{"id":156805,"date":"2020-01-30T15:32:00","date_gmt":"2020-01-30T18:32:00","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=156805"},"modified":"2020-01-29T20:37:46","modified_gmt":"2020-01-29T23:37:46","slug":"derretimento-da-antartida-uma-viagem-a-geleira-do-fim-do-mundo-ameacada-pelo-aquecimento-global","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2020\/01\/30\/156805-derretimento-da-antartida-uma-viagem-a-geleira-do-fim-do-mundo-ameacada-pelo-aquecimento-global.html","title":{"rendered":"Derretimento da Ant\u00e1rtida: uma viagem \u00e0 ‘geleira do fim do mundo’, amea\u00e7ada pelo aquecimento global"},"content":{"rendered":"\n
\"Acampamento<\/figure>\n\n\n\n

As imagens s\u00e3o turvas no in\u00edcio.<\/p>\n\n\n\n

Sedimentos passam pela c\u00e2mera enquanto Icefin, um submarino rob\u00f4 amarelo operado remotamente, avan\u00e7a pelo gelo.<\/p>\n\n\n\n

Ent\u00e3o, as \u00e1guas come\u00e7am a ficar mais claras.<\/p>\n\n\n\n

O Icefin est\u00e1 a 600 metros de profundidade e posicionado diante de uma das maiores geleiras do mundo.<\/p>\n\n\n\n

De repente, uma sombra aparece por cima dele.<\/p>\n\n\n\n

\"Submarino<\/figure>\n\n\n\n

Trata-se de uma imagem \u00fanica \u2014 um exemplo de como nosso mundo est\u00e1 mudando rapidamente.<\/p>\n\n\n\n

O Icefin chegou ao ponto em que a \u00e1gua quente se encontra com o pared\u00e3o de gelo na frente da poderosa geleira Thwaites \u2014 o local onde essa imensa massa de gelo come\u00e7a a derreter.<\/p>\n\n\n\n

Glaciologistas, especialistas que estudam o gelo, descrevem Thwaites como a geleira “mais importante” do mundo, a geleira “mais perigosa” e at\u00e9 a geleira “do ju\u00edzo final”.<\/p>\n\n\n\n

\"Buraco<\/figure>\n\n\n\n

Ela \u00e9 enorme, aproximadamente do tamanho do Reino Unido.<\/p>\n\n\n\n

A geleira Thwaites j\u00e1 responde por 4% da eleva\u00e7\u00e3o do n\u00edvel do mar no mundo a cada ano \u2014 um n\u00famero enorme para uma \u00fanica geleira \u2014 e os dados de sat\u00e9lite mostram que ela est\u00e1 derretendo cada vez mais rapidamente.<\/p>\n\n\n\n

Essa imensa massa de gelo concentra \u00e1gua suficiente para elevar o n\u00edvel do mar em mais de meio metro.<\/p>\n\n\n\n

A Thwaites se localiza no chamado Manto de Gelo da Ant\u00e1rtica Ocidental, uma vasta bacia de gelo que poderia aumentar o n\u00edvel dos oceanos em tr\u00eas metros.<\/p>\n\n\n\n

\"Ilustra\u00e7\u00e3o<\/figure>\n\n\n\n

No entanto, at\u00e9 este ano, ningu\u00e9m havia realizado uma pesquisa cient\u00edfica em larga escala sobre a geleira.<\/p>\n\n\n\n

A equipe Icefin, juntamente com cerca de 40 outros cientistas, faz parte da International\u00a0Thwaites Glacier Collaboration, um projeto de cinco anos envolvendo v\u00e1rios pa\u00edses e or\u00e7ado em US$ 50 milh\u00f5es. O objetivo \u00e9 entender por que a geleira passa por um processo de transforma\u00e7\u00e3o t\u00e3o r\u00e1pido.<\/p>\n\n\n\n

Trata-se do maior e mais complexo programa de campo cient\u00edfico da hist\u00f3ria da Ant\u00e1rtida.<\/p>\n\n\n\n

Voc\u00ea pode se surpreender por saber t\u00e3o pouco sobre uma geleira t\u00e3o importante \u2014 foi assim que me senti quando fui convidado para cobrir o trabalho desta equipe.<\/p>\n\n\n\n

\"Ilustra\u00e7\u00e3o<\/figure>\n\n\n\n

Rapidamente, descobri o motivo ao tentar chegar l\u00e1.<\/p>\n\n\n\n

A neve na pista de gelo atrasa meu voo da Nova Zel\u00e2ndia para McMurdo, a principal esta\u00e7\u00e3o de pesquisa dos EUA na Ant\u00e1rtica.<\/p>\n\n\n\n

Este \u00e9 o primeiro de toda uma s\u00e9rie de atrasos e interrup\u00e7\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n

As equipes de cientistas demoram semanas apenas para chegarem aos campos de pesquisa.<\/p>\n\n\n\n

Em um determinado momento, toda a pesquisa da temporada esteve prestes a ser cancelada porque as tempestades impediram todos os voos para a Ant\u00e1rtida Ocidental a partir de McMurdo por 17 dias consecutivos.<\/p>\n\n\n\n

\"Chegada<\/figure>\n\n\n\n

Por que Thwaites \u00e9 importante?<\/h2>\n\n\n\n

A Ant\u00e1rtida Ocidental \u00e9 a parte mais turbulenta do continente com o clima mais turbulento do mundo.<\/p>\n\n\n\n

E Thwaites \u00e9 remota, mesmo para os padr\u00f5es da Ant\u00e1rtida, a mais de 1.600 km da esta\u00e7\u00e3o de pesquisa mais pr\u00f3xima.<\/p>\n\n\n\n

Apenas quatro pessoas j\u00e1 estiveram diante da geleira antes desta expedi\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Mas entender o que est\u00e1 acontecendo ali \u00e9 essencial para que os cientistas sejam capazes de prever com precis\u00e3o o futuro aumento do n\u00edvel dos oceanos no mundo.<\/p>\n\n\n\n

O gelo na Ant\u00e1rtida det\u00e9m 90% da \u00e1gua doce do mundo, e 80% desse gelo est\u00e3o na parte oriental do continente.<\/p>\n\n\n\n

\"Vista<\/figure>\n\n\n\n

O gelo na Ant\u00e1rtida Oriental \u00e9 espesso \u2014 mede mais de um quil\u00f4metro e meio em m\u00e9dia \u2014, mas est\u00e1 numa altitude mais elevada e s\u00f3 se arrasta lentamente at\u00e9 o mar.<\/p>\n\n\n\n

Algumas delas existem h\u00e1 milh\u00f5es de anos.<\/p>\n\n\n\n

A Ant\u00e1rtida Ocidental, no entanto, \u00e9 muito diferente. \u00c9 menor, mas ainda enorme, e \u00e9 muito mais vulner\u00e1vel a mudan\u00e7as.<\/p>\n\n\n\n

Ao contr\u00e1rio do leste, n\u00e3o est\u00e1 em uma altitude elevada. De fato, praticamente toda a sua superf\u00edcie est\u00e1 muito abaixo do n\u00edvel do mar. Se n\u00e3o fosse pelo gelo, seria um oceano profundo com algumas ilhas.<\/p>\n\n\n\n

Estive na Ant\u00e1rtida cinco semanas antes de finalmente embarcar na expedi\u00e7\u00e3o que me levou \u00e0 frente da geleira.<\/p>\n\n\n\n

\"Ilustra\u00e7\u00e3o<\/figure>\n\n\n\n

Acampados no gelo acima do ponto onde a geleira encontra a \u00e1gua do oceano, a tarefa dos cientistas \u00e9 a mais ambiciosa de todas.<\/p>\n\n\n\n

Eles querem perfurar quase 800 metros de gelo exatamente no ponto em que a geleira flutua.<\/p>\n\n\n\n

Ningu\u00e9m nunca fez isso em uma geleira t\u00e3o grande e din\u00e2mica.<\/p>\n\n\n\n

Eles usar\u00e3o o buraco para obter acesso \u00e0 \u00e1gua do mar que derrete a geleira para descobrir de onde \u00e9 e por que est\u00e1 atacando a geleira com tanta for\u00e7a.<\/p>\n\n\n\n

\"Ilustra\u00e7\u00e3o<\/figure>\n\n\n\n

Eles n\u00e3o t\u00eam muito tempo.<\/p>\n\n\n\n

Cada atraso significa que restam apenas algumas semanas do ver\u00e3o ant\u00e1rtico antes que o tempo comece a ficar realmente ruim.<\/p>\n\n\n\n

Enquanto os membros da equipe de perfura\u00e7\u00e3o montam seus equipamentos, ajudo com uma pesquisa s\u00edsmica da superf\u00edcie sob a geleira.<\/p>\n\n\n\n

Kiya Riverman, glaciologista da Universidade de Oregon, nos Estados Unidos, perfura um buraco com uma grande broca espiral de a\u00e7o inoxid\u00e1vel e espalha pequenos explosivos.<\/p>\n\n\n\n

O resto de n\u00f3s cava buracos no gelo para os geofones, os “ouvidos eletr\u00f4nicos” que escutam o eco da explos\u00e3o que ressoa da rocha atrav\u00e9s das camadas de \u00e1gua e gelo.<\/p>\n\n\n\n

\"Geleira<\/figure>\n\n\n\n

No fundo do mar<\/h2>\n\n\n\n

A raz\u00e3o pela qual os cientistas est\u00e3o t\u00e3o preocupados com a geleira Thwaites se deve ao decl\u00ednio de seu leito submarino.<\/p>\n\n\n\n

Isso significa que a geleira fica mais e mais espessa \u00e0 medida que se caminha rumo a seu interior.<\/p>\n\n\n\n

No seu ponto mais profundo, a base da geleira fica a mais de um quil\u00f4metro abaixo do n\u00edvel do mar e h\u00e1 outro quil\u00f4metro de gelo por cima.<\/p>\n\n\n\n

O que parece estar acontecendo \u00e9 que a \u00e1gua quente e profunda do oceano est\u00e1 fluindo para a costa e para sob o gelo, derretendo a geleira.<\/p>\n\n\n\n

\u00c0 medida que a geleira diminui de tamanho, mais gelo fica exposto.<\/p>\n\n\n\n

\"Ilustra\u00e7\u00e3o<\/figure>\n\n\n\n

A t\u00edtulo de compara\u00e7\u00e3o, seria como cortar fatias a partir da ponta de um peda\u00e7o triangular de queijo.<\/p>\n\n\n\n

Cada peda\u00e7o retirado ter\u00e1 uma \u00e1rea de superf\u00edcie maior \u2014 deixando ainda mais gelo exposto para a \u00e1gua derreter.<\/p>\n\n\n\n

\"Cientistas<\/figure>\n\n\n\n

E esse n\u00e3o \u00e9 o \u00fanico efeito.<\/p>\n\n\n\n

A gravidade faz com que o gelo fique ‘plano’. \u00c0 medida que a parte frontal da geleira derrete, o peso do vasto reservat\u00f3rio de gelo atr\u00e1s dela a empurra para frente.<\/p>\n\n\n\n

Portanto, quanto mais a geleira derrete, mais rapidamente o gelo flui nela.<\/p>\n\n\n\n

“O medo \u00e9 que esses processos apenas se acelerem”, diz Riverman. “\u00c9 um ciclo vicioso.”<\/p>\n\n\n\n

Fazer ci\u00eancia dessa escala em um ambiente t\u00e3o extremo n\u00e3o \u00e9 apenas levar alguns cientistas para um local remoto.<\/p>\n\n\n\n

Eles precisam de toneladas de equipamentos especializados e dezenas de milhares de litros de combust\u00edvel, al\u00e9m de tendas e outros materiais e alimentos.<\/p>\n\n\n\n

Acampei no gelo por um m\u00eas; alguns dos cientistas ficar\u00e3o l\u00e1 por muito mais tempo, dois meses ou mais.<\/p>\n\n\n\n

Foi necess\u00e1ria mais de uma dezena de voos da frota de enormes avi\u00f5es de carga Hercules do programa ant\u00e1rtico dos EUA apenas para levar os cientistas e parte de seu equipamento ao principal local de teste do projeto, no meio da camada de gelo da Ant\u00e1rtida Ocidental.<\/p>\n\n\n\n

Avi\u00f5es menores \u2014 um velho Dakota e dois Twin Otter \u2014 transportaram as pessoas e os suprimentos para os acampamentos, centenas de quil\u00f4metros abaixo da geleira em dire\u00e7\u00e3o ao mar.<\/p>\n\n\n\n

\"Ilustra\u00e7\u00e3o<\/figure>\n\n\n\n

As dist\u00e2ncias s\u00e3o t\u00e3o grandes que eles precisaram montar outro acampamento na metade do caminho para que os avi\u00f5es pudessem reabastecer.<\/p>\n\n\n\n

A contribui\u00e7\u00e3o do British Antarctic Survey, \u00f3rg\u00e3o respons\u00e1vel pelos assuntos relativos aos interesses do Reino Unido na Ant\u00e1rtida, foi uma jornada \u00e9pica por terra que trouxe centenas de toneladas de combust\u00edvel e carga.<\/p>\n\n\n\n

Dois navios cobertos por gelo atracaram ao lado de um penhasco no sop\u00e9 da Pen\u00ednsula Ant\u00e1rtica durante o \u00faltimo ver\u00e3o ant\u00e1rtico.<\/p>\n\n\n\n

Uma equipe de motoristas, em ve\u00edculos de neve especializados, percorreu mais de mil quil\u00f4metros por uma das superf\u00edcies com clima mais in\u00f3spito do mundo.<\/p>\n\n\n\n

Foi dif\u00edcil, a velocidade m\u00e1xima era de apenas 10 km\/h.<\/p>\n\n\n\n

\"Navios<\/figure>\n\n\n\n

Perfurando o gelo<\/h2>\n\n\n\n

Os cientistas do acampamento planejam usar \u00e1gua quente para perfurar seu buraco no gelo.<\/p>\n\n\n\n

Eles precisam de 10 mil litros de \u00e1gua, o que significa derreter 10 toneladas de neve.<\/p>\n\n\n\n

Todo mundo come\u00e7a a trabalhar com p\u00e1s, jogando neve em um recipiente de borracha do tamanho de uma pequena piscina.<\/p>\n\n\n\n

“Ser\u00e1 a jacuzzi mais ao sul do mundo”, brinca Paul Anker, engenheiro de perfura\u00e7\u00e3o da British Antarctic Survey.<\/p>\n\n\n\n

O princ\u00edpio \u00e9 simples: voc\u00ea aquece a \u00e1gua com um conjunto de caldeiras at\u00e9 um pouco abaixo do ponto de ebuli\u00e7\u00e3o e depois a pulveriza no gelo, derretendo por onde ela passa.<\/p>\n\n\n\n

\"Cientistas<\/figure>\n\n\n\n

Mas perfurar um buraco de 30 cm em quase 800 metros de gelo diante da geleira mais remota do mundo n\u00e3o \u00e9 f\u00e1cil.<\/p>\n\n\n\n

Como o gelo est\u00e1 a cerca de -25\u00b0C, o buraco pode congelar e todo o processo depende dos caprichos do clima.<\/p>\n\n\n\n

\"Acampamento\"\/<\/figure>\n\n\n\n

No in\u00edcio de janeiro, o recipiente est\u00e1 cheio e todo o equipamento, pronto. Contudo, recebemos um aviso de que mais uma tempestade est\u00e1 a caminho.<\/p>\n\n\n\n

Tempestades ant\u00e1rticas podem ser muito intensas. N\u00e3o \u00e9 incomum ter ventos com for\u00e7a de furac\u00e3o, bem como temperaturas muito baixas.<\/p>\n\n\n\n

Este \u00e9 relativamente leve para a Ant\u00e1rtica, mas ainda envolve tr\u00eas dias de vento com rajadas de at\u00e9 80 km\/h. Sopram enormes correntes de neve no acampamento, cobrindo o equipamento, e todo o trabalho \u00e9 interrompido.<\/p>\n\n\n\n

Sentamos em uma barraca para jogar cartas e beber ch\u00e1 enquanto os cientistas discutem por que a geleira est\u00e1 recuando t\u00e3o rapidamente.<\/p>\n\n\n\n

Eles dizem que o que est\u00e1 acontecendo aqui se deve \u00e0 complexa intera\u00e7\u00e3o de clima, tempo e correntes oce\u00e2nicas.<\/p>\n\n\n\n

A chave para entender isso \u00e9 a \u00e1gua do mar quente, que se origina do outro lado do mundo.<\/p>\n\n\n\n

\u00c0 medida que a corrente do Golfo esfria entre a Groenl\u00e2ndia e a Isl\u00e2ndia, a \u00e1gua “afunda”.<\/p>\n\n\n\n

Essa \u00e1gua \u00e9 salgada, o que a torna relativamente pesada, mas ainda est\u00e1 um grau ou dois acima do ponto de congelamento.<\/p>\n\n\n\n

A \u00e1gua, ent\u00e3o, \u00e9 transportada por uma corrente oce\u00e2nica profunda at\u00e9 o sul do Atl\u00e2ntico.<\/p>\n\n\n\n

\"Cientistas<\/figure>\n\n\n\n

Ventos inst\u00e1veis<\/h2>\n\n\n\n

Aqui, ela se torna parte da Corrente Circumpolar Ant\u00e1rtica, fluindo profundamente (530m) abaixo de uma camada de \u00e1gua muito mais fria.<\/p>\n\n\n\n

A superf\u00edcie da \u00e1gua na Ant\u00e1rtida \u00e9 fria, pouco acima de -2\u00b0C, o ponto de congelamento da \u00e1gua salgada.<\/p>\n\n\n\n

A \u00e1gua circumpolar profunda e quente viaja por todo o continente, mas tem invadido cada vez mais a borda gelada da Ant\u00e1rtida Ocidental.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 aqui que entra a mudan\u00e7a clim\u00e1tica.<\/p>\n\n\n\n

Os cientistas dizem que o Oceano Pac\u00edfico est\u00e1 esquentando e isso est\u00e1 mudando os padr\u00f5es de vento na costa da Ant\u00e1rtida Ocidental, fazendo com que as \u00e1guas profundas e quentes subam sobre a plataforma continental.<\/p>\n\n\n\n

“A \u00e1gua circumpolar profunda da Ant\u00e1rtica \u00e9 apenas alguns graus mais quente que a \u00e1gua acima dela \u2014 um grau ou dois acima de 0\u00b0C \u2014 mas \u00e9 quente o suficiente para afetar essa geleira”, diz David Holland, ocean\u00f3grafo da Universidade de Nova York (EUA) e um dos os cientistas principais no acampamento.<\/p>\n\n\n\n

Ele deveria deixar a Ant\u00e1rtida no final de dezembro, mas, por causa dos atrasos, a perfura\u00e7\u00e3o s\u00f3 come\u00e7ou no dia 7 de janeiro.<\/p>\n\n\n\n

\"Cientistas<\/figure>\n\n\n\n

\u00c9 quando um telefonema via sat\u00e9lite vem do quartel-geral do Programa Ant\u00e1rtico dos Estados Unidos em McMurdo.<\/p>\n\n\n\n

Os americanos nos dizem que n\u00e3o podemos adiar mais nossos voos para deixar o continente e devemos partir no avi\u00e3o de suprimentos que deve chegar ao acampamento em mais ou menos uma hora.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 muito frustrante ser for\u00e7ado a sair antes que o buraco seja finalizado e instrumentos tenham sido instalados, especialmente considerando o tempo que levou para chegar aqui.<\/p>\n\n\n\n

Nos despedimos e embarcamos no avi\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

\"Plane<\/figure>\n\n\n\n

Olho para tr\u00e1s e vejo a roda no topo da broca girando, a mangueira preta rodando constantemente.<\/p>\n\n\n\n

Eles est\u00e3o quase na metade do caminho atrav\u00e9s do gelo.<\/p>\n\n\n\n

O avi\u00e3o sobrevoa o acampamento e segue para o norte, em dire\u00e7\u00e3o ao oceano.<\/p>\n\n\n\n

Os cientistas me disseram que est\u00e1vamos acampados no que \u00e9 basicamente uma pequena ba\u00eda de gelo protegida por uma ferradura de terreno elevado.<\/p>\n\n\n\n

Enquanto voamos sobre a frente da geleira, me dou conta de qu\u00e3o fr\u00e1gil ela \u00e9.<\/p>\n\n\n\n

Em alguns lugares, o grande manto de gelo se partiu completamente, dividindo-se em enormes icebergs que flutuam no caos ant\u00e1rtico.<\/p>\n\n\n\n

\"Vista<\/figure>\n\n\n\n

Em outros lugares, existem penhascos de gelo, alguns dos quais se elevam a quase um quil\u00f4metro do fundo do mar.<\/p>\n\n\n\n

A frente da geleira tem quase 160 km de largura e est\u00e1 derretendo a um ritmo de at\u00e9 3 km por ano.<\/p>\n\n\n\n

A escala \u00e9 impressionante e explica por que Thwaites j\u00e1 tem um papel t\u00e3o importante da eleva\u00e7\u00e3o do n\u00edvel dos mares, mas fico chocado ao descobrir que h\u00e1 outro processo que poderia acelerar ainda mais seu derretimento.<\/p>\n\n\n\n

Taxas de fus\u00e3o<\/h2>\n\n\n\n

A maioria das geleiras que desaguam no mar tem o que \u00e9 conhecido como “bomba de gelo”.<\/p>\n\n\n\n

A \u00e1gua do mar \u00e9 salgada e densa. A \u00e1gua derretida das geleiras \u00e9 doce e, portanto, relativamente leve.<\/p>\n\n\n\n

\u00c0 medida que a geleira derrete, a \u00e1gua doce tende a fluir para cima, puxando a \u00e1gua do mar mais quente e pesada para tr\u00e1s dela.<\/p>\n\n\n\n

Quando a \u00e1gua do mar est\u00e1 fria, esse processo \u00e9 muito lento, a bomba de gelo geralmente derrete algumas dezenas de cent\u00edmetros por ano \u2014 facilmente equilibrada pelo novo gelo criado pela queda de neve.<\/p>\n\n\n\n

Mas a \u00e1gua quente transforma o processo, de acordo com os cientistas.<\/p>\n\n\n\n

Ind\u00edcios de outras geleiras mostram que, se voc\u00ea aumentar a quantidade de \u00e1gua quente que chega \u00e0 geleira, a bomba de gelo funciona muito mais rapidamente.<\/p>\n\n\n\n

“Ela pode ‘incendiar’ geleiras”, diz Holland, “aumentando as taxas de derretimento em at\u00e9 cem vezes”.<\/p>\n\n\n\n

O pequeno avi\u00e3o nos leva ao acampamento no meio do manto de gelo da Ant\u00e1rtida Ocidental, mas o mau tempo acarreta mais atrasos e demoramos nove dias para voltar \u00e0 esta\u00e7\u00e3o de McMurdo.<\/p>\n\n\n\n

Outros cientistas se juntam a n\u00f3s.<\/p>\n\n\n\n

Foi uma temporada de muito sucesso.<\/p>\n\n\n\n

\"Avi\u00e3o<\/figure>\n\n\n\n

Os cientistas confirmaram que a \u00e1gua quente circumpolar profunda est\u00e1 ficando sob a geleira e coletaram enormes quantidades de dados.<\/p>\n\n\n\n

Icefin, o submarino rob\u00f4, conseguiu fazer cinco miss\u00f5es, fazendo v\u00e1rias medi\u00e7\u00f5es na \u00e1gua sob a geleira e gravando algumas imagens extraordin\u00e1rias.<\/p>\n\n\n\n

Levar\u00e1 anos para processar todas as informa\u00e7\u00f5es que a equipe coletou e incorporar as descobertas aos modelos usados para projetar futura eleva\u00e7\u00e3o do n\u00edvel do mar.<\/p>\n\n\n\n

Eleva\u00e7\u00e3o do n\u00edvel do mar<\/h2>\n\n\n\n

A Thwaites n\u00e3o desaparecer\u00e1 da noite para o dia. Os cientistas dizem que isso levar\u00e1 d\u00e9cadas, possivelmente mais de um s\u00e9culo.<\/p>\n\n\n\n

Mas n\u00e3o devemos nos tranquilizar com isso.<\/p>\n\n\n\n

A eleva\u00e7\u00e3o de um metro no n\u00edvel do mar pode n\u00e3o parecer muito, principalmente quando levamos em conta que, em alguns lugares, a mar\u00e9 pode subir e descer tr\u00eas ou quatro metros por dia.<\/p>\n\n\n\n

Mas o n\u00edvel do mar tem um enorme efeito sobre as tempestades, diz o professor David Vaughan, diretor de ci\u00eancia do British Antarctic Survey.<\/p>\n\n\n\n

Para Londres, por exemplo, um aumento de 50 cm no n\u00edvel do mar significaria que uma tempestade super intensa que acontece a cada mil anos passaria a acontecer a cada 100 anos.<\/p>\n\n\n\n

J\u00e1 uma eleva\u00e7\u00e3o de 1 metro encurtaria ainda mais esse prazo, para uma vez a cada d\u00e9cada.<\/p>\n\n\n\n

Outras cidades litor\u00e2neas, como Rio de Janeiro, Nova York e Hong Kong, tamb\u00e9m seriam afetadas. No caso brasileiro, segundo dados da Nasa, a ag\u00eancia espacial americana, o mar do Rio de Janeiro aumentou aproximadamente 3 mm por ano at\u00e9 2015.<\/p>\n\n\n\n

“N\u00e3o devemos nos surpreender”, diz Vaughan, enquanto nos preparamos para embarcar no avi\u00e3o que nos levar\u00e1 de volta \u00e0 Nova Zel\u00e2ndia e depois para casa.<\/p>\n\n\n\n

N\u00edveis crescentes de di\u00f3xido de carbono est\u00e3o injetando muito mais calor na atmosfera e nos oceanos.<\/p>\n\n\n\n

Calor \u00e9 energia, e energia impulsiona as correntes clim\u00e1ticas e oce\u00e2nicas.<\/p>\n\n\n\n

O aumento dessa quantidade de energia, diz ele, inevitavelmente provoca mudan\u00e7a nos grandes processos globais.<\/p>\n\n\n\n

“Eles j\u00e1 acontecem no \u00c1rtico”, lamenta Vaughan. “O que estamos vendo aqui na Ant\u00e1rtida \u00e9 apenas outro grande sistema respondendo \u00e0 sua maneira.”<\/p>\n\n\n\n

\"Geleiras\"\/<\/figure>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"