{"id":157380,"date":"2020-03-02T01:23:00","date_gmt":"2020-03-02T04:23:00","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=157380"},"modified":"2020-03-01T20:28:02","modified_gmt":"2020-03-01T23:28:02","slug":"como-eram-as-primeiras-criaturas-a-habitar-a-terra","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2020\/03\/02\/157380-como-eram-as-primeiras-criaturas-a-habitar-a-terra.html","title":{"rendered":"Como eram as primeiras criaturas a habitar a Terra"},"content":{"rendered":"\n
\"Marcas
A Nam\u00edbia \u00e9 um dos \u00fanicos lugares que registra a transi\u00e7\u00e3o entre os per\u00edodos Ediacarano e Cambriano<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Quando a vida complexa surgiu na Terra antiga, n\u00e3o se parecia com nada que conhecemos hoje.<\/p>\n\n\n\n

No extremo sudeste de Terra Nova, no Canad\u00e1, fal\u00e9sias acidentadas se elevam de maneira imponente sobre o mar. As rochas escarpadas s\u00e3o conhecidas como Mistaken Point (Ponto Errado, em tradu\u00e7\u00e3o livre), uma homenagem aos muitos navios que encontraram seu fim prematuro no local depois que os marinheiros os confundiram com outros lugares.<\/p>\n\n\n\n

Agora, os penhascos selvagens e irregulares s\u00e3o famosos por outro motivo. Eles est\u00e3o no centro de um debate sobre um dos maiores mist\u00e9rios da Terra \u2014 exatamente como e quando a vida complexa evoluiu pela primeira vez.<\/p>\n\n\n\n

“Se voc\u00ea andar pelas rochas, encontrar\u00e1 superf\u00edcies cobertas literalmente por milhares de f\u00f3sseis”, diz Frankie Dunn, paleobiologista da Universidade de Oxford.<\/p>\n\n\n\n

Os f\u00f3sseis foram preservados h\u00e1 cerca de 570 milh\u00f5es de anos durante o per\u00edodo Ediacarano, quando uma s\u00e9rie de erup\u00e7\u00f5es vulc\u00e2nicas cobriu o fundo do mar de cinzas, proporcionando um “instante” de vida na \u00e9poca.<\/p>\n\n\n\n

“A maneira como eu descreveria isso \u00e9 como andar por Pompeia, voc\u00ea pode ver os fantasmas das criaturas que moravam ali enterrados sob cinzas vulc\u00e2nicas; \u00e9 realmente uma experi\u00eancia incr\u00edvel “, diz Dunn.<\/p>\n\n\n\n

\"Ilustra\u00e7\u00e3o
A vida tornou-se mais difundida e complexa ap\u00f3s a ‘Explos\u00e3o Cambriana’, h\u00e1 cerca de 540 milh\u00f5es de anos<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Os f\u00f3sseis ediacaranos anunciam um momento divisor de \u00e1guas na hist\u00f3ria da Terra \u2014 nos quatro bilh\u00f5es de anos anteriores, os oceanos haviam sido preservados por micr\u00f3bios unicelulares, mas de repente estavam repletos de uma nova vida complexa. E que vida estranha era essa. As criaturas n\u00e3o se parecem com as vistas hoje.<\/p>\n\n\n\n

Algumas, como os rangeomorfos, se assemelhavam a samambaias gigantes. Outros tinham uma apar\u00eancia de arbusto ou repolho. Muitos pareciam sacos sem forma, ou travesseiros finos e acolchoados, enquanto outros tinham uma semelhan\u00e7a com enormes canetas marinhas.<\/p>\n\n\n\n

“A maioria dos ediacaranos \u00e9 de corpo molenga, como o de uma lula”, diz Simon Darroch, paleontologista da Universidade Vanderbilt, no Tennessee. “A capacidade de formar conchas ou esqueletos n\u00e3o evoluiu at\u00e9 o final do per\u00edodo ediacarano.”<\/p>\n\n\n\n

As formas bizarras e os planos corporais confundem h\u00e1 muito tempo os cientistas, que lutam para colocar as criaturas na \u00e1rvore da vida.<\/p>\n\n\n\n

“Em v\u00e1rios pontos da hist\u00f3ria, dissemos que eles s\u00e3o tudo isso ou tudo aquilo”, diz Darroch.<\/p>\n\n\n\n

“Em um ponto, todos eles eram \u00e1guas-vivas e, em outro, todos foram um reino esquecido e perdido da vida animal que foi extinto. Nos \u00faltimos 20 anos, ficou claro que eles provavelmente representavam toda uma variedade de organismos e fauna, alguns dos quais eram animais.”<\/p>\n\n\n\n

O que est\u00e1 claro \u00e9 que os animais surgiram pelo menos 40 milh\u00f5es de anos antes da “explos\u00e3o Cambriana”, per\u00edodo de 541 milh\u00f5es de anos atr\u00e1s, que viu o s\u00fabito aparecimento no registro f\u00f3ssil de animais exibindo partes do corpo reconhec\u00edveis, como barbatanas, pernas, conchas e esqueletos. A maioria dos ancestrais dos animais modernos pode ser rastreada at\u00e9 esse ponto.<\/p>\n\n\n\n

No entanto, o maior mist\u00e9rio em torno dos ediacaranos foi o que aconteceu com eles. Em um ponto, eles devem ter prosperado: f\u00f3sseis de rangeomorfos e outros foram descobertos em todo o mundo. Da R\u00fassia \u00e0 Austr\u00e1lia e da Nam\u00edbia \u00e0 China. No entanto, eles desapareceram repentinamente do registro f\u00f3ssil aproximadamente 30 milh\u00f5es de anos ap\u00f3s a sua chegada.<\/p>\n\n\n\n

Ascens\u00e3o dos cambrianos<\/h2>\n\n\n\n

A chave para descobrir o que aconteceu pode estar em uma cole\u00e7\u00e3o de f\u00f3sseis conhecida como “Grupo Nama”, no sul da Nam\u00edbia. Cerca de 560 milh\u00f5es de anos atr\u00e1s, a Terra estava descongelando na Era Glacial, e essa \u00e1rea foi inundada com \u00e1gua glacial, formando um mar raso. Voc\u00ea pode caminhar centenas de quil\u00f4metros em qualquer dire\u00e7\u00e3o e ver registros dos animais que ali viviam, dispostos na superf\u00edcie das rochas.<\/p>\n\n\n\n

A regi\u00e3o \u00e9 not\u00e1vel por ser um dos \u00fanicos lugares que registram a transi\u00e7\u00e3o entre os per\u00edodos Ediacarano e Cambriano \u2014 um dos tempos mais biologicamente turbulentos da hist\u00f3ria da Terra.<\/p>\n\n\n\n

Em 2013, Darroch encontrou vastos campos que pareciam tocas feitas no sedimento de Nama \u2014 sinais de que esses animais mais jovens estavam se alimentando e agitando o fundo do mar.<\/p>\n\n\n\n

“A maioria dos ediacaranos eram animais bastante simples \u2014 eles n\u00e3o se moviam ou faziam muito, e tendiam a viver perto de sua fonte de alimento \u2014 como tapetes microbianos pegajosos encontrados no fundo do mar”, diz Darroch.<\/p>\n\n\n\n

\"Pesquisadora
A paisagem da Nam\u00edbia oferece pistas de como era o meio ambiente h\u00e1 mais de 560 milh\u00f5es de anos<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

“No entanto, na Nam\u00edbia, a partir de 540 milh\u00f5es de anos atr\u00e1s, h\u00e1 um aumento constante na intensidade e diversidade de diferentes comportamentos de escava\u00e7\u00e3o, sugerindo que os animais eram mais m\u00f3veis e se tornavam mais espertos na maneira como procuravam comida.”<\/p>\n\n\n\n

Darroch argumenta que a chegada desses animais mais modernos, do estilo cambriano, pode ter mudado o ambiente de uma maneira que os ediacaranos simplesmente n\u00e3o gostaram, por exemplo, agitando sedimentos e perturbando tapetes microbianos, dificultando a alimenta\u00e7\u00e3o dos ediacaranos.<\/p>\n\n\n\n

Algumas das tocas do sedimento tamb\u00e9m se pareciam exatamente com as criadas pelas an\u00eamonas do mar \u2014 um animal predador. Se predadores estivessem presentes, aquele certamente seria o ponto de morte para os ediacaranos, que seriam incapazes de escapar.<\/p>\n\n\n\n

No entanto, outros cientistas s\u00e3o c\u00e9ticos sobre essa teoria.<\/p>\n\n\n\n

“Essas formas coexistiram pacificamente por milh\u00f5es de anos, e h\u00e1 evid\u00eancias que sugerem que elas estavam vivendo em diferentes partes do mar, ent\u00e3o eles podem n\u00e3o ter necessariamente interagido ecologicamente entre si”, diz Rachel Wood, professora de Geoci\u00eancia Carbon\u00e1tica na Universidade de Edimburgo.<\/p>\n\n\n\n

Evento catastr\u00f3fico<\/h2>\n\n\n\n

Uma ideia alternativa que ganha maior ades\u00e3o entre os cientistas \u00e9 que uma queda nos n\u00edveis de oxig\u00eanio do oceano poderia ter causado a primeira extin\u00e7\u00e3o em massa da vida na Terra, compar\u00e1vel ao impacto de asteroides que arrasou os dinossauros.<\/p>\n\n\n\n

Os ge\u00f3logos s\u00e3o capazes de descobrir como eram os n\u00edveis de oxig\u00eanio no oceano milh\u00f5es de anos atr\u00e1s, medindo as quantidades relativas de diferentes tipos de ur\u00e2nio encontrados nas rochas sedimentares formadas na \u00e9poca. As rochas absorvem uma forma mais pesada de ur\u00e2nio quando cercadas por \u00e1guas com pouco oxig\u00eanio, e uma forma mais leve quando os n\u00edveis de oxig\u00eanio est\u00e3o altos.<\/p>\n\n\n\n

Usando esse m\u00e9todo, cientistas mostraram que os n\u00edveis de oxig\u00eanio no oceano flutuavam muito durante o per\u00edodo Ediacarano, com os n\u00edveis subindo pouco antes do aparecimento dos primeiros animais e diminuindo pouco antes do seu desaparecimento.<\/p>\n\n\n\n

\"Pesquisadores
A Sib\u00e9ria \u00e9 outra regi\u00e3o onde pesquisas meticulosas podem revelar c\u00e1psulas do tempo de um passado distante<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Um estudo calculou que a porcentagem do fundo do oceano coberta por \u00e1gua com baixo oxig\u00eanio (an\u00f3xica) poderia ter subido para mais de 60% ou 70%. Em compara\u00e7\u00e3o, o valor dos oceanos modernos \u00e9 de cerca de 0,1%.<\/p>\n\n\n\n

“Temos evid\u00eancias quantitativas de uma expans\u00e3o global da anoxia no oceano, que est\u00e1 intimamente relacionada em termos de tempo ao desaparecimento dos animais ediacaranos”, diz Xiao Shuhai, paleobi\u00f3logo e geobi\u00f3logo da Virginia Tech University, que participou desse estudo.<\/p>\n\n\n\n

Como as \u00e1guas pobres em oxig\u00eanio corriam sobre os mares rasos onde a primeira vida animal estava prosperando, algumas esp\u00e9cies teriam mais condi\u00e7\u00f5es de lidar com as novas condi\u00e7\u00f5es do que outras.<\/p>\n\n\n\n

“Muitos animais ediacaranos eram s\u00e9sseis, o que significa que n\u00e3o se mexiam”, diz Shuhai. “Assim, se houvesse uma r\u00e1pida mudan\u00e7a ambiental, eles n\u00e3o teriam sido capazes de se adaptar e, portanto, seriam mais suscet\u00edveis \u00e0 extin\u00e7\u00e3o.”<\/p>\n\n\n\n

“Se voc\u00ea \u00e9 m\u00f3vel, como muitos animais do estilo cambriano, tem uma chance maior de sobreviver, se mudar para um o\u00e1sis de oxig\u00eanio, como pequenos bols\u00f5es de oxig\u00eanio ou ref\u00fagios de oxig\u00eanio em \u00e1guas rasas.”<\/p>\n\n\n\n

O que quer que estivesse por tr\u00e1s de sua queda, o fim dos ediacaranos poderia realmente ter aberto o caminho para a explos\u00e3o Cambriana da vida animal que se seguiu.<\/p>\n\n\n\n

“Se voc\u00ea observar qualquer per\u00edodo de tempo geol\u00f3gico, ver\u00e1 frequentemente esses eventos de reviravolta, nos quais taxas elevadas de extin\u00e7\u00e3o s\u00e3o seguidas por taxas elevadas de especia\u00e7\u00e3o \u2014 parece que \u00e9 assim que a vida progride”, diz Rachel Wood.<\/p>\n\n\n\n

“Uma vez que as coisas evoluam para um nicho, voc\u00ea precisa usar muita energia para se livrar delas; portanto, se algo aparecer e remover essas formas, significa que outras coisas poder\u00e3o evoluir para ocupar esses nichos novamente.”<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"