{"id":158210,"date":"2020-03-31T06:30:00","date_gmt":"2020-03-31T09:30:00","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=158210"},"modified":"2020-03-30T20:34:34","modified_gmt":"2020-03-30T23:34:34","slug":"sair-do-isolamento-agora-e-querer-voltar-a-mundo-que-nao-existe-mais-diz-virologista-atila-iamarino","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2020\/03\/31\/158210-sair-do-isolamento-agora-e-querer-voltar-a-mundo-que-nao-existe-mais-diz-virologista-atila-iamarino.html","title":{"rendered":"Sair do isolamento agora \u00e9 querer voltar a mundo que n\u00e3o existe mais, diz virologista Atila Iamarino"},"content":{"rendered":"\n
\"Retrtao
Doutor em microbiologia pela USP, Iamarino estuda a dissemina\u00e7\u00e3o de v\u00edrus e a forma como evoluem<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Interromper agora as medidas de isolamento contra o novo\u00a0coronav\u00edrus\u00a0\u00e9 querer voltar a uma realidade que n\u00e3o existe mais, alerta \u00e9 o bi\u00f3logo e divulgador cient\u00edfico Atila Iamarino.<\/p>\n\n\n\n

O mundo (e o Brasil) mudaram com a dissemina\u00e7\u00e3o do novo coronav\u00edrus, e a preocupa\u00e7\u00e3o de governos e empresas agora deveria ser a de se preparar para esta nova realidade, diz ele em entrevista \u00e0 BBC News Brasil.<\/p>\n\n\n\n

Nos \u00faltimos dias, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e alguns empres\u00e1rios t\u00eam insistido na necessidade de restabelecer o funcionamento do com\u00e9rcio e de outros servi\u00e7os.<\/p>\n\n\n\n

Carreatas com essa bandeira foram organizadas em diversas cidades brasileiras. O argumento \u00e9 de que os danos econ\u00f4micos ser\u00e3o irrevers\u00edveis caso o pa\u00eds continue parado por muito tempo.<\/p>\n\n\n\n

O consenso entre cientistas da \u00e1rea, no entanto, \u00e9 de que \u00e9 fundamental manter medidas de isolamento social por enquanto, diz Atila \u2014 inclusive para ganhar tempo a fim de trabalhar em alternativas.<\/p>\n\n\n\n

“Manter as medidas que a gente tem agora \u00e9 o que vai fazer dar tempo para buscarmos outras medidas l\u00e1 na frente. Na verdade, parar agora \u00e9 ganhar o tempo para fazer escolhas”, diz ele.<\/p>\n\n\n\n

Doutor em microbiologia pela Universidade de S\u00e3o Paulo (USP), Atila concluiu dois p\u00f3s-doutorados estudando a dissemina\u00e7\u00e3o (ele prefere o termo “espalhamento”) dos v\u00edrus e a forma como esses organismos evoluem. Um desses p\u00f3s-doutorados foi na pr\u00f3pria USP, e o outro na Universidade Yale, nos Estados Unidos.<\/p>\n\n\n\n

Em sua carreira, o pesquisador de 36 anos estudou v\u00edrus como ebola e HIV. A ideia desse tipo de pesquisa, explica ele, \u00e9 analisar o material gen\u00e9tico dos v\u00edrus para entender como eles se propagam entre os humanos.<\/p>\n\n\n\n

Atila se tornou conhecido por sua participa\u00e7\u00e3o no canal de YouTube do\u00a0Nerdologia, um dos maiores do pa\u00eds. Nos \u00faltimos dias, tem feito transmiss\u00f5es ao vivo sobre o novo coronav\u00edrus.<\/p>\n\n\n\n

Uma delas atingiu a marca de 5,2 milh\u00f5es de visualiza\u00e7\u00f5es em menos de uma semana e fez com que o nome do bi\u00f3logo chegasse \u00e0 lista de assuntos mais comentados pelos brasileiros no Twitter.<\/p>\n\n\n\n

Atila conversou com a BBC News Brasil por telefone, na \u00faltima quarta-feira (25\/02). Confirma a seguir alguns dos principais trechos da entrevista.<\/p>\n\n\n\n

BBC News Brasil – \u00c0 luz do que j\u00e1 se sabe sobre a pandemia, o que voc\u00ea acha das \u00faltimas interven\u00e7\u00f5es presidente da Rep\u00fablica, Jair Bolsonaro, dizendo que o pa\u00eds precisa “voltar \u00e0 normalidade”?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Atila Iamarino –<\/strong> Eu acho que n\u00e3o importa (o discurso do presidente). Felizmente, isso vai contra o que todos os pa\u00edses est\u00e3o fazendo. Quase que sem exce\u00e7\u00e3o. Todos os pa\u00edses sobre os quais estou informado est\u00e3o tomando medidas na dire\u00e7\u00e3o contr\u00e1ria, de fechar em diferentes graus, e at\u00e9 de deixar a popula\u00e7\u00e3o em casa, como a \u00cdndia acabou de fazer com mais de 1 bilh\u00e3o de pessoas.<\/p>\n\n\n\n

Ent\u00e3o, em rela\u00e7\u00e3o \u00e0s pol\u00edticas internacionais, n\u00e3o faz sentido (o discurso de Bolsonaro).<\/p>\n\n\n\n

E, aqui dentro do pa\u00eds, n\u00e3o nos importa, porque os Estados e as cidades est\u00e3o tomando medidas para fechar em diferentes graus. Todos os Estados adotaram medidas para restringir o com\u00e9rcio n\u00e3o essencial, e restringir a circula\u00e7\u00e3o das pessoas. Est\u00e3o de acordo com a orienta\u00e7\u00e3o internacional.<\/p>\n\n\n\n

Portanto, em \u00faltima an\u00e1lise, tanto faz o que o presidente falar, desde que as cidades e os Estados continuem agindo como est\u00e3o agindo.<\/p>\n\n\n\n

A esta altura, dado o pouco tempo que a gente tem, a gente precisa focar, na verdade, em atitudes. O pa\u00eds, os Estados e as cidades est\u00e3o tomando atitudes que v\u00e3o proteger as pessoas? Est\u00e3o. Ent\u00e3o, t\u00e1 \u00f3timo, tanto faz o que est\u00e3o falando.<\/p>\n\n\n\n

A gente tem tr\u00eas, quatro meses para agir, dado qualquer estudo sobre como \u00e9 o espalhamento desse v\u00edrus.<\/p>\n\n\n\n

\"Atila
Para Atila, tanto faz o que o presidente fala, desde que as cidades e os Estados continuem agindo como est\u00e3o<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

BBC News Brasil – A exemplo do presidente da Rep\u00fablica, outras pessoas se mostram preocupadas com o efeito econ\u00f4mico do isolamento. <\/strong>Ne<\/strong>sta semana voc\u00ea disse ao podcast Xadrez Verbal que essa perspectiva \u00e9 um tanto “inocente”. Por qu\u00ea?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Iamarino –<\/strong> Existe uma preocupa\u00e7\u00e3o s\u00e9ria com a economia, claro. E uma preocupa\u00e7\u00e3o leg\u00edtima seria a de como adequar a economia a essa nova realidade (imposta pelo v\u00edrus). O que a gente pode fazer para que os com\u00e9rcios consigam vender online e fazer entregas da melhor maneira poss\u00edvel; o que a gente pode fazer para que as pessoas consigam trabalhar \u00e0 dist\u00e2ncia da melhor maneira poss\u00edvel.<\/p>\n\n\n\n

Que medidas econ\u00f4micas a gente pode tomar para que as pessoas continuem em casa e continuem com uma vida produtiva, e tenham condi\u00e7\u00f5es de se manter, porque nem todo mundo pode continuar trabalhando de casa.<\/p>\n\n\n\n

Existe um problema econ\u00f4mico, muitos pa\u00edses est\u00e3o cientes e tomando medidas s\u00e9rias para san\u00e1-lo.<\/p>\n\n\n\n

Isso \u00e9 diferente de ter uma preocupa\u00e7\u00e3o econ\u00f4mica de n\u00e3o deixar a situa\u00e7\u00e3o mudar. Isso pra mim \u00e9 muito mais um luto do que uma preocupa\u00e7\u00e3o s\u00e9ria. E n\u00e3o acho que seja uma decis\u00e3o deliberada das pessoas fazer isso.<\/p>\n\n\n\n

Mas quem ainda est\u00e1 pensando em n\u00e3o deixar a economia atual desandar, na verdade, est\u00e1 tentando resgatar um mundo que n\u00e3o existe mais. Que \u00e9 o mundo de janeiro de 2020.<\/p>\n\n\n\n

O mundo mudou, e aquele mundo (de antes do coronav\u00edrus) n\u00e3o existe mais. A nossa vida vai mudar muito daqui para a frente, e algu\u00e9m que tenta manter o status quo<\/em> de 2019 \u00e9 algu\u00e9m que ainda n\u00e3o aceitou essa nova realidade.<\/p>\n\n\n\n

\"Jair
Bolsonaro criticou o fechamento das escolas e disse que medidas de distanciamento social afetariam o desempenho da economia<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

BBC News Brasil – Mas o que ser\u00e1 diferente? Por que voc\u00ea diz que o mundo do fim de 2019 “acabou”?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Iamarino – <\/strong>Bem ou mal, involuntariamente, o mundo inteiro est\u00e1 passando por um experimento agora. A gente est\u00e1 vendo como diferentes regimes pol\u00edticos, sistemas de organiza\u00e7\u00e3o social e diferentes medidas funcionam contra o coronav\u00edrus e grandes problemas de sa\u00fade p\u00fablica.<\/p>\n\n\n\n

A gente est\u00e1 vendo pa\u00edses que jamais cogitariam isso em outras situa\u00e7\u00f5es, como os Estados Unidos, aceitando que \u00e9 necess\u00e1rio dar um suporte financeiro grande para seus cidad\u00e3os e distribuindo dinheiro. Empresas descobrindo o quanto as pessoas produzem ou n\u00e3o trabalhando de home office<\/em>. Escolas descobrindo o quanto os alunos aprendem ou n\u00e3o por conta pr\u00f3pria, em casa, e qual o valor ou n\u00e3o de usar o ensino \u00e0 dist\u00e2ncia.<\/p>\n\n\n\n

A gente est\u00e1 descobrindo o que s\u00e3o os servi\u00e7os essenciais, e estamos voltando a entender o valor de ci\u00eancia, da m\u00eddia (profissional) e dos servi\u00e7os de sa\u00fade. E de sistemas que s\u00e3o fundamentais desde sempre, mas que, em per\u00edodos de bonan\u00e7a, s\u00e3o f\u00e1ceis de negligenciar.<\/p>\n\n\n\n

O sistema de sa\u00fade de v\u00e1rios pa\u00edses vai ter que ser reavaliado. Garanto para voc\u00ea que o sistema de sa\u00fade norte-americano vai ter um estresse maior que o do resto do mundo, inclusive pelo modelo (sem sa\u00fade publica universal) de tratamento que eles seguem.<\/p>\n\n\n\n

A gente vai descobrir quais s\u00e3o as vulnerabilidades que o regime de trabalho moderno, com terceiriza\u00e7\u00e3o, com trabalho por aplicativo, cria num momento desses. A gente vai descobrir mais cedo tamb\u00e9m a import\u00e2ncia de se usar sistemas de venda online, de pagamentos sem contato e outras coisas.<\/p>\n\n\n\n

Mudan\u00e7as que o mundo levaria d\u00e9cadas para passar, que a gente levaria muito tempo para implementar voluntariamente, a gente est\u00e1 tendo que implementar no susto, em quest\u00e3o de meses.<\/p>\n\n\n\n

Ent\u00e3o, independentemente da progress\u00e3o da pandemia e das mortes que podem acontecer ou n\u00e3o, s\u00f3 as mudan\u00e7as para se adaptar a ela j\u00e1 est\u00e3o adiantando ou atrapalhando alguns passos que a humanidade daria nas pr\u00f3ximas duas d\u00e9cadas.<\/p>\n\n\n\n

E ainda tem \u2014 e isto est\u00e1 em aberto e a resolver \u2014 qual vai ser o trauma das pessoas. O que \u00e9 que este per\u00edodo de confinamento far\u00e1 conosco, se a rela\u00e7\u00e3o entre os familiares aumenta ou diminui. Como as pessoas v\u00e3o suportar esse per\u00edodo de isolamento, que valor que a gente vai dar para uma reuni\u00e3o, um almo\u00e7o, uma festa, algo assim.<\/p>\n\n\n\n

Tudo isso vai ser muito diferente quando a gente sair do surto.<\/p>\n\n\n\n

BBC News Brasil – O que aconteceria com a economia se nada fosse feito?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Iamarino –<\/strong> Vamos supor que a gente seguisse a recomenda\u00e7\u00e3o de alguns e, no m\u00e1ximo, isolasse os idosos ou fizesse algo assim.<\/p>\n\n\n\n

Numa realidade dessa, se voc\u00ea \u00e9 dono de uma empresa e os seus funcion\u00e1rios pegam a covid-19, em menos de um m\u00eas a empresa inteira estaria contaminada, pelo menos 10 a 20% dos seus funcion\u00e1rios precisariam ser hospitalizados.<\/p>\n\n\n\n

Os outros 80% v\u00e3o ter graus diferentes de complica\u00e7\u00e3o, e alguns v\u00e3o precisar trabalhar de casa, ou parar de trabalhar por causa de febre, dor de cabe\u00e7a, dor no corpo.<\/p>\n\n\n\n

Ent\u00e3o, mesmo se a gente n\u00e3o fizer nada, se a covid-19 chega numa empresa, parte dos funcion\u00e1rios some. Parte n\u00e3o vai ter condi\u00e7\u00f5es de trabalhar, e a parte que ficar trabalhando n\u00e3o vai ter nem a moral, nem o estado de sa\u00fade para render o que rendia. Mesmo que a gente n\u00e3o fizesse nada, a economia j\u00e1 ia sofrer e muito com a queda de produtividade.<\/p>\n\n\n\n

Ent\u00e3o, \u00e9 uma realidade que nos foi imposta, na verdade. Quem est\u00e1 tentando manter a economia de 2019 est\u00e1 se recusando a aceitar essa realidade. Na verdade a gente j\u00e1 deveria estar virando a chave e tentando entender como sair do outro lado.<\/p>\n\n\n\n

Dando um exemplo meu: tem um restaurante aqui perto de casa que frequento regularmente. N\u00e3o cheguei para eles e falei “Olha, quando o covid-19 vier, n\u00e3o feche”. Porque eu sei que n\u00e3o existe essa possibilidade. Eu falei para eles: “Avise seus clientes que voc\u00ea faz entrega. J\u00e1 vai testando os diferentes aplicativos de entrega para ver quem cobra a melhor taxa. J\u00e1 prepara as pessoas que trabalham na cozinha para revezar turnos, e se prepara financeiramente, por que vai ser um impacto grande”. Tenho que aceitar que isso aconteceu e mudou.<\/p>\n\n\n\n

BBC News Brasil – A Coreia do Sul parece estar tendo sucesso com uma abordagem que combinou testes em massa, uso de aplicativos de celular e isolamento dos doentes. E que permitiu manter a economia funcionando. Algo parecido teria sido feito no Jap\u00e3o. Uma abordagem desse tipo seria vi\u00e1vel aqui?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Iamarino –<\/strong> Ela pode ser vi\u00e1vel. A quest\u00e3o \u00e9 que a gente ainda n\u00e3o tem a infraestrutura pronta aqui no Brasil para produzir o volume de testes necess\u00e1rio. E importar esses testes leva tempo, porque o mundo inteiro est\u00e1 tentando compr\u00e1-los agora.<\/p>\n\n\n\n

Ent\u00e3o, parar, manter as pessoas em casa, manter essa quarentena, manter esse isolamento e esse distanciamento d\u00e1 o tempo necess\u00e1rio para a gente poder chegar nessa situa\u00e7\u00e3o, inclusive.<\/p>\n\n\n\n

Tem diferentes respostas, e parar o pa\u00eds n\u00e3o precisa ser a \u00fanica coisa que a gente v\u00e1 fazer. A quest\u00e3o \u00e9 que, em qualquer estimativa de crescimento da covid-19, o problema vai se impor em quest\u00e3o de meses, at\u00e9 o fim de agosto provavelmente, se nada for feito.<\/p>\n\n\n\n

Manter as medidas que a gente tem agora \u00e9 o que vai fazer dar tempo para buscarmos outras medidas l\u00e1 na frente. Na verdade, parar agora \u00e9 ganhar o tempo para fazer escolhas.<\/p>\n\n\n\n

\"Pessoa
A testagem em massa \u00e9 uma das raz\u00f5es para que a Coreia do Sul esteja conseguindo controlar a covid-19<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

BBC News Brasil – Dias atr\u00e1s, seu nome chegou aos assuntos mais comentados do Twitter, depois que voc\u00ea mencionou a possibilidade de 1 milh\u00e3o de mortos no pa\u00eds. Que avalia\u00e7\u00e3o voc\u00ea faz hoje desse epis\u00f3dio?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Atila Iamarino –<\/strong> Essa experi\u00eancia me mostrou como uma mensagem pode ser fragmentada e pulverizada na internet. Porque, por mais que tenha feito um v\u00eddeo com todos os cuidados, para dizer “isso n\u00e3o \u00e9 um destino, n\u00e3o \u00e9 uma profecia, \u00e9 o cen\u00e1rio em que nada \u00e9 feito, ou pouco \u00e9 feito, e o que a gente quer \u00e9 n\u00e3o ter esse cen\u00e1rio”.<\/p>\n\n\n\n

N\u00e3o estava fazendo previs\u00f5es, estava extrapolando (para o Brasil) os n\u00fameros de um estudo que estava prevendo o que acontece. E s\u00e3o n\u00fameros com os quais o Minist\u00e9rio da Sa\u00fade e as secretarias de Sa\u00fade (de Estados e munic\u00edpios) est\u00e3o trabalhando tamb\u00e9m. Se voc\u00ea leva em conta quando eles falam, por exemplo, que at\u00e9 metade do pa\u00eds pode pegar, isso \u00e9 o consenso (cient\u00edfico), na verdade.<\/p>\n\n\n\n

Pelo menos metade das pessoas precisaria pegar covid-19 e se imunizar para o problema se resolver sozinho. Na falta de uma vacina, na falta de uma solu\u00e7\u00e3o de larga escala, a transmiss\u00e3o come\u00e7a a cair quando pelo menos metade das pessoas pega o v\u00edrus. E tende a acabar quando l\u00e1 pelos 60, 70, 80% (das pessoas desenvolveram imunidade), dependendo da simula\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Isso \u00e9 o consenso, e digo que \u00e9 porque j\u00e1 foi inclusive dito pelo Minist\u00e9rio da Sa\u00fade. E quando voc\u00ea lida com esses n\u00fameros e imagina o que \u00e9 1% de mortalidade de 50% dos brasileiros, fica evidente que a escala \u00e9 essa mesmo. Est\u00e1 todo mundo lidando (com estes n\u00fameros).<\/p>\n\n\n\n

O choque do que eu falei foi simplesmente colocar isso ‘na lata’ e falar para as pessoas de uma forma que, por mais que estivesse dentro de um contexto ali, foi picotado e espalhado de outra forma na internet.<\/p>\n\n\n\n

O grande problema \u00e9 em quanto tempo isso (as mortes) tendem a acontecer. Vou pegar um exemplo que est\u00e1 todo mundo dando. “Acidentes de carro matam 300 mil pessoas por ano e nem por isso a gente diz para as pessoas n\u00e3o andarem de carro.” Com raz\u00e3o: a gente toma uma s\u00e9rie de medidas para proteger as pessoas, para diminuir esse n\u00famero. Agora, se todas essas mortes acontecessem num intervalo de um m\u00eas, de uma semana, em uma \u00fanica regi\u00e3o, isso com certeza seria uma coisa traum\u00e1tica e preocupante.<\/p>\n\n\n\n

Esse \u00e9 o ponto da covid-19: se ela for espalhada ao longo de um ano, de dois anos, porque a gente tomou medidas para que isso, porque deu tempo de surgir uma vacina, deu tempo de um tratamento ser validado, isso \u00e9 uma coisa que a sociedade absorve e sai do outro lado como se fosse uma gripe mais s\u00e9ria mesmo. Mas, para que isso seja uma gripe mais s\u00e9ria, a gente tem que trabalhar muito.<\/p>\n\n\n\n

Meu ponto era esse, na verdade. Estava querendo comunicar n\u00e3o o n\u00famero (de um milh\u00e3o de mortes), que pode mudar, mas a ideia de que esse n\u00famero mude. As medidas que foram tomadas no dia seguinte ao que eu falei (como o fechamento do com\u00e9rcio) j\u00e1 contribuem, e muito, para isso, para mudar o cen\u00e1rio, para que este n\u00famero n\u00e3o aconte\u00e7a.<\/p>\n\n\n\n

O importante era que as pessoas entendessem que a situa\u00e7\u00e3o mudou. E que elas n\u00e3o est\u00e3o ficando em casa porque \u00e9 s\u00f3 um probleminha, \u00e9 que a vida de muita gente depende disso. E a gente tem que come\u00e7ar a trabalhar e pensar sobre como viabilizar essa nova vida de uma maneira que seja mais pr\u00f3xima do normal que a gente tinha antes. Porque aquele normal n\u00e3o existe mais.<\/p>\n\n\n\n

BBC News Brasil – Bras\u00edlia foi uma das primeiras cidades a fechar o com\u00e9rcio, em 19 de mar\u00e7o. Muita gente na \u00e9poca considerou essa medida precipitada, diante da possibilidade de v\u00e1rios meses de isolamento. Hoje ainda d\u00e1 para dizer isso?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Iamarino –<\/strong> Pelo contr\u00e1rio. A diferen\u00e7a entre a It\u00e1lia e a China foi de menos de uma semana, do momento em que passaram de cem casos para o momento do isolamento. E a It\u00e1lia foi pelo caminho que foi. Esse \u00e9 o problema, na verdade. A covid-19 se espalha muito r\u00e1pido. E causa problemas muito cedo. O ideal \u00e9 que a gente pare o quanto antes e, depois, revise para ver se aquilo era o ideal de ter sido feito ou n\u00e3o. No caso dessa doen\u00e7a, pela velocidade com que ela se espalha, \u00e9 prefer\u00edvel errar pela (pelo excesso de) precau\u00e7\u00e3o, na verdade.<\/p>\n\n\n\n

A gente tem o privil\u00e9gio, aqui no Brasil, de ter recebido poucos visitantes de fora, de estarmos distantes o suficiente da China para a doen\u00e7a n\u00e3o chegar aqui antes. Ent\u00e3o, a gente est\u00e1 a um m\u00eas, vinte dias, dez dias atr\u00e1s da situa\u00e7\u00e3o de v\u00e1rios pa\u00edses, de modo que a gente pode acompanhar o crescimento deles e ver o quanto poderemos ser afetados.<\/p>\n\n\n\n

Um exemplo bem pr\u00e1tico e muito direto para o Brasil: o nosso crescimento do n\u00famero de casos, at\u00e9 aqui pelo menos (quarta-feira, 25 de mar\u00e7o) est\u00e1 dobrando a cada tr\u00eas dias. Esse \u00e9 um ritmo de crescimento pior do que o da It\u00e1lia. E muito parecido, muito pr\u00f3ximo do da Espanha. Que demorou at\u00e9 mais tempo que a It\u00e1lia, desde os cem casos, para parar (as atividades).<\/p>\n\n\n\n

Ent\u00e3o, a gente j\u00e1 tem uma r\u00e9gua para medir. A gente est\u00e1 11 ou 12 dias atr\u00e1s da Espanha em termos epidemiol\u00f3gicos, em n\u00famero de casos e evolu\u00e7\u00e3o da doen\u00e7a. E a gente leva um tempo para ver se as medidas funcionaram. Se daqui a um m\u00eas, no come\u00e7o de abril, a gente estiver crescendo menos que o surto espanhol cresceu at\u00e9 l\u00e1, a gente vai saber que as medidas est\u00e3o funcionando.<\/p>\n\n\n\n

Tem outros pa\u00edses que entraram no surto antes da gente e que est\u00e3o em situa\u00e7\u00e3o melhor ou pior e nos quais a gente pode se espelhar. Se nosso crescimento deixar de ser um dos piores, como o da Espanha, e passar a ser um dos melhores ou cair para outro patamar, a gente tem como saber que as nossas medidas funcionaram, porque j\u00e1 temos a experi\u00eancia deles para comparar.<\/p>\n\n\n\n

Tamb\u00e9m vamos ver a diferen\u00e7a entre regi\u00f5es. Se Bras\u00edlia, que adotou medidas antes, tiver um crescimento menor do que em S\u00e3o Paulo, ou do Rio, que levou um pouco mais de tempo, ou de outro lugar, a gente vai saber disso. E, de repente, podem voltar a relaxar mais cedo, porque a coisa funcionou. Mas o ponto \u00e9: parar antes te d\u00e1 essa liberdade de olhar, respirar, ver o que aconteceu e decidir. N\u00e3o parar \u00e9 o que a It\u00e1lia fez. E, se voc\u00ea n\u00e3o para, a covid-19 para voc\u00ea.<\/p>\n\n\n\n

\"Mulher
Isolamento social \u00e9 recomendado por autoridades para evitar a propaga\u00e7\u00e3o do novo coronav\u00edrus, que j\u00e1 infectou mais de 480 mil pessoas pelo mundo<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

BBC News Brasil – Uma quarentena formal, com a pol\u00edcia impedindo as pessoas de sa\u00edrem de suas casas, seria apropriado ou necess\u00e1rio?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Iamarino –<\/strong> Talvez seja necess\u00e1rio, mas n\u00e3o sei se seria apropriado. Foi o que a China fez, e o corpo t\u00e9cnico e cient\u00edfico da Organiza\u00e7\u00e3o Mundial de Sa\u00fade que avaliou a resposta chinesa classificou a a\u00e7\u00e3o deles como a mais coordenada, a mais r\u00e1pida, mais agressiva e intensiva que a humanidade j\u00e1 viu para conter uma doen\u00e7a.<\/p>\n\n\n\n

Acho inclusive que isso descalibrou o que o mundo esperava da covid-19. N\u00e3o estando na realidade da China, \u00e9 dif\u00edcil entender a escala massiva do que eles fizeram. O que os outros cientistas que leram esse relat\u00f3rio t\u00e9cnico questionaram \u00e9 quais s\u00e3o os princ\u00edpios humanos e \u00e9ticos violados para isso. E quem questiona isso diz que justamente o resto do mundo n\u00e3o necessariamente toleraria alguma coisa nessa escala. O que a Europa est\u00e1 tentando agora \u00e9 alguma coisa pr\u00f3xima disso, dentro do que a realidade europeia permite. E a gente tem como acompanhar, de um m\u00eas atr\u00e1s ou vinte dias atr\u00e1s, o quanto est\u00e1 sendo efetivo ou n\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Talvez seja necess\u00e1rio, mas eu sinceramente n\u00e3o sei dizer. A gente vai descobrir com a It\u00e1lia e a Espanha agora. A It\u00e1lia tomou meias medidas e est\u00e1 conseguindo reduzir um pouco da mortalidade, mas n\u00e3o necessariamente conter (a epidemia). Talvez a gente descubra com o tempo que seja a \u00fanica sa\u00edda (a quarentena). Mas, de novo: precisamos ganhar tempo para poder descobrir isso antes de ter um problema maior.<\/p>\n\n\n\n

BBC News Brasil – Por enquanto, a abordagem brasileira \u00e9 a de reservar os testes para quem est\u00e1 internado, em mau estado de sa\u00fade, e para os profissionais de sa\u00fade. Essa estrat\u00e9gia n\u00e3o seria contraproducente, no sentido de que poderemos acabar gastando mais com UTI depois?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Iamarino –<\/strong> N\u00e3o chamaria de estrat\u00e9gia, na verdade. Isso \u00e9 o \u00faltimo recurso. Quando voc\u00ea n\u00e3o tem testes suficientes, \u00e9 obrigado a reservar eles para o pior momento, que \u00e9 quem est\u00e1 sendo internado. Ou, se a situa\u00e7\u00e3o ficar mais cr\u00edtica e o volume de testes continuar sendo pequeno, para diagnosticar quem morre, na verdade.<\/p>\n\n\n\n

N\u00e3o acho que essa situa\u00e7\u00e3o seja uma op\u00e7\u00e3o. \u00c9 o que a gente consegue fazer com os poucos recursos que a gente tem. Da\u00ed (a import\u00e2ncia de) ganhar mais tempo para produzir e distribuir esses testes por aqui. Porque se a gente comprar agora 200 milh\u00f5es de kits para testar cada brasileiro, mas os kits levarem 3 meses para chegar, quando eles chegarem, a gente arrisca que boa parte dos brasileiros esteja com covid-19.<\/p>\n\n\n\n

Por isso meu pragmatismo. A \u00fanica sa\u00edda agora \u00e9 tentar ganhar tempo para buscar novas solu\u00e7\u00f5es. Qualquer coisa que n\u00e3o contribui para isso n\u00e3o importa mais.<\/p>\n\n\n\n

\"M\u00e9dico
Foi com a chegada do v\u00edrus a outros pa\u00edses depois da China que tivemos no\u00e7\u00e3o do tamanho do problema, segundo cientista<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

BBC News Brasil – Como a sua percep\u00e7\u00e3o sobre o novo coronav\u00edrus mudou desde o come\u00e7o da crise? Qual informa\u00e7\u00e3o ou detalhe fez voc\u00ea mudar de ideia?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Iamarino –<\/strong> Tudo o que a gente estava entendendo sobre o espalhamento da covid-19 no m\u00eas de janeiro era baseado na experi\u00eancia de um pa\u00eds, a China, que implementou uma solu\u00e7\u00e3o que \u00e9 impratic\u00e1vel (na maioria dos lugares) e in\u00e9dita no mundo.<\/p>\n\n\n\n

Ent\u00e3o, as estimativas de n\u00famero de casos, de cont\u00e1gios, de n\u00famero de mortos e qualquer coisa do tipo que a gente tinha no primeiro m\u00eas foram feitas dentro de um cen\u00e1rio que \u00e9 impratic\u00e1vel para o resto do mundo. A gente estava muito descalibrado do que esperar da covid-19. Quando ela saiu da China para a It\u00e1lia, para a Coreia do Sul e para o Ir\u00e3, a coisa explodiu nos pa\u00edses todos. (A exce\u00e7\u00e3o \u00e9) a Coreia do Sul, que j\u00e1 teve problemas com a Mers (S\u00edndrome Respirat\u00f3ria do Oriente M\u00e9dio) e, por isso, estava muito preparada para a covid-19 agora.<\/p>\n\n\n\n

Foi a\u00ed (com a chegada aos outros pa\u00edses) que a gente teve no\u00e7\u00e3o do tamanho do problema, de fato. E a\u00ed a estimativa de quanto tempo ia levar para a covid-19 se espalhar num pa\u00eds, que poderia ser de at\u00e9 um ano, dois anos, caiu para tr\u00eas a cinco meses. Esse \u00e9 um tempo que n\u00e3o d\u00e1 nem para distribuir qualquer coisa, mesmo que a gente j\u00e1 tivesse uma solu\u00e7\u00e3o na manga.<\/p>\n\n\n\n

Minha opini\u00e3o mudou muito, mesmo, quando come\u00e7aram a sair os primeiros grandes estudos olhando para o espalhamento da doen\u00e7a fora da China e dizendo que ela toma conta da popula\u00e7\u00e3o em tr\u00eas a cinco meses. Isso \u00e9 menos que qualquer tempo de resposta de qualquer pa\u00eds, de qualquer infraestrutura, a n\u00e3o ser da China. Minha opini\u00e3o mudou muito n\u00e3o quanto ao perigo do v\u00edrus \u2014 sobre isso a gente j\u00e1 tinha estimativas boas \u2014, n\u00e3o sobre a seriedade de um problema desses, porque eu j\u00e1 estudo espalhamento de v\u00edrus h\u00e1 muitos anos, mas quanto ao tempo de resposta que a gente tem.<\/p>\n\n\n\n

BBC News Brasil – O que se sabe at\u00e9 agora sobre a imunidade ao v\u00edrus? Uma vez que voc\u00ea tenha a doen\u00e7a e se cure, voc\u00ea para de transmitir?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Iamarino –<\/strong> O que a gente sabe \u00e9 que, para a maioria das pessoas, em at\u00e9 14 dias depois dos sintomas surgirem voc\u00ea est\u00e1 curado. E n\u00e3o transmite mais. A China, por precau\u00e7\u00e3o, prorrogou esse per\u00edodo para 28 dias, porque algumas pessoas continuavam com o v\u00edrus incubado no corpo por mais tempo e acabavam desenvolvendo os sintomas mais na frente. Eles n\u00e3o viram muita transmiss\u00e3o (vindo) destas pessoas, mas, para poder garantir a interrup\u00e7\u00e3o da cadeia de transmiss\u00e3o, eles as estavam isolando de qualquer forma.<\/p>\n\n\n\n

O que a gente entendeu, olhando para as pessoas, \u00e9 que acontece de elas testarem negativo para o v\u00edrus, depois de 14 dias, mas mesmo assim ter uma produ\u00e7\u00e3o pequena de v\u00edrus no pulm\u00e3o e depois de um tempo voltarem a testar positivo.<\/p>\n\n\n\n

A gente n\u00e3o pode fazer experimentos em pessoas para saber se a imunidade protege 100%. Mas, em macacos, j\u00e1 fizeram, e eles estavam totalmente imunes ao Sars-Cov-2. O macaco rhesus <\/em>(primata origin\u00e1rio da \u00cdndia e amplamente usado em laborat\u00f3rios) que pega a covid-19, quando se cura, n\u00e3o pega mais.<\/p>\n\n\n\n

E tem uma possibilidade, que \u00e9 o que acontece com a Mers, tamb\u00e9m causada por (um outro tipo de) coronav\u00edrus. Por volta de um ano ou dois depois que a pessoa pega, ela pode voltar a contrair, mas desenvolve sintomas muito mais leves. Esse \u00e9 o precedente que a gente tem, mas ainda n\u00e3o tem um ano de covid-19 para saber se isso vai acontecer com a gente.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Interromper agora as medidas de isolamento contra o novo coronav\u00edrus \u00e9 querer voltar a uma realidade que n\u00e3o existe mais, alerta \u00e9 o bi\u00f3logo e divulgador cient\u00edfico Atila Iamarino. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":158212,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[4278,4379,4365,767],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/158210"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=158210"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/158210\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":158213,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/158210\/revisions\/158213"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/158212"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=158210"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=158210"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=158210"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}