A etiqueta de nascimento \u00e9 um pequeno dispositivo em forma de ovo que inserimos no \u00fatero de um tubar\u00e3o f\u00eamea gr\u00e1vida, onde permanecer\u00e1 adormecido e oculto entre os tubar\u00f5es fetais durante toda a gravidez. Esse tipo de etiqueta nunca foi usada em tubar\u00f5es, mas etiquetas implantadas semelhantes foram usadas para descobrir os locais de nascimento de mam\u00edferos terrestres, como cervos, por d\u00e9cadas e com grande sucesso. Quando um tubar\u00e3o-m\u00e3e marcado d\u00e1 \u00e0 luz, a etiqueta \u00e9 expelida ao lado dos beb\u00eas e flutua na superf\u00edcie do mar. Depois de detectar o ar seco, a etiqueta transmite sua localiza\u00e7\u00e3o para um sat\u00e9lite, que envia a localiza\u00e7\u00e3o e o hor\u00e1rio da transmiss\u00e3o de volta ao nosso laborat\u00f3rio. Assim que baixamos essas informa\u00e7\u00f5es, sabemos onde e quando esse tubar\u00e3o deu \u00e0 luz.<\/p>\n\n\n\n
Depois de anos ajustando essa nova tecnologia, lan\u00e7amos a primeira fase do estudo em dezembro de 2019 e come\u00e7amos a implantar as tags. Depois que o estudo foi aprovado pelos Comit\u00eas Institucionais de Cuidado e Uso de Animais da Universidade Estadual do Arizona e da Universidade de Miami, bem como do governo das Bahamas, partimos para encontrar alguns tubar\u00f5es-tigre. Para isso, nossa equipe de pesquisadores do Laborat\u00f3rio de Conserva\u00e7\u00e3o de Tubar\u00f5es e Peixes Sulikowski e do Programa de Pesquisa e Conserva\u00e7\u00e3o de Tubar\u00f5es na Universidade de Miami, liderada pelo bi\u00f3logo marinho Neil Hammerschlag, viajou para as \u00e1guas cristalinas de Tiger Beach – praia\u00a0dos tubar\u00f5es-tigres, na ilha de Grand Bahama para implantar as tags nos tubar\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n A Tiger Beach \u00e9 um ponto quente para os tubar\u00f5es-tigre de v\u00e1rias fases da vida, incluindo grandes indiv\u00edduas gr\u00e1vidas. Essas f\u00eameas gr\u00e1vidas podem estar se mantendo nas \u00e1guas quentes e calmas de Tiger Beach para se refugiar e acelerar sua gesta\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n O alto n\u00famero de tubar\u00f5es gr\u00e1vidas nessa pequena \u00e1rea facilita muito a procura de um, mas capturar e trazer um tubar\u00e3o de mais de tr\u00eas metros para o barco n\u00e3o \u00e9 tarefa f\u00e1cil. N\u00f3s pescamos tubar\u00f5es usando linhas de espera, e pode levar v\u00e1rias horas para capturar, puxar com a m\u00e3o e proteger uma dessas criaturas poderosas ao lado do barco.<\/p>\n\n\n\n Depois que capturamos uma f\u00eamea de tubar\u00e3o-tigre, primeiro fazemos v\u00e1rias medi\u00e7\u00f5es de comprimento e per\u00edmetro para ter uma id\u00e9ia de sua sa\u00fade geral e verificar se ela \u00e9 sexualmente madura. Em seguida, verificamos as marcas de mordida, que s\u00e3o evid\u00eancias de um evento de acasalamento recente.<\/p>\n\n\n\n Depois de coletarmos essas informa\u00e7\u00f5es da linha de base, a giramos de cabe\u00e7a para baixo para convenc\u00ea-la a um estado de transe chamado imobilidade t\u00f4nica. A imobilidade t\u00f4nica \u00e9 um reflexo natural em muitos tubar\u00f5es que induz um estado de inatividade f\u00edsica. Isso mant\u00e9m o poderoso tubar\u00e3o calmo e parado durante a parte mais emocionante da avalia\u00e7\u00e3o, a parte em que minha experi\u00eancia entra em jogo: a verifica\u00e7\u00e3o da gravidez.<\/p>\n\n\n\n Assim como os ultrassons usados \u200b\u200bem seres humanos, usamos uma m\u00e1quina de ultrassom m\u00f3vel para descobrir se um tubar\u00e3o est\u00e1 esperando um filhote. Coloco um par de \u00f3culos que me permitem ver tudo o que o ultrassom v\u00ea, inclino-me sobre a lateral do barco e coloco a sonda no abd\u00f4men do tubar\u00e3o de cabe\u00e7a para baixo. A imagem geralmente \u00e9 confusa a princ\u00edpio, quando a \u00e1gua espirra sobre o tubar\u00e3o e sobe no barco. A equipe mant\u00e9m o tubar\u00e3o im\u00f3vel enquanto eu manobro lentamente a sonda ao longo de sua barriga. Ent\u00e3o, se ela estiver gr\u00e1vida, algo m\u00e1gico acontece.<\/p>\n\n\n\n Os tubar\u00f5es-tigre filhotes, at\u00e9 40 deles juntos dentro do \u00fatero da m\u00e3e, aparecem na frente dos meus olhos. A imagem tamb\u00e9m aparece em uma tela mantida por outro membro da equipe no barco, e todos aplaudem quando se re\u00fanem para dar uma olhada no mundo secreto dos tubar\u00f5es por nascer. N\u00f3s os espionamos enquanto eles bombeiam fluido atrav\u00e9s de suas br\u00e2nquias ainda em desenvolvimento, e observamos com admira\u00e7\u00e3o enquanto eles se movem alegremente e inconscientes de que algo extraordin\u00e1rio est\u00e1 acontecendo l\u00e1 fora no mundo. Quando tivermos dados suficientes sobre o tamanho aproximado da prole – o que nos d\u00e1 uma ideia de quanto tempo dura a gravidez – \u00e9 hora de marcar o tubar\u00e3o-mama.<\/p>\n\n\n\n Enquanto eu mantenho a sonda o mais im\u00f3vel poss\u00edvel para manter um visual da anatomia interna do tubar\u00e3o, Dr. Sulikowski pega a etiqueta de nascimento e usa um aplicador personalizado para inseri-la cuidadosamente no \u00fatero atrav\u00e9s da abertura urogenital. Nenhuma cirurgia \u00e9 necess\u00e1ria, o procedimento de marca\u00e7\u00e3o \u00e9 conclu\u00eddo em quest\u00e3o de minutos. Quando a etiqueta est\u00e1 dentro do \u00fatero, giramos o tubar\u00e3o na vertical para acord\u00e1-la e solt\u00e1-la de volta ao oceano aberto. Sinto-me cheia de esperan\u00e7a enquanto a vejo nadar graciosamente para continuar sua gravidez, com uma etiqueta de nascimento escondida entre seus filhos ainda n\u00e3o nascidos.<\/p>\n\n\n\n Em dezembro do ano passado, implantamos as primeiras Tags de Nascimento em tr\u00eas tubar\u00f5es-tigre gr\u00e1vidas. Para os tubar\u00f5es-tigre, a gravidez deve durar de 12 a 16 meses, mas os pesquisadores t\u00eam pouco em termos de dados concretos. Como esses tubar\u00f5es marcados variaram de rec\u00e9m-acasalados a meados de gesta\u00e7\u00e3o, um b\u00f4nus adicional deste estudo \u00e9 que ele pode ajudar a refinar as estimativas da dura\u00e7\u00e3o da gravidez para esta esp\u00e9cie.<\/p>\n\n\n\n Embora trabalhemos nas Bahamas, um santu\u00e1rio de tubar\u00f5es onde \u00e9 ilegal matar tubar\u00f5es, os tubar\u00f5es-tigre migram extensivamente. Como tal, cada tubar\u00e3o marcado provavelmente passar\u00e1 algum tempo fora das Bahamas em \u00e1guas desprotegidas, onde ter\u00e1 que navegar com cuidado para evitar a intera\u00e7\u00e3o com os equipamentos de pesca. Os tubar\u00f5es-tigre s\u00e3o considerados quase amea\u00e7ados pela Uni\u00e3o Internacional para Conserva\u00e7\u00e3o da Natureza e suas popula\u00e7\u00f5es est\u00e3o atualmente em decl\u00ednio. Os dados que obtemos dessa primeira rodada de tags fornecer\u00e3o a n\u00f3s e aos formuladores de pol\u00edticas p\u00fablicas, informa\u00e7\u00f5es que poderiam ajudar no futuro com medidas de prote\u00e7\u00e3o para essa esp\u00e9cie.<\/p>\n\n\n\n No momento, estamos aguardando uma notifica\u00e7\u00e3o do nosso sistema on-line por sat\u00e9lite ARGOS que nos alertar\u00e1 que um de nossos tubar\u00f5es deu \u00e0 luz. Quando isso acontecer, seremos os primeiros do mundo a saber, quase em tempo real, onde e quando os tubar\u00f5es-tigre d\u00e3o \u00e0 luz.<\/p>\n\n\n\n Muitas esp\u00e9cies de tubar\u00f5es est\u00e3o amea\u00e7adas de extin\u00e7\u00e3o, e o entendimento de seus ciclos reprodutivos \u00e9 fundamental para a conserva\u00e7\u00e3o eficaz dessas criaturas ecologicamente importantes e bonitas. Usando a etiqueta de nascimento, estamos prestes a desvendar essas informa\u00e7\u00f5es sobre os tubar\u00f5es-tigre e esperamos mostrar que isso pode ser feito para muitas outras esp\u00e9cies.<\/p>\n\n\n\n Estamos planejando futuras expedi\u00e7\u00f5es para implantar muito mais tags de nascimento, mas, por enquanto, teremos que continuar cantando a m\u00fasica “Baby Shark” enquanto aguardamos pacientemente nosso primeiro vislumbre da vida particular dessas criaturas incr\u00edveis.<\/p>\n\n\n\n Fonte: The Conversation \/ Hannah Verkamp Os pesquisadores est\u00e3o usando uma etiqueta de sat\u00e9lite rec\u00e9m desenvolvida para estudar aspectos anteriormente desconhecidos da reprodu\u00e7\u00e3o do tubar\u00e3o-tigre. Essa abordagem pode ser usada em outras esp\u00e9cies de tubar\u00f5es dif\u00edceis de estudar. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":2,"featured_media":159633,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4132],"tags":[4494,4488,4489,76,4493,3003,4491,191,4487,2204,4490,4492,1613,702],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/159614"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=159614"}],"version-history":[{"count":31,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/159614\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":159683,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/159614\/revisions\/159683"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/159633"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=159614"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=159614"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=159614"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}![\"\"](\"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/wp-content\/uploads\/2020\/05\/foto1_tubar\u00e3o.jpg\")
De perto com um superpredador<\/h4>\n\n\n\n
![\"\"](\"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/wp-content\/uploads\/2020\/05\/foto2_tubar\u00e3o.jpg\")
Esperando<\/h4>\n\n\n\n
![\"\"](\"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/wp-content\/uploads\/2020\/05\/foto3_tubar\u00e3o.png\")
![\"\"](\"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/wp-content\/uploads\/2020\/05\/foto4_tubar\u00e3o.jpg\")
Resolvendo o mist\u00e9rio<\/h4>\n\n\n\n
Tradu\u00e7\u00e3o: Reda\u00e7\u00e3o Ambientebrasil \/ Maria Beatriz Ayello Leite
Para ler a reportagem original em ingl\u00eas acesse:<\/em> https:\/\/theconversation.com\/scientists-at-work-uncovering-the-mystery-of-when-and-where-sharks-give-birth-136673<\/a> <\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"