{"id":157682,"date":"2020-03-16T09:19:00","date_gmt":"2020-03-16T12:19:00","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=157682"},"modified":"2020-03-15T22:22:38","modified_gmt":"2020-03-16T01:22:38","slug":"cientistas-usam-drones-para-medir-efeitos-da-lama-da-samarco-em-baleias-e-botos-da-foz-do-rio-doce","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2020\/03\/16\/157682-cientistas-usam-drones-para-medir-efeitos-da-lama-da-samarco-em-baleias-e-botos-da-foz-do-rio-doce.html","title":{"rendered":"Cientistas usam drones para medir efeitos da lama da Samarco em baleias e botos da foz do Rio Doce"},"content":{"rendered":"\n
\"Baleias
Baleia jubarte m\u00e3e dando a primeira li\u00e7\u00e3o de nata\u00e7\u00e3o ao filhote, que acabou de nascer.<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Um drone de 32,2 por 24,2 cm e 8,4 cm de altura est\u00e1 ajudando pesquisadores da Universidade Federal do Esp\u00edrito Santo (UFMG) a estudar a biologia e o comportamento de golfinhos e baleias pr\u00f3ximo \u00e0 foz do rio Doce.<\/p>\n\n\n\n

Um dos objetivos da pesquisa \u00e9 entender tamb\u00e9m os efeitos da lama, que chegou \u00e0 regi\u00e3o com o rompimento da barragem da Samarco, em Mariana (MG), ocorrido no dia 5 de novembro de 2015, sobre a megafauna marinha. Para isso, o monitoramento ser\u00e1 realizado durante v\u00e1rios anos. Os resultados preliminares mostram que o local \u00e9 muito usado para alimenta\u00e7\u00e3o e cria\u00e7\u00e3o de filhotes.<\/p>\n\n\n\n

De acordo com o bi\u00f3logo Agnaldo Silva Martins, do Departamento de Oceanografia e Ecologia da Ufes (Universidade Federal do Esp\u00edrito Santo), l\u00edder do grupo de pesquisa, os estudos come\u00e7aram em setembro de 2018, com testes de utiliza\u00e7\u00e3o de drones.<\/p>\n\n\n\n

“O objetivo \u00e9 conhecer o ‘uso do habitat’ das esp\u00e9cies de golfinho que frequentam a regi\u00e3o, sendo que pelo menos duas delas, o boto-cinza (Sotalia guianensis<\/em>) e a toninha (Phocoena phocoena<\/em>), est\u00e3o bastante amea\u00e7adas de extin\u00e7\u00e3o”, conta. <\/p>\n\n\n\n

Martins explica que “uso do habitat” \u00e9 como os golfinhos e baleias utilizam a regi\u00e3o para sobreviv\u00eancia, ou seja, se \u00e9 para descansar, se alimentar, se levam os filhotes, se eles nascem no local ou se \u00e9 s\u00f3 para passagem (deslocamento), por exemplo. “Com isso, saberemos o potencial impacto que a lama de rejeito da Samarco pode ter sobre essas esp\u00e9cies”, diz. “Quanto mais usarem [a regi\u00e3o], mais delicada ser\u00e1 a situa\u00e7\u00e3o.”<\/p>\n\n\n\n

O estudo est\u00e1 sendo feito com decolagens mensais do drone de tr\u00eas localidades, uma pr\u00f3xima \u00e0 foz do rio Doce, uma a 10 km e outra 30 km ao sul desse local, junto \u00e0 desembocadura de outro rio, o Piraqu\u00ea A\u00e7\u00fa. “De cada um deles, o aparelho sai e voa uma dist\u00e2ncia de 3 km a partir da praia, rastreando grupos de golfinhos, tartarugas, tubar\u00f5es ou qualquer organismo grande o suficiente para ser visto de cima, a 50 m de altura”, explica Martins.<\/p>\n\n\n\n

O modelo de drone empregado pelos pesquisadores \u00e9 de uso pessoal (n\u00e3o profissional), pequeno, que pesa apenas 700 g e \u00e9 muito f\u00e1cil de transportar e montar para decolar. “Optamos por este aparelho devido ao baixo custo e aos altos riscos de perda pelo fato de voar sobre o mar”, conta Martins. “Se ocorre qualquer evento que obrigue o pouso, o perdemos, pois ele n\u00e3o \u00e9 \u00e0 prova d’\u00e1gua e, se isso ocorre, ele afunda. J\u00e1 perdemos um dessa forma, que sofreu pane ao ser atingido por uma chuva r\u00e1pida.”<\/p>\n\n\n\n

Segundo Martins, drones profissionais podem custar entre R$ 100 mil e R$ 500 mil ou mais. Os pesquisadores t\u00eam que usar v\u00e1rios deles (eles possuem tr\u00eas, sendo dois para uso simult\u00e2neo e um de reserva, al\u00e9m de cerca de 15 baterias). De acordo com eles, um kit composto pelo drone, mais tr\u00eas baterias e outros acess\u00f3rios, \u00e9 vendido por cerca de R$ 10 mil.<\/p>\n\n\n\n

\"Golfinhos\"\/
Golfinhos de dentes rugosos m\u00e3e e filhote (abaixo) repartindo um peixe com outro golfinho de dentes rugosos<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Martins afirma que s\u00e3o necess\u00e1rias pelo menos quatro pessoas na opera\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

“O piloto do drone, que \u00e9 um profissional especializado, um bi\u00f3logo com olhos treinados para reconhecer a fauna, que fica com uma m\u00e1scara de realidade virtual, um observador de drone com um bin\u00f3culo superpotente (para termos a licen\u00e7a de voo, a premissa \u00e9 que o aparelho n\u00e3o pode ser perdido de vista, pois se uma aeronave tripulada se aproxima, temos que afast\u00e1-lo imediatamente da \u00e1rea). Temos tamb\u00e9m um quarto componente que anota todos os resultados em planilhas.”<\/p>\n\n\n\n

A m\u00e1scara virtual recebe um sinal de r\u00e1dio enviado pelo drone, que \u00e9 transformado em imagem de v\u00eddeo. Ao mesmo tempo, ela \u00e9 gravada em resolu\u00e7\u00e3o maior num cart\u00e3o de mem\u00f3ria do aparelho voador. Quando o cientista com a m\u00e1scara avista, por meio da imagem de v\u00eddeo, algum alvo de interesse, ele avisa e orienta do piloto do drone, que ent\u00e3o opera o aparelho para obter as melhores imagens.<\/p>\n\n\n\n

Com elas, \u00e9 poss\u00edvel saber o que aqueles animais est\u00e3o fazendo no local (se alimentando, interagindo ou se deslocando, por exemplo). “Isso dura alguns minutos”, conta Martins. “Uma vez identificada a atividade, o drone continua a viagem de rastreamento at\u00e9 achar outro grupo. Isso \u00e9 repetido v\u00e1rias vezes em um dia, pois a bateria do aparelho dura apenas 20 minutos.”<\/p>\n\n\n\n

A busca \u00e9 por qualquer organismo marinho grande, que os pesquisadores chamam de ‘megafauna marinha’. “Geralmente s\u00e3o botos cinza e toninhas na regi\u00e3o onde voamos”, diz Martins. “Mas j\u00e1 observamos outra esp\u00e9cie de golfinho, tartarugas e aves marinhas, cardumes de peixes e um tubar\u00e3o baleia.”<\/p>\n\n\n\n

Por enquanto, os cientistas n\u00e3o t\u00eam uma ideia definitiva sobre o efeito da lama da barragem da Samarco sobre a fauna local. De acordo Martins, os efeitos agudos j\u00e1 passaram e agora a regi\u00e3o vive a fase cr\u00f4nica, na qual as altera\u00e7\u00f5es ser\u00e3o pequenas ao longo dos anos.<\/p>\n\n\n\n

Por isso, os \u00f3rg\u00e3os ambientais federais e do Esp\u00edrito Santo exigiram um monitoramento da biodiversidade marinha de longo prazo, de cinco a dez anos, justamente para saber se os efeitos cr\u00f4nicos est\u00e3o aumentando ou n\u00e3o, e causando mais problemas para a fauna.<\/p>\n\n\n\n

O trabalho ser\u00e1 feito durante v\u00e1rios anos, para saber se o uso do habitat da foz do Rio Doce pela megafauna marinha aumenta ou diminui. “Se aumentar, isso pode significar que os efeitos da lama est\u00e3o diminuindo e eles est\u00e3o voltando a usar mais”, diz Martins. “Se diminuir, quer dizer que os cr\u00f4nicos est\u00e3o atuando e vamos ter que pensar em solu\u00e7\u00f5es para reparar esse dano.”<\/p>\n\n\n\n

\"Baleia
Baleia jubarte emergindo e borrifando<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Os resultados dos estudos v\u00e3o dar subs\u00eddios para que se apliquem medidas mitigat\u00f3rias (redu\u00e7\u00e3o de impacto) e compensat\u00f3rias (quando n\u00e3o \u00e9 mais poss\u00edvel reduzir e se opta por melhorar a situa\u00e7\u00e3o em outra regi\u00e3o onde isso ainda \u00e9 poss\u00edvel). Uma das medidas, por exemplo, seria a cria\u00e7\u00e3o de \u00e1reas protegidas em locais mais preservados, para evitar que os animais sejam mortos por outras causas que os atingem, como as redes de pesca, por exemplo.<\/p>\n\n\n\n

Paralelamente ao trabalho com os golfinhos, os pesquisadores est\u00e3o fazendo testes tamb\u00e9m para aplica\u00e7\u00e3o do m\u00e9todo para avaliar o uso do ambiente pela baleia jubarte.<\/p>\n\n\n\n

“Mas, como esses animais n\u00e3o se aproximam muito da costa, estamos fazendo a mesma coisa, s\u00f3 que decolando o drone a partir de um barco, o que \u00e9 muito mais desafiador”, conta Martins. “Nesse caso, o monitoramento ainda n\u00e3o come\u00e7ou pra valer. S\u00f3 fizemos os testes em 2019 e devemos iniciar o monitoramento agora em 2020, quando as baleias voltarem para a regi\u00e3o.”<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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