u00ednio de pessoas. Mas, ao mesmo tempo, \u00e9 a ocasi\u00e3o para a gente refletir sobre esse tipo de produ\u00e7\u00e3o, esse tipo de sociedade que s\u00f3 pensa no lucro e bens materiais, e que n\u00e3o pode continuar.<\/p>\n\n\n\n

A vida est\u00e1 no centro. E o ser humano tem cora\u00e7\u00e3o para sentir o sofrimento do outro, de se solidarizar com aqueles que sofrem e entender que, al\u00e9m das religi\u00f5es, al\u00e9m dos partidos, vale a dignidade do sofrimento. E a solidariedade com eles.<\/p>\n\n\n\n

H\u00e1 pouco tempo, o S\u00ednodo para Amaz\u00f4nia, convocado pelo papa Francisco, pediu que os cidad\u00e3os se envolvam mais em quest\u00f5es pol\u00edticas. O que o senhor pensa sobre isso?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

O papa j\u00e1 havia sido inteligente na sua Enc\u00edclica [documento papal escrito em 2015 com o t\u00edtulo de Laudato Si<\/em>, que falou sobre o cuidado que os crist\u00e3os devem ter com a Terra]. \u00c9 uma ecologia \u00edntegra, que pega o ambiente, pega pol\u00edtica, a mente, as ideias, os sonhos, as escolas, os valores, e pega tamb\u00e9m a dimens\u00e3o mais familiar, corriqueira, como organizamos nosso alimento, nossa casa, nossa vida, e, no fim, a dimens\u00e3o espiritual. Saber que abra\u00e7ando o mundo estamos abra\u00e7ando a Deus. <\/p>\n\n\n\n

O papa despertou em n\u00f3s a consci\u00eancia sobre o cuidado da casa comum. Ou n\u00f3s cuidamos da \u00e1gua, das plantas, dos animais, cuidamos uns dos outros, ou vamos ao encontro de uma grande cat\u00e1strofe ecol\u00f3gica e social.<\/p>\n\n\n\n

A Terra est\u00e1 doente, ela est\u00e1 mostrando isso. Essas\u00a0chuvas aqui em Belo Horizonte e regi\u00e3o\u2026 Em todas as partes h\u00e1 secas enormes, nevascas nuncas vistas\u2026 A Terra perdeu o seu equil\u00edbrio e pertence ao ser humano devolver o equil\u00edbrio da Terra. Se a Terra est\u00e1 doente, nos faz doentes, e n\u00f3s, doentes, adoecemos a Terra. Temos que encontrar uma harmonia, cuid\u00e1-la, n\u00e3o superexplor\u00e1-la, tirar o que \u00e9 suficiente para a vida, e n\u00e3o para o lucro, para o ganho.<\/p>\n\n\n\n

O ensino do S\u00ednodo Panamaz\u00f4nico tinha esse sentido: pensar na Terra, na humanidade, n\u00e3o simplesmente na regi\u00e3o, ou s\u00f3 nas baleias, no mico-le\u00e3o dourado. Trata-se da totalidade da nossa casa comum que est\u00e1 em risco.<\/p>\n\n\n\n

Por outro lado, temos na cena pol\u00edtica nacional e internacional chefes de Estado que negam esse problema, negam a integra\u00e7\u00e3o entre homem e meio ambiente, as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas. Como engajar os cidad\u00e3os comuns?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Acho que a primeira coisa que devemos dizer \u00e9: devemos olhar a Terra e nos dar conta dos fen\u00f4menos. N\u00e3o se pode ficar cego aos tuf\u00f5es, \u00e0s imensas torrentes de enchentes, \u00e0 desertifica\u00e7\u00e3o. Quase 60% dos desertos no mundo est\u00e3o crescendo mais e mais. N\u00e3o se pode ficar cego \u00e0 desfloresta\u00e7\u00e3o. S\u00e3o fen\u00f4menos que n\u00e3o podem ser negados.<\/p>\n\n\n\n

Aqueles que os negam, os negam por maldade, por estupidez, porque interessa a eles mais o dinheiro e o lucro. S\u00e3o os que colocam margem \u00e0 vida humana e \u00e0 vida da natureza. Quando chegar na pele deles, sentirem eles as consequ\u00eancias\u2026 porque a crise ecol\u00f3gica n\u00e3o conhece os limites das na\u00e7\u00f5es. Se houver uma contamina\u00e7\u00e3o na regi\u00e3o, ou um v\u00edrus que nos pode atacar a todos, ele n\u00e3o distingue quem \u00e9 rico e quem \u00e9 pobre. Ataca a todos. Ent\u00e3o, a um risco global, devemos dar uma resposta global.<\/p>\n\n\n\n

Os crist\u00e3os t\u00eam valores, as v\u00e1rias igrejas, que v\u00eam do Evangelho, que v\u00eam das pr\u00e1ticas de Jesus: colocar a vida no centro, miseric\u00f3rdia, compaix\u00e3o, sofrer e chorar com quem chora. Essas atitudes nos levam a essa solidariedade que pode superar essa crise.<\/p>\n\n\n\n

A ONU j\u00e1 definiu que a Terra \u00e9 m\u00e3e Terra. E m\u00e3e a gente ama, defende, cuida. Terra comum a gente compra, vende, faz o que quiser. Mas n\u00e3o faz com a m\u00e3e. Vamos tratar a Terra como tratamos nossas m\u00e3es, com carinho, cuidado, amor. Se n\u00e3o fizermos isso, vamos ao encontro do pior.<\/p>\n\n\n\n

O qu\u00e3o dif\u00edcil \u00e9 propagar essas ideias num Brasil t\u00e3o polarizado como visto nos \u00faltimos anos?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

\u00c9 dif\u00edcil e \u00e9 f\u00e1cil. \u00c9 dif\u00edcil porque muitos s\u00e3o cegos. Essas pessoas v\u00e3o aprender quando sentirem na pr\u00f3pria pele, na sua cidade que ser\u00e1 inundada, no calor imenso que vai trazer doen\u00e7as \u00e0s crian\u00e7as. Ent\u00e3o, eles se dar\u00e3o conta de onde vem isso. E a\u00ed descobrem que a Terra est\u00e1 doente, que eles mesmos est\u00e3o doentes.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 a realidade que vai conscientizar. Por isso temos que observar a realidade, acompanhar a situa\u00e7\u00e3o do mundo, da Terra. Hoje, todos os meios de comunica\u00e7\u00e3o nos colocam em contato com tudo o que ocorre.<\/p>\n\n\n\n

E tamb\u00e9m \u00e9 preciso a reflex\u00e3o. Que o ser humano foi instaurado por Deus como cuidador desse jardim. E n\u00f3s nos transformamos no Sat\u00e3 da Terra. Transformamos esse jardim num matadouro: matamos animais, florestas, \u00e1guas, matamos os pobres, os negros, os que t\u00eam outra op\u00e7\u00e3o sexual. Nos tornamos assassinos de n\u00f3s mesmos. N\u00e3o reconhecemos o outro como coigual, como irm\u00e3o. Submetemos, exploramos.<\/p>\n\n\n\n

Chegou o momento em que n\u00e3o podemos continuar assim, como o papa diz e os grandes cientistas dizem. Eu participo de uma equipe, da Carta da Terra, que faz um balan\u00e7o a cada dois meses sobre qual \u00e9 a situa\u00e7\u00e3o da Terra. Todos os itens v\u00e3o piorando de ano para ano.<\/p>\n\n\n\n

N\u00f3s nos perguntamos: quando vai parar? Talvez n\u00e3o pare. Ou s\u00f3 pare com uma grande cat\u00e1strofe, e todos ser\u00e3o atingidos. E os que aprenderam ter\u00e3o formas de sobreviver. Os que n\u00e3o aprenderam\u00a0n\u00e3o sabem o que fazer e correm o risco de serem submergidos, como tantos aqui foram submergidos com a ruptura da barragem da Vale.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: Deutsche Welle<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Em entrevista, te\u00f3logo afirma que quem nega as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas o faz “por maldade, estupidez, interesse no lucro” e que cabe ao ser humano devolver o equil\u00edbrio do planeta. “Se a Terra est\u00e1 doente, nos faz doentes.” <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":156776,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[935,276,1755],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/156775"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=156775"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/156775\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":156777,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/156775\/revisions\/156777"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/156776"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=156775"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=156775"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=156775"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}