{"id":156826,"date":"2020-01-31T09:00:00","date_gmt":"2020-01-31T12:00:00","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=156826"},"modified":"2020-01-30T21:15:10","modified_gmt":"2020-01-31T00:15:10","slug":"crescimento-de-novas-florestas-em-areas-desmatadas-na-amazonia-demora-muito-mais-do-que-se-imaginava-mostra-estudo","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2020\/01\/31\/156826-crescimento-de-novas-florestas-em-areas-desmatadas-na-amazonia-demora-muito-mais-do-que-se-imaginava-mostra-estudo.html","title":{"rendered":"Crescimento de novas florestas em \u00e1reas desmatadas na Amaz\u00f4nia demora muito mais do que se imaginava, mostra estudo"},"content":{"rendered":"\n
\"\u00c1rea
Durante estudo, pesquisadores encontraram \u00e1rea de floresta secund\u00e1ria desmatada na regi\u00e3o de Bragantina<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Em 1999, a pesquisadora Socorro Ferreira come\u00e7ou a registrar as caracter\u00edsticas das novas \u00e1rvores que cresciam em \u00e1reas que haviam sido desmatadas na regi\u00e3o amaz\u00f4nica perto da cidade de Bragan\u00e7a, no nordeste do Par\u00e1.<\/p>\n\n\n\n

Com ajuda de outros especialistas, a pesquisadora mediu o di\u00e2metro das \u00e1rvores e sua altura. O objetivo era avaliar a din\u00e2mica da floresta que crescia no lugar da floresta original, chamada de “floresta secund\u00e1ria”. Sua habilidade de reter carbono da atmosfera \u00e9 tida como uma de suas maiores contribui\u00e7\u00f5es para mitigar as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas.<\/p>\n\n\n\n

Quase duas d\u00e9cadas depois, quando a floresta secund\u00e1ria completava 60 anos sem ser derrubada, essas mesmas \u00e1rvores foram revisitadas. O bi\u00f3logo Fernando Elias, especialista em ecologia, e outros pesquisadores do Brasil e do Reino Unido deram continuidade \u00e0 pesquisa de Socorro, fazendo invent\u00e1rios da vegeta\u00e7\u00e3o nas mesmas \u00e1reas.<\/p>\n\n\n\n

Em 18 anos, at\u00e9 2017, foram feitos dez censos de tr\u00eas hectares dessas florestas secund\u00e1rias, acompanhando o nascimento, crescimento e morte de \u00e1rvores, riqueza das esp\u00e9cies, quantidade de carbono retido, per\u00edodo de chuvas, entre outros. Socorro conduziu sua pesquisa com apoio da Embrapa; j\u00e1 o estudo de Elias faz parte de seu doutorado na Universidade Federal do Par\u00e1. A pesquisa foi publicada em dezembro de 2019 no peri\u00f3dico da Ecological Society of America.<\/p>\n\n\n\n

Ao fazer isso, descobriram algo inesperado: naquela regi\u00e3o na Amaz\u00f4nia, as novas \u00e1rvores n\u00e3o haviam crescido tanto quanto pesquisas anteriores sobre florestas secund\u00e1rias haviam previsto. Isso significa que a capacidade de novas florestas de ajudar no combate \u00e0s mudan\u00e7as clim\u00e1ticas n\u00e3o \u00e9 t\u00e3o grande quanto se havia imaginado, ou que demora muito mais para elas chegarem aos p\u00e9s da contribui\u00e7\u00e3o feita pelas florestas prim\u00e1rias.<\/p>\n\n\n\n

Segundo o estudo, mesmo depois de 60 anos de crescimento, as florestas secund\u00e1rias estudadas armazenavam apenas 41% do carbono que as florestas que n\u00e3o haviam tido interfer\u00eancia humana e 56% de sua diversidade arb\u00f3rea. Se essa tend\u00eancia continuar, levar\u00e1 150 anos para as florestas secund\u00e1rias estocarem a mesma quantidade de carbono que florestas prim\u00e1rias ao lado estocam.<\/p>\n\n\n\n

\"\"\/<\/figure>\n\n\n\n

Essa conclus\u00e3o se refere especificamente \u00e0 \u00e1rea Bragantina, regi\u00e3o leste do Par\u00e1. Ali, h\u00e1 um predom\u00ednio de floresta secund\u00e1ria associada a um desmatamento bastante antigo. H\u00e1 mais de dois s\u00e9culos, florestas ali foram desmatadas no processo de coloniza\u00e7\u00e3o e com aberturas de estradas. Outros cortes foram feitos por agricultores para fazer pastagens.<\/p>\n\n\n\n

O munic\u00edpio de Bragan\u00e7a, por exemplo, perdeu 90,2% de suas \u00e1reas de mangue e de floresta nativa, com \u00e1reas sendo queimadas diversas vezes e com pouco intervalo de tempo, segundo o estudo.<\/p>\n\n\n\n

Os agricultores tradicionais, que n\u00e3o usam maquin\u00e1rio nem adubo, diz Socorro, queimam a floresta, fazem a ro\u00e7a e, quando o solo esgota e fica pobre, deixam a vegeta\u00e7\u00e3o natural crescer para a terra descansar.<\/p>\n\n\n\n

Mas agora “as florestas est\u00e3o sendo derrubadas cada vez mais e com menos tempo de descanso”, afirma. “Antigamente, uma fam\u00edlia derrubava uma floresta e passava 20 anos para usar essa mesma \u00e1rea. Agora n\u00e3o, devido \u00e0 expans\u00e3o demogr\u00e1fica, agricultores familiares ficam com cada vez menos terra, tendo a necessidade de fazer a ro\u00e7a, a cada 2, 3 anos”, diz Socorro.<\/p>\n\n\n\n

\"Fernando
Pesquisadores Fernando e Socorro em \u00e1rea pr\u00f3xima \u00e0 floresta secund\u00e1ria que havia sido desmatada e queimada para liberar \u00e1rea para plantio<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

A regi\u00e3o tamb\u00e9m sofre com o impacto de secas, agravadas pelo fen\u00f4meno El Ni\u00f1o que, por sua vez, tem sido agravado por causa das mudan\u00e7as clim\u00e1ticas.<\/p>\n\n\n\n

O fato de j\u00e1 n\u00e3o haver florestas nativas tamb\u00e9m atrapalha o crescimento das secund\u00e1rias. “As florestas prim\u00e1rias por perto servem como banco de sementes para as \u00e1reas. Animais carregam as sementes e v\u00e3o fazendo uma dissemina\u00e7\u00e3o natural em florestas abertas e secund\u00e1rias”, diz Socorro. Quando elas n\u00e3o existem, as secund\u00e1rias ficam sem esse banco de abastecimento.<\/p>\n\n\n\n

Para os pesquisadores, essas s\u00e3o as causas principais do processo lento no reflorestamento dessa \u00e1rea na Amaz\u00f4nia.<\/p>\n\n\n\n

“Em paisagens fragmentadas e desprovidas de florestas prim\u00e1rias e com solo degradado, como na regi\u00e3o Bragantina, a recupera\u00e7\u00e3o \u00e9 muito mais lenta do que se imaginava”, diz Elias. “Essa regi\u00e3o foi a primeira regi\u00e3o de coloniza\u00e7\u00e3o da Amaz\u00f4nia. O solo j\u00e1 est\u00e1 em uma situa\u00e7\u00e3o pobre em nutrientes, as propriedades se perderam, e o solo passou por v\u00e1rios ciclos de uso. A regenera\u00e7\u00e3o nessas \u00e1reas acontece de forma devagar.”<\/p>\n\n\n\n

E isso, de acordo com ele, pode valer para o resto da floresta amaz\u00f4nica no futuro, caso a vegeta\u00e7\u00e3o nativa continue sendo desmatada como \u00e9 agora.<\/p>\n\n\n\n

“Considerado o cen\u00e1rio atual da Amaz\u00f4nia, com desmatamento aumentando, e considerando que os eventos de seca severa est\u00e3o cada vez mais frequentes, n\u00f3s podemos inferir que as florestas da Amaz\u00f4nia inteira poder\u00e3o ter esse tipo de comportamento a m\u00e9dio ou longo prazo”, afirma. “\u00c9 um alerta que fazemos \u00e0 sociedade. Todas as \u00e1reas da Amaz\u00f4nia podem virar a regi\u00e3o Bragantina.”<\/p>\n\n\n\n

\"Enquanto
Enquanto uma pessoa mede di\u00e2metro da \u00e1rvore para fazer estimativa de sua biomassa e carbono, Fernando trabalha em seu invent\u00e1rio<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Ou seja, o desmatamento e as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas impactam o crescimento de novas florestas que poderiam justamente combater as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas \u2014 um perigoso ciclo consequ\u00eancia da interfer\u00eancia humana na natureza.<\/p>\n\n\n\n

Crian\u00e7a e adulto<\/h2>\n\n\n\n

Uma floresta prim\u00e1ria \u2014 de \u00e1rvores gigantes, centen\u00e1rias, de troncos enormes \u2014 pode ter at\u00e9 200 toneladas de carbono armazenado por hectare, segundo Joice Ferreira, uma das coordenadoras do estudo da Embrapa Amaz\u00f4nia Oriental e professora da Universidade Federal do Par\u00e1.<\/p>\n\n\n\n

E uma floresta secund\u00e1ria, com vegeta\u00e7\u00e3o mais “fininha, mais tenra”, vai ter muito menos carbono aprisionado nela, dependendo do porte e da idade que tem, explica ela. Uma floresta \u00e9 considerada “secund\u00e1ria” se cresceu no lugar de uma que foi completamente derrubada.<\/p>\n\n\n\n

Para quem n\u00e3o estuda isso, fica dif\u00edcil perceber a diferen\u00e7a entre florestas prim\u00e1rias e secund\u00e1rias apenas olhando. Mas Elias conta que ele consegue ver “batendo o olho” \u2014 por causa da estrutura e tamanho das \u00e1rvores, por exemplo, considerando sua altura e grossura da circunfer\u00eancia. “Geralmente, n\u00e3o h\u00e1 \u00e1rvores grandes de 40, 50 metros de altura em uma floresta secund\u00e1ria. Tamb\u00e9m tem maior entrada de luz no solo. O ch\u00e3o da floresta prim\u00e1ria \u00e9 sombreado, enquanto da secund\u00e1ria n\u00e3o \u00e9.”<\/p>\n\n\n\n

S\u00f3 que a vegeta\u00e7\u00e3o da floresta secund\u00e1ria \u00e9 como uma crian\u00e7a, compara Ferreira, porque tem um desenvolvimento muito r\u00e1pido. “H\u00e1 esp\u00e9cies que t\u00eam uma estrat\u00e9gia de crescimento r\u00e1pido. E isso faz parte do processo de sucess\u00e3o. Primeiro v\u00eam plantas que crescem muito r\u00e1pido, que produzem muitas sementes. S\u00e3o plantas mais r\u00fasticas para suportar aquele ambiente, aguentar mais calor, o solo seco.”<\/p>\n\n\n\n

Por causa de seu crescimento r\u00e1pido, essas plantas absorvem mais carbono durante seu crescimento. “A floresta secund\u00e1ria \u00e9 mais eficiente em fazer isso do que a floresta prim\u00e1ria”, diz Elias. “As esp\u00e9cies em florestas secund\u00e1rias crescem mais r\u00e1pido e, ao crescer mais r\u00e1pido, acumulam mais carbono. Essas esp\u00e9cies s\u00e3o comilonas. Elas usam o carbono para crescer e reproduzir.”<\/p>\n\n\n\n

N\u00e3o que florestas secund\u00e1rias sejam melhores para o meio ambiente que florestas prim\u00e1rias. Como explicou Ferreira, florestas prim\u00e1rias s\u00e3o mais antigas, robustas, e armazenam muito mais carbono. A diferen\u00e7a \u00e9 a velocidade das esp\u00e9cies de florestas secund\u00e1rias, que, como uma crian\u00e7a, “espicham”.<\/p>\n\n\n\n

\"Algumas
Algumas \u00e1rvores devem ter seu di\u00e2metro medido na parte de cima porque a presen\u00e7a de ra\u00edzes embaixo atrapalha seu verdadeiro di\u00e2metro<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

“\u00c9 claro que a massa de uma crian\u00e7a \u00e9 menor que a massa de um adulto. S\u00f3 que a crian\u00e7a tem um desenvolvimento muito r\u00e1pido”, explica.<\/p>\n\n\n\n

“Florestas prim\u00e1rias s\u00e3o o ideal”, observa Elias. Ele diz que elas s\u00e3o fontes de esp\u00e9cies para potencializar recupera\u00e7\u00e3o nas \u00e1reas pr\u00f3ximas, fonte de material gen\u00e9tico, controlam o clima local e mitigam mudan\u00e7as clim\u00e1ticas pelo ac\u00famulo de carbono. Florestas tropicais removem em torno de 30% do carbono introduzido na atmosfera por a\u00e7\u00f5es antr\u00f3picas, diz.<\/p>\n\n\n\n

“S\u00f3 que vivemos num mundo que n\u00e3o segue esse ideal. Partindo do pressuposto que n\u00e3o existem mais florestas prim\u00e1rias, a melhor forma seria ter florestas secund\u00e1rias”, afirma.<\/p>\n\n\n\n

O pesquisador explica que as previs\u00f5es de outras pesquisas era que essas florestas crescem 11 vezes mais r\u00e1pido que as prim\u00e1rias. “Mas esse \u00e9 o grande problema: no nosso trabalho, encontramos apenas que as florestas secund\u00e1rias da nossa regi\u00e3o cresceram 2 vezes mais r\u00e1pido que as prim\u00e1rias.”<\/p>\n\n\n\n

A ideia \u00e9 que, com o tempo, as florestas secund\u00e1rias fiquem cada vez mais parecidas com as prim\u00e1rias.<\/p>\n\n\n\n

Devagar, aquele ambiente vai gerar certa sombra, os p\u00e1ssaros v\u00e3o levar mais sementes. A floresta vai passar por etapas e a vegeta\u00e7\u00e3o secund\u00e1ria vai criando um corpo de floresta. “\u00c0 medida que vai progredindo em dire\u00e7\u00e3o ao que \u00e9 mais pr\u00f3ximo da floresta prim\u00e1ria, vai acumulando carbono, inclusive no solo”, diz Ferreira. “Aquelas esp\u00e9cies iniciais que precisam de sol v\u00e3o morrendo e sendo substitu\u00eddas por aquelas que precisam de sombra. Em 70, 100 anos, a tend\u00eancia \u00e9 parecer com a floresta prim\u00e1ria.”<\/p>\n\n\n\n

E a\u00ed, diz ela, entramos na seara das “eternas perguntas”: “Ser\u00e1 que um dia ela vai ser igual a uma floresta prim\u00e1ria?”<\/p>\n\n\n\n

Solu\u00e7\u00e3o<\/h2>\n\n\n\n

Com a descoberta de que a a\u00e7\u00e3o humana e as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas (tamb\u00e9m causadas pela a\u00e7\u00e3o humana) impactam o reflorestamento da Amaz\u00f4nia e consequentemente sua habilidade de voltar a reter o mesmo carbono que retia, \u00e9 preciso, dizem os cientistas, agir rapidamente.<\/p>\n\n\n\n

O primeiro passo \u00e9 zerar o desmatamento, diz Elias.<\/p>\n\n\n\n

Em segundo lugar, \u00e9 preciso “investir em a\u00e7\u00f5es de recupera\u00e7\u00e3o ativa”. Isso significa acelerar o processo de reflorestamento por meio de t\u00e9cnicas como plantar mudas, semear sementes \u2014 o trabalho que animais fariam, acelerando o processo de dispers\u00e3o, trazendo sementes de uma floresta prim\u00e1ria para uma secund\u00e1ria.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Em 1999, a pesquisadora Socorro Ferreira come\u00e7ou a registrar as caracter\u00edsticas das novas \u00e1rvores que cresciam em \u00e1reas que haviam sido desmatadas na regi\u00e3o amaz\u00f4nica perto da cidade de Bragan\u00e7a, no nordeste do Par\u00e1. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":156827,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[32,661,54,157],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/156826"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=156826"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/156826\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":156828,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/156826\/revisions\/156828"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/156827"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=156826"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=156826"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=156826"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}