{"id":156904,"date":"2020-02-06T09:08:00","date_gmt":"2020-02-06T12:08:00","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=156904"},"modified":"2020-02-05T21:11:39","modified_gmt":"2020-02-06T00:11:39","slug":"a-versao-passada-la-fora-da-nossa-agricultura-e-falsa-diz-ex-ministro","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2020\/02\/06\/156904-a-versao-passada-la-fora-da-nossa-agricultura-e-falsa-diz-ex-ministro.html","title":{"rendered":"A vers\u00e3o passada l\u00e1 fora da nossa agricultura \u00e9 falsa, diz ex-ministro"},"content":{"rendered":"\n
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Roberto Rodrigues: “Governo foi um pouco desastrado na comunica\u00e7\u00e3o do inc\u00eandio na Amaz\u00f4nia”\u00a0(Roberto Rodrigues \/ PR\/Flickr)<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

O ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, coordenador do Centro de Agroneg\u00f3cio da FGV, conhece o assunto como poucos. Engenheiro agr\u00f4nomo formado pela Escola Superior de\u00a0Agricultura\u00a0Luiz de Queiroz (Esalc), da USP, e ele pr\u00f3prio empres\u00e1rio rural, Rodrigues, de 77 anos, fala nesta entrevista ao jornal O Estado de S\u00e3o Paulo sobre o impacto negativo da libera\u00e7\u00e3o de agrot\u00f3xicos e das queimadas na imagem do Brasil no exterior. Fala, tamb\u00e9m, sobre o renascimento do setor de a\u00e7\u00facar e \u00e1lcool, depois da crise que abalou a \u00e1rea no governo Dilma, o aumento do pre\u00e7o da carne e o efeito do surto de coronav\u00edrus nas exporta\u00e7\u00f5es do Brasil para a China.<\/p>\n\n\n\n

O governo Bolsonaro tem sido muito criticado no Brasil e no exterior por ter liberado cerca de 500 agrot\u00f3xicos em apenas um ano. Como o sr. v\u00ea essa quest\u00e3o?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

\u00c9 um pouco a diferen\u00e7a entre o fato e a vers\u00e3o. A verdade \u00e9 que, at\u00e9 o governo Temer, liberar um defensivo agr\u00edcola no Brasil demorava em m\u00e9dia oito anos. Nos pa\u00edses desenvolvidos, leva entre um e dois anos. Toda empresa que faz um investimento numa nova mol\u00e9cula est\u00e1 buscando mais sustentabilidade. Ningu\u00e9m \u00e9 louco de fazer um neg\u00f3cio mais agressivo ao meio ambiente num cen\u00e1rio em que a quest\u00e3o ambiental \u00e9 uma preocupa\u00e7\u00e3o da maioria da popula\u00e7\u00e3o mundial, sobretudo a juventude. N\u00f3s ficamos muito tempo amarrados no mercado por causa de uma idiotice burocr\u00e1tica, meio ideol\u00f3gica.<\/p>\n\n\n\n

A libera\u00e7\u00e3o dos agrot\u00f3xicos e principalmente as queimadas na Amaz\u00f4nia prejudicaram muito a imagem do Brasil l\u00e1 fora. Qual a sua avalia\u00e7\u00e3o da a\u00e7\u00e3o do governo em rela\u00e7\u00e3o ao problema?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

O governo foi um pouco desastrado na comunica\u00e7\u00e3o do inc\u00eandio na Amaz\u00f4nia. Aquilo acabou estimulando uma associa\u00e7\u00e3o com o acordo entre a Uni\u00e3o Europeia e o Mercosul por parte do agricultor europeu, que precisava de um argumento para justificar sua posi\u00e7\u00e3o contra o tratado. O inc\u00eandio levou ao desmatamento e depois veio a quest\u00e3o dos defensivos. Os tr\u00eas temas viraram uma vers\u00e3o n\u00e3o verdadeira da realidade brasileira. N\u00f3s temos uma agricultura sustentabil\u00edssima. Mas a vers\u00e3o ficou complicada para n\u00f3s. Agora tem de ter um plano de comunica\u00e7\u00e3o bem feito, usando a ci\u00eancia para justificar a nossa posi\u00e7\u00e3o. O problema \u00e9 que tem muita gente que n\u00e3o quer ouvir. J\u00e1 est\u00e1 com a cabe\u00e7a feita. Preferem ouvir uma Greta (Thunberg, ativista sueca do meio ambiente) do que um cientista, como se representasse a verdade absoluta.<\/p>\n\n\n\n

Qual o impacto que o surto de coronav\u00edrus na China pode ter sobre as exporta\u00e7\u00f5es brasileiras de produtos agr\u00edcolas?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Ainda n\u00e3o temos clareza do impacto desse problema. Acredito que, por enquanto, n\u00e3o haver\u00e1 queda na demanda de alimentos na China. A minha expectativa \u00e9 de que isso n\u00e3o afetar\u00e1 de forma dram\u00e1tica as exporta\u00e7\u00f5es de produtos agr\u00edcolas do Brasil. Acho pouco prov\u00e1vel tamb\u00e9m que aconte\u00e7a uma restri\u00e7\u00e3o ao Brasil na \u00e1rea agr\u00edcola. Com ou sem coronav\u00edrus, a seguran\u00e7a alimentar \u00e9 fundamental em qualquer pa\u00eds e a China tem uma preocupa\u00e7\u00e3o muito s\u00e9ria com isso. Agora, obviamente, se a doen\u00e7a atingir n\u00edveis mais alarmantes, pode haver consequ\u00eancias imprevis\u00edveis no momento.<\/p>\n\n\n\n

Alguns anos atr\u00e1s, o senhor fez cr\u00edticas duras \u00e0 pol\u00edtica do governo para o setor de a\u00e7\u00facar e \u00e1lcool, que passou por uma grande crise. A crise ficou para tr\u00e1s?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Dizer que a crise ficou para tr\u00e1s \u00e9 otimismo demais. Mas acho que est\u00e1 passando. Tivemos um problema s\u00e9rio no governo da presidente Dilma Rousseff, porque toda a estrat\u00e9gia de combate \u00e0 infla\u00e7\u00e3o passava pelo congelamento dos pre\u00e7os dos combust\u00edveis. A\u00ed, a Petrobr\u00e1s praticamente quebrou, perdeu valor. Isso perturbou tamb\u00e9m o setor de agroenergia, porque o pre\u00e7o do \u00e1lcool estava limitado a 75% do pre\u00e7o da gasolina. Chegou uma hora que isso produziu uma quebradeira muito grande no setor, aumentando a concentra\u00e7\u00e3o de empresas. At\u00e9 hoje tem muita usina fechada, quebrada. Depois, os pa\u00edses asi\u00e1ticos, a \u00cdndia em particular, iniciaram uma pol\u00edtica de subs\u00eddio muito pesado \u00e0 produ\u00e7\u00e3o de cana. A \u00cdndia passou a ser um grande produtor mundial, enchendo o mercado de a\u00e7\u00facar, e os pre\u00e7os despencaram, porque o consumo n\u00e3o cresceu tanto quanto a produ\u00e7\u00e3o. Com isso, o setor, que j\u00e1 vinha combalido, acabou se arrebentando todo.<\/p>\n\n\n\n

Como est\u00e1 o setor de a\u00e7\u00facar e \u00e1lcool hoje?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

O setor tentou se adaptar a esse processo aumentando a produ\u00e7\u00e3o de \u00e1lcool em detrimento do a\u00e7\u00facar. Mais de 60% da produ\u00e7\u00e3o de cana virou \u00e1lcool, em vez dos 40%, 45% de antes. Os pre\u00e7os do a\u00e7\u00facar estavam baixos e o aumento da produ\u00e7\u00e3o de \u00e1lcool impediu tamb\u00e9m a sua valoriza\u00e7\u00e3o. O setor sofreu muito \u2013 e ainda tem gente a perigo hoje. Mas, no ano passado, houve uma retomada do consumo de combust\u00edveis e isso fez com que o pre\u00e7o do etanol aumentasse. A Petrobr\u00e1s tamb\u00e9m mudou a pol\u00edtica de pre\u00e7os, desde o governo Temer, com Pedro Parente na presid\u00eancia, e com isso as coisas deram uma melhorada.<\/p>\n\n\n\n

Neste ano, o Brasil deve colher uma safra de 248 milh\u00f5es de toneladas, segundo as estimativas, um recorde hist\u00f3rico. \u00c9 um bom press\u00e1gio para o setor, n\u00e3o?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

J\u00e1 h\u00e1 uma quebra na safra. Houve seca no Rio Grande do Sul, com perda de milho, e de um pouco de soja, l\u00e1 e no Paran\u00e1. No Maranh\u00e3o, em Tocantins e na Bahia, tamb\u00e9m houve uma secazinha. Ent\u00e3o, j\u00e1 existe uma redu\u00e7\u00e3o na estimativa. Mas pode ser que a gente tenha uma safra de inverno t\u00e3o grande que compense a redu\u00e7\u00e3o da safra de ver\u00e3o. \u00c9 cedo para falar sobre isso.<\/p>\n\n\n\n

Nos \u00faltimos meses, o pre\u00e7o da carne deu um salto. A sa\u00edda \u00e9 o brasileiro comer frango, como sugeriu o economista M\u00e1rcio Holland, no governo Dilma?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

A alta do pre\u00e7o da carne \u00e9 consequ\u00eancia da peste sul-africana, que fez com que a China matasse metade de seu rebanho su\u00edno. Obviamente, isso elevou a demanda por carne alternativa, de frango e bovina. O pre\u00e7o da carne explodiu e por consequ\u00eancia o do milho tamb\u00e9m, porque ele \u00e9 que faz a carne. Milho e soja viram prote\u00edna animal. Vai chegar um momento, em poucos meses, em que a oferta ir\u00e1 se igualar \u00e0 demanda e os pre\u00e7os voltar\u00e3o \u00e0 normalidade, mas n\u00e3o mais para um patamar t\u00e3o baixo quanto antes da alta. V\u00e3o ficar num n\u00edvel intermedi\u00e1rio, que serve tanto para o produtor quanto o consumidor.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: Estad\u00e3o Conte\u00fado <\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"