{"id":159056,"date":"2020-04-23T13:30:30","date_gmt":"2020-04-23T16:30:30","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=159056"},"modified":"2020-04-23T10:16:45","modified_gmt":"2020-04-23T13:16:45","slug":"quem-sao-os-jovens-ativistas-que-lideram-movimentos-para-salvar-o-planeta","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2020\/04\/23\/159056-quem-sao-os-jovens-ativistas-que-lideram-movimentos-para-salvar-o-planeta.html","title":{"rendered":"Quem s\u00e3o os jovens ativistas que lideram movimentos para salvar o planeta"},"content":{"rendered":"\n

Novas gera\u00e7\u00f5es se organizam para pressionar os pol\u00edticos a tomarem medidas diante da emerg\u00eancia clim\u00e1tica. Teremos tempo para salvar a terra?<\/p>\n\n\n\n

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MAPU HUNI KUIN Uma das principais lideran\u00e7as ind\u00edgenas do Acre, percorre o mundo em defesa de seu povo e da preserva\u00e7\u00e3o da floresta (Foto: Bruna Scorsatto | Design e ilustra\u00e7\u00e3o May Tanferri)<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Era hora do almo\u00e7o no centro ind\u00edgena Huw\u00e3 Karu Yuxibu quando um estouro assustou os que estavam \u00e0 mesa. Refei\u00e7\u00f5es s\u00e3o sagradas para o povo Huni Kuin, donos daquela terra, localizada na zona rural de Rio Branco (AC). Mas, ao meio-dia de 22 de agosto, uma quinta-feira, toda a sacralidade do momento se esvaiu. Ap\u00f3s ouvir o barulho, Isaka Huni Kuin, de 80 anos, virou-se e viu a fuma\u00e7a subindo. Vizinhos e bombeiros foram ajudar a apagar o fogo. N\u00e3o adiantou: em tr\u00eas horas, metade da \u00e1rea florestal da comunidade havia sido destru\u00edda. Cinco dos dez hectares se perderam. \u201cA floresta \u00e9 nosso corpo, nossa casa, nosso esp\u00edrito\u201d, diz o cacique Mapu Huni Kuin, filho de Isaka e uma das principais lideran\u00e7as ind\u00edgenas do Acre. \u201cSe destroem a floresta, est\u00e3o nos destruindo.\u201d Animais silvestres como tatus, tamandu\u00e1s e jabutis foram carbonizados. Falta comida para as cerca de 25 pessoas que vivem ali, j\u00e1 que os ro\u00e7ados se transformaram em cinzas. Tanto o sistema de abastecimento de \u00e1gua quanto a madeira que seria usada para construir moradias sofreram danos.<\/p>\n\n\n\n

Sem contar a chamada \u201cfarm\u00e1cia viva\u201d, que tamb\u00e9m pegou fogo. Desenvolver pesquisas para resgatar a medicina tradicional \u00e9 um dos principais objetivos do centro Huw\u00e3 Karu Yuxibu, criado em 2015 para fortalecer a identidade cultural Huni Kuin e acolher pessoas da etnia que vivem em favelas nas cidades ao redor. N\u00e3o \u00e9 uma terra ind\u00edgena demarcada \u2014 o grupo comprou o terreno dentro da \u00c1rea de Preserva\u00e7\u00e3o Ambiental (APA) do Igarap\u00e9 S\u00e3o Francisco, no quil\u00f4metro 36 da Estrada Transacreana. Para pagar as parcelas, Mapu desenvolve atividades no Brasil e no exterior.<\/p>\n\n\n\n

Durante os meses de agosto e setembro de 2019, o cacique esteve pela quarta vez na Europa, onde busca apoio para a sobreviv\u00eancia de sua comunidade e da Floresta Amaz\u00f4nica. \u201cEu mesmo pago minha passagem. Sou artista, canto, fa\u00e7o medita\u00e7\u00e3o e trabalhos espirituais\u201d, explica. Mas ainda falta pagar por tr\u00eas dos 10 hectares adquiridos, um valor total de R$ 120 mil. Preocupado com a situa\u00e7\u00e3o financeira do projeto, Mapu abriu uma associa\u00e7\u00e3o para facilitar doa\u00e7\u00f5es e tamb\u00e9m criou uma campanha de financiamento coletivo para ajudar na reconstru\u00e7\u00e3o e no reflorestamento do centro.<\/p>\n\n\n\n

Os Huni Kuin afirmam que o incidente foi, na realidade, um crime ambiental. \u201cFoi proposital, um ataque de algu\u00e9m que est\u00e1 nos perseguindo, n\u00e3o gosta de n\u00f3s e n\u00e3o quer nossa presen\u00e7a\u201d, afirma o jovem l\u00edder de 30 anos. \u201cMeu pai viu uma pessoa passar onde come\u00e7ou o inc\u00eandio, toda a comunidade viu\u201d, ele prossegue. No dia 26 de agosto, os Huni Kuin registraram um Boletim de Ocorr\u00eancia na Delegacia da Pol\u00edcia Civil de Rio Branco para que o caso fosse apurado. \u201cN\u00e3o sabemos dizer quem foi, mas pedimos \u00e0s autoridades que fa\u00e7am uma investiga\u00e7\u00e3o para descobrir.\u201d<\/p>\n\n\n\n

No dia seguinte ao inc\u00eandio no centro Huw\u00e3 Karu Yuxibu, o governador do Acre, Gladson Cameli (PP), decretou situa\u00e7\u00e3o de emerg\u00eancia por conta do aumento desenfreado das crime ambiental. no estado. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) indicam aumento de 197% da destrui\u00e7\u00e3o pelo fogo em territ\u00f3rio acreano em compara\u00e7\u00e3o ao mesmo per\u00edodo no ano passado. Nos \u00faltimos meses, o Inpe tamb\u00e9m detectou forte alta no desmatamento do restante da Amaz\u00f4nia. Dados mostram que o corte de \u00e1rvores em agosto cresceu 222% comparado com o mesmo m\u00eas em 2018. N\u00e3o h\u00e1 coincid\u00eancia no fato de os dois indicadores estarem em alta \u2014 um puxa o outro. \u00c9 que o fogo representa a \u00faltima etapa da derrubada ilegal da floresta (leia mais na p\u00e1gina 30). Depois de \u201climparem\u201d o terreno com o aux\u00edlio das chamas, latifundi\u00e1rios e grileiros podem transformar \u00e1reas que antes abrigavam o verde luxuriante da maior floresta tropical do planeta em \u00e1ridas pastagens para gado ou em grandes latif\u00fandios para o plantio de commodities como a soja.<\/p>\n\n\n\n

Mas n\u00e3o \u00e9 como se tudo isso fosse uma situa\u00e7\u00e3o nova com a qual o Brasil ainda n\u00e3o soubesse bem como lidar. Pelo contr\u00e1rio: j\u00e1 enfrentamos quadros bem piores na Amaz\u00f4nia e sabemos exatamente o que deve ser feito para reverter a destrui\u00e7\u00e3o descontrolada da floresta. Prova disso foram os anos de 2004 e 2005, que registraram os piores \u00edndices da hist\u00f3ria: em 2005, foram 27,4 mil quil\u00f4metros quadrados de floresta desmatada. Nos anos seguintes, entretanto, o governo federal implementou pol\u00edticas p\u00fablicas eficientes no combate ao desmatamento ilegal. At\u00e9 2014, o desmatamento havia despencado 75%. Est\u00e1vamos caminhando para zer\u00e1-lo, mas a situa\u00e7\u00e3o voltou a se deteriorar: 2018 foi o ano de maior desmatamento da d\u00e9cada. E agora parece que estamos caminhando para tr\u00e1s.<\/p>\n\n\n\n

Antes das queimadas na Amaz\u00f4nia arruinarem a imagem brasileira no exterior, outros epis\u00f3dios j\u00e1 haviam-na desgastado. Para seguir os passos do presidente norte-americano Donald Trump, o ent\u00e3o candidato Jair Bolsonaro afirmou durante a campanha querer retirar o Brasil do Acordo de Paris. Eleito, desistiu da medida gra\u00e7as \u00e0 press\u00e3o de diferentes setores sociais. Nos primeiros meses do governo, o chanceler Ernesto Ara\u00fajo extinguiu o departamento de mudan\u00e7as clim\u00e1ticas no Itamaraty \u2014 n\u00e3o sem antes declarar publicamente que o aquecimento global \u00e9 uma conspira\u00e7\u00e3o marxista. No decorrer da crise com as queimadas, declara\u00e7\u00f5es hostis do governo a pa\u00edses como Alemanha, Fran\u00e7a e Noruega culminaram no congelamento de parte do Fundo Amaz\u00f4nia, de R$ 1,8 bilh\u00e3o. Soma-se a isso o descr\u00e9dito da atual administra\u00e7\u00e3o em rela\u00e7\u00e3o aos dados sobre desmatamento divulgados pelo Inpe, o que resultou na demiss\u00e3o de seu diretor, Ricardo Galv\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

\u201cOu o governo inverte essas tend\u00eancias ou o Brasil passar\u00e1 \u2014 como j\u00e1 est\u00e1 passando \u2014 de l\u00edder de um modelo de desenvolvimento que respeita o meio ambiente e os recursos naturais de nossos biomas para um dos p\u00e1rias ambientais do planeta\u201d, afirma Carlos Nobre, um dos mais renomados especialistas brasileiros em estudos sobre o aquecimento global. \u201cTor\u00e7o para que o bom senso surja no seio do governo, mas n\u00e3o apostaria meu diploma nisso.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Formado no ITA com doutorado em Meteorologia pelo MIT, Nobre \u00e9 cientista s\u00eanior do Instituto Nacional de Pesquisas da Amaz\u00f4nia e coleciona pr\u00eamios e distin\u00e7\u00f5es ao longo da carreira. \u00c9 reconhecido internacionalmente por seus estudos sobre o ecossistema amaz\u00f4nico e seu papel na regula\u00e7\u00e3o do clima no Brasil e no mundo. Sua contribui\u00e7\u00e3o recente foi ter definido, ao lado do bi\u00f3logo e ambientalista norte-americano Thomas Lovejoy, o chamado tipping point da Amaz\u00f4nia, esp\u00e9cie de \u201cponto de n\u00e3o retorno\u201d. Como a floresta produz a pr\u00f3pria chuva, se de 20% a 25% de sua \u00e1rea total for desmatada, a diminui\u00e7\u00e3o da umidade e o aumento da temperatura causar\u00e3o uma transi\u00e7\u00e3o irrevers\u00edvel no bioma. A maior floresta tropical do planeta vai, aos poucos, se transformar em uma savana, n\u00e3o t\u00e3o diferente do Cerrado.<\/p>\n\n\n\n

\u201cSe isso ocorrer, \u00e9 prov\u00e1vel que o Brasil deixe de ser o pa\u00eds com a maior biodiversidade da Terra, al\u00e9m da emiss\u00e3o de at\u00e9 200 bilh\u00f5es de toneladas de g\u00e1s carb\u00f4nico para a atmosfera.\u201d Para evitar que isso aconte\u00e7a, ser\u00e1 preciso agir depressa: Nobre estima que, no ritmo atual de desmatamento \u2014 de 15 mil quil\u00f4metros quadrados por ano, com tend\u00eancia de alta \u2014, o ponto de n\u00e3o retorno ocorrer\u00e1 entre 20 e 30 anos. \u00c9 uma realidade local que ecoa a mesma urg\u00eancia de um contexto de degrada\u00e7\u00e3o ambiental muito maior, que se d\u00e1 em n\u00edvel global.<\/p>\n\n\n\n

Sinal de emerg\u00eancia<\/h3>\n\n\n\n
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MARGARET KLEIN SALAMON \u00c9 fundadora de uma organiza\u00e7\u00e3o que atua nos Estados Unidos para pressionar governantes a declararem um estado de emerg\u00eancia clim\u00e1tico e a investirem trilh\u00f5es de d\u00f3lares em um novo projeto socioecon\u00f4mico capaz de preservar o planet (Foto: Bruna Scorsatto | Design e ilustra\u00e7\u00e3o May Tanferri)
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A mensagem dos cientistas \u00e9 clara: ou cortamos drasticamente nossas emiss\u00f5es de carbono ou h\u00e1 riscos concretos de que a civiliza\u00e7\u00e3o humana como a conhecemos entre em colapso. \u201c\u00c9 nossa \u00faltima chance, e isso \u00e9 assustador para caramba, mas penso que tamb\u00e9m haja uma imensa possibilidade pol\u00edtica nesse entendimento\u201d, diz Margareth Klein Salamon, fundadora e diretora-executiva da The Climate Mobilization, organiza\u00e7\u00e3o norte-americana que trabalha para refor\u00e7ar a necessidade de a\u00e7\u00f5es para reverter as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas.<\/p>\n\n\n\n

De acordo com um relat\u00f3rio especial publicado em 2018 pelo IPCC, o Painel Intergovernamental de Mudan\u00e7as Clim\u00e1ticas, limitar o aquecimento global exigir\u00e1 um tremendo esfor\u00e7o coletivo. At\u00e9 2030, o mundo ter\u00e1 de reduzir 45% das emiss\u00f5es de di\u00f3xido de carbono em rela\u00e7\u00e3o aos n\u00edveis de 2010, e atingir a neutralidade de emiss\u00f5es at\u00e9 a metade do s\u00e9culo. Isso seria o suficiente para colocar um freio no efeito estufa e garantiria que o aumento da temperatura m\u00e9dia global n\u00e3o ultrapassasse a marca de 1,5\u00b0C acima dos n\u00edveis pr\u00e9-industriais. Esse \u00e9 o limite seguro para que o mundo continue no rumo do desenvolvimento sustent\u00e1vel que vem trilhando nas \u00faltimas d\u00e9cadas. Por outro lado, se a resposta clim\u00e1tica da humanidade n\u00e3o for t\u00e3o \u00e1gil quanto precisa ser, a exist\u00eancia humana na Terra se tornar\u00e1 muito mais complicada j\u00e1 nas pr\u00f3ximas d\u00e9cadas.<\/p>\n\n\n\n

Por esses e outros fatores, especialistas est\u00e3o mudando a terminologia com a qual se referem \u00e0s mudan\u00e7as clim\u00e1ticas. Tem-se preferido usar os termos \u201ccrise\u201d ou \u201cemerg\u00eancia\u201d clim\u00e1tica, justamente para ressaltar a urg\u00eancia de agir para encarar esse problema que amea\u00e7a a todos. Os cientistas tamb\u00e9m se sentem moralmente obrigados a dar um passo al\u00e9m. Em nome do direito das futuras gera\u00e7\u00f5es de usufruir de um mundo habit\u00e1vel, eles t\u00eam se aventurado para fora de seus laborat\u00f3rios e explorado uma nova forma de comunicar suas mensagens: nas ruas. Diante da falta de compromisso dos pol\u00edticos em enfrentar essa emerg\u00eancia com a rapidez que ela exige, cada vez mais gente adere ao imperativo moral de se tornar um ativista clim\u00e1tico. E os protagonistas dessa luta s\u00e3o justamente os que mais t\u00eam a perder caso fracassemos.<\/p>\n\n\n\n

Tempo de esperan\u00e7a<\/h3>\n\n\n\n

No dia 20 de agosto de 2018, a sueca Greta Thunberg, ent\u00e3o com 15 anos, cabulou aula. Faltou \u00e0 escola por um ato de rebeldia, sim, mas definitivamente n\u00e3o era um protesto sem causa: ela passou aquele dia sentada em frente ao parlamento sueco, s\u00f3 ela e seu cartaz com os dizeres \u201cgreve de escola pelo clima\u201d. Daqui a algumas d\u00e9cadas, seu protesto solit\u00e1rio e silencioso contra a inefici\u00eancia dos governantes em resolver a crise clim\u00e1tica pode muito bem ser encarado como um momento hist\u00f3rico. A mensagem de Greta \u00e9 simples, mas arrebatadora em sua for\u00e7a e autenticidade. A garota carrega na simplicidade de seus questionamentos profundas implica\u00e7\u00f5es l\u00f3gicas e filos\u00f3ficas: para que ir \u00e0 escola se n\u00e3o terei futuro? Por que se preocupar em aprender qualquer coisa se os pol\u00edticos escolhem ignorar os fatos cient\u00edficos?<\/p>\n\n\n\n

Greta ficou em frente ao parlamento sueco por tr\u00eas semanas, postando tudo nas redes sociais. Sua resist\u00eancia pac\u00edfica teve enorme repercuss\u00e3o e centenas de jovens foram se juntando a ela. Seu modo de protestar viralizou na internet e as greves se espalharam mundo afora. O magnetismo da causa de Greta, hoje favorita ao Nobel da Paz por seu ativismo clim\u00e1tico, deu origem ao movimento Fridays for Future (FFF), ou Sextas pelo Futuro, em que estudantes faltam \u00e0s aulas \u00e0s sextas-feiras para participar de manifesta\u00e7\u00f5es. A grande bandeira do FFF \u00e9 pressionar os governantes a dar ouvidos para a ci\u00eancia e tomar atitudes concretas para limitar o aquecimento global a 1,5\u00b0C, como recomenda o IPCC.<\/p>\n\n\n\n

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LEAH NAMUGERWA + GRETA THUNBERG Ao criar a \u201cgreve de escola pelo clima\u201d, a sueca Greta Thunberg (\u00e0 direita) iniciou um movimento que inspira garotas de todo o mundo. Leah Namugerwa (\u00e0 esquerda) \u00e9 uma delas: a jovem de Uganda protesta a favor de projetos (Foto: Bruna Scorsatto | Design e ilustra\u00e7\u00e3o May Tanferri)<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Em um ano de exist\u00eancia, o movimento criado por Greta Thunberg j\u00e1 est\u00e1 em mais de cem na\u00e7\u00f5es, inclusive no Brasil. Com as recentes queimadas na Amaz\u00f4nia, espera-se que as greves de estudantes pelo futuro ganhem for\u00e7a. Na primeira grande mobiliza\u00e7\u00e3o internacional, em mar\u00e7o, 19 cidades brasileiras participaram dos atos, segundo a FFF. Em setembro, a articula\u00e7\u00e3o j\u00e1 chegou a 18 estados brasileiros. \u201cUma das coisas mais legais do movimento \u00e9 essa conex\u00e3o nacional que estamos fazendo, \u00e9 algo muito bonito e forte conseguir juntar jovens de v\u00e1rios estados diferentes lutando pela mesma coisa\u201d, diz Nayara Almeida (21), estudante de Ci\u00eancias Biol\u00f3gicas na UFRJ e uma das l\u00edderes do FFF Brasil.<\/p>\n\n\n\n

Um dos aspectos mais inspiradores do ativismo criado por Greta Thunberg foi o de empoderar jovens do mundo todo a exigir a a\u00e7\u00e3o clim\u00e1tica, com protagonismo especialmente de garotas. Jovens lideran\u00e7as, de diversas origens e bagagens, surgiram mundo afora. Uma delas \u00e9 Leah Namugerwa, de Uganda. Com foco em pressionar o presidente, Yoweri Museveni, a banir as sacolas pl\u00e1sticas em seu pa\u00eds, a jovem ativista organizou uma greve que reuniu 10 mil estudantes. \u201c\u00c9 bom que os jovens estejam se envolvendo nesse movimento para criar uma gera\u00e7\u00e3o amiga do meio ambiente, que vai proteger o planeta\u201d, diz a ugandense, que tamb\u00e9m luta pelo fim do desmatamento na \u00c1frica e pela ado\u00e7\u00e3o de modelos de desenvolvimento sustent\u00e1vel. \u201cAdultos criticam a mim e a minhas companheiras crian\u00e7as quando lutamos pelo nosso futuro, mas n\u00e3o estou contente com a forma como as gera\u00e7\u00f5es mais velhas lidam com as quest\u00f5es clim\u00e1ticas.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Outros movimentos liderados por jovens floresceram com a mesma proposta do Fridays For Future: usar a resist\u00eancia pac\u00edfica como maneira de se rebelar contra o governo ou outras estruturas de poder e alertar sobre a necessidade urgente de salvar o planeta. \u00c9 a ess\u00eancia da desobedi\u00eancia civil, conceito criado em 1849 que norteou diversos movimentos ao longo do s\u00e9culo 20 (veja na linha do tempo mais abaixo). Nessa forma de ativismo, regras s\u00e3o quebradas sem viol\u00eancia com o intuito de exigir mudan\u00e7as sociais.<\/p>\n\n\n\n

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KATHRIN HENNEBERGER Ativista do grupo alem\u00e3o Ende Gel\u00e4nde, criado em 2016 com o intuito de banir os combust\u00edveis f\u00f3sseis no pa\u00eds. S\u00e3o praticantes da desobedi\u00eancia civil: o principal m\u00e9todo de protesto \u00e9 ocupar minas de carv\u00e3o alem\u00e3s para impedir seu func (Foto: Bruna Scorsatto | Design e ilustra\u00e7\u00e3o May Tanferri)<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Na Alemanha, outro grupo atuante na desobedi\u00eancia civil pelo clima e pelo meio ambiente \u00e9 o Ende Gel\u00e4nde, criado em 2016 com o intuito de exigir que os governantes abandonem de vez os combust\u00edveis f\u00f3sseis. A principal atua\u00e7\u00e3o tem sido ocupar minas de carv\u00e3o para impedir que funcionem e, assim, dissuadir os pol\u00edticos de investirem nesse tipo de infraestrutura. \u201cNa Alemanha, minas s\u00e3o a principal fonte de CO2 e os pol\u00edticos n\u00e3o fazem nada para que isso pare nem para mudar o sistema\u201d, diz Kathrin Henneberger, ativista do movimento. \u201cHavia esse sentimento de que precis\u00e1vamos fazer mais: \u00e9 nosso futuro em jogo e vamos nos levantar por isso.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Outros futuros poss\u00edveis<\/h3>\n\n\n\n

Nem o oceano foi capaz de conter o Efeito Greta. Em viagem para os Estados Unidos, a jovem sueca fez a travessia do Atl\u00e2ntico \u00e0 moda antiga durante duas semanas em agosto, a bordo do barco Malizia II. Por que com essa embarca\u00e7\u00e3o? Para n\u00e3o carregar o peso das altas emiss\u00f5es de CO2 de um avi\u00e3o, \u00e9 claro. Greta saiu do porto de Plymouth, na Inglaterra, no dia 13 e desembarcou em Nova York no dia 28 de agosto. L\u00e1, discursou na C\u00fapula de A\u00e7\u00e3o Clim\u00e1tica da ONU no dia 23 de setembro. E fez barulho por onde passou: o ativismo clim\u00e1tico tamb\u00e9m est\u00e1 em alta na maior pot\u00eancia econ\u00f4mica do planeta e ser\u00e1 um dos principais temas das elei\u00e7\u00f5es presidenciais que ocorrer\u00e3o em 2020.<\/p>\n\n\n\n

Por l\u00e1, \u00e9 o Sunrise Movement, criado em 2017 por Varshini Prakash, que d\u00e1 voz aos jovens empenhados em salvar o mundo. Assim como os outros movimentos ambientais, a principal frente de atua\u00e7\u00e3o do Sunrise \u00e9 pressionar os governantes se fazendo presente nas ruas. Al\u00e9m dos grandes atos, eles v\u00e3o at\u00e9 as portas dos gabinetes de pol\u00edticos para perguntar se t\u00eam um minutinho para ouvir a palavra da ci\u00eancia clim\u00e1tica. Com um foco comunit\u00e1rio em seu discurso, os integrantes do Sunrise optam por contar hist\u00f3rias pessoais e sobre como a cat\u00e1strofe clim\u00e1tica afeta os familiares e pessoas pr\u00f3ximas. Nas ruas, transmitem a mensagem de um jeito diferente: com m\u00fasica. Nos protestos, os participantes cantam suas reinvidica\u00e7\u00f5es em alto e bom som. \u201cNossas demandas s\u00e3o muito simples: no geral, pedimos por um futuro viv\u00edvel\u201d, diz Aracely Jimenez-Hudis, jovem de origem hisp\u00e2nica que mora no bairro do Brooklyn, em Nova York. \u201cNa pr\u00e1tica, isso significa gastar a maior parte do nosso tempo fazendo campanha pelo Green New Deal.\u201d<\/p>\n\n\n\n

O termo faz refer\u00eancia \u00e0 s\u00e9rie de programas implementados entre 1933 e 1937 pelo ent\u00e3o presidente dos EUA, Franklin Roosevelt. Seu objetivo era recuperar a economia do pa\u00eds, arruinada pela Grande Depress\u00e3o, gerando emprego e renda, al\u00e9m de promover reformas capazes de dar assist\u00eancia aos milh\u00f5es de trabalhadores prejudicados pela crise. O Green New Deal prop\u00f5e a mesma coisa \u2014 s\u00f3 que para construir um sistema capaz de manter uma \u201ccoexist\u00eancia pac\u00edfica\u201d entre o capitalismo e a promo\u00e7\u00e3o de pol\u00edticas a favor do meio ambiente.<\/p>\n\n\n\n

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ARACELY JIMENEZ-HUDIS Jovem de origem hisp\u00e2nica, Jimenez-Hudis \u00e9 ativista do Sunrise Movement, que atua nos EUA para estimular conversas sobre a crise entre as pessoas comuns e, principalmente, para exigir que os pol\u00edticos aprovem o Green New Deal. (Foto: Bruna Scorsatto | Design e ilustra\u00e7\u00e3o May Tanferri)<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

\u201cA ideia do Green New Deal \u00e9 mobilizar as finan\u00e7as p\u00fablicas de uma forma que possamos mirar em \u00e1reas onde os maiores elementos de redu\u00e7\u00e3o de carbono estar\u00e3o dispon\u00edveis\u201d, explica Andrew Simms, que foi um dos autores da primeira proposta desse novo pacto socioecon\u00f4mico ainda em 2008, como resposta \u00e0 crise financeira que come\u00e7ava a estourar. Entre os defensores da ideia destacam-se a congressista Alexandria Ocasio-Cortez, eleita pelo estado de Nova York, e o senador Bernie Sanders, pr\u00e9-candidato \u00e0 Presid\u00eancia em 2020 pelo Partido Democrata. \u201cSanders apresenta um plano de US$ 16 trilh\u00f5es e uma mobiliza\u00e7\u00e3o de emerg\u00eancia clim\u00e1tica. Esse \u00e9 o lance inicial: quero ver outros candidatos mostrarem o que podem fazer de melhor\u201d, diz Margareth Salamon, da The Climate Mobilization.<\/p>\n\n\n\n

Estudos sugerem que revolu\u00e7\u00f5es acontecem quando 3,5% de uma popula\u00e7\u00e3o se une em atos prolongados de resist\u00eancia pac\u00edfica. Com esse qu\u00f3rum, o governo pode ser compelido a promover mudan\u00e7as sociais concretas. No caso da popula\u00e7\u00e3o mundial, 7,7 bilh\u00f5es de pessoas, o n\u00famero equivale a cerca de 269 milh\u00f5es de ativistas clim\u00e1ticos. No Brasil, mais de 7 milh\u00f5es de brasileiros precisariam sair \u00e0s ruas. Mas, afinal, os movimentos liderados pelos jovens v\u00e3o de fato mobilizar tanta gente e salvar o mundo?<\/p>\n\n\n\n

Especialistas n\u00e3o hesitam em dizer que sim \u2014 e que essas pessoas j\u00e1 est\u00e3o fazendo a sua parte em construir outra realidade. \u201cS\u00e3o nossa grande esperan\u00e7a, talvez a \u00fanica\u201d, diz Carlos Nobre. \u201cMais jovens brasileiros precisam se unir a esse movimento libertador.\u201d Para o cacique Mapu, da etnia Huni Kuin, essa juventude combativa tem o esp\u00edrito velho em mat\u00e9ria nova, e \u00e9 guiada pela mensagem da floresta. \u201cEles conseguiram se conectar com a M\u00e3e Terra, sentir e ouvir seu clamor, por isso come\u00e7am a se levantar, d\u00e3o continuidade \u00e0 luta de nossos antepassados, nossos av\u00f3s, os caciques mais antigos, que sempre lutaram para a gente existir, para a floresta existir.\u201d J\u00e1 passou da hora de fazermos a diferen\u00e7a.<\/p>\n\n\n\n

Na luta \u00e9 que a gente se encontra<\/h3>\n\n\n\n

Algumas dicas para que voc\u00ea conhe\u00e7a os movimentos em defesa do meio ambiente e possa fazer a diferen\u00e7a:<\/p>\n\n\n\n

Informe-se
Leia, assista a document\u00e1rios e entrevistas com especialistas. V\u00e1 al\u00e9m do YouTube e do WhatsApp \u2014 na era das fake news, \u00e9 importante consultar fontes confi\u00e1veis e reconhecidas, como estudos da ONU e de universidades.<\/p>\n\n\n\n

Fale
Quebre a espiral de sil\u00eancio e converse sobre a crise. Em casa, no trabalho, na fila do p\u00e3o \u2014 normalize essa conversa. Estamos todos no mesmo barco furado e s\u00f3 ser\u00e1 poss\u00edvel consert\u00e1-lo se trabalharmos juntos.<\/p>\n\n\n\n

Entenda
Busque agir e compreender o que voc\u00ea pode fazer de maneira pr\u00e1tica do ponto de vista local, no seu bairro e na sua cidade. Olhe ao redor e veja as necessidades reais de sua vizinhan\u00e7a.<\/p>\n\n\n\n

Comece agora
Fa\u00e7a o que estiver ao seu alcance, por menor que pare\u00e7a, mas fa\u00e7a. N\u00e3o se sinta desconfort\u00e1vel em recolher o lixo que est\u00e1 na sua rua ou dar uma bronca em quem n\u00e3o pratica a reciclagem.<\/p>\n\n\n\n

Conecte-se
Estabele\u00e7a redes de contato, presenciais ou online, entre em contato com outros grupos similares de outros lugares, demonstre solidariedade com causas que precisam de apoio.<\/p>\n\n\n\n

Pressione
Participe de eventos e debates em sua cidade, questione seus candidatos, conhe\u00e7a os projetos dos pol\u00edticos e partidos de sua prefer\u00eancia. E n\u00e3o deixe de acompanhar o trabalho do seu candidato ap\u00f3s as elei\u00e7\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: Revista Galileu<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Novas gera\u00e7\u00f5es se organizam para pressionar os pol\u00edticos a tomarem medidas diante da emerg\u00eancia clim\u00e1tica. Teremos tempo para salvar a terra? <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":159057,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[3716,866,1142],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/159056"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=159056"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/159056\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":159063,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/159056\/revisions\/159063"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/159057"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=159056"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=159056"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=159056"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}