{"id":161109,"date":"2020-07-10T17:00:31","date_gmt":"2020-07-10T20:00:31","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=161109"},"modified":"2020-07-10T13:42:28","modified_gmt":"2020-07-10T16:42:28","slug":"algumas-arvores-praticam-distanciamento-social-para-evitar-doencas","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2020\/07\/10\/161109-algumas-arvores-praticam-distanciamento-social-para-evitar-doencas.html","title":{"rendered":"Algumas \u00e1rvores praticam \u201cdistanciamento social\u201d para evitar doen\u00e7as"},"content":{"rendered":"\n

Muitos doss\u00e9is de florestas apresentam misteriosos espa\u00e7os vazios, fen\u00f4meno chamado \u201ctimidez entre \u00e1rvores\u201d, que pode ajudar as \u00e1rvores a compartilhar recursos e permanecer saud\u00e1veis.<\/p>\n\n\n\n

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\u00c1rvores como a c\u00e2nfora-de-born\u00e9u (Dryobalanops aromatica) exibem a timidez entre \u00e1rvores no Instituto de Pesquisa Florestal da Mal\u00e1sia. O fen\u00f4meno ocorre em algumas esp\u00e9cies de \u00e1rvores com espa\u00e7os vazios no dossel que impedem que os galhos se toquem, formando lacunas semelhantes a canais.
FOTO DE IAN TEH, NATIONAL GEOGRAPHIC<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Em um dia quente de mar\u00e7o de 1982, o bi\u00f3logo Francis \u201cJack\u201d Putz resolveu descansar sob um bosque de siri\u00fabas para fugir do calor da tarde. Sonolento, ap\u00f3s o almo\u00e7o e horas de pesquisa de campo no Parque Nacional Guanacaste, na Costa Rica, Putz decidiu se deitar para uma breve soneca.<\/p>\n\n\n\n

Ao olhar para o alto, o vento agitou as copas das siri\u00fabas sobre ele, fazendo com que os ramos das \u00e1rvores vizinhas ro\u00e7assem e arrancassem partes de suas folhas e galhos mais expostos. Putz notou que essa poda rec\u00edproca havia deixado brechas de espa\u00e7o vazio por todo dossel.<\/p>\n\n\n\n

Essa rede de espa\u00e7os entre as copas das \u00e1rvores, denominada \u201ctimidez entre \u00e1rvores\u201d, foi documentada em florestas em todo o mundo. S\u00e3o abundantes esses vazios na vegeta\u00e7\u00e3o em manguezais da Costa Rica e at\u00e9 nas imponentes c\u00e2nforas-de-born\u00e9u na Mal\u00e1sia. Mas os cientistas ainda n\u00e3o sabem ao certo por que \u00e9 comum as copas das \u00e1rvores evitarem o contato.<\/p>\n\n\n\n

Sob as siri\u00fabas, h\u00e1 40 anos, prestes a cochilar ap\u00f3s o almo\u00e7o, Putz presumiu que as \u00e1rvores tamb\u00e9m precisam de seu espa\u00e7o individual \u2014 uma no\u00e7\u00e3o importante para desvendar a origem da timidez dos ramos.<\/p>\n\n\n\n

\u201cEu sempre fa\u00e7o grandes descobertas na hora da soneca\u201d, conta ele.<\/p>\n\n\n\n

Hoje, cada vez mais estudos confirmam as observa\u00e7\u00f5es iniciais de Putz e seus colegas. O vento, ao que parece, desempenha um papel crucial ao ajudar muitas \u00e1rvores a manter dist\u00e2ncia. Os limites esculpidos pelos galhos batendo podem aumentar o acesso das plantas a recursos como a luz. Os espa\u00e7os entre as copas das \u00e1rvores podem at\u00e9 impedir a propaga\u00e7\u00e3o de insetos que mastigam folhas, trepadeiras parasitas ou fitopatologias.<\/p>\n\n\n\n

De certa forma, a timidez entre \u00e1rvores \u00e9 a vers\u00e3o arb\u00f3rea do distanciamento social, afirma Meg Lowman, bi\u00f3loga especializada em doss\u00e9is florestais e diretora da Funda\u00e7\u00e3o TREE. \u201cAssim que o contato f\u00edsico entre as plantas \u00e9 limitado, \u00e9 poss\u00edvel aumentar sua produtividade\u201d, conta ela. \u201cEssa \u00e9 a beleza do isolamento (\u2026): a \u00e1rvore protege sua pr\u00f3pria sa\u00fade.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Rusgas nas copas das \u00e1rvores<\/h3>\n\n\n\n

Embora descri\u00e7\u00f5es sobre a timidez entre \u00e1rvores tenham surgido na literatura cient\u00edfica desde a d\u00e9cada de 1920, v\u00e1rias d\u00e9cadas transcorreram at\u00e9 que os pesquisadores come\u00e7assem a investigar sistematicamente a causa do fen\u00f4meno. Alguns cientistas inicialmente formularam a hip\u00f3tese de que as \u00e1rvores simplesmente n\u00e3o estavam preenchendo os espa\u00e7os entre os doss\u00e9is devido \u00e0 falta de luz \u2014 recurso crucial \u00e0 fotoss\u00edntese \u2014 nos pontos em que a folhagem se sobrepunha.<\/p>\n\n\n\n

Mas a equipe de Putz publicou uma pesquisa em 1984 demonstrando que, em alguns casos, a timidez entre \u00e1rvores pode ser simplesmente resultado de uma batalha entre \u00e1rvores com o balan\u00e7o do vento, cada uma correndo para produzir novos ramos e conter ataques das vizinhas. Em suas pesquisas, quanto mais as siri\u00fabas balan\u00e7avam com o vento, mais afastados dos vizinhos ficavam os doss\u00e9is \u2014 esses foram alguns dos primeiros resultados que confirmam essa hip\u00f3tese de atrito a explicar as disposi\u00e7\u00f5es das copas das \u00e1rvores.<\/p>\n\n\n\n

Cerca de duas d\u00e9cadas depois, uma equipe liderada por Mark Rudnicki, bi\u00f3logo da Universidade Tecnol\u00f3gica de Michigan, mediu a for\u00e7a das colis\u00f5es entre pinheiros da esp\u00e9cie Pinus contorta em Alberta, Canad\u00e1. Eles descobriram que florestas expostas ao vento repletas de troncos altos e estreitos de estatura semelhante eram especialmente propensas \u00e0 timidez entre \u00e1rvores. E quando Rudnicki e sua equipe utilizaram cordas de n\u00e1ilon para impedir os choques entre pinheiros vizinhos, as plantas entrela\u00e7aram suas copas, preenchendo os espa\u00e7os entre as copas adjacentes.<\/p>\n\n\n\n

Outros cientistas encontraram ind\u00edcios de que provavelmente existem diversas causas para a timidez entre \u00e1rvores, algumas talvez menos agressivas do que essas rusgas ao vento. Por exemplo, Rudnicki afirma que algumas \u00e1rvores podem ter aprendido a interromper o desenvolvimento de suas extremidades por completo, cientes de que qualquer nova folhagem seria arrancada.<\/p>\n\n\n\n

As \u00e1rvores poderiam, assim, evitar danos desnecess\u00e1rios, afirma In\u00e9s Ib\u00e1\u00f1ez, ecologista florestal da Universidade de Michigan. \u201cO desenvolvimento de novos tecidos \u00e9 muito custoso \u00e0s plantas (\u2026). \u00c9 como se as \u00e1rvores se precavessem: n\u00e3o vale a pena desenvolver as extremidades.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Algumas \u00e1rvores podem ser capazes de levar essa cautela um passo adiante utilizando um sistema sensorial especializado para detectar subst\u00e2ncias qu\u00edmicas emitidas por plantas pr\u00f3ximas. \u201cH\u00e1 um n\u00famero cada vez maior de estudos cient\u00edficos que trata da consci\u00eancia vegetal\u201d, afirma Marlyse Duguid, silvicultora e horticultora da Universidade de Yale. Os dados sobre a comunica\u00e7\u00e3o qu\u00edmica em plantas lenhosas s\u00e3o escassos, mas se as \u00e1rvores podem perceber a presen\u00e7a umas das outras, podem ser capazes de interromper o crescimento do dossel antes de serem for\u00e7adas a lutar.<\/p>\n\n\n\n

As vantagens do espa\u00e7o individual<\/h3>\n\n\n\n

Qualquer que seja a origem da timidez entre \u00e1rvores, a separa\u00e7\u00e3o provavelmente traz benef\u00edcios. \u201cAs folhas s\u00e3o como os diamantes mais caros de uma \u00e1rvore \u2014 \u00e9 preciso proteg\u00ea-las a todo custo\u201d, afirma Lowman. \u201cSe um grupo inteiro for eliminado, \u00e9 um grande baque para a \u00e1rvore.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Folhagens mais esparsas tamb\u00e9m podem ajudar a luz solar a chegar ao ch\u00e3o da floresta, nutrindo as plantas e animais que, por sua vez, sustentam a vida arb\u00f3rea. Putz acredita que as lacunas podem at\u00e9 ajudar as \u00e1rvores a evitar trepadeiras lenhosas invasoras conhecidas como cip\u00f3s \u2014comuns em florestas tropicais e temperadas em todo o mundo \u2014 ou a proteger a vegeta\u00e7\u00e3o contra micr\u00f3bios causadores de doen\u00e7as e insetos que n\u00e3o voam que usam as copas para passar para outras \u00e1rvores (alguns germes e insetos ainda conseguem teoricamente pular para outras \u00e1rvores quando a brisa as faz se tocarem).<\/p>\n\n\n\n

Entretanto ainda n\u00e3o existem provas definitivas de que a timidez entre \u00e1rvores oferece muitas dessas poss\u00edveis vantagens. Os doss\u00e9is florestais \u2014 as copas de algumas das \u00e1rvores mais altas do mundo \u2014 n\u00e3o s\u00e3o f\u00e1ceis de estudar, afirma Lowman, uma autoproclamada \u201carbonauta\u201d e uma das raras cientistas dedicada ao estudo das copas. Examinar as copas das \u00e1rvores requer uma certa medida de escalada, equil\u00edbrio e coragem. \u201cA maior dificuldade \u00e9 enfrentar a gravidade para alcan\u00e7ar essas alturas\u201d, afirma ela.<\/p>\n\n\n\n

Ainda assim, desprezar o dossel de uma \u00e1rvore \u00e9 como tentar entender o corpo humano apenas da cintura para baixo, explica Lowman. As coroas das \u00e1rvores s\u00e3o repletas de vida \u2014 e grande parte dessa biodiversidade ainda pode permanecer desconhecida, sobretudo nos tr\u00f3picos.<\/p>\n\n\n\n

Felizmente, a timidez entre \u00e1rvores \u201cn\u00e3o requer pegar um avi\u00e3o\u201d, brinca Putz. \u201cAcontece por toda parte \u2014 e olhar para o alto e observar as \u00e1rvores \u00e9 uma sensa\u00e7\u00e3o enriquecedora.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Fonte: National Geographic Brasil<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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