Esta ilustra\u00e7\u00e3o mostra como seria a apar\u00eancia de um corte transversal da Terra h\u00e1 mais de tr\u00eas bilh\u00f5es de anos. \u00c9 muito debatida a exist\u00eancia ou n\u00e3o da tect\u00f4nica de placas durante esse per\u00edodo e um novo estudo aprofunda o debate diante das primeiras evid\u00eancias diretas encontradas da movimenta\u00e7\u00e3o de placas.
FOTO DE IMAGE BY ALEC BRENNER, HARVARD UNIVERSITY<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\nNa paisagem desolada do oeste da Austr\u00e1lia, um afloramento rochoso formado h\u00e1 mais de tr\u00eas bilh\u00f5es de anos est\u00e1 oferecendo aos ge\u00f3logos uma perspectiva sem precedentes das primeiras movimenta\u00e7\u00f5es do nosso planeta. Essas rochas \u2014 dentre as mais antigas do mundo \u2014 cont\u00eam o que podem ser as evid\u00eancias diretas mais antigas da movimenta\u00e7\u00e3o das placas tect\u00f4nicas.<\/p>\n\n\n\n
As rochas se formaram pelo transbordamento do magma a partir da subsuperf\u00edcie da Terra em um oceano agora desaparecido, que posteriormente esfriou e endureceu, se transformando em uma massa bulbosa. Conforme detalhado em um novo estudo publicado na revista cient\u00edfica Science Advances, assinaturas magn\u00e9ticas preservadas na rocha sugerem que a regi\u00e3o se deslocava pelo planeta h\u00e1 3,2 bilh\u00f5es de anos a velocidades semelhantes \u00e0s das atuais placas tect\u00f4nicas \u2014 quase meio bilh\u00e3o de anos antes das evid\u00eancias anteriores dessa movimenta\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n
\u201c\u00c9 quase uma prova definitiva\u201d, afirma Annie Bauer, geoqu\u00edmica da Universidade de Wisconsin-Madison, que n\u00e3o participou do novo estudo. \u201cEssa \u00e9 a evid\u00eancia mais importante que se pode obter (das primeiras movimenta\u00e7\u00f5es das placas).\u201d<\/p>\n\n\n\n
Atualmente, as placas tect\u00f4nicas da Terra se deslocam e migram incessantemente \u2014 um processo que forma montanhas, esculpe bacias e provoca erup\u00e7\u00f5es vulc\u00e2nicas. Essas movimenta\u00e7\u00f5es esculpiram uma variedade de nichos ecol\u00f3gicos, como fontes hidrotermais no fundo do mar e reservat\u00f3rios de \u00e1gua fervente na superf\u00edcie: a esp\u00e9cie de ambientes onde se acredita que a vida tenha se originado.<\/p>\n\n\n\n
\u201cAo juntar as pe\u00e7as para desvendar a hist\u00f3ria das placas tect\u00f4nicas, estamos contribuindo para desvendar nossa pr\u00f3pria hist\u00f3ria original\u201d, afirma Alec Brenner, principal autor do estudo e doutorando da Universidade de Harvard.<\/p>\n\n\n\n
Em busca de pedras antigas<\/h3>\n\n\n\n
Nosso planeta se fundiu em uma nuvem girat\u00f3ria de g\u00e1s e poeira h\u00e1 cerca de 4,5 bilh\u00f5es de anos e, inicialmente, o calor era causticante. Oceanos de rocha derretida cintilavam na superf\u00edcie e vulc\u00f5es provavelmente lan\u00e7avam lava no ar. Mas logo a Terra come\u00e7ou a esfriar e, durante dezenas de milh\u00f5es de anos, a superf\u00edcie endureceu formando uma crosta.<\/p>\n\n\n\n
Os cientistas acreditam que essa crosta inicial tenha sido uma calota \u00fanica que recobria o planeta, muito semelhante \u00e0 superf\u00edcie atual de Marte. Em algum momento (as estimativas variam entre cerca de quatro bilh\u00f5es e um bilh\u00e3o de anos atr\u00e1s), essa calota se partiu em um quebra-cabe\u00e7a global formado por peda\u00e7os da crosta que colidiram uns com os outros, empurrando rochas para baixo do manto ou para o alto. Assim nasceu a tect\u00f4nica de placas.<\/p>\n\n\n\n
Mas pouco se sabe sobre como e quando essa transi\u00e7\u00e3o ocorreu. A tect\u00f4nica de placas recicla continuamente as rochas da Terra, derretendo a crosta e levando lava fresca \u00e0 superf\u00edcie, o que apaga os resqu\u00edcios do passado distante. \u201cBasicamente, a primeira metade da hist\u00f3ria da Terra \u00e9 representada hoje por apenas 5% das rochas existentes na superf\u00edcie\u201d, afirma Brenner.<\/p>\n\n\n\n
Muitos estudos sobre a tect\u00f4nica de placas primitiva entendem as movimenta\u00e7\u00f5es por meio da identifica\u00e7\u00e3o de ind\u00edcios qu\u00edmicos, como a composi\u00e7\u00e3o de minerais antigos que apontam para sua forma\u00e7\u00e3o dentro de zonas de subduc\u00e7\u00e3o \u2014 os locais onde uma placa tect\u00f4nica afunda abaixo da outra. Contudo, para mapear a movimenta\u00e7\u00e3o das placas, os cientistas precisam recorrer a outras medidas, como as assinaturas magn\u00e9ticas preservadas das rochas.<\/p>\n\n\n\n
Em 2016, Roger Fu, paleomagnetista que viria a ser o futuro orientador de Brenner em Harvard, come\u00e7ou a examinar mapas da Austr\u00e1lia em busca de rochas antigas, onde poderia utilizar essas impress\u00f5es magn\u00e9ticas para medir diretamente os primeiros deslocamentos da crosta terrestre. Fu e um colega acabaram se concentrando em um local: o basalto de Honeyeater, na Austr\u00e1lia Ocidental. No ver\u00e3o de 2017, Brenner e Fu se aventuraram pelo interior da Austr\u00e1lia em busca das rochas de 3,2 bilh\u00f5es de anos.<\/p>\n\n\n\n
Perfuraram cerca de cem n\u00facleos de rocha de v\u00e1rios pontos do afloramento, observando a posi\u00e7\u00e3o e dire\u00e7\u00e3o de cada um e combinando-os com mais de cem amostras coletadas anteriormente. De volta ao laborat\u00f3rio, analisaram as assinaturas magn\u00e9ticas de cada amostra, codificadas na forma de minerais ricos em ferro que se orientam como pequenas agulhas de b\u00fassolas ao se cristalizar.<\/p>\n\n\n\n
Depois de considerar as mudan\u00e7as na posi\u00e7\u00e3o da rocha desde sua forma\u00e7\u00e3o \u2014 um processo conhecido como ensaio de dobramento \u2014 todas as agulhas da b\u00fassola se alinharam, sugerindo que representavam a verdadeira assinatura magn\u00e9tica antiga da rocha. \u201cTalvez exista algum fator em a\u00e7\u00e3o aqui\u201d, Fu recorda-se de ter pensado.<\/p>\n\n\n\n
Origens tect\u00f4nicas<\/h3>\n\n\n\n
A equipe comparou a posi\u00e7\u00e3o calculada do basalto de Honeyeater com um afloramento de rocha analisado anteriormente nas proximidades, que era um pouco mais antigo e possu\u00eda uma assinatura magn\u00e9tica anterior. A an\u00e1lise revelou que a crosta se deslocava cerca de 2,5 cent\u00edmetros por ano e se formava pelos efeitos do tempo.<\/p>\n\n\n\n
Essa taxa \u201cseria totalmente compat\u00edvel com o ambiente tect\u00f4nico existente na Terra atualmente\u201d, afirma Brenner.<\/p>\n\n\n\n
A movimenta\u00e7\u00e3o pode ter ocorrido enquanto a Terra ainda estava coberta por uma \u00fanica camada de crosta, embora a velocidade seja mais r\u00e1pida do que seria esperado se fosse esse o caso. A descoberta sugere que, pouco mais de um bilh\u00e3o de anos ap\u00f3s a forma\u00e7\u00e3o do nosso planeta, a tect\u00f4nica de placas j\u00e1 poderia estar acentuando.<\/p>\n\n\n\n
No entanto as evid\u00eancias desse local n\u00e3o significam necessariamente que as placas estivessem se movimentando em todo o mundo, afirma Brenner. A tect\u00f4nica de placas provavelmente foi irregular no in\u00edcio, ocorrendo a ruptura e movimenta\u00e7\u00e3o da crosta em algumas regi\u00f5es antes do que em outras.<\/p>\n\n\n\n
\u201cPode ter sido um processo fragmentado\u201d, afirma Bauer, que publicou recentemente um estudo que demonstrou o in\u00edcio desigual das primeiras movimenta\u00e7\u00f5es das placas.<\/p>\n\n\n\n
O mecanismo respons\u00e1vel por essa primeira movimenta\u00e7\u00e3o tamb\u00e9m n\u00e3o est\u00e1 claro, afirma John Geissman, paleomagnetista da Universidade do Texas em Dallas, que n\u00e3o participou do novo estudo. Uma importante for\u00e7a respons\u00e1vel pelas atuais movimenta\u00e7\u00f5es das placas \u00e9 o arrasto de placas rochosas \u00e0 medida que afundam sob o manto em zonas de subduc\u00e7\u00e3o. Mas poderiam existir outros processos h\u00e1 bilh\u00f5es de anos, como o aumento de colunas de magma, as quais afastam as rochas na superf\u00edcie.<\/p>\n\n\n\n
Se essas primeiras movimenta\u00e7\u00f5es de 3,2 bilh\u00f5es de anos atr\u00e1s foram de fato as precursoras da tect\u00f4nica de placas, indicariam um in\u00edcio incrivelmente precoce da rota\u00e7\u00e3o geol\u00f3gica da Terra, que foi um elemento crucial para a evolu\u00e7\u00e3o da vida como a conhecemos. A tect\u00f4nica de placas atua como um termostato planet\u00e1rio, em um ciclo que transfere gases de efeito estufa das profundezas da Terra \u00e0 atmosfera; que provoca erup\u00e7\u00f5es vulc\u00e2nicas e traz novos nutrientes do subterr\u00e2neo \u00e0 superf\u00edcie. Pode at\u00e9 ter desempenhado um papel importante na transfer\u00eancia de oxig\u00eanio aos c\u00e9us.<\/p>\n\n\n\n
A compreens\u00e3o das origens da tect\u00f4nica de placas \u201cpode ajudar a determinar quando ocorreram fen\u00f4menos cruciais para o desenvolvimento da vida neste planeta\u201d, afirma Val Finlayson, geoqu\u00edmica da Universidade de Maryland, que n\u00e3o participou do estudo.<\/p>\n\n\n\n
Para tanto, os cientistas continuam a explora\u00e7\u00e3o da superf\u00edcie terrestre em busca de mais sinais de movimenta\u00e7\u00e3o antiga. Brenner afirma: \u201cAli\u00e1s, neste exato momento, estamos analisando dados de outro corpo rochoso\u201d.<\/p>\n\n\n\n
Fonte: National Geographic Brasil<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
As placas tect\u00f4nicas esculpiram a superf\u00edcie terrestre e podem ter criado condi\u00e7\u00f5es prop\u00edcias para o surgimento da vida. Novo estudo oferece ind\u00edcios sobre como essa movimenta\u00e7\u00e3o planet\u00e1ria come\u00e7ou. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":159268,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[1638,4452],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/159267"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=159267"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/159267\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":159269,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/159267\/revisions\/159269"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/159268"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=159267"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=159267"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=159267"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}