\u00c1rea de floresta queimada no estado do Par\u00e1, Brasil, na bacia amaz\u00f4nica, em 27 de agosto de 2019. O mesmo aquecimento oce\u00e2nico que intensifica a temporada de furac\u00f5es no Atl\u00e2ntico tamb\u00e9m deixa a Amaz\u00f4nia mais \u00e1rida, provocando mais inc\u00eandios.
FOTO DE JOAO LAET, AFP\/GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\nA temporada de inc\u00eandios de 2020 na floresta amaz\u00f4nica pode ser muito mais rigorosa do que em 2019 e um dos motivos dessa piora s\u00e3o as mesmas condi\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas que intensificam a temporada de furac\u00f5es no hemisf\u00e9rio norte, segundo pesquisadores.<\/p>\n\n\n\n
Em agosto passado, uma s\u00e9rie de grandes inc\u00eandios provocados pelo homem na Amaz\u00f4nia lan\u00e7ou nuvens de fuma\u00e7a sobre a cidade de S\u00e3o Paulo, transformando o dia em noite, e gerou protestos internacionais. Mas embora esses inc\u00eandios tenham sido incomuns e alarmantes, a situa\u00e7\u00e3o poderia ter sido ainda pior se a Amaz\u00f4nia estivesse em \u00e9poca de estiagem.<\/p>\n\n\n\n
Mas, neste ano, infelizmente, condi\u00e7\u00f5es mais secas do que a m\u00e9dia s\u00e3o exatamente o que est\u00e1 previsto para o sul da Amaz\u00f4nia e um dos motivos \u00e9 o aumento extraordin\u00e1rio de calor no Atl\u00e2ntico Tropical Norte, a milhares de quil\u00f4metros de dist\u00e2ncia.<\/p>\n\n\n\n
Esse calor oce\u00e2nico tamb\u00e9m fez com que a temporada de furac\u00f5es no Atl\u00e2ntico batesse recordes logo de in\u00edcio: um pren\u00fancio das previs\u00f5es para uma temporada extraordinariamente tumultuada. Algumas pesquisas sugerem existir uma rela\u00e7\u00e3o causal entre os pr\u00f3prios furac\u00f5es e os piores anos de inc\u00eandios na Amaz\u00f4nia \u2014 embora isso seja assunto de maior debate.<\/p>\n\n\n\n
\u201cAcredito que o oceano esteja acentuando ambos os fen\u00f4menos\u201d, afirma Chris Landsea, pesquisador meteorologista do Centro Nacional de Furac\u00f5es da Administra\u00e7\u00e3o Nacional Oce\u00e2nica e Atmosf\u00e9rica dos Estados Unidos. \u201cEst\u00e1 provocando anos de furac\u00f5es no Atl\u00e2ntico e, ao mesmo tempo, aumentando a vulnerabilidade a inc\u00eandios na Amaz\u00f4nia\u201d.<\/p>\n\n\n\n
Uma tempestade de fogo perfeita<\/h3>\n\n\n\n
Doug Morton, cientista de Geoci\u00eancias da Nasa que foi um dos desenvolvedores da previs\u00e3o de inc\u00eandios sazonais na Amaz\u00f4nia, afirma que a floresta equatorial enfrentar\u00e1 neste ano uma \u201ctempestade perfeita\u201d em termos de suscetibilidade a inc\u00eandios provocada por fatores como o aumento no desmatamento \u2014 um importante elemento causador de inc\u00eandios na Amaz\u00f4nia \u2014 e padr\u00f5es oce\u00e2nicos e atmosf\u00e9ricos mais abrangentes nos oceanos e na atmosfera que podem causar estiagens.<\/p>\n\n\n\n
No primeiro semestre de 2020, estima-se que mais de tr\u00eas mil quil\u00f4metros quadrados de floresta tenha sido desmatada \u2014 um aumento de 25% em compara\u00e7\u00e3o com o primeiro semestre de 2019. Jos Barlow, cientista de conserva\u00e7\u00e3o da Universidade de Lancaster, afirma que, se persistir o ritmo acelerado do desmatamento, mais de 15 mil quil\u00f4metros quadrados de floresta poder\u00e3o ser derrubados at\u00e9 o fim do ano, j\u00e1 que a esta\u00e7\u00e3o mais intensa de explora\u00e7\u00e3o de madeira est\u00e1 apenas come\u00e7ando. Seria a maior taxa de desmatamento desde 2005.<\/p>\n\n\n\n
Geralmente, queimadas s\u00e3o um recurso utilizado por produtores rurais na Amaz\u00f4nia para limpar a terra para uso na agropecu\u00e1ria, embora muitos inc\u00eandios tamb\u00e9m sejam ateados por invasores em florestas p\u00fablicas em uma tentativa de se apossar de novas terras. \u201cInfelizmente tudo indica que este ser\u00e1 mais um p\u00e9ssimo ano para o desmatamento\u201d, escreveu por e-mail Barlow. \u201cE, ao contr\u00e1rio de 2019, essas queimadas para limpeza de terra provavelmente ser\u00e3o agravadas por um clima mais \u00e1rido do que o habitual\u201d, o que significa que podem se espalhar mais r\u00e1pido, tornar-se incontrol\u00e1veis e at\u00e9 mesmo se alastrar para a mata virgem.<\/p>\n\n\n\n
Ali\u00e1s, essas previs\u00f5es de sazonalidade indicam que grandes extens\u00f5es da Amaz\u00f4nia podem ser tornar \u00e1ridas com o avan\u00e7o da esta\u00e7\u00e3o seca, compreendida entre junho e novembro. Um dos motivos disso s\u00e3o as temperaturas oce\u00e2nicas distantes ao norte, componentes essenciais que fundamentam a previs\u00e3o de inc\u00eandios desenvolvida por Morton.<\/p>\n\n\n\n
Segundo Yang Chen, cientista de Geoci\u00eancias da Universidade da Calif\u00f3rnia em Irvine, que desenvolveu a previs\u00e3o juntamente com Morton, as temperaturas no Atl\u00e2ntico Tropical Norte est\u00e3o atualmente \u201cmuito acima da m\u00e9dia\u201d. Quando essa regi\u00e3o do oceano est\u00e1 especialmente quente, \u00e9 deslocada para o norte na Zona de Converg\u00eancia Intertropical, uma massa de ar de baixa press\u00e3o que gera tempestades intensas e muita precipita\u00e7\u00e3o nos tr\u00f3picos. Se essa massa de chuva se afastar mais em dire\u00e7\u00e3o ao norte antes da chegada da esta\u00e7\u00e3o seca no sul da Amaz\u00f4nia, ela antecipar\u00e1 a esta\u00e7\u00e3o seca e provocar\u00e1 uma estiagem acima da m\u00e9dia.<\/p>\n\n\n\n
\u201cEm anos anteriores, quando o Oceano Atl\u00e2ntico Tropical Norte estava quente \u2014 em 2005 e 2010 \u2014 foram registrados recordes de estiagem na Amaz\u00f4nia\u201d, explica Morton. \u201cE com essas estiagens, vieram os inc\u00eandios.\u201d<\/p>\n\n\n\n
Uma rela\u00e7\u00e3o direta com furac\u00f5es?<\/h3>\n\n\n\n
As \u00e1guas quentes do Atl\u00e2ntico Tropical Norte tamb\u00e9m alimentam furac\u00f5es, que transferem umidade para o oeste e depois para o norte nos ventos predominantes, em vez do sul. Ali\u00e1s, uma pesquisa publicada por Morton e Chen em 2015 revela que temporadas ativas de furac\u00f5es no Atl\u00e2ntico e temporadas intensas de inc\u00eandios na Amaz\u00f4nia andam lado a lado. Embora haja uma correla\u00e7\u00e3o de ambos os fen\u00f4menos com o calor no Atl\u00e2ntico Tropical Norte, eles possuem uma correla\u00e7\u00e3o mais n\u00edtida entre si.<\/p>\n\n\n\n
Morton acredita que isso indica uma rela\u00e7\u00e3o causal entre os dois fen\u00f4menos. Quando tempestades tropicais e furac\u00f5es s\u00e3o formados, \u201ccaptam a umidade que de outra forma circularia em dire\u00e7\u00e3o ao continente sul-americano\u2026 e desviam essa umidade \u00e0 Costa do Golfo e costa leste dos Estados Unidos. Em outras palavras, retiram a umidade da Amaz\u00f4nia.\u201d<\/p>\n\n\n\n
Chen est\u00e1 menos convencido de que os furac\u00f5es do Atl\u00e2ntico desencadeiem diretamente uma estiagem na Amaz\u00f4nia, embora concorde que ambos os fen\u00f4menos \u201ccompartilham a mesma causa\u201d, ou seja, o excesso de calor no Atl\u00e2ntico Tropical Norte e seu impacto nos padr\u00f5es clim\u00e1ticos.<\/p>\n\n\n\n
Landsea, do Centro Nacional de Furac\u00f5es dos Estados Unidos, tamb\u00e9m n\u00e3o est\u00e1 convencido de uma rela\u00e7\u00e3o causal direta entre uma maior quantidade de furac\u00f5es no Atl\u00e2ntico e a seca amaz\u00f4nica. Ele ressalta que furac\u00f5es s\u00e3o \u201cfen\u00f4menos muito transit\u00f3rios. Duram apenas alguns dias, e respondem apenas por um pequeno porcentual de precipita\u00e7\u00e3o no Caribe\u201d. Entretanto ele concorda que h\u00e1 \u201ccertamente uma associa\u00e7\u00e3o\u201d entre os dois fen\u00f4menos.<\/p>\n\n\n\n
De qualquer modo, a temporada de furac\u00f5es de 2020 deve servir como alerta para a Amaz\u00f4nia: j\u00e1 ocorreram seis tempestades tropicais dignas de receber nomes no Atl\u00e2ntico, a essa altura, um recorde para a temporada, iniciada apenas em 1o de junho. E \u00e9 esperada uma intensifica\u00e7\u00e3o na atividade de furac\u00f5es \u00e0 medida que o ver\u00e3o avan\u00e7a e o calor aumenta em todo Atl\u00e2ntico Tropical.<\/p>\n\n\n\n
\u201cNossa expectativa \u00e9 que ser\u00e1 uma temporada bastante agitada\u201d, afirma Landsea.<\/p>\n\n\n\n
Fonte: National Geographic Brasil<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
As \u00e1guas quentes do oceano provocam furac\u00f5es na costa leste dos Estados Unidos, mas \u00e9 prov\u00e1vel que a Amaz\u00f4nia tamb\u00e9m sinta os efeitos. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":161331,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[2608,4208,4661],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/161330"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=161330"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/161330\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":161332,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/161330\/revisions\/161332"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/161331"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=161330"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=161330"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=161330"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}