{"id":157386,"date":"2020-03-02T14:31:00","date_gmt":"2020-03-02T17:31:00","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=157386"},"modified":"2020-03-01T20:37:21","modified_gmt":"2020-03-01T23:37:21","slug":"o-mundo-quer-comer-mais-polvo-mas-cria-los-em-cativeiro-e-etico","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2020\/03\/02\/157386-o-mundo-quer-comer-mais-polvo-mas-cria-los-em-cativeiro-e-etico.html","title":{"rendered":"O mundo quer comer mais polvo, mas cri\u00e1-los em cativeiro \u00e9 \u00e9tico?"},"content":{"rendered":"\n
\"O
O polvo-comum, da esp\u00e9cie O. vulgaris, \u00e9 encontrado em todo o mundo. \u00c0 medida que \u00e9 cada vez mais apreciado na culin\u00e1ria, sua cria\u00e7\u00e3o para fins comerciais levanta quest\u00f5es sobre seu bem-estar em cativeiro.
FOTO DE\u00a0GREG LECOEUR, NAT GEO IMAGE COLLECTION<\/strong> <\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

SISAL, YUCAT\u00c1N, M\u00c9XICO Em um laborat\u00f3rio \u00famido e escuro perto do vilarejo de Sisal, em Yucat\u00e1n, M\u00e9xico, Carlos Rosas V\u00e1zquez ergue uma das dezenas de pequenas conchas em um tanque de pl\u00e1stico preto. Ele for\u00e7a o cauteloso ocupante a sair e subir em sua m\u00e3o. Um polvo do tamanho de um camundongo, com tent\u00e1culos que se parecem fios entrela\u00e7ados, fantasmagoricamente p\u00e1lido, exceto pelos grandes olhos negros, se contorce sobre a palma de sua m\u00e3o e se enrosca em seus dedos. At\u00e9 mesmo Rosas, bi\u00f3logo da Universidade Nacional Aut\u00f4noma do M\u00e9xico, que trabalha h\u00e1 anos transformando criaturas como essa em mercadorias rent\u00e1veis, se deleita com a elegante capacidade de seus tent\u00e1culos. \u201cMaravilloso!\u201d<\/em>, ele diz em voz baixa.<\/p>\n\n\n\n

Em todo o mundo, os\u00a0polvos\u00a0s\u00e3o\u00a0objetos de desejo e admira\u00e7\u00e3o. Agora, eles est\u00e3o se tornando alvos de uma quest\u00e3o \u00e9tica \u00e0 medida que pesquisadores como Rosas descobrem maneiras de viabilizar a cria\u00e7\u00e3o comercial de polvos e, alegam, aliviar a crescente press\u00e3o sobre as popula\u00e7\u00f5es silvestres. Isso n\u00e3o \u00e9 bom, afirma um novo contingente de cr\u00edticos: a cria\u00e7\u00e3o de polvos em cativeiro vai esgotar ainda mais os ecossistemas marinhos e atormentar desnecessariamente esses invertebrados que s\u00e3o extremamente sens\u00edveis e inteligentes.<\/p>\n\n\n\n

H\u00e1 tempos um alimento b\u00e1sico da culin\u00e1ria mediterr\u00e2nea e do leste asi\u00e1tico, o polvo (pulpo<\/em> em espanhol, tako<\/em> em japon\u00eas) agora \u00e9 uma iguaria global, impulsionada pela popularidade dos sushis, tapas e pokes, e pelo desejo por prote\u00ednas de alta qualidade. A demanda e os pre\u00e7os subiram nos \u00faltimos anos, mesmo com uma menor quantidade de polvos sendo capturados em locais que tradicionalmente capturam grandes quantidades do pescado, como a Espanha e o Jap\u00e3o, e com os oceanos mais quentes e mais \u00e1cidos amea\u00e7ando ainda mais a popula\u00e7\u00e3o desses animais.<\/p>\n\n\n\n

\u00c0 primeira vista, portanto, esses donos de tent\u00e1culos saborosos parecem prontos para a aquicultura. Para muitas pessoas, por\u00e9m, os polvos significam muito mais do que pratos saborosos. \u201cAs pessoas t\u00eam esse estranho caso amoroso com os polvos\u201d, conta o bi\u00f3logo Rich Ross, da Academia de Ci\u00eancias da Calif\u00f3rnia, em S\u00e3o Francisco, EUA. \u201cConhe\u00e7o pessoas que nunca os comeriam, mas n\u00e3o t\u00eam problema nenhum em comer porcos, e diversas evid\u00eancias indicam que os porcos s\u00e3o muito inteligentes.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Os porcos, no entanto, n\u00e3o s\u00e3o t\u00e3o graciosos, misteriosos e carism\u00e1ticos quanto os polvos. Grandes c\u00e9rebros, comportamento complexo e curiosidade precoce transformaram esses improv\u00e1veis moluscos em criaturas de propaganda pelos direitos e bem-estar animal \u2014 e est\u00e3o envolvidos em uma recente batalha sobre a \u00e9tica e os poss\u00edveis impactos ambientais de cri\u00e1-los em cativeiro para a produ\u00e7\u00e3o de alimento.<\/p>\n\n\n\n

A discuss\u00e3o esquentou no ano passado, quando Jennifer Jacquet, professora de estudos ambientais da Universidade de Nova York, e v\u00e1rios coautores\u00a0publicaram um artigo, \u201cThe Case Against Octopus Farming\u201d (Um caso contra a cria\u00e7\u00e3o de polvos, em tradu\u00e7\u00e3o livre), que viralizou rapidamente. O texto argumenta que as sombrias \u201cconsequ\u00eancias \u00e9ticas e ambientais\u201d da produ\u00e7\u00e3o industrial de carne \u201cdevem nos fazer questionar se queremos repetir, com os animais aqu\u00e1ticos, especialmente os polvos, os erros j\u00e1 cometidos com os animais terrestres\u201d.<\/p>\n\n\n\n

A maior parte da pesca de polvo silvestre ainda \u00e9 mais artesanal do que industrial, e s\u00e3o utilizadas pequenas embarca\u00e7\u00f5es e t\u00e9cnicas tradicionais. Milhares de pescadores nos estados mexicanos de Yucat\u00e1n e Campeche atraem suas presas balan\u00e7ando caranguejos em longas varas de bambu. Mas a captura global \u2014\u00a0420 mil toneladas m\u00e9tricas por ano, de acordo com relat\u00f3rios da FAO \u2014 vai em grande parte para consumidores abastados na Cor\u00e9ia do Sul, Jap\u00e3o, Espanha, It\u00e1lia, Portugal e, ultimamente, nos Estados Unidos.\u00a0Pulpo a la gallega<\/em>\u00a0pode ser o prato nacional da regi\u00e3o da Galiza na Espanha, mas a\u00a0Galiza importa\u00a020 vezes mais polvo do que captura.<\/p>\n\n\n\n

\u201cHoje, vou para o mar e consigo 10 ou 20 quilos de polvo\u201d,\u00a0disse\u00a0um pescador de Portugal a um jornal, \u201cmas em outros anos conseguia mais de cem quilos\u201d. Ele e seus companheiros pediram que a pesca fosse temporariamente proibida para ajudar na recupera\u00e7\u00e3o da popula\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

\u201cQuase n\u00e3o saio para pescar”, contou Antonio Cob Reyes, pescador de Yucat\u00e1n. \u201cO mar est\u00e1 ficando lotado \u2014 mais pescadores, menos polvos.\u201d Marrocos e Maurit\u00e2nia, dois dos principais produtores, estabeleceram limites de captura para proteger os estoques.<\/p>\n\n\n\n

Os defensores da aquicultura dizem que criar polvos em cativeiro \u00e9 a \u00fanica forma de garantir a sustentabilidade e atender a demanda. Alguns aspectos do ciclo de vida do polvo os tornam bons candidatos \u00e0 aquicultura. Como o salm\u00e3o, eles t\u00eam vida curta e crescem rapidamente. As esp\u00e9cies mais comuns vivem de um a dois anos, algumas variedades maiores, de tr\u00eas a cinco. Eles podem ganhar 5% do peso corporal em um dia. Mas esse ciclo de vida apresenta um grande obst\u00e1culo: sustentar o animal em seu est\u00e1gio inicial, ou seja, quando \u00e9 um delicado organismo planct\u00f4nico chamado de paralarva, at\u00e9 que consiga iniciar seu crescimento vertiginoso.<\/p>\n\n\n\n

O enigma do beb\u00ea polvo<\/strong><\/h3>\n\n\n\n

Em 2015, uma empresa australiana\u00a0relatou grande\u00a0sucesso\u00a0na cria\u00e7\u00e3o em baterias do polvo-comum de Sydney. Mas n\u00e3o conseguiu criar paralarvas e passou a focar nos animais adultos, criando polvos silvestres capturados at\u00e9 atingirem o tamanho de mercado, utilizando um sistema de tanques na \u00e1gua, o mesmo empregado na Espanha.<\/p>\n\n\n\n

A \u00fanica empresa do ramo nos EUA, a Kanaloa Octopus Farms, na Ilha Grande do Hava\u00ed, tamb\u00e9m enfrentou o mesmo \u201cgargalo\u201d de produ\u00e7\u00e3o, de acordo com o fundador Jake Conroy. Kanaloa est\u00e1 agora trabalhando no cultivo de zoopl\u00e2ncton para produzir alimento que sustentar\u00e1 as paralarvas. O neg\u00f3cio sobrevive porque cobra uma entrada para visita\u00e7\u00e3o, intera\u00e7\u00e3o e alimenta\u00e7\u00e3o dos animais adultos. Conroy, um bi\u00f3logo que se voltou para a aquicultura para escapar da feroz competi\u00e7\u00e3o por financiamento para pesquisa, admite que intera\u00e7\u00f5es assim pr\u00f3ximas n\u00e3o incentivam mais consumo. \u201cNove em cada dez vezes acabamos convencendo as pessoas a n\u00e3o comerem polvo\u201d, diz ele. \u201cEstamos tranquilos em rela\u00e7\u00e3o a isso.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Em 2017, a gigante japonesa Nissui anunciou que havia \u201cconclu\u00eddo o ciclo de vida\u201d \u2014 produzindo sucessivas gera\u00e7\u00f5es criadas em cativeiro, o que permite que a aquicultura n\u00e3o dependa de capturas silvestres \u2014 e antecipou a produ\u00e7\u00e3o comercial em 2020. Contatada em janeiro, a Nissui apenas afirmou: \u201cInfelizmente ainda estamos em fase de pesquisa e desenvolvimento\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Hoje, o grupo Nueva Pescanova, multinacional de pesca e frutos do mar da Galiza, com base no trabalho do Instituto Oceanogr\u00e1fico Espanhol, realiza uma das mais avan\u00e7adas pesquisas em octocultura, embora n\u00e3o preveja a produ\u00e7\u00e3o comercial at\u00e9 2023. Ricardo Tur Estrada, chefe de pesquisa da Pescanova e veterano do instituto, diz que n\u00e3o apenas produziu gera\u00e7\u00f5es sucessivas de\u00a0Octopus vulgaris<\/em>, o\u00a0polvo-comum do Atl\u00e2ntico, como tamb\u00e9m prolongou a expectativa de vida do polvo.<\/p>\n\n\n\n

\"Este
Este jovem polvo-comum do Atl\u00e2ntico foi fotografado no Centro Biomarinho de Pescanova, o laborat\u00f3rio de pesquisa e desenvolvimento da multinacional espanhola no ramo de frutos do mar, que desenvolve a aquicultura de polvos.
FOTO DE\u00a0RICARDO TUR<\/strong> <\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Na natureza, os polvos se reproduzem uma vez, param de ca\u00e7ar e morrem. As f\u00eameas passam as \u00faltimas semanas de vida cuidando dos ovos. (Os nautilus s\u00e3o os \u00fanicos membros da fam\u00edlia dos cefal\u00f3podes, que tamb\u00e9m inclui lulas e chocos, que se reproduzem repetidamente.) Agora, com alimenta\u00e7\u00e3o cuidadosa e \u201ccondi\u00e7\u00f5es ideais\u201d, diz Tur, \u201csalvamos a vida da f\u00eamea, e isso nunca foi documentado antes\u201d. Neste ver\u00e3o, eles planejam tentar fazer com que uma f\u00eamea ressuscitada se reproduza novamente, sendo que essa pr\u00f3pria f\u00eamea nasceu em cativeiro. Ela ter\u00e1 dois anos, aproximadamente o dobro da vida \u00fatil m\u00e9dia do O. vulgaris<\/em>.<\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m disso, Tur explica: \u201celiminamos a concorr\u00eancia e o canibalismo\u201d, que s\u00e3o caracter\u00edsticas comuns do polvo, e identificamos um quarto est\u00e1gio anteriormente n\u00e3o relatado no ciclo de vida do polvo-comum \u2014 o alevino transparente, um est\u00e1gio de transi\u00e7\u00e3o entre paralarvas e animais jovens completamente formados. Ele acredita que esse est\u00e1gio, quando os animais aprendem a usar os bra\u00e7os e desenvolvem sua not\u00e1vel pigmenta\u00e7\u00e3o mutante, fornecer\u00e1 informa\u00e7\u00f5es biol\u00f3gicas importantes. \u201cTamb\u00e9m pode ser o est\u00e1gio perfeito para isolar c\u00e9lulas-tronco\u201d, a fim de entender e talvez imitar a capacidade dos polvos de regenerar membros perdidos.<\/p>\n\n\n\n

Do outro lado do Atl\u00e2ntico, Carlos Rosas tem mais facilidade com o ciclo de vida do polvo. O Octopus maya<\/em>, a esp\u00e9cie com a qual ele trabalha, \u00e9 uma das v\u00e1rias que pulam o est\u00e1gio paralarval e eclodem como minipolvos totalmente formados.<\/p>\n\n\n\n

Mas ele enfrenta outro desafio: baixo or\u00e7amento, algo t\u00edpico na \u00e1rea de pesquisa no M\u00e9xico. Sua solu\u00e7\u00e3o foi recrutar moradoras locais \u2014 as esposas dos pescadores de polvo \u2014 para limpar e cuidar das dezenas de tanques de seu laborat\u00f3rio em troca da possibilidade de usarem os polvos produzidos para fins comerciais. Essas cuidadosas assistentes de laborat\u00f3rio, que formaram uma pequena cooperativa, removem os ovos rec\u00e9m-postos, matam e limpam as m\u00e3es e criam as novas gera\u00e7\u00f5es para estudo e captura. \u201cN\u00f3s utilizamos os dados e voc\u00eas os polvos!\u201d, diz Rosas, brincando com duas mulheres da cooperativa. Impressionados com os resultados, seus maridos e filhos tamb\u00e9m quiseram fazer parte da cooperativa.<\/p>\n\n\n\n

A opera\u00e7\u00e3o \u00e9 artesanal. Para alimentar os polvos, os tratadores colocam pasta de camar\u00e3o e restos de peixe em centenas de pequenas conchas de moluscos, que imitam presas selvagens e reduzem o desperd\u00edcio de alimentos. O produto permite que seja cobrado um alto pre\u00e7o, cerca de US$ 24 o quilo. Eles podem vender os polvos menores e mais macios que os chefs<\/em> preferem, mas as regras de pesca protegem e fornecem polvos durante os seis meses em que a pesca \u00e9 proibida. Rosas e o governo de Yucat\u00e1n esperam que esse experimento d\u00ea origem a mais locais de cria\u00e7\u00e3o de polvos, gerando emprego para comunidades necessitadas e atenuando os impactos do aquecimento global que reduz o n\u00famero de animais capturados da natureza.<\/p>\n\n\n\n

\u201cParticularmente inadequado\u201d<\/strong><\/h3>\n\n\n\n

No artigo \u201cThe Case Against Octopus Farming\u201d, Jennifer Jacquet e seus coautores \u2014 Becca Franks, da Universidade de Nova York, o ativista de prote\u00e7\u00e3o animal Walter Sanchez-Suarez e o fil\u00f3sofo australiano\u00a0Peter Godfrey-Smith\u00a0\u2014 citam os impactos gerais da cria\u00e7\u00e3o industrial e da aquicultura. Eles apontam o estresse e a monotonia do confinamento; as \u201caltas taxas de mortalidade e o aumento da agress\u00e3o, infec\u00e7\u00f5es parasit\u00e1rias e problemas do trato digestivo\u201d associados \u00e0 produ\u00e7\u00e3o intensiva; al\u00e9m do desperd\u00edcio de \u201calimentar peixes com peixes\u201d que os humanos poderiam consumir, esgotando os mares.<\/p>\n\n\n\n

\"Este
Este jovem polvo mexicano de quatro olhos, da esp\u00e9cie O. maya, \u00e9 da cooperativa do bi\u00f3logo Carlos Rosas V\u00e1zquez em Sisal, M\u00e9xico.
FOTO DE\u00a0CARLOS ROSAS<\/strong> <\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Os polvos, argumentam eles, s\u00e3o \u201cparticularmente inadequados para viver em cativeiro e para a produ\u00e7\u00e3o em massa, por raz\u00f5es \u00e9ticas e ecol\u00f3gicas\u201d. O confinamento \u00e9 especialmente cruel para animais com um \u201csistema nervoso t\u00e3o sofisticado e c\u00e9rebro grande\u201d, capazes de imitar, brincar e empregar estrat\u00e9gias avan\u00e7adas de navega\u00e7\u00e3o e ca\u00e7a, al\u00e9m de serem \u201cvidas importantes\u201d, de acordo com Jacquet. Aqueles a favor da aquicultura \u201cn\u00e3o levam em conta qu\u00e3o rica \u00e9 a zona entremar\u00e9s\u201d, referindo-se ao habitat<\/em> intensamente variado onde as esp\u00e9cies de polvo-comum se alimentam. \u201c\u00c9 imposs\u00edvel reproduzir essa regi\u00e3o.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Rosas admite a import\u00e2ncia de garantir condi\u00e7\u00f5es favor\u00e1veis e melhorias (como conchas para se esconderem) e diz que seu laborat\u00f3rio tenta fornecer isso. \u201cEstamos trabalhando para reduzir a sensibilidade dos polvos \u00e0 dor quando os sacrificamos\u201d, acrescenta, entorpecendo-os com \u00e1gua fria e rapidamente cortando o c\u00e9rebro. \u201cParticiparemos de um projeto com o Laborat\u00f3rio de Cefal\u00f3podes em N\u00e1poles para determinar a melhor forma de abat\u00ea-los sem crueldade.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Rosas e Tur (ambos amantes declarados dos polvos, cujos escrit\u00f3rios est\u00e3o repletos de brinquedos com alus\u00e3o ao animal) usam restos e descartes de processadores de peixes locais para alimentar os polvos. Jake Conroy, da Kanaloa Octopus, teve menos sucesso em obter restos de peixes, mas considera usar peixes invasores como alimento, como as garoupas.<\/p>\n\n\n\n

Esse fornecimento sustent\u00e1vel pode ser mais vi\u00e1vel para projetos experimentais e artesanais como os deles do que para as empresas produtoras contra as quais Jacquet adverte. No entanto, Tur contesta veementemente sua afirma\u00e7\u00e3o de que s\u00e3o necess\u00e1rios pelo menos 1,3 quilo de comida para criar meio quilo de polvo. Ele reivindica uma taxa de convers\u00e3o mais baixa.<\/p>\n\n\n\n

\u201cN\u00e3o \u00e9 sustent\u00e1vel, mas \u00e9 menos insustent\u00e1vel\u201d, responde Jacquet, acrescentando que, mesmo que os pesquisadores \u201creduzam outros impactos ecol\u00f3gicos, a cria\u00e7\u00e3o de polvos ainda assim seria anti\u00e9tica\u201d. Afinal, \u00e9 um produto de luxo, desnecess\u00e1rio para a seguran\u00e7a alimentar. Proibir a octocultura \u201csignificaria apenas que consumidores abastados pagariam mais por polvos silvestres cada vez mais escassos\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Conroy diz que \u00e9 por isso que o polvo deve<\/em> ser cultivado: para aliviar os estoques da popula\u00e7\u00e3o selvagem. \u201cA aquicultura \u00e9 uma esp\u00e9cie de plano B\u201d, diz ele. \u201cEm um mundo perfeito, todos chegariam a um consenso, mas \u00e9 muito dif\u00edcil convencer as pessoas a se tornarem vegetarianas. Se adotarmos uma vis\u00e3o purista e a popula\u00e7\u00e3o selvagem for amea\u00e7ada ou totalmente destru\u00edda, como ficamos?\u201d<\/p>\n\n\n\n

Rosas e Tur fornecem outras justificativas para a cria\u00e7\u00e3o de polvos: desenvolvimento comunit\u00e1rio e pesquisa b\u00e1sica. Tur, que assim como Conroy se voltou para a aquicultura porque o financiamento para pesquisas era escasso, acredita que o estudo dos polvos trar\u00e1 grandes dividendos na forma de antibi\u00f3ticos (de sua mucosa protetora), regenera\u00e7\u00e3o de neur\u00f4nios e de tecidos, e rob\u00f3tica. Projetistas de rob\u00f4s j\u00e1 copiaram sua\u00a0pele el\u00e1stica\u00a0que muda de cor e imitaram seus tent\u00e1culos sens\u00edveis com ventosa para\u00a0agarrar objetos\u00a0e para\u00a0navega\u00e7\u00e3o cir\u00fargica. Um laborat\u00f3rio italiano at\u00e9 inventou um\u00a0octobot\u00a0capaz de explorar locais de dif\u00edcil acesso no fundo do mar.<\/p>\n\n\n\n

Aqueles que defendem e os que se op\u00f5em \u00e0 octocultura concordam em uma coisa: as not\u00e1veis habilidades desses maravilhosos moluscos. At\u00e9 agora, eles n\u00e3o conversaram diretamente uns com os outros. \u201cN\u00e3o \u00e9 que eu me oponha a dialogar\u201d, diz Jacquet, \u201cmas n\u00e3o quero ser convencida pelas opini\u00f5es das pessoas que atuam no setor\u201d. Assim, o debate deles prossegue de forma indireta, mesmo com restaurantes que seguem recebendo pedidos de\u00a0sashimi<\/em>\u00a0de\u00a0tako<\/em>e\u00a0pulpo a la gallega<\/em>.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: Eric Scigliano – National Geographic<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Extremamente inteligentes, os animais est\u00e3o no centro de um dilema entre a conserva\u00e7\u00e3o da esp\u00e9cie e a \u00e9tica da cria\u00e7\u00e3o em massa. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":157387,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[774,2958,315],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/157386"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=157386"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/157386\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":157388,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/157386\/revisions\/157388"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/157387"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=157386"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=157386"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=157386"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}