{"id":160858,"date":"2020-06-29T12:30:00","date_gmt":"2020-06-29T15:30:00","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=160858"},"modified":"2020-06-28T22:12:49","modified_gmt":"2020-06-29T01:12:49","slug":"os-humanos-nao-estao-preparados-para-proteger-a-natureza","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2020\/06\/29\/160858-os-humanos-nao-estao-preparados-para-proteger-a-natureza.html","title":{"rendered":"“Os humanos n\u00e3o est\u00e3o preparados para proteger a natureza”"},"content":{"rendered":"\n

Em entrevista \u00e0 DW, fil\u00f3sofo Peter Sloterdijk, afirma que a humanidade est\u00e1 aprendendo uma nova “gram\u00e1tica comportamental” para lidar com as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas e v\u00ea elementos dela na rea\u00e7\u00e3o global ao coronav\u00edrus.<\/p>\n\n\n\n

\"\"
Segundo o pensador Peter Sloterdijk, estamos vivendo um per\u00edodo de inoc\u00eancia perdida<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

A humanidade passa por um per\u00edodo de inoc\u00eancia perdida do ponto de vista ambiental e est\u00e1 aprendendo a mudar a “gram\u00e1tica do seu comportamento”, avalia o fil\u00f3sofo alem\u00e3o Peter Sloterdijk, em entrevista \u00e0 DW.<\/p>\n\n\n\n

“Ainda estamos desconfort\u00e1veis no n\u00edvel da mudan\u00e7a lexical. Estamos agora aprendendo novos termos, um novo vocabul\u00e1rio, mas, aos poucos, tamb\u00e9m aprenderemos uma nova gram\u00e1tica”, afirma.<\/p>\n\n\n\n

Mudan\u00e7a, para Sloterdijk, nada mais \u00e9 do que o nome atual para o que a filosofia cl\u00e1ssica chamava de devir, pois tudo o que existe n\u00e3o existe em formas est\u00e1veis e eternas, mas precisa se tornar o que \u00e9.<\/p>\n\n\n\n

Segundo o fil\u00f3sofo, um dos pensadores mais influentes da Alemanha, modernidade \u00e9, em ess\u00eancia, interferir nesse processo de tornar-se e empurr\u00e1-lo para uma dire\u00e7\u00e3o que se encaixe melhor com os prop\u00f3sitos humanos.<\/p>\n\n\n\n

Em entrevista \u00e0 DW, o autor de dezenas de livros que percorrem toda a gama da investiga\u00e7\u00e3o filos\u00f3fica, dedica algumas reflex\u00f5es a respeito da dificuldade dos seres humanos para mudar e o que isso tem a ver com a atual crise clim\u00e1tica. <\/p>\n\n\n\n

DW: Ent\u00e3o estamos todos em constante mudan\u00e7a?<\/h3>\n\n\n\n

Peter Sloterdijk: Sim. A natureza como tal \u00e9 uma entidade automut\u00e1vel. E tudo o que nos resta \u00e9, por assim dizer, continuar surfando na onda da mudan\u00e7a.<\/p>\n\n\n\n

Quando se olha para o futuro, e se v\u00ea essa onda cada vez devido ao perigo das mudan\u00e7as clim\u00e1ticas, h\u00e1 algumas grandes mudan\u00e7as que temos que adotar, como esp\u00e9cie. E ainda assim parece que, no momento, n\u00e3o somos capazes de execut\u00e1-las. Por qu\u00ea?<\/h3>\n\n\n\n

Os seres humanos n\u00e3o est\u00e3o preparados para proteger a natureza, em nenhum sentido. Porque em toda a nossa hist\u00f3ria como esp\u00e9cie, nossa convic\u00e7\u00e3o mais profunda sempre foi a de que somos n\u00f3s que devemos ser protegidos pelos poderes da natureza. E n\u00e3o estamos realmente preparados para essa invers\u00e3o. Assim como um beb\u00ea n\u00e3o pode carregar sua m\u00e3e, os seres humanos n\u00e3o est\u00e3o preparados \u2013 ou n\u00e3o s\u00e3o capazes \u2013 de carregar a natureza. Eles precisam aprender a lidar com essa imensid\u00e3o. Isso \u00e9 um grande desafio, porque n\u00e3o existe mais a desculpa cl\u00e1ssica de que somos muito pequenos para lidar com essas imensidades.<\/p>\n\n\n\n

Seria um certo narcisismo que impede isso? Qual \u00e9 o problema?<\/h3>\n\n\n\n

Sinto que \u00e9 um problema de dimens\u00f5es. Somos fisiologicamente quase incapazes de entender os resultados de nosso pr\u00f3prio comportamento \u2013 e as consequ\u00eancias disso s\u00e3o enormes. Estamos profundamente convencidos de que tudo o que fazemos pode e deve ser perdoado. Do ponto de vista ambiental, estamos vivendo um per\u00edodo de inoc\u00eancia perdida.<\/p>\n\n\n\n

Ent\u00e3o estamos todos, em uma escala planet\u00e1ria, procurando por uma sensa\u00e7\u00e3o de perd\u00e3o? Queremos nos purificar do que fizemos?<\/h3>\n\n\n\n

E haver\u00e1 muitos pecados a serem perdoados. E quanto mais compreendermos isso, maior ser\u00e1 a probabilidade de um dia desenvolvermos padr\u00f5es de comportamento para lidar com a nova situa\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Nossa resposta \u00e0 pandemia foi imediata, foi r\u00e1pida e unificada de uma forma quase inacredit\u00e1vel. J\u00e1 a nossa resposta \u00e0 crise clim\u00e1tica parece travada ou estagnada. H\u00e1 uma maneira de encarar essas duas formas de crise de forma semelhante?<\/h3>\n\n\n\n

O que a resposta ao coronav\u00edrus tem provado \u00e9 que a globaliza\u00e7\u00e3o atrav\u00e9s da m\u00eddia \u00e9 um projeto quase concretizado. O mundo inteiro \u00e9 mais ou menos sincronizado e coopera numa estufa de not\u00edcias contagiosas. A infec\u00e7\u00e3o por informa\u00e7\u00e3o \u00e9 t\u00e3o forte quanto a infec\u00e7\u00e3o pelo v\u00edrus, na verdade ainda mais. E, assim, temos duas pandemias concomitantes: uma do medo e outra do cont\u00e1gio real.<\/p>\n\n\n\n

O senhor diz que a modernidade nos impediu de tornarmo-nos o que somos. Podemos mudar o que somos?<\/h3>\n\n\n\n

Sim. Eu n\u00e3o acho que possamos mudar nosso DNA simplesmente mudando nossos pensamentos. Mas podemos mudar a gram\u00e1tica do nosso comportamento. E \u00e9 isso o que o s\u00e9culo 21 ensinar\u00e1 \u00e0 comunidade global.<\/p>\n\n\n\n

O que isso significa?<\/h3>\n\n\n\n

Tudo o que fazemos adere a uma estrutura \u2013 semelhante a uma linguagem. E a a\u00e7\u00e3o \u00e9 algo governado por estruturas ocultas, como todas as frases que produzimos s\u00e3o regidas pela gram\u00e1tica e pelo l\u00e9xico. E acho que ainda estamos desconfort\u00e1veis no n\u00edvel da mudan\u00e7a lexical. Estamos agora aprendendo novos termos, um novo vocabul\u00e1rio, mas, aos poucos, tamb\u00e9m aprenderemos uma nova gram\u00e1tica.<\/p>\n\n\n\n

Estamos, portanto, no processo de unir os blocos sem\u00e2nticos da linguagem. O senhor acha que conseguiremos falar antes que a destrui\u00e7\u00e3o anunciada se torne realidade?<\/h3>\n\n\n\n

O que achei especialmente impressionante no comportamento das massas durante essa crise \u00e9 a incr\u00edvel obedi\u00eancia com que vastas partes da popula\u00e7\u00e3o no Ocidente \u2013 assim como no Oriente \u2013 estiveram prontas para obedecer \u00e0s novas regras de precau\u00e7\u00e3o e distanciamento. Estes j\u00e1 s\u00e3o novos elementos de uma nova gram\u00e1tica social.<\/p>\n\n\n\n

Mas isso tamb\u00e9m pode ser assustador, certo? Que n\u00f3s, em quest\u00e3o de semanas, fomos capazes de abrir m\u00e3o de liberdades extremamente b\u00e1sicas.<\/p>\n\n\n\n

Ah, sim. Ao mesmo tempo, isso mostra que n\u00e3o devemos subestimar a maleabilidade do elemento humano. Mas quem pode saber quanto tempo esse comportamento paciente vai durar. Acho que devemos continuar nossas reflex\u00f5es daqui a um ano, mais ou menos. Eu ficaria surpreso se, at\u00e9 l\u00e1, voc\u00ea n\u00e3o tiver aprendido mais.<\/p>\n\n\n\n

Sobre o elemento humano: a nossa resposta ao coronav\u00edrus \u2013 algo com o que ningu\u00e9m havia se deparado at\u00e9 ent\u00e3o \u2013 mudou de alguma forma a percep\u00e7\u00e3o que o senhor tem da humanidade?<\/h3>\n\n\n\n

Sim e n\u00e3o. Certamente estou t\u00e3o surpreso quanto muitos outros. Mas, ao mesmo tempo, isso tamb\u00e9m confirma algo que venho desenvolvendo h\u00e1 d\u00e9cadas num n\u00edvel te\u00f3rico. O que quero dizer \u00e9 que isso confirma minha suposi\u00e7\u00e3o de que a ra\u00e7a humana alcan\u00e7ou uma situa\u00e7\u00e3o de sincronicidade com base num fluxo de informa\u00e7\u00f5es. Estamos mesmo globalmente conectados e vivendo cada vez mais na mesma dimens\u00e3o de tempo. Existe algo como a presen\u00e7a perene da globaliza\u00e7\u00e3o, e isso tem sido uma caracter\u00edstica importante dessa crise. Tudo acontece mais ou menos ao mesmo tempo. E as \u00fanicas diferen\u00e7as que vemos s\u00e3o atrasos entre diferentes focos de eventos. Mas, no geral, h\u00e1 uma grande cadeia de eventos e conex\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Num n\u00edvel pessoal, o senhor consegue se lembrar da \u00faltima vez que percebeu uma mudan\u00e7a dentro de si mesmo?<\/h3>\n\n\n\n

Sim, experimentei uma profunda mudan\u00e7a no meu humor existencial aos 33 anos. Fui \u00e0 \u00cdndia e passei aproximadamente quatro meses por l\u00e1. Foi um evento perturbador em minha vida. Mas o evento mais parecido e mais compar\u00e1vel com o que ocorre agora, por mais incr\u00edvel que isso soe, foram os dias sublimes da queda do Muro de Berlim. Durante um per\u00edodo de aproximadamente dois meses, eu n\u00e3o estava em condi\u00e7\u00f5es de ouvir ou ver nada al\u00e9m de not\u00edcias do fronte pol\u00edtico.<\/p>\n\n\n\n

E isso foi a, por assim dizer, sublime m\u00fasica da Reunifica\u00e7\u00e3o. E quando ela terminou, eu s\u00f3 fui entender que havia terminado quando pude assistir a um filme comum pela primeira vez depois daquilo tudo. E agora ainda estou esperando o momento em que poderei escutar m\u00fasica e assistir a filmes como fazia antes.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: Deutsche Welle<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Em entrevista \u00e0 DW, fil\u00f3sofo Peter Sloterdijk, afirma que a humanidade est\u00e1 aprendendo uma nova “gram\u00e1tica comportamental” para lidar com as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas e v\u00ea elementos dela na rea\u00e7\u00e3o global ao coronav\u00edrus. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":160859,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[935,2815],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/160858"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=160858"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/160858\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":160860,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/160858\/revisions\/160860"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/160859"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=160858"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=160858"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=160858"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}