{"id":158359,"date":"2020-04-03T11:55:00","date_gmt":"2020-04-03T14:55:00","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=158359"},"modified":"2020-04-02T21:35:31","modified_gmt":"2020-04-03T00:35:31","slug":"indigenas-na-amazonia-denunciam-aumento-de-garimpo-ilegal-durante-pandemia","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2020\/04\/03\/158359-indigenas-na-amazonia-denunciam-aumento-de-garimpo-ilegal-durante-pandemia.html","title":{"rendered":"Ind\u00edgenas na Amaz\u00f4nia denunciam aumento de garimpo ilegal durante pandemia"},"content":{"rendered":"\n

Segundo ind\u00edgenas, fluxo de garimpeiros brasileiros rumo \u00e0 Guiana Francesa aumentou devido \u00e0 enfraquecimento do controle na fronteira em meio \u00e0 pandemia de coronav\u00edrus. Governos negam redu\u00e7\u00e3o do efetivo.<\/p>\n\n\n\n

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Arquivo: garimpo ilegal no Peru, em foto de 2014<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

As fronteiras est\u00e3o fechadas, mas o fluxo de barcos clandestinos pelo rio Oiapoque, que divide Brasil e Guiana Francesa, aumentou. Embora a pandemia provocada pelo novo coronav\u00edrus tenha levado ao fechamento da fronteira terrestre entre o pa\u00eds e o territ\u00f3rio franc\u00eas, garimpeiros brasileiros chegam em maior quantidade a terras amaz\u00f4nicas habitadas por ind\u00edgenas, denunciam lideran\u00e7as locais.<\/p>\n\n\n\n

“Nunca foram capazes de erradicar o garimpo ilegal de ouro. Com a pandemia, a situa\u00e7\u00e3o piorou”, disse \u00e0 DW Brasil Claudette Labont\u00e9, presidente da Federa\u00e7\u00e3o Parikweneh da Guiana Francesa e parte da Coordena\u00e7\u00e3o das Organiza\u00e7\u00f5es Ind\u00edgenas da Bacia Amaz\u00f4nica (Coica).<\/p>\n\n\n\n

Segundo Labont\u00e9, a amea\u00e7a da covid-19, doen\u00e7a respirat\u00f3ria provocada pelo novo coronav\u00edrus, fez com que a vigil\u00e2ncia nas fronteiras esmorecesse. “A pol\u00edcia baixou a guarda”, afirma a l\u00edder. “Estamos numa emerg\u00eancia de sa\u00fade. A diminui\u00e7\u00e3o da vigil\u00e2ncia do tr\u00e1fego nos rios n\u00e3o deveria acontecer.”<\/p>\n\n\n\n

Para conter a dissemina\u00e7\u00e3o do coronav\u00edrus, o governo brasileiro anunciou na semana passada o fechamento de todas as suas fronteiras terrestres, inclusive com a Guiana Francesa, para estrangeiros, o que, em tese, deveria significar maior vigil\u00e2ncia.<\/p>\n\n\n\n

Segundo relatos das comunidades que vivem na Amaz\u00f4nia do territ\u00f3rio franc\u00eas, os invasores tamb\u00e9m chegam por terra. Eles transitam pela floresta para garimpar em \u00e1reas onde os ind\u00edgenas ca\u00e7am e pescam. “Essas pessoas andam armadas e s\u00e3o perigosas”, dizem os ind\u00edgenas.<\/p>\n\n\n\n

Den\u00fancias semelhantes tamb\u00e9m chegaram ao WWF. “Recebemos um testemunho de uma jovem que mora l\u00e1. Ela diz: ‘Hoje em dia a tens\u00e3o \u00e9 alta, a \u00e1gua est\u00e1 realmente suja, e os garimpeiros ilegais s\u00e3o muito numerosos'”, disse Laurent Kelle, diretor da ONG na Guiana Francesa.<\/p>\n\n\n\n

Segundo o relato, o rio Maroni, na fronteira entre a Guiana Francesa e o Suriname, est\u00e1 contaminado pelos rejeitos dos garimpos, e n\u00e3o \u00e9 mais poss\u00edvel pescar ou nadar sem que o corpo sinta os efeitos. “Precisamos de ajuda. Estamos em perigo”, diz a mensagem recebida por Kelle.<\/p>\n\n\n\n

Questionado sobre a vigil\u00e2ncia na fronteira com a Guiana Francesa durante a pandemia, o Minist\u00e9rio da Defesa brasileiro respondeu por e-mail: “As For\u00e7as Armadas continuam com sua atua\u00e7\u00e3o nas fronteiras em apoio aos \u00f3rg\u00e3os de seguran\u00e7a federais com o mesmo efetivo.” A nota, por outro lado, n\u00e3o detalhou a quantidade de oficiais que cuidam da tarefa.<\/p>\n\n\n\n

Embora confirmem ter recebido dos ind\u00edgenas relatos sobre o aumento de garimpeiros ilegais, as autoridades da Guiana Francesa disseram \u00e0 DW Brasil que n\u00e3o observam esse fluxo maior.<\/p>\n\n\n\n

“A prote\u00e7\u00e3o das popula\u00e7\u00f5es ind\u00edgenas \u00e9 uma prioridade do governo, e relat\u00f3rios recentes que sugerem um aumento do garimpo de ouro ilegal na \u00e1rea est\u00e3o sendo levados muito a s\u00e9rio”, afirma Marc Del Grande, representante do governo franc\u00eas na Guiana Francesa.<\/p>\n\n\n\n

Caso nenhuma medida seja tomada, os ind\u00edgenas disseram que planejam barrar a passagem dos barcos no rio por conta pr\u00f3pria.<\/p>\n\n\n\n

“Garimpeiro \u00e9 sin\u00f4nimo de brasileiro”<\/h3>\n\n\n\n

Com uma \u00e1rea de 84 mil quil\u00f4metros quadrados, a Guiana Francesa, coberta pela Floresta Amaz\u00f4nica, \u00e9 um departamento ultramarino da Fran\u00e7a. Dos seus 290 mil habitantes, 15 mil s\u00e3o ind\u00edgenas, de seis etnias. O territ\u00f3rio \u00e9 historicamente marcado pela explora\u00e7\u00e3o do ouro desde a chegada dos europeus, e a presen\u00e7a de brasileiros em garimpos ilegais \u00e9 conhecida e estudada por pesquisadores.<\/p>\n\n\n\n

Segundo a pesquisadoras Joana Domingues Vargas, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e Jania Di\u00f3genes Aquino, da Universidade Federal do Cear\u00e1, estimativas apontam que 480 garimpos clandestinos est\u00e3o em opera\u00e7\u00e3o nas florestas da Guiana Francesa. Dez mil brasileiros em situa\u00e7\u00e3o ilegal fazem parte da for\u00e7a de trabalho.<\/p>\n\n\n\n

A ilegalidade movimenta a maior parte do mercado: apenas 20% do ouro extra\u00eddo vem da minera\u00e7\u00e3o legal, e a principal rota do contrabando passa por Oiapoque, cidade do Amap\u00e1 fronteiri\u00e7a, apontam as pesquisadoras.<\/p>\n\n\n\n

D\u00e9cio Horita Yokota, coordenador executivo adjunto do Instituto de Pesquisa e Forma\u00e7\u00e3o Ind\u00edgena (Iep\u00e9), tamb\u00e9m acompanha o cen\u00e1rio na regi\u00e3o de fronteira. “Na Guiana Francesa, garimpeiro e brasileiro s\u00e3o sin\u00f4nimos”, resume.<\/p>\n\n\n\n

O maior impacto desse mercado recai sobre as popula\u00e7\u00f5es ind\u00edgenas dos dois lados da fronteira. “O uso intensivo do merc\u00fario no garimpo, assim como as atividades da m\u00e1fia ligada ao garimpo, amea\u00e7am ind\u00edgenas na Guiana e no Brasil”, afirma Yokota. “\u00c9 uma regi\u00e3o de ind\u00edgenas isolados e de etnias que transitam entre os dois territ\u00f3rios”, complementa.<\/p>\n\n\n\n

As etnias teko, wayana and way\u00e3pi s\u00e3o as que mais sofrem os impactos, afirma Labont\u00e9, da Coica.<\/p>\n\n\n\n

Diferentemente da Constitui\u00e7\u00e3o brasileira, a da Fran\u00e7a n\u00e3o reconhece as popula\u00e7\u00f5es ind\u00edgenas como povos origin\u00e1rios que t\u00eam direito ao territ\u00f3rio habitado ancestralmente.<\/p>\n\n\n\n

“O governo franc\u00eas se recusa a reconhecer os ind\u00edgenas, e essa recusa \u00e9 amea\u00e7a ainda maior que a trazida pela minera\u00e7\u00e3o, pois nos impede de acessar nossos direitos internacionais, como o direito da consulta pr\u00e9via e informada em caso de empreendimentos nos territ\u00f3rios ind\u00edgenas”, critica Labont\u00e9. “Esses direitos est\u00e3o intimamente ligados \u00e0 prote\u00e7\u00e3o da pr\u00f3pria Floresta Amaz\u00f4nica”, afirma a l\u00edder ind\u00edgena.<\/p>\n\n\n\n

Amea\u00e7a e confinamento devido \u00e0 covid-19<\/h3>\n\n\n\n

Al\u00e9m das invas\u00f5es, a pandemia de coronav\u00edrus trouxe mais dificuldade aos ind\u00edgenas. Isolados em suas comunidades com fam\u00edlias numerosas, eles n\u00e3o t\u00eam como se comunicar com hospitais em caso de uma emerg\u00eancia.<\/p>\n\n\n\n

“Muito dinheiro est\u00e1 sendo gasto, e o pre\u00e7o do ouro subiu. Ent\u00e3o, a minera\u00e7\u00e3o deve aumentar, e temos que nos preparar para o pior depois da pandemia”, prev\u00ea Labont\u00e9.<\/p>\n\n\n\n

Sobre o combate ao garimpo ilegal, o governo franc\u00eas afirma que militares, policiais e agentes da alf\u00e2ndega do Brasil e da Fran\u00e7a cooperam ao longo da fronteira com a\u00e7\u00f5es planejadas entre Caiena, capital da Guiana Francesa, e Bras\u00edlia.<\/p>\n\n\n\n

“Em 2008, foi assinado um acordo para garantir o combate coordenado \u00e0 minera\u00e7\u00e3o ilegal de ouro, ratificado em 2013, com entrada em vigor em 2015. Desde ent\u00e3o, v\u00e1rias opera\u00e7\u00f5es conjuntas s\u00e3o realizadas”, diz Del Grande.<\/p>\n\n\n\n

Os ind\u00edgenas afirmam que, na pr\u00e1tica, nada mudou. “As coisas est\u00e3o muito ruins agora, mas os garimpeiros brasileiros s\u00e3o um problema h\u00e1 algum tempo. Eles n\u00e3o s\u00f3 destroem o meio ambiente e a qualidade da \u00e1gua, mas t\u00eam dinheiro, e, por causa disso, os pre\u00e7os sobem”, diz Labont\u00e9.<\/p>\n\n\n\n

“Com tudo mais caro, a comunidade n\u00e3o consegue pagar pelos alimentos e outros itens b\u00e1sicos. E com o confinamento por causa da pandemia, est\u00e1 ainda mais dif\u00edcil pra gente denunciar e combater essa situa\u00e7\u00e3o”, lamenta.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: Deutsche Welle<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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