{"id":156975,"date":"2020-02-11T01:00:00","date_gmt":"2020-02-11T04:00:00","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=156975"},"modified":"2020-02-10T22:42:11","modified_gmt":"2020-02-11T01:42:11","slug":"por-que-a-cidade-de-sao-paulo-nao-consegue-evitar-as-enchentes-frequentes","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2020\/02\/11\/156975-por-que-a-cidade-de-sao-paulo-nao-consegue-evitar-as-enchentes-frequentes.html","title":{"rendered":"Por que a cidade de S\u00e3o Paulo n\u00e3o consegue evitar as enchentes frequentes?"},"content":{"rendered":"\n
\"Bombeiros
Bombeiros usam bote para resgatar pessoas que ficaram ilhadas em S\u00e3o Paulo<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

A Grande S\u00e3o Paulo viveu um dia de caos nesta segunda-feira (10\/02). Mais uma vez, a estrutura da cidade n\u00e3o suportou o grande volume de chuvas que atingiu a regi\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Houve centenas de pontos de alagamento, ruas e avenidas intransit\u00e1veis, pessoas ilhadas em carros e \u00f4nibus. Linhas de trens ficaram paradas, houve deslizamentos e o transbordamento dos dois principais rios que cortam a capital paulista, o Pinheiros e o Tiet\u00ea.<\/p>\n\n\n\n

O Corpo de Bombeiros atendeu a mais de 5 mil chamados desde a noite de domingo, entre eles 182 desabamentos ou desmoronamentos, 1018 pontos de inunda\u00e7\u00e3o e 206 \u00e1rvores ca\u00eddas na Grande S\u00e3o Paulo.<\/p>\n\n\n\n

As enchentes em S\u00e3o Paulo, assim como outras grandes cidades brasileiras, s\u00e3o hist\u00f3ricas e recorrentes. Em 2016, por exemplo, 25 pessoas morreram depois de uma noite de chuvas fortes \u2014 parte delas em deslizamentos. Em mar\u00e7o de 2019, ao menos 12 mortes foram registradas tamb\u00e9m em decorr\u00eancia das chuvas.<\/p>\n\n\n\n

Em bairros perif\u00e9ricos como Jardim Pantanal e Vila Itaim, no extremo leste da capital, que chegam a ficar meses alagados \u2014 constantemente, os moradores perdem m\u00f3veis e eletrodom\u00e9sticos para a \u00e1gua que invade suas casas.<\/p>\n\n\n\n

Mas seria a chuva forte a principal culpada pelas enchentes? Ou a cidade foi planejada e constru\u00edda de uma maneira que deixa mais dif\u00edcil suportar as precipita\u00e7\u00f5es? A BBC News Brasil ouviu urbanistas para entender onde a cidade errou e o que poderia ser feito para minimizar o problema.<\/p>\n\n\n\n

Erros de planejamento<\/h2>\n\n\n\n

Para Anderson Kazuo Nakano, professor do Instituto das Cidades da Universidade Federal de S\u00e3o Paulo (Unifesp), os grandes munic\u00edpios brasileiros n\u00e3o foram planejados para “respeitar os ciclos hidrol\u00f3gicos da natureza”: a evapora\u00e7\u00e3o da \u00e1guas e, depois, as precipita\u00e7\u00f5es que atingem as cidades.<\/p>\n\n\n\n

“O normal seria a \u00e1gua se infiltrar no solo, para depois desembocar nos c\u00f3rregos e rios, que ent\u00e3o correm para o mar. E, assim, o ciclo recome\u00e7aria”, explica.<\/p>\n\n\n\n

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Para especialista, grandes munic\u00edpios brasileiros n\u00e3o foram planejados para ‘respeitar os ciclos hidrol\u00f3gicos da natureza’<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

“Quando a chuva chega no espa\u00e7o urbano, a \u00e1gua cai sobre no solo imperme\u00e1vel e n\u00e3o consegue se infiltrar. Nossos canais e rios est\u00e3o canalizados. Essas \u00e1guas, em grande quantidade e velocidade, escorrem para as sarjetas e galerias, que n\u00e3o conseguem suport\u00e1-las.”<\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m disso, diz, cidades como S\u00e3o Paulo tiveram um crescimento desordenado, com ocupa\u00e7\u00f5es prec\u00e1rias constru\u00eddas em encostas e v\u00e1rzeas de pequenos rios e c\u00f3rregos, o que desequilibra o curso normal das \u00e1guas que correm para grandes rios como o Tiet\u00ea.<\/p>\n\n\n\n

“A periferia se expandiu, impermeabilizando o solo de \u00e1reas verdes. O ideal seria criar processos de macrodrenagem que pudesse interferir nessa l\u00f3gica, com a cria\u00e7\u00e3o de pra\u00e7as e parques lineares ao lado desses pequenos c\u00f3rregos e rios, de modo a fazer com que a \u00e1gua se infiltre mais facilmente”, explica o urbanista.<\/p>\n\n\n\n

Os chamados piscin\u00f5es, grandes espa\u00e7os para represamento da \u00e1gua da chuva, s\u00e3o sempre citados como obras p\u00fablicas que podem diminuir as enchentes \u2014 s\u00f3 a cidade de S\u00e3o Paulo tem 32 deles. Para Kazuo, os piscin\u00f5es hoje “s\u00e3o parte do problema” e n\u00e3o a solu\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

“N\u00e3o adianta voc\u00ea construir uma \u00e1rea de cimento, cerc\u00e1-la com grades e esperar que a \u00e1gua v\u00e1 parar ali. Hoje, os piscin\u00f5es acumulam lixo, t\u00eam manuten\u00e7\u00e3o reduzida e acabam transbordando”, diz.<\/p>\n\n\n\n

Para ele, as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas tamb\u00e9m t\u00eam um papel importante nesse processo. “Com as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas, a temperatura dos espa\u00e7os urbanos tem ficado maior. A tend\u00eancia \u00e9 que tenhamos grande quantidades de chuva intensas em um per\u00edodo mais curto de tempo. E as cidades n\u00e3o se prepararam para isso”, diz.<\/p>\n\n\n\n

O urbanista cita medidas de microdrenagem como poss\u00edveis solu\u00e7\u00f5es para mitigar esses efeitos, como recuperar sarjetas, galerias e bocas de lobo, al\u00e9m de arboriza\u00e7\u00e3o e desassoreamento de rios e c\u00f3rregos.<\/p>\n\n\n\n

J\u00e1 a arquiteta urbanista e diretora do Movimento Defenda S\u00e3o Paulo, Lucila Lacreta, diz que os principais pontos s\u00e3o conter o avan\u00e7o imobili\u00e1rio que n\u00e3o leva em conta v\u00e1rzeas e o len\u00e7ol fre\u00e1tico da cidade.<\/p>\n\n\n\n

\"Homem
Image captionSegundo o Inmet, S\u00e3o Paulo registrou o maior volume de chuvas em 24 horas num m\u00eas de fevereiro dos \u00faltimos 37 anos<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

“Hoje, constru\u00edmos grandes edif\u00edcios com subsolos de at\u00e9 cinco pavimentos sem levar em conta a geologia onde est\u00e1 localizado. O crescimento hoje ignora tudo isso e trata a cidade como se fosse um tabuleiro de terra plano e uniforme”, afirmou.<\/p>\n\n\n\n

Ainda nessa linha, a urbanista acrescenta que o Plano Diretor de S\u00e3o Paulo, que prev\u00ea qual tipo de constru\u00e7\u00e3o \u00e9 permitido em cada ponto da cidade, tamb\u00e9m desconsidera a geologia.<\/p>\n\n\n\n

“A ideia do plano diretor foi colocar grandes constru\u00e7\u00f5es no eixo de transporte, mas esse eixo fica nas margens de grandes rios, muitos canalizados, como nas (avenidas) Radial Leste e Francisco Morato. Justamente nos terrenos mais fr\u00e1geis da cidade \u00e9 onde foi proposta a constru\u00e7\u00e3o de pr\u00e9dios mais altos e profundos”, afirmou.<\/p>\n\n\n\n

Na vis\u00e3o da arquiteta e urbanista, a cidade precisa barrar constru\u00e7\u00f5es em \u00e1reas fr\u00e1geis e criar projetos de desimpermeabiliza\u00e7\u00e3o para facilitar a drenagem da \u00e1gua.<\/p>\n\n\n\n

“Precisamos fazer cal\u00e7adas e asfalto que absorvam \u00e1gua pluvial. Tamb\u00e9m precisamos incentivar que as pessoas aumentem as \u00e1reas de drenagem em suas casas, al\u00e9m de criar uma pol\u00edtica de longo prazo, com investimento, para criar canais drenantes. Precisamos observar o uso do solo e impedir que fa\u00e7am pr\u00e9dios num lugar onde o len\u00e7ol freatico \u00e9 pr\u00f3ximo da superf\u00edcie”, afirmou Lacreta.<\/p>\n\n\n\n

A arquiteta diz, por\u00e9m, que essa quest\u00e3o ser\u00e1 dificilmente resolvida porque os interesses econ\u00f4micos costumam se sobrepor \u00e0s quest\u00f5es ambientais.<\/p>\n\n\n\n

“Nos anos 1970, Figueiredo Ferraz (prefeito de S\u00e3o Paulo de 1971 a 1973) disse que a capital precisava parar. Ningu\u00e9m deu bola e o interesse do mercado imobili\u00e1rio prevaleceu acima de tudo. Hoje precisamos repensar. Planejar a cidade para quem: mercado imobili\u00e1rio ou para pessoas?”<\/p>\n\n\n\n

‘Chuva hist\u00f3rica’<\/h2>\n\n\n\n

De acordo com o Centro de Gerenciamento de Emerg\u00eancias (CGE), da Prefeitura de S\u00e3o Paulo, nos \u00faltimos dez dias choveu 179,9 mil\u00edmetros, equivalente a 83% da m\u00e9dia esperada para o m\u00eas. A medi\u00e7\u00e3o foi feita \u00e0s 7h. Em apenas tr\u00eas horas de chuva, foram registrados cerca de 60 mil\u00edmetros.<\/p>\n\n\n\n

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Arquiteta e urbanista diz que cidade precisa barrar constru\u00e7\u00f5es em \u00e1reas fr\u00e1geis e criar um projeto de desimpermeabiliza\u00e7\u00e3o<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Para dar uma ideia da dimens\u00e3o, 60 mil\u00edmetros de chuva \u00e9 o mesmo que jogar 60 litros de \u00e1gua numa \u00e1rea de 1 metro quadrado. O bairro da Lapa, na zona oeste da capital, registrou 98,3 mil\u00edmetros de chuva.<\/p>\n\n\n\n

Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a capital paulista registrou o maior volume de chuvas em 24 horas num m\u00eas de fevereiro dos \u00faltimos 37 anos.<\/p>\n\n\n\n

Das 7h \u00e0s 13h choveu 88,7mm em S\u00e3o Paulo, o que equivale a 41% da m\u00e9dia para o m\u00eas. A previs\u00e3o \u00e9 que a chuva continue na capital paulista e a frente fria que provocou as chuvas se afaste em dire\u00e7\u00e3o ao litoral do Estado do Rio de Janeiro.<\/p>\n\n\n\n

No in\u00edcio da tarde desta segunda, o Corpo de Bombeiros tinham recebido o registro de 857 pontos de enchente, 151 desabamentos ou desmoronamentos e 134 quedas de \u00e1rvore.<\/p>\n\n\n\n

A gest\u00e3o do prefeito Bruno Covas (PSDB) afirmou que aumentou em 54,1% o n\u00famero de piscin\u00f5es da cidade \u2014 de 24 para 32 unidades. No total, os novos equipamentos representam investimento de R$ 107,8 milh\u00f5es. A prefeitura tamb\u00e9m afirma que tem realizado obras de drenagem e canaliza\u00e7\u00e3o de c\u00f3rregos em todas as regi\u00f5es do munic\u00edpios.<\/p>\n\n\n\n

Outras medidas contra enchentes<\/h2>\n\n\n\n

Na capital, o rio Tiet\u00ea possui 53 bombas sob responsabilidade do Daae (Departamento de \u00c1guas e Energia El\u00e9trica), do governo do Estado, que passam por manuten\u00e7\u00e3o semanal. Em 2019, o desassoreamento foi feito ao longo de 44 quil\u00f4metros do rio e retirou mais de 400 mil toneladas de sedimentos como areia e argila em 2019, com investimento de R$ 49 milh\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n

Para 2020, est\u00e1 previsto investimento de mais R$ 20 milh\u00f5es para a\u00e7\u00f5es, especialmente no Alto Tiet\u00ea.<\/p>\n\n\n\n

O n\u00edvel do rio Pinheiros \u00e9 o maior nos \u00faltimos 15 anos, de acordo com a Emae (Empresa Metropolitana de \u00c1guas e Energia). Em 2019, as equipes da Emae registraram recorde de retirada de sedimentos do leito do Pinheiros, com carga equivalente \u00e0 de 28 mil caminh\u00f5es basculantes. Tamb\u00e9m houve a retirada de 9 mil toneladas de lixo das \u00e1guas.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

A Grande S\u00e3o Paulo viveu um dia de caos nesta segunda-feira (10\/02). Mais uma vez, a estrutura da cidade n\u00e3o suportou o grande volume de chuvas que atingiu a regi\u00e3o. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":156976,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[1649,1609,624],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/156975"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=156975"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/156975\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":156977,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/156975\/revisions\/156977"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/156976"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=156975"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=156975"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=156975"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}