\u00c1rea de floresta ilegalmente desmatada pr\u00f3xima \u00e0 terra ind\u00edgena Menkragnoti, entre Mato Grosso e Par\u00e1. Desde a d\u00e9cada de 1930, sabe-se que a degrada\u00e7\u00e3o ambiental \u00e9 fator fundamental para o surgimento de novas epidemias. FOTO DE MARCIO ISENSEE E S\u00c1\/GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\nCom 5,5 milh\u00f5es de km2, a Amaz\u00f4nia \u00e9 maior floresta tropical e abriga um ter\u00e7o da biodiversidade do planeta. As dezenas de milhares de esp\u00e9cies que ali habitam coexistem em graus moderados de competi\u00e7\u00e3o e preda\u00e7\u00e3o. Cada uma, por sua vez, abriga parasitas como v\u00edrus, protozo\u00e1rios e bact\u00e9rias que tamb\u00e9m convivem harmoniosamente no ciclo silvestre.<\/p>\n\n\n\n
Seja desmatamento, degrada\u00e7\u00e3o, queimadas, urbaniza\u00e7\u00e3o ou mudan\u00e7a do uso do solo ou de h\u00e1bitos alimentares dos humanos, perturba\u00e7\u00f5es em ecossistemas provocam uma ruptura no equil\u00edbrio silvestre capaz de propiciar a emerg\u00eancia de uma nova zoonose.<\/p>\n\n\n\n
\u201cNa cadeia alimentar, as plantas sustentam todo o ecossistema. Quando s\u00e3o retiradas, ocorre uma cascata tr\u00f3fica\u201d, observa Gabriel Laporta, bi\u00f3logo especialista em sa\u00fade p\u00fablica e bioestat\u00edstica. Ele \u00e9 pesquisador cient\u00edfico do setor de P\u00f3s-Gradua\u00e7\u00e3o, Pesquisa e Inova\u00e7\u00e3o do Centro Universit\u00e1rio de Sa\u00fade ABC.<\/p>\n\n\n\n
Enquanto esse sistema come\u00e7a a entrar em colapso, as esp\u00e9cies que est\u00e3o l\u00e1 dentro tentam sobreviver de alguma forma. Diante da alta demanda por energia via cadeia alimentar, os predadores do topo acabam sendo os primeiros a fugirem ou a sucumbirem \u00e0 destrui\u00e7\u00e3o de seu habitat. Entre as esp\u00e9cies que conseguem sobreviver, est\u00e3o os v\u00edrus. Com alta capacidade de muta\u00e7\u00e3o e varia\u00e7\u00e3o g\u00eanica, esses parasitas s\u00e3o mais resilientes \u00e0s mudan\u00e7as e, geralmente, conseguem encontrar alternativas de transmiss\u00e3o e persist\u00eancia.<\/p>\n\n\n\n
\u201cO fato \u00e9 que toda vez que h\u00e1 uma mudan\u00e7a brusca na paisagem, ou seja, de intacta para degradada, esse processo permite a emerg\u00eancia de novos pat\u00f3genos\u201d, continua Laporta. \u201cEnt\u00e3o, h\u00e1 uma grande probabilidade de termos uma origem pand\u00eamica a partir de v\u00edrus emergentes decorrentes do desmatamento e do processo de colapso dos ecossistemas da Amaz\u00f4nia.\u201d<\/p>\n\n\n\n
Disparada no desmatamento<\/h3>\n\n\n\n Na semana passada, a Justi\u00e7a Federal do Amazonas acatou pedido do Minist\u00e9rio P\u00fablico Federal (MPF) e determinou que os \u00f3rg\u00e3os de fiscaliza\u00e7\u00e3o ambiental realizem opera\u00e7\u00f5es imediatas de comando e controle em ao menos dez \u00e1reas mais cr\u00edticas na Amaz\u00f4nia. As regi\u00f5es vivem sob amea\u00e7a constante da a\u00e7\u00e3o ilegal de madeireiros, grileiros e garimpeiros e foram alvo de \u201c60% de toda degrada\u00e7\u00e3o ambiental\u201d da floresta tropical em 2019.<\/p>\n\n\n\n
\u201cO contexto de recrudescimento das infra\u00e7\u00f5es ambientais representa uma dupla amea\u00e7a\u201d, constata o MPF, no documento, \u201cao meio ambiente, j\u00e1 abalado pelas viola\u00e7\u00f5es perpetradas em 2019, com altas taxas de desmate e queimadas, e \u00e0s popula\u00e7\u00f5es amaz\u00f4nicas, especialmente povos e comunidades tradicionais, expostos \u00e0 contamina\u00e7\u00e3o pela covid-19 em fun\u00e7\u00e3o da presen\u00e7a de madeireiros, grileiros, garimpeiros na floresta\u201d.<\/p>\n\n\n\n
A decis\u00e3o liminar foi publicada na noite da \u00faltima quinta-feira, 21 de maio, pela 7\u00aa Vara Federal Ambiental e Agr\u00e1ria da Se\u00e7\u00e3o Judici\u00e1ria do Amazonas. O pedido do Minist\u00e9rio P\u00fablico Federal foi encaminhado para a Funai, o ICMBio, o Ibama e a Advocacia-Geral da Uni\u00e3o e assinado pela ju\u00edza federal Jaiza Maria Pinto Fraxe.<\/p>\n\n\n\n
\u201cExistem terras ind\u00edgenas e outros territ\u00f3rios tradicionais dentro e no entorno de todos os dez hotspots de il\u00edcitos ambientais identificados pelo Ibama\u201d, aponta o MPF. \u201cNessas dez regi\u00f5es, espalhadas pela Amaz\u00f4nia, h\u00e1 especial risco para as popula\u00e7\u00f5es tradicionais e agr\u00e1rias, derivado especificamente da presen\u00e7a maci\u00e7a de infratores ambientais, j\u00e1 que esses agentes delitivos seguem sua trajet\u00f3ria de il\u00edcitos sem que o Estado se fa\u00e7a adequadamente presente, seja para defender o meio ambiente, seja para proteger os povos e culturas da Amaz\u00f4nia.\u201d<\/p>\n\n\n\n
De 1\u00ba de agosto de 2019, quando tem in\u00edcio o calend\u00e1rio anual do desmatamento, at\u00e9 21 de maio, o Sistema de Detec\u00e7\u00e3o do Desmatamento em Tempo Real (Deter) j\u00e1 emitiu 28.709 alertas de de supress\u00e3o da cobertura vegetal em 6.058,51 km2 da Amaz\u00f4nia Legal. O programa de monitoramento \u00e9 do Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (Inpe). Praticamente um quinto desta \u00e1rea identificada pelo Deter (1.048,38 km) sofreu corte raso a partir de 13 de mar\u00e7o, dia em que foi notificado o primeiro paciente diagnosticado com covid-19 no Amazonas. At\u00e9 24 de maio, o estado registrou 29.867 pessoas infectadas pelo novo coronav\u00edrus e 1.758 \u00f3bitos em decorr\u00eancia da doen\u00e7a, com a maior taxa de mortalidade do pa\u00eds: 42,4 a cada 100 mil habitantes. O Minist\u00e9rio da Sa\u00fade lista um total de 95.389 infectados (26% dos casos no Brasil) e 5.212 mortes (23%) nos nove estados que comp\u00f5e a Amaz\u00f4nia.<\/p>\n\n\n\n
Apesar dos crescentes \u00edndices de desmatamento ilegal na Amaz\u00f4nia, o MPF constatou que a Uni\u00e3o \u201cn\u00e3o vem adotando as medidas previstas no Plano de Preven\u00e7\u00e3o e Controle do Desmatamento na Amaz\u00f4nia\u201d. Houve um \u201cafrouxamento da atividade fiscalizat\u00f3ria federal, exemplificada pelo n\u00famero de autos de infra\u00e7\u00e3o lavrados pelo Ibama por il\u00edcitos ambientais\u201d.<\/p>\n\n\n\n
No Amazonas, o MPF aponta que apenas quatro opera\u00e7\u00f5es de fiscaliza\u00e7\u00e3o aconteceram em 2019, contra 45 em 2018. Ressalta tamb\u00e9m que o Ibama lavrou apenas 201 autos de infra\u00e7\u00e3o \u2013 no ano anterior, foram 360. \u201cO mesmo fen\u00f4meno de afrouxamento de fiscaliza\u00e7\u00e3o se verificou no ICMBio, \u00f3rg\u00e3o respons\u00e1vel pelo enfrentamento de il\u00edcitos ambientais em unidades de conserva\u00e7\u00e3o federais\u201d, continua o MPF, tendo como base o fato de que foram realizadas apenas 13 das 83 a\u00e7\u00f5es de fiscaliza\u00e7\u00e3o programadas para 2019.<\/p>\n\n\n\nFiscais do Ibama analisam \u00e1rvore cortada por desmatadores em Boa Vista do Pacarana, Rond\u00f4nia. Em decis\u00e3o da Justi\u00e7a Federal que determina que \u00f3rg\u00e3os de fiscaliza\u00e7\u00e3o ambiental realizem opera\u00e7\u00f5es imediatas de comando e controle em ao menos dez \u00e1reas mais cr\u00edticas na Amaz\u00f4nia, a ju\u00edza Jaiza Fraxe alerta para a diminui\u00e7\u00e3o de autos de infra\u00e7\u00e3o pelo Ibama \u2013 apenas 201 em 2019 contra 360 no ano anterior. FOTO DE FELIPE FITTIPALDI<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\nO Prodes, programa do Inpe que calcula a taxa anual oficial de desmatamento, identificou que 9.762 km2 da vegeta\u00e7\u00e3o da Amaz\u00f4nia foi ilegalmente suprimida de 1\u00ba de agosto de 2018 a 31 de julho de 2019 \u2013 uma alta de 30% em rela\u00e7\u00e3o ao mesmo per\u00edodo do ano anterior e o maior valor registrado na \u00faltima d\u00e9cada. A remo\u00e7\u00e3o da cobertura vegetal em terras ind\u00edgenas subiu 74% e dobrou dentro de unidades de conserva\u00e7\u00e3o. Na decis\u00e3o, a ju\u00edza federal Jaiza Fraxe aponta que os \u00faltimos dados do Deter indicam que a regi\u00e3o caminha para outra alta hist\u00f3rica de desmatamento anual.<\/p>\n\n\n\n
Origem silvestre do coronav\u00edrus<\/h3>\n\n\n\n Para Laporta, a emerg\u00eancia do coronav\u00edrus em pangolins-malaios pode ilustrar como a interfer\u00eancia humana contribui para o surgimento de uma nova zoonose. Nas florestas tropicais prim\u00e1rias da Mal\u00e1sia, pangolins e morcegos inset\u00edvoros est\u00e3o no mesmo patamar da cadeia alimentar, por\u00e9m pouco interagiam entre si, observa o bi\u00f3logo. Com o desmatamento crescente na regi\u00e3o, os pangolins tiveram de buscar alimento e abrigo em outros lugares. Nas \u00e1reas cultivadas, encontraram em abund\u00e2ncia seu \u201cprato favorito\u201d: formigas. Na aus\u00eancia das grandes \u00e1rvores sob as quais dormiam na floresta, passaram a se abrigar em cavidades de pedra \u2013 locais habitados por morcegos, mam\u00edferos conhecidos por serem reservat\u00f3rios de v\u00e1rios tipos de coronav\u00edrus.<\/p>\n\n\n\n
\u201cO desmatamento causou um colapso nesse ecossistema e a aproxima\u00e7\u00e3o de duas esp\u00e9cies que tinham uma intera\u00e7\u00e3o muito distante\u201d, explica Laporta. \u201cEssa briga por comida facilitou a transfer\u00eancia e a muta\u00e7\u00e3o de coronav\u00edrus de morcegos para pangolins. J\u00e1 a entrada dos pangolins em \u00e1reas desmatadas permitiu uma alta frequ\u00eancia de ca\u00e7a, porque h\u00e1 um interesse econ\u00f4mico grande por eles naquela regi\u00e3o. Isso pode ter favorecido a dissemina\u00e7\u00e3o, primeiro, entre os pangolins, mas tamb\u00e9m na emerg\u00eancia desses v\u00edrus nos seres humanos.\u201d<\/p>\n\n\n\n
A origem do Sars-CoV-2 ainda \u00e9 investigada pela comunidade cient\u00edfica. A principal suspeita \u00e9 de que tenha surgido em morcegos, mas cientistas chineses t\u00eam estudado a hip\u00f3tese de que pangolins-malaios sejam potenciais vetores intermedi\u00e1rios do novo coronav\u00edrus. Em artigo publicado na revista cient\u00edfica Nature em 26 de mar\u00e7o, pesquisadores das universidades de Hong Kong e Shantou identificaram coronav\u00edrus com material gen\u00e9tico similar ao do Sars-Cov-2 em pangolins resgatados em uma opera\u00e7\u00e3o anti-tr\u00e1fico de animais no sul da China. Em outro estudo da mesma publica\u00e7\u00e3o, de 7 de maio, cientistas de Guangzhou consideraram, ap\u00f3s an\u00e1lise gen\u00f4mica, que o Sars-CoV-2 pode ter origem na recombina\u00e7\u00e3o de um coronav\u00edrus da cepa de um pangolim (Pangolin-Cov) com outro comum em morcegos (RaTG13).<\/p>\n\n\n\n
Conserva\u00e7\u00e3o como preven\u00e7\u00e3o<\/h3>\n\n\n\n De fevereiro de 2015 a mar\u00e7o de 2019, Gabriel Laporta realizou uma s\u00e9rie de pesquisas sobre a din\u00e2mica de transmiss\u00e3o da mal\u00e1ria na Amaz\u00f4nia, em diferentes n\u00edveis de fragmenta\u00e7\u00e3o da paisagem. A doen\u00e7a \u00e9 causada pelo protozo\u00e1rio Plasmodium falciparum e transmitida pelo mosquito Anopheles darlingi. O protozo\u00e1rio j\u00e1 existia entre primatas da \u00c1frica Equatorial e estudos sugerem que tenha passado a circular entre humanos h\u00e1 6 mil anos, com a expans\u00e3o da agricultura nas regi\u00f5es tropicais e subtropicais africanas. O vetor chegou ao Brasil em navios negreiros, entre os s\u00e9culos 16 e 19. Na Amaz\u00f4nia, a doen\u00e7a se alastrou com mais for\u00e7a nos anos 1970, durante a intensa ocupa\u00e7\u00e3o da floresta tropical fomentada pelo Plano de Integra\u00e7\u00e3o Nacional, dos governos da Ditadura Militar.<\/p>\n\n\n\nMinistro do Meio Ambiente Ricardo Salles d\u00e1 entrevista durante opera\u00e7\u00e3o de combate ao com\u00e9rcio ilegal de madeira em Espig\u00e3o d’Oeste (RO) em 2019. A medida que o desmatamento na Amaz\u00f4nia bate novos recordes, aumentando o risco de novas zoonoses, o Salles disse em reuni\u00e3o ministerial que \u201cprecisa haver um esfor\u00e7o nosso aqui, enquanto estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque s\u00f3 fala de Covid, e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas\u201d. FOTO DE FELIPE FITTIPALDI<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\nEm seus estudos, Laporta constatou que o ecossistema amaz\u00f4nico permanece em equil\u00edbrio quando h\u00e1 de 70% a 100% de cobertura florestal na regi\u00e3o. J\u00e1 uma \u00e1rea que apresenta maior risco para surtos de mal\u00e1ria se d\u00e1 quando a perda de vegeta\u00e7\u00e3o gira entre 30% a 70%. Abaixo de 30%, o mosquito n\u00e3o consegue sobreviver nas \u00e1reas urbanas ou altamente degradadas \u2013 isso diz respeito exclusivamente a este vetor, ressalta o bi\u00f3logo.<\/p>\n\n\n\n
\u201cA maior parte dos assentamentos rurais com alto \u00edndice de mal\u00e1ria s\u00e3o paisagens fragmentadas com em torno de 50% de cobertura florestal, em que o mosquito tem recursos, n\u00e3o encontra competi\u00e7\u00e3o e coexiste com o homem de forma muito \u00edntima\u201d, explica Laporta.<\/p>\n\n\n\n
A alta incid\u00eancia da doen\u00e7a nessas ocupa\u00e7\u00f5es \u00e9 agravada pela falta de imunidade \u00e0 mal\u00e1ria dos desmatadores que ocupam esses assentamentos, uma vez que costumam migrar de outras regi\u00f5es. A infraestrutura prec\u00e1ria das moradias \u00e9 outra quest\u00e3o. Al\u00e9m de assentamentos rurais, surtos de mal\u00e1ria tamb\u00e9m acontecem em garimpos ilegais. A degrada\u00e7\u00e3o ambiental de ambas atividades no entorno ou dentro das terras ind\u00edgenas s\u00e3o capazes de criar uma \u201cpaisagem patog\u00eanica para os ind\u00edgenas\u201d, observa o bi\u00f3logo.<\/p>\n\n\n\n
\u201cSe derrubarem todas as florestas, perdemos os servi\u00e7os ecossist\u00eamicos. N\u00e3o teremos \u00e1gua para beber, nem solo f\u00e9rtil, nem conforto clim\u00e1tico. Teria um absurdo de tempestades e eventos clim\u00e1ticos extremos severos\u201d, analisa a bi\u00f3loga Marcia Chame, pesquisadora e coordenadora da Plataforma Institucional Biodiversidade e Sa\u00fade Silvestre, da Funda\u00e7\u00e3o Oswaldo Cruz (Fiocruz).<\/p>\n\n\n\n
Al\u00e9m disso, um dos piores efeitos \u00e9 que as esp\u00e9cies que saem de uma floresta destru\u00edda e s\u00e3o capazes de migrar ao ambiente urbano \u201cseriam as melhores transmissoras de doen\u00e7a\u201d, diante alta capacidade de adapta\u00e7\u00e3o e dos sistemas imunol\u00f3gicos abrangentes e resistentes. \u201cEnt\u00e3o, o melhor a fazer \u00e9 termos as maiores \u00e1reas naturais poss\u00edveis bem preservadas. Temos encontrado situa\u00e7\u00f5es que apontam que a presen\u00e7a de um n\u00famero grande de esp\u00e9cies hospedeiras na biodiversidade dilui o processo de transmiss\u00e3o de doen\u00e7as.\u201d<\/p>\n\n\n\n
Com o avan\u00e7o da degrada\u00e7\u00e3o ambiental no pa\u00eds, principalmente nos \u00faltimos dois anos, Chame observa que a febre amarela silvestre tem ocorrido em um \u201cpadr\u00e3o diferenciado, o que n\u00e3o se via h\u00e1 muitos anos\u201d, um avan\u00e7o significativo de Chagas nas \u00e1reas de degrada\u00e7\u00e3o da Amaz\u00f4nia, com outros ciclos de doen\u00e7as, e um aumento da circula\u00e7\u00e3o de v\u00edrus como o oropouche e a hantavirose, em surtos pequenos no Brasil todo.<\/p>\n\n\n\n
Em 2006, Marcia Chame coordenou o Informe Nacional de Esp\u00e9cies Ex\u00f3ticas Invasoras no Brasil, o primeiro levantamento do g\u00eanero feito no pa\u00eds, realizado pelo Minist\u00e9rio do Meio Ambiente e pela Fiocruz. A lista foi revisada e atualizada em dezembro de 2018, em relat\u00f3rio da Plataforma Institucional de Biodiversidade e Sa\u00fade, da Fiocruz. Os pesquisadores identificaram 101 esp\u00e9cies que afetam a sa\u00fade humana, a maioria introduzida no per\u00edodo colonial atrav\u00e9s das navega\u00e7\u00f5es, das quais 86,8% j\u00e1 se expandiram pelo Brasil. S\u00e3o v\u00edrus, bact\u00e9rias, helmintos, fungos, protozo\u00e1rios, moluscos, artr\u00f3podes e plantas que entraram no pa\u00eds de alguma forma como, por exemplo, em meio a humanos adoecidos ou vetores como os mosquitos. Al\u00e9m do impacto \u00e0s pessoas, a Fiocruz identificou que esses parasitas ex\u00f3ticos amea\u00e7am 7,5% das 16 mil esp\u00e9cies brasileiras em risco de extin\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n
A bi\u00f3loga destaca o Aedes aegypti como \u201cnosso grande marcador do que \u00e9 o impacto da entrada de uma esp\u00e9cie ex\u00f3tica\u201d. Esse mosquito teve origem no Egito e se espalhou para as regi\u00f5es tropicais e subtropicais do planeta no s\u00e9culo 16. A primeira descri\u00e7\u00e3o cient\u00edfica remonta \u00e0 1762. No come\u00e7o do s\u00e9culo 20, a esp\u00e9cie foi identificada como transmissora da febre amarela urbana no Brasil, at\u00e9 ser erradicada em 1955, fato reconhecido pela Organiza\u00e7\u00e3o Mundial da Sa\u00fade tr\u00eas anos depois. Contudo, o vetor se manteve em territ\u00f3rios amaz\u00f4nicos da Venezuela, Guiana, Guiana Francesa e Suriname, al\u00e9m de toda a Am\u00e9rica Central, Caribe e Sul dos Estados Unidos. Em 1960, o relaxamento das a\u00e7\u00f5es de controle e a \u201cdispers\u00e3o passiva dos vetores\u201d \u2013 via deslocamentos humanos mar\u00edtimos ou terrestres \u2013 resultaram na reintrodu\u00e7\u00e3o do Aedes aegypti no Brasil. Hoje, o mosquito habita e provoca endemias de dengue, zika e chikungunya em todos os estados.<\/p>\n\n\n\n
Din\u00e2micas das zoonoses<\/h3>\n\n\n\n Nos anos 1930, Yevgeny Pavlovsky, m\u00e9dico parasitologista russo, elaborou o conceito da biocenose e a teoria dos focos naturais das doen\u00e7as transmiss\u00edveis depois de observar que a expans\u00e3o agr\u00edcola da Uni\u00e3o Sovi\u00e9tica sobre territ\u00f3rios asi\u00e1ticos provocara problemas de sa\u00fade p\u00fablica \u2013 surtos de leishmaniose na \u00c1sia Central e de encefalites por arbov\u00edrus na Sib\u00e9ria.<\/p>\n\n\n\n
\u201cO agente vive em um ambiente sem causar desequil\u00edbrio, em harmonia. Desde que n\u00e3o tenha nada que lhe prejudique, ele permanece ali, inerte, em lat\u00eancia\u201d, observa Antonio Magela, m\u00e9dico infectologista e diretor de assist\u00eancia m\u00e9dica da Funda\u00e7\u00e3o de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado, em Manaus (AM). \u201cMas, quando acontece alguma altera\u00e7\u00e3o, seja no pr\u00f3prio agente ou nas condi\u00e7\u00f5es ambientais, acontece a patobiocenose. Ou seja, tenho atores suficientes que, se interagirem, podem determinar uma capacidade de causar doen\u00e7a.\u201d<\/p>\n\n\n\n
Nessa din\u00e2mica, Magela aponta a capacidade de muta\u00e7\u00e3o dos v\u00edrus. Este tipo de agente etiol\u00f3gico tem facilidade para alterar seu material gen\u00e9tico, a fim de garantir a sobreviv\u00eancia da esp\u00e9cie na natureza. O problema \u00e9 que, com essas muta\u00e7\u00f5es, os v\u00edrus podem se transformar a ponto de alterar seu grau de virul\u00eancia.<\/p>\n\n\n\n
Entre as principais esp\u00e9cies hospedeiras, Magela destaca o porco. O animal \u00e9 capaz de abrigar, ao mesmo tempo, tipos de v\u00edrus que causam gripes em aves, humanos e neles pr\u00f3prios. Esses agentes podem interagir no organismo do su\u00edno e trocar material gen\u00e9tico. Dessa combina\u00e7\u00e3o, pode surgir um novo v\u00edrus. \u201cEnt\u00e3o, \u00e9 preciso que um agente tenha uma modifica\u00e7\u00e3o, \u00e0s vezes no material gen\u00e9tico, e encontre um hospedeiro mais suscet\u00edvel, onde possa se albergar e desenvolver um ciclo reprodutivo e passar por muta\u00e7\u00f5es gen\u00e9ticas\u201d, continua o infectologista. \u201cNo in\u00edcio, s\u00e3o s\u00f3 tentativas de adapta\u00e7\u00e3o, mas o resultado disso \u00e9 imprevis\u00edvel. Pode ser que daqui surja um ser inerte, ou uma esp\u00e9cie muito virulenta e de alta letalidade.\u201d<\/p>\n\n\n\n
O conceito da \u201cTr\u00edade Ecol\u00f3gica\u201d foi elaborado por Hugh Rodman Leavell e Edwin Gurney Clark na d\u00e9cada de 1960. Os m\u00e9dicos americanos descrevem as raz\u00f5es que determinam a emerg\u00eancia de uma doen\u00e7a em respectivo local \u2013 din\u00e2mica que engloba o agente infeccioso, o hospedeiro e o ambiente. A emerg\u00eancia de um novo pat\u00f3geno \u00e9 resultado da forma e da const\u00e2ncia das intera\u00e7\u00f5es entre esses tr\u00eas atores. J\u00e1 a gravidade da epidemia depende de outra s\u00e9rie de fatores. \u201cAs condi\u00e7\u00f5es sociais, econ\u00f4micas, os h\u00e1bitos de vida da popula\u00e7\u00e3o v\u00e3o determinar se essa doen\u00e7a ter\u00e1 um n\u00edvel de gravidade maior ou menor, se durar\u00e1 muito ou pouco, se ter\u00e1 r\u00e1pida dissemina\u00e7\u00e3o e grande letalidade\u201d, considera Magela.<\/p>\n\n\n\n
As caracter\u00edsticas do agente infeccioso tamb\u00e9m ditam o rumo da epidemia. A transmissibilidade significa a capacidade dele migrar de um reservat\u00f3rio para um hospedeiro intermedi\u00e1rio ou definitivo. A patogenicidade consiste em sua capacidade em causar doen\u00e7a. J\u00e1 a virul\u00eancia trata-se do grau de gravidade da doen\u00e7a gerada.<\/p>\n\n\n\n
\u201cQuanto mais virulento, mais grave \u00e9 a doen\u00e7a que pode causar\u201d, prossegue Magela. \u201cIsso serve para qualquer agente: um v\u00edrus como o da covid-19; uma bact\u00e9ria que cause uma infec\u00e7\u00e3o intestinal, por exemplo, o botulismo; da bact\u00e9ria da c\u00f3lera, o vibri\u00e3o col\u00e9rico. S\u00e3o agentes biol\u00f3gicos que interagem com fatores ambientais, qu\u00edmicos e sociais, para que sejam capazes de gerar um ambiente prop\u00edcio para que uma doen\u00e7a se instale em determinada popula\u00e7\u00e3o.\u201d<\/p>\n\n\n\n
Endemias amaz\u00f4nicas<\/h3>\n\n\n\n A Organiza\u00e7\u00e3o Mundial da Sa\u00fade mant\u00e9m uma lista de pat\u00f3genos e doen\u00e7as infecciosas priorit\u00e1rias, em termos de pesquisa e desenvolvimento, bem como na estrutura\u00e7\u00e3o da sa\u00fade p\u00fablica para poss\u00edveis contextos de emerg\u00eancia. Est\u00e3o listados o zika, o ebola; as doen\u00e7as dos Sars-1, Mers, Nipah, Henipav\u00edrus, a febre hemorr\u00e1gica Crimeia-Congo e a do Vale do Rift. No fim da lista, encontra-se a \u201cDoen\u00e7a X\u201d. Trata-se de uma poss\u00edvel e grave epidemia internacional que possa emergir de um pat\u00f3geno que atualmente n\u00e3o cause doen\u00e7as em humanos. Seria o caso, por exemplo, da covid-19, inclu\u00edda recentemente na lista. \u201cEssa Doen\u00e7a X pode ser qualquer doen\u00e7a, causada por qualquer agente, surgida em qualquer lugar, a qualquer momento. \u00c9 sempre o inesperado, como aconteceu com a emerg\u00eancia desse v\u00edrus em Wuhan, na China\u201d, explica Magela.<\/p>\n\n\n\n
\u201cOs desmatamentos agudos muito abruptos geram sempre um desequil\u00edbrio entre os mosquitos e os reservat\u00f3rios que usam para o repasto sangu\u00edneo, porque esses reservat\u00f3rios fogem. Ent\u00e3o, o mosquito acaba tendo o homem como fonte de seu repasto sangu\u00edneo\u201d<\/p>\n\n\n\n
\u201cEm um primeiro momento, as pessoas que vivem ali, na margem da floresta devastada, \u00e9 que ser\u00e3o os alvos da doen\u00e7a. Com o tempo, a popula\u00e7\u00e3o passa a habitar aquele local, que vira a periferia de uma cidade onde o agente pode se espalhar. Dali a um tempo, que n\u00e3o temos como prever, pode ser que tenhamos um problema de magnitude maior. \u00c9 uma quest\u00e3o sempre presente na Amaz\u00f4nia.\u201d<\/p>\n\n\n\n
O infectologista destaca a preocupa\u00e7\u00e3o com doen\u00e7as que j\u00e1 se tornaram end\u00eamicas na regi\u00e3o. A mal\u00e1ria, por exemplo, tem como vetor um mosquito com h\u00e1bito silvestre, o Anopheles darlingi, \u201cmas o homem [na Amaz\u00f4nia] vive muito pr\u00f3ximo da floresta e \u00e9 imposs\u00edvel evitar que entre em contato\u201d. H\u00e1 tamb\u00e9m a leishmaniose, v\u00edrus de cinco tipos de hepatites, filarioses, parasitoses intestinais e raiva humana, por exemplo.<\/p>\n\n\n\n
Al\u00e9m do mais, as arboviroses s\u00e3o foco constante de aten\u00e7\u00e3o. Magela observa que existem mais de 400 arbov\u00edrus conhecidos na Amaz\u00f4nia. \u201cDesses, uns 200 j\u00e1 s\u00e3o capazes de causar doen\u00e7as no homem que entra em contato com a floresta. Temos descritos em torno de 100, sobre os quais conhecemos as fam\u00edlias de v\u00edrus e as doen\u00e7as que podem causar\u201d, contextualiza o m\u00e9dico. As patologias podem ser uma doen\u00e7a febril indiferenciada, uma febril exantem\u00e1tica \u2013 com manchas na pele \u2013, uma encefalite; ou, nos casos mais graves, febre hemorr\u00e1gica, pontua o infectologista.<\/p>\n\n\n\n
Para Magela, existe a possibilidade de o v\u00edrus da febre amarela se estender do ambiente silvestre para o urbano, uma vez que o Aedes aegypti habita cidades que adentram cada vez mais as florestas, \u201capesar de existir uma vacina conhecida bastante segura e eficaz\u201d.<\/p>\n\n\n\n
At\u00e9 hoje, nenhuma zoonose de origem amaz\u00f4nica extravasou as fronteiras da floresta tropical em surtos de grandes propor\u00e7\u00f5es. Mas, diante da perturba\u00e7\u00e3o dos ecossistemas e dos deslocamentos humanos, existe um risco permanente de eclodir uma zoonose de grande potencial.<\/p>\n\n\n\n
\u201cNo mundo globalizado, pessoas, bens de consumo e todo tipo de produto circulam pelo mundo em grandes extens\u00f5es e velocidade \u2013 e isso vale tamb\u00e9m para os agentes infecciosos\u201d, explica Magela. \u201cEles podem sair, sim, da Amaz\u00f4nia e se manifestar em qualquer lugar do mundo, assim como pode tamb\u00e9m ocorrer o inverso. Pode sair de qualquer pa\u00eds do mundo e se manifestar aqui na Amaz\u00f4nia ou em qualquer estado brasileiro.\u201d<\/p>\n\n\n\n
A chave para evitar Zoonoses de grandes propor\u00e7\u00f5es consiste no fortalecimento da vigil\u00e2ncia epidemiol\u00f3gica, a n\u00edvel municipal, estadual, federal e mundial, acredita Magela.<\/p>\n\n\n\n
Vigil\u00e2ncia epidemiol\u00f3gica<\/h3>\n\n\n\n Por que ainda n\u00e3o ocorreu uma epidemia de grandes propor\u00e7\u00f5es, at\u00e9 pand\u00eamica, originada na Amaz\u00f4nia? \u201cNa verdade, s\u00e3o v\u00edrus que est\u00e3o dentro desses ciclos silvestres. Portanto, d\u00e3o-se em uma baixa transmiss\u00e3o por estarem em \u00e1reas grandes, com diversas esp\u00e9cies hospedeiras\u201d, explica Marcia Chame, pesquisadora da Fiocruz. \u201cEm todo esse processo de transmiss\u00e3o, nossa grande preocupa\u00e7\u00e3o \u00e9 a capacidade de adapta\u00e7\u00e3o ao ambiente urbano tanto de vetores quanto dos v\u00edrus e de outros parasitos.\u201d<\/p>\n\n\n\n
Atualmente, as maiores preocupa\u00e7\u00f5es quanto a endemias no pa\u00eds s\u00e3o os quatro v\u00edrus da dengue, o zika e o chikungunya, pontua Chame. Tratam-se de arboviroses, doen\u00e7as provenientes de v\u00edrus nascidos de artr\u00f3podes que precisam de esp\u00e9cies vetoras como intermedi\u00e1rias no ciclo da doen\u00e7a.<\/p>\n\n\n\n
Outro foco de aten\u00e7\u00e3o da vigil\u00e2ncia epidemiol\u00f3gica \u00e9 a febre amarela. Chame trabalha em um estudo pelo Programa Institucional de Biodiversidade e Sa\u00fade, em parceria com o Laborat\u00f3rio Nacional de Computa\u00e7\u00e3o Cient\u00edfica, com o objetivo de correlacionar os fatores que contribu\u00edram para os surtos de febre amarela que acontecem desde 2017 no Brasil. Os pesquisadores utilizam modelos matem\u00e1ticos nas an\u00e1lises em uma base de dados com 40 mil caracter\u00edsticas ambientais, de infraestrutura e densidade urbana.<\/p>\n\n\n\n
\u201cO modelo, por mais complexo que seja, simplifica a natureza\u201d, pondera a bi\u00f3loga. \u201cN\u00f3s usamos casos humanos de febre amarela, mas utilizamos os primatas como grandes indicadores da circula\u00e7\u00e3o da doen\u00e7a. Hoje, sabemos que onde primatas come\u00e7am a morrer, o v\u00edrus j\u00e1 est\u00e1 circulando naquela regi\u00e3o e come\u00e7amos a ter os primeiro casos [em humanos] quase dois meses depois da primeira morte de macacos.\u201d<\/p>\n\n\n\n
Para agregar a complexidade da natureza aos sofisticados modelos matem\u00e1ticos do estudo, o programa conta com o Sistema de Informa\u00e7\u00e3o em Sa\u00fade Silvestre (SISS-GEO), uma plataforma computacional que permite que cidad\u00e3os reportem, por meio de um aplicativo de celular, \u201cagravos na fauna silvestre\u201d, a exemplo da morte de animais como macacos, morcegos e roedores.<\/p>\n\n\n\n
Com informa\u00e7\u00f5es georreferenciadas e coleta das amostras biol\u00f3gicas, os pesquisadores estabelecem os \u201ccorredores ecol\u00f3gicos\u201d por onde a transmiss\u00e3o caminha. \u201cAs \u00e1reas de agricultura e pecu\u00e1ria pr\u00f3ximas a ambientes naturais, principalmente junto a montanhas e ao longo do leito de rios e de estradas, acabam sendo corredores de dispers\u00e3o da febre amarela\u201d, observa Chame. \u201cQuando esses corredores encontram uma grande \u00e1rea conservada, de mais de 100 mil hectares, a rapidez com que a febre amarela se espalha diminui de uma forma bastante importante. Mas pessoas est\u00e3o cada vez mais entrando, desmatando, fazendo condom\u00ednios, colocando-se na beira da mata. Elas ficam expostas e a popula\u00e7\u00e3o de primatas que permanece dentro desses fragmentos \u00e9 pequena. Ent\u00e3o, esse ciclo extravasa o ambiente e os hospedeiros silvestres para as pessoas nessas \u00e1reas.\u201d<\/p>\n\n\n\n
No final de 2019, o SISS-GEO passou a integrar o Sistema \u00danico de Sa\u00fade, a fim de auxiliar na vigil\u00e2ncia de zoonoses no pa\u00eds. Antes, os profissionais de sa\u00fade recebiam os alertas por telefone ou, mais recentemente, aplicativos de mensagens. Os avisos s\u00e3o feitos, por exemplo, por funcion\u00e1rios de parques ecol\u00f3gicos, profissionais de sa\u00fade ou pelos pr\u00f3prios cidad\u00e3os. Mas nem sempre a localiza\u00e7\u00e3o exata de um animal morto era fornecida. Isso dificultava no deslocamento de equipes para a coleta da amostra biol\u00f3gica de v\u00edrus de RNA, que somem pouco tempo depois da morte de um animal infectado.<\/p>\n\n\n\n
No SISS-GEO, o usu\u00e1rio registra uma foto do animal e detalha as informa\u00e7\u00f5es enquanto a notifica\u00e7\u00e3o \u00e9 georreferenciada via sat\u00e9lite. Quando a pessoa entra em uma \u00e1rea com rede de telefonia, o registro \u00e9 enviado ao Minist\u00e9rio de Sa\u00fade e secretarias estaduais e municipais. Os profissionais desses \u00f3rg\u00e3os, ent\u00e3o, fazem uma avalia\u00e7\u00e3o taxon\u00f4mica para identificar a esp\u00e9cie do animal e elaboram o roteiro da coleta.<\/p>\n\n\n\n
\u201cQuando as pessoas ajudam e temos v\u00e1rias informa\u00e7\u00f5es, \u00e9 poss\u00edvel construir essa rota para onde o v\u00edrus est\u00e1 se dispersando e, pelas caracter\u00edsticas ambientais e dos corredores ecol\u00f3gicos, indicar quais s\u00e3o os munic\u00edpios \u00e0 frente que devem intensificar o processo de vacina\u00e7\u00e3o da febre amarela\u201d, ressalta Chame. \u201cAssim, quando esse v\u00edrus chegar, aquela popula\u00e7\u00e3o humana j\u00e1 estar\u00e1 imunizada.\u201d<\/p>\n\n\n\n
A integra\u00e7\u00e3o do SISS-GEO \u00e0 vigil\u00e2ncia epidemiol\u00f3gica brasileira j\u00e1 surtiu efeito pr\u00e1tico. O monitoramento do Minist\u00e9rio da Sa\u00fade identificou a circula\u00e7\u00e3o do v\u00edrus da febre amarela entre julho e outubro de 2019, em S\u00e3o Paulo e no Paran\u00e1. As confirma\u00e7\u00f5es aumentaram a partir de novembro e identificou-se que a dispers\u00e3o do v\u00edrus ocorria em dire\u00e7\u00e3o \u00e0 regi\u00e3o Sul e ao oeste do Paran\u00e1. De julho de 2019 a maio de 2020, a Secretaria de Vigil\u00e2ncia em Sa\u00fade recebeu 2.936 notifica\u00e7\u00f5es de doen\u00e7as em primatas n\u00e3o-humanos no pa\u00eds, 61% delas na regi\u00e3o Sul. Neste per\u00edodo, 348 epizootias foram confirmadas em Santa Catarina, Paran\u00e1 e S\u00e3o Paulo.<\/p>\n\n\n\n
Os primeiros casos da doen\u00e7a em humanos foram detectados em Santa Catarina, em janeiro de 2020. Nos dois primeiros meses do ano ocorreram os picos de transmiss\u00e3o, conforme o boletim epidemiol\u00f3gico de maio do Minist\u00e9rio da Sa\u00fade. O Minist\u00e9rio, ent\u00e3o, iniciou uma campanha de vacina\u00e7\u00e3o que abrangeu munic\u00edpios das regi\u00f5es que seriam mais afetadas pela circula\u00e7\u00e3o do v\u00edrus e de \u00e1reas vizinhas, nos estados do Rio Grande do Sul, Paran\u00e1, Santa Catarina, S\u00e3o Paulo, Mato Grosso do Sul e Par\u00e1. Com isso, apenas 17 pessoas tiveram febre amarela entre julho de 2019 a maio de 2020, 14 delas se recuperaram e tr\u00eas vieram a \u00f3bito, segundo o Minist\u00e9rio da Sa\u00fade.<\/p>\n\n\n\n
No boletim, a pasta ressaltou que o uso do aplicativo do SISS-GEO \u201cpossibilitou definir \u00e1reas priorit\u00e1rias para a\u00e7\u00f5es de vigil\u00e2ncia e imuniza\u00e7\u00e3o com maior acur\u00e1cia, a partir da metodologia de previs\u00e3o dos corredores ecol\u00f3gicos favor\u00e1veis \u00e0 dispers\u00e3o do v\u00edrus na regi\u00e3o Sul\u201d.<\/p>\n\n\n\n
\u201cPela primeira vez conseguimos estar \u00e0 frente dos casos de febre amarela, embora ainda continuem acontecendo\u201d, aponta Chame.<\/p>\n\n\n\n
Fonte: National Geographic Brasil<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
Perturba\u00e7\u00e3o dos ecossistemas \u00e9 o fator principal na passagem de doen\u00e7as de animais para seres humanos. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":160043,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[54,481,4539],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/160042"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=160042"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/160042\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":160046,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/160042\/revisions\/160046"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/160043"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=160042"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=160042"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=160042"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}