{"id":157118,"date":"2020-02-18T09:00:00","date_gmt":"2020-02-18T12:00:00","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=157118"},"modified":"2020-02-17T21:53:55","modified_gmt":"2020-02-18T00:53:55","slug":"a-investigadora-que-resolve-crimes-analisando-o-polen-das-plantas","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2020\/02\/18\/157118-a-investigadora-que-resolve-crimes-analisando-o-polen-das-plantas.html","title":{"rendered":"A investigadora que resolve crimes analisando o p\u00f3len das plantas"},"content":{"rendered":"\n
\"A
Patricia Wiltshire assessorando arque\u00f3logos em 1990, d\u00e9cada em que come\u00e7ou a atuar de vez em investiga\u00e7\u00f5es criminais<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Patricia Wiltshire, 77 anos, diz que nunca teve “um pingo de ambi\u00e7\u00e3o” e que as coisas na sua vida aconteceram naturalmente, sem que ela planejasse os voos altos que acabou al\u00e7ando.<\/p>\n\n\n\n

De fato, talvez nunca algu\u00e9m, nem ela pr\u00f3pria, pudesse ter previsto que uma professora de ci\u00eancias biol\u00f3gicas pudesse se tornar uma das maiores especialistas do mundo em “ecologia forense” \u2014 ou o conhecimento sobre a natureza a servi\u00e7o da resolu\u00e7\u00e3o de crimes.<\/p>\n\n\n\n

Esta guinada em sua\u00a0carreira\u00a0aconteceu relativamente tarde: na casa dos 50 anos de idade, seu conhecimento sobre os diferentes tipos de p\u00f3len de vegetais ajudou na resolu\u00e7\u00e3o de um assassinato.<\/p>\n\n\n\n

Daquele ponto em diante, Wiltshire, nascida no Pa\u00eds de Gales, passou a ser chamada para contribuir na apura\u00e7\u00e3o de outros grandes casos no Reino Unido e, depois, em outros pa\u00edses. Hoje, ela tem no curr\u00edculo a participa\u00e7\u00e3o em cerca de 300 investiga\u00e7\u00f5es policiais pelo mundo.<\/p>\n\n\n\n

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‘Nova carreira’ de Patricia Wiltshire come\u00e7ou com pedido de ajuda vindo de policial<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

“Diferente de outras formas de provas, o p\u00f3len n\u00e3o desaparece facilmente: ele gruda nas roupas, sapatos, no tapete de carros”, explicou ela em entrevista ao programa The Life Scientific, da BBC Radio 4.<\/p>\n\n\n\n

“P\u00f3len e esporos s\u00e3o produzidos por plantas e fungos, e crescem em lugares espec\u00edficos. Ent\u00e3o, voc\u00ea sabe muito bem que esta planta cresce neste solo; aquela planta cresce naquele. Por conta disso, \u00e9 poss\u00edvel prever de onde este material (p\u00f3len e esporos) vem.”<\/p>\n\n\n\n

Mas o “momento eureka” de perceber o potencial do p\u00f3len como ind\u00edcio em crimes veio em 1994, quando recebeu a liga\u00e7\u00e3o de um policial de Hertfordshire, Inglaterra, perguntando se ela poderia ajud\u00e1-lo na investiga\u00e7\u00e3o de um assassinato.<\/p>\n\n\n\n

P\u00f3len no carro<\/h2>\n\n\n\n

Ela j\u00e1 tinha quase duas d\u00e9cadas de experi\u00eancia como\u00a0pesquisadora\u00a0na Universidade King’s College London, onde se graduou em bot\u00e2nica e estudou tamb\u00e9m bact\u00e9rias e outras coisas microsc\u00f3picas, sua pequena grande paix\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

O policial contou que um corpo carbonizado fora abandonado em uma vala e havia marcas de pneus no campo ao lado.<\/p>\n\n\n\n

Os investigadores queriam saber se um carro que pertencia a um dos suspeitos esteve presente naquela \u00e1rea.<\/p>\n\n\n\n

“Eu nunca tinha feito nada assim antes, mas analisei tudo no carro e encontrei p\u00f3len nos pedais e no tapete. O material correspondia ao p\u00f3len encontrado nas bordas de campos agr\u00edcolas”, diz a professora.<\/p>\n\n\n\n

“Quando o policial me levou \u00e0 cena do crime, pude identificar o ponto exato em que o corpo fora abandonado pelos tipos de flores que estavam ali.”<\/p>\n\n\n\n

“Foi um momento ‘eureka’ para mim, porque nunca pensei que as pistas pudessem ser t\u00e3o espec\u00edficas”, lembra.<\/p>\n\n\n\n

Apesar de seu ceticismo inicial em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 ecologia forense, a professora passou a trabalhar em cada vez mais casos.<\/p>\n\n\n\n

Em 2002, ela ajudou a pol\u00edcia a reunir ind\u00edcios na investiga\u00e7\u00e3o sobre duas meninas, Holly Wells e Jessica Chapman, assassinadas em Soham, na Inglaterra.<\/p>\n\n\n\n

A pol\u00edcia havia encontrado seus corpos em uma vala, mas queria descobrir o caminho que o assassino havia seguido.<\/p>\n\n\n\n

\"Patricia
Em foto antiga, Wiltshire aparece buscando material de refer\u00eancia no herb\u00e1rio do Kew Botanical Gardens, em Londres<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Wiltshire conseguiu isso analisando a regenera\u00e7\u00e3o de plantas pisoteadas que levavam ao fosso.<\/p>\n\n\n\n

A pol\u00edcia, ent\u00e3o, fez uma pesquisa detalhada da rota delineada pela professora e encontrou fios de cabelo de Jessica em um galho.<\/p>\n\n\n\n

As evid\u00eancias coletadas por ela foram apresentadas no julgamento de Ian Huntley, que foi condenado pelo assassinato das duas meninas de 10 anos.<\/p>\n\n\n\n

Provas ‘eternas’ \u2014 ou quase<\/h2>\n\n\n\n

H\u00e1 ainda mais casos dram\u00e1ticos nos quais a pesquisadora trabalhou.<\/p>\n\n\n\n

“Em 2005, fui chamada em New Tredegar, no vale do Rhymney (Pa\u00eds de Gales).”<\/p>\n\n\n\n

“Dois homens haviam matado um terceiro a chutes, deixando o corpo entre samambaias. Alguns dias depois, eles voltaram para queim\u00e1-lo, mas as pessoas viram a fuma\u00e7a e chamaram a pol\u00edcia.”<\/p>\n\n\n\n

“Os dois homens foram presos e, na \u00e9poca, os investigadores queriam que eu descobrisse se eles haviam estado no local (do assassinato).”<\/p>\n\n\n\n

Wiltshire comparou o p\u00f3len dos sapatos dos suspeitos ao encontrado na cena do crime, mas ficou surpresa ao detectar que aquele p\u00f3len n\u00e3o era do tipo normalmente encontrado no Pa\u00eds de Gales.<\/p>\n\n\n\n

Depois, ela percebeu que os caminh\u00f5es que passavam pela estrada adjacente carregavam moscas de outras partes da Inglaterra que depois voavam para o campo, depositando p\u00f3len e esporos ali.<\/p>\n\n\n\n

O fato de o p\u00f3len ter sido localizado com tanta precis\u00e3o e ser o mesmo encontrado nos pertences dos suspeitos e na cena do crime levou os dois sujeitos a confessar.<\/p>\n\n\n\n

Wiltshire explica que p\u00f3len e esporos podem durar milh\u00f5es de anos nas condi\u00e7\u00f5es certas, mesmo sobre a superf\u00edcie da terra e na vegeta\u00e7\u00e3o. Um peda\u00e7o de solo pode ter milhares de tipos deles, ou nenhum, se as bact\u00e9rias tiverem comido tudo.<\/p>\n\n\n\n

Mas \u00e9 a combina\u00e7\u00e3o destes materiais que os torna uma prova especialmente rica.<\/p>\n\n\n\n

“Se voc\u00ea conhece o perfil geral do material e tem uma ou duas amostras raras (de flores muito espec\u00edficas, por exemplo), voc\u00ea chegou l\u00e1. Se voc\u00ea encontra esta compatibilidade, a probabilidade de acerto \u00e9 muito alta.”<\/p>\n\n\n\n

\"Prof
Se n\u00e3o fosse toda a minha experi\u00eancia em hospitais, laborat\u00f3rios, com a bacteriologia… Todas as coisas esquisitas e maravilhosas’, diz a pesquisadora, ‘eu n\u00e3o poderia fazer o que fa\u00e7o hoje’<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

‘Bruxa galesa’<\/h2>\n\n\n\n

Ela conta que outras experi\u00eancias que teve na carreira e na vida al\u00e9m da universidade tamb\u00e9m ajudam. Como quando se mudou muito jovem para Londres, aos 17 anos, ap\u00f3s o div\u00f3rcio dos pais e uma vida conflituosa com a m\u00e3e.<\/p>\n\n\n\n

Na capital inglesa, conseguiu logo um trabalho no funcionalismo p\u00fablico e, depois, se qualificou como t\u00e9cnica de laborat\u00f3rio m\u00e9dico no Hospital Charing Cross.<\/p>\n\n\n\n

J\u00e1 graduada, ela trabalhou tamb\u00e9m em muitos s\u00edtios arqueol\u00f3gicos colhendo amostras da terra e recriando constru\u00e7\u00f5es romanas antigas, como a Muralha de Adriano, no norte da Inglaterra, e Pomp\u00e9ia, na It\u00e1lia.<\/p>\n\n\n\n

“Se n\u00e3o fosse toda a minha experi\u00eancia em hospitais, laborat\u00f3rios, com a bacteriologia… Todas as coisas esquisitas e maravilhosas, todo o trabalho de campo arqueol\u00f3gico… Eu n\u00e3o poderia fazer o que fa\u00e7o hoje. Foi preciso ter esse passado bagun\u00e7ado para fazer o trabalho de hoje.”<\/p>\n\n\n\n

“\u00c0s vezes, os policiais me chamam de ‘bruxa galesa’ pela maneira como processo uma quantidade enorme de dados e apresento novas ideias.”<\/p>\n\n\n\n

“Mas n\u00e3o \u00e9 m\u00e1gica, \u00e9 estudo”, garante a pesquisadora.<\/p>\n\n\n\n

\u00c0 BBC Radio 4, ela tamb\u00e9m evocou um passado e uma inf\u00e2ncia atribulada.<\/p>\n\n\n\n

“Quando eu tinha sete anos, decidi assustar minha m\u00e3e pulando nela, mas n\u00e3o sabia que estava carregando uma panela com \u00f3leo quente”, lembra.<\/p>\n\n\n\n

“Sofri queimaduras graves e tive de passar dois anos coberta de curativos.”<\/p>\n\n\n\n

\"Wiltshire
Bot\u00e2nica \u00e9 especialista na an\u00e1lise de material vegetal como prova criminal<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

“Tamb\u00e9m tive pneumonia, sarampo, coqueluche e bronquite, o que me deixou com um problema cr\u00f4nico de tosse.”<\/p>\n\n\n\n

“Perdi muitas aulas na escola, mas tinha minhas enciclop\u00e9dias, que eram minha alegria”.<\/p>\n\n\n\n

Ela lembrou tamb\u00e9m dos passeios que fazia com a av\u00f3, Vera May Tiley, gra\u00e7as a quem come\u00e7ou a desbravar a natureza.<\/p>\n\n\n\n

“Viv\u00edamos em uma pequena cidade de minera\u00e7\u00e3o, em Cefn Fforest, no sul de Gales.”<\/p>\n\n\n\n

“\u00cdamos caminhar e (minha av\u00f3) me mostrava os ninhos de p\u00e1ssaros, insetos e plantas que pod\u00edamos comer, como espinheiro e alho-selvagem (llium ursinum<\/em>).”<\/p>\n\n\n\n

“Ela tamb\u00e9m era uma boa jardineira, apaixonada por proteger suas plantas de pragas, ent\u00e3o eu aprendi sobre suas doen\u00e7as e como cultivar alimentos”, conta a investigadora.<\/p>\n\n\n\n

Com suas pr\u00f3prias reviravoltas biogr\u00e1ficas, como perder uma filha de 19 meses para uma doen\u00e7a gen\u00e9tica e se apaixonar por seu atual marido aos 63 anos de idade, a professora respondeu \u00e0 BBC Radio 4 o que pensa da morte ao t\u00ea-la visto tantas vezes em seu trabalho.<\/p>\n\n\n\n

“Para mim, a morte \u00e9 essencial. \u00c9 preciso morte para haver nascimentos! Como sabemos, a mat\u00e9ria n\u00e3o \u00e9 criada, ela se transforma. Digo aos meus alunos: no seu olho, pode ter uma mol\u00e9cula que foi do ded\u00e3o do p\u00e9 de um dinossauro! Essa \u00e9 a m\u00e1gica da biologia: \u00e9 preciso ter a decomposi\u00e7\u00e3o para novos nascimentos.”<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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