{"id":161652,"date":"2020-07-31T08:00:00","date_gmt":"2020-07-31T11:00:00","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=161652"},"modified":"2020-07-30T22:06:07","modified_gmt":"2020-07-31T01:06:07","slug":"em-2040-lixo-plastico-nos-oceanos-podera-ser-o-triplo-do-atual","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2020\/07\/31\/161652-em-2040-lixo-plastico-nos-oceanos-podera-ser-o-triplo-do-atual.html","title":{"rendered":"Em 2040, lixo pl\u00e1stico nos oceanos poder\u00e1 ser o triplo do atual"},"content":{"rendered":"\n

Contudo, um plano ambicioso, em desenvolvimento h\u00e1 dois anos, pode oferecer uma solu\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

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Crian\u00e7as brincam na costa da ba\u00eda de Manila, polu\u00edda por lixo dom\u00e9stico, pl\u00e1stico e outros tipos de lixo.
FOTO DE RANDY OLSON, NAT GEO IMAGE COLLECTION<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Est\u00e1 previsto que a quantidade de lixo pl\u00e1stico despejada nos oceanos todos os anos quase triplicar\u00e1 at\u00e9 2040, chegando a 29 milh\u00f5es de toneladas m\u00e9tricas.<\/p>\n\n\n\n

Essa estat\u00edstica \u00fanica e incompreensivelmente descomunal est\u00e1 no cerne de um novo projeto de pesquisa que j\u00e1 dura dois anos. O projeto destaca o fracasso da campanha mundial para conter a polui\u00e7\u00e3o por pl\u00e1sticos e formula um plano ambicioso para reduzir grande parte desse lixo despejado nos mares.<\/p>\n\n\n\n

Ningu\u00e9m sabe ao certo a quantidade de pl\u00e1stico, material praticamente indestrut\u00edvel, que foi depositada nos mares. O melhor palpite, divulgado em 2015, foi de cerca de 150 milh\u00f5es de toneladas m\u00e9tricas. Supondo que nenhuma mudan\u00e7a seja implementada, o estudo estima que o ac\u00famulo chegar\u00e1 a 600 milh\u00f5es de toneladas m\u00e9tricas em 2040.<\/p>\n\n\n\n

O projeto, desenvolvido pela ONG Pew Charitable Trusts e pela SYSTEMIQ, Ltd., formadora de ideias ambientais com sede em Londres, pede basicamente uma reformula\u00e7\u00e3o total da ind\u00fastria mundial de pl\u00e1sticos, transformando-a em uma economia c\u00edclica de re\u00faso e reciclagem. Se essa transforma\u00e7\u00e3o ocorrer, e trata-se de um grande se, os especialistas da Pew afirmam que o escoamento anual de res\u00edduos pl\u00e1sticos aos oceanos poderia ser reduzido em 80% nas pr\u00f3ximas duas d\u00e9cadas com o uso de m\u00e9todos e tecnologias existentes. Mesmo com um atraso de cinco anos, \u00e9 poss\u00edvel escoar mais de 80 milh\u00f5es de toneladas m\u00e9tricas de lixo para longe do mar.<\/p>\n\n\n\n

O custo da moderniza\u00e7\u00e3o \u00e9 de US$ 600 bilh\u00f5es, sendo US$ 70 bilh\u00f5es mais econ\u00f4mico do que continuar sem nenhuma modifica\u00e7\u00e3o pelas pr\u00f3ximas duas d\u00e9cadas, sobretudo por causa da redu\u00e7\u00e3o no uso de pl\u00e1stico virgem. Segundo o relat\u00f3rio da Pew, \u201cproblemas que afetam todo o sistema exigem mudan\u00e7as no sistema inteiro\u201d.<\/p>\n\n\n\n

A s\u00edntese do projeto \u201cCen\u00e1rio de Mudan\u00e7a dos Sistemas\u201d consta em um relat\u00f3rio do tamanho de um livro publicado pela Pew e em um artigo cient\u00edfico, revisado por pares, publicado na revista cient\u00edfica Science. A Pew ressalta que conseguir a produ\u00e7\u00e3o de quase nenhum res\u00edduo pl\u00e1stico nos mares requer novas tecnologias, gastos expressivos e \u201cambi\u00e7\u00f5es desmedidas\u201d, entre outros fatores.<\/p>\n\n\n\n

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Mar de garrafas pl\u00e1sticas em um centro de reciclagem em Valenzuela, Filipinas.
FOTO DE RANDY OLSON, NAT GEO IMAGE COLLECTION<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Existe uma infinidade de relat\u00f3rios oficiais. O que diferencia o relat\u00f3rio da Pew \u00e9 sua publica\u00e7\u00e3o em um momento crucial da campanha de redu\u00e7\u00e3o do lixo pl\u00e1stico. Em um curto intervalo de apenas cinco anos, a polui\u00e7\u00e3o de pl\u00e1sticos nos oceanos passou para o topo das prioridades ambientais em todo o mundo, motivando in\u00fameras campanhas em quase todos os pa\u00edses do planeta para reduzir o uso de pl\u00e1sticos descart\u00e1veis. Por outro lado, o ritmo da produ\u00e7\u00e3o mundial de pl\u00e1sticos aumentar\u00e1 40% at\u00e9 2030 e centenas de bilh\u00f5es de d\u00f3lares est\u00e3o sendo investidos em novas ind\u00fastrias de produ\u00e7\u00e3o de pl\u00e1sticos, perpetuando a situa\u00e7\u00e3o atual, segundo o relat\u00f3rio.<\/p>\n\n\n\n

Com o aumento da produ\u00e7\u00e3o de pl\u00e1sticos e seu escoamento para o mar, fica cada vez mais n\u00edtido que os avan\u00e7os por parte das campanhas ambientais n\u00e3o s\u00e3o suficientes. A Pew averiguou que, se todas as promessas de redu\u00e7\u00e3o de res\u00edduos pl\u00e1sticos feitas por toda a ind\u00fastria e governos forem cumpridas at\u00e9 2040, a redu\u00e7\u00e3o do escoamento anual para os oceanos seria \u00ednfima.<\/p>\n\n\n\n

\u201cEstamos em uma encruzilhada\u201d, afirma Nicholas Mallos, supervisor do programa de detritos marinhos da Ocean Conservancy, organiza\u00e7\u00e3o sem fins lucrativos, que n\u00e3o participou do projeto da Pew. \u201cO setor continua afirmando: \u2018vamos melhorar\u2019. Os governos tomaram medidas. Para o mundo, ser\u00e1 nosso primeiro despertar para o fato de que nossas iniciativas atuais n\u00e3o s\u00e3o suficientes. O mundo est\u00e1 no caminho errado. Precisamos repensar a ess\u00eancia do nosso relacionamento com esse material.\u201d<\/p>\n\n\n\n

A busca por dados econ\u00f4micos concretos<\/h3>\n\n\n\n

A Pew lan\u00e7ou a pesquisa em 2018, ap\u00f3s concluir que havia uma lacuna nas iniciativas relacionadas ao pl\u00e1stico: faltavam dados econ\u00f4micos para orientar a tomada de decis\u00f5es da ind\u00fastria, afirma Simon Reddy, diretor dos programas de pl\u00e1sticos nos oceanos e zonas \u00famidas costeiras da Pew. Sem n\u00fameros concretos, n\u00e3o havia evid\u00eancias ou informa\u00e7\u00f5es suficientes para que as empresas fizessem escolhas esclarecidas. \u201cTemos que tomar decis\u00f5es sobre como desejamos que seja o futuro do planeta\u201d, afirma Reddy. \u201cMas verificamos que n\u00e3o havia n\u00fameros para fundamentar os fatos. Havia uma escassez de dados.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Para complementar essas informa\u00e7\u00f5es, a equipe utilizou um modelo econ\u00f4mico pioneiro, criado pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, para apresentar c\u00e1lculos e proje\u00e7\u00f5es. Reddy afirma que o modelo fornece um \u201croteiro\u201d para redu\u00e7\u00e3o dos res\u00edduos pl\u00e1sticos em diversos locais. Uma vers\u00e3o online do modelo foi lan\u00e7ada hoje, permitindo que governos e empresas acessem dados de res\u00edduos e avaliem compensa\u00e7\u00f5es e solu\u00e7\u00f5es adaptadas \u00e0s condi\u00e7\u00f5es locais.<\/p>\n\n\n\n

A equipe acabou contando com mais de cem especialistas e incluiu colabora\u00e7\u00f5es realizadas com a Universidade de Leeds, a Funda\u00e7\u00e3o Ellen MacArthur e a entidade sem fins lucrativos Common Seas, todas no Reino Unido.<\/p>\n\n\n\n

O modelo analisa custos e mensura o escoamento de pl\u00e1stico para o mar em diversos cen\u00e1rios que envolvem o uso de pl\u00e1stico. Por exemplo, o uso de pl\u00e1stico pode ser reduzido em 47%, aumentando o uso de outras solu\u00e7\u00f5es, como a elimina\u00e7\u00e3o de pl\u00e1sticos desnecess\u00e1rios e reutiliza\u00e7\u00e3o de recipientes (30%); compostagem e substitui\u00e7\u00e3o de diferentes materiais, como a troca de sacolas pl\u00e1sticas finas por sacolas de papel (17%).<\/p>\n\n\n\n

\u201cO progn\u00f3stico \u00e9 desfavor\u00e1vel\u201d, afirma Andrew Morlet, presidente da Funda\u00e7\u00e3o Ellen MacArthur, organiza\u00e7\u00e3o sem fins lucrativos que busca uma transi\u00e7\u00e3o das ind\u00fastrias globais para uma economia de re\u00faso de produtos e materiais. \u201c\u00c9 preciso deixar o petr\u00f3leo no solo, trabalhar com os pol\u00edmeros existentes no sistema e inovar\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Como o lixo pl\u00e1stico engoliu o mundo<\/h3>\n\n\n\n

Embora n\u00e3o seja conhecida a quantidade exata de pl\u00e1stico nos oceanos, temos conhecimento das causas que levaram ao aumento do lixo pl\u00e1stico. O crescimento populacional mundial e a produ\u00e7\u00e3o de pl\u00e1stico cada vez maior s\u00e3o alguns dos respons\u00e1veis. O uso per capita est\u00e1 em ascens\u00e3o, sobretudo nos pa\u00edses em desenvolvimento \u2014 como, por exemplo, a \u00cdndia \u2014 que possuem uma classe m\u00e9dia em expans\u00e3o e uma coleta de lixo prec\u00e1ria. Com isso, o pl\u00e1stico virgem barato permite modificar a produ\u00e7\u00e3o de um n\u00famero crescente de produtos pl\u00e1sticos de baixo valor que n\u00e3o s\u00e3o recicl\u00e1veis, aumentando o excedente de pl\u00e1sticos sem coleta.<\/p>\n\n\n\n

Martin Stuchtey, cofundador e s\u00f3cio-administrador da SYSTEMIQ, diz que a expectativa \u00e9 de que o projeto traga esclarecimento ao debate global sobre as solu\u00e7\u00f5es, geralmente contradit\u00f3rias, invi\u00e1veis ou insustent\u00e1veis. Por exemplo, a incinera\u00e7\u00e3o e a queima de pl\u00e1stico ao ar livre est\u00e3o em ascens\u00e3o, e se nada mudar, podem saltar de 49 milh\u00f5es de toneladas m\u00e9tricas em 2016 para 133 milh\u00f5es de toneladas m\u00e9tricas em 2040.<\/p>\n\n\n\n

A reciclagem \u00e9 um dos meios mais eficazes para reduzir o uso de pl\u00e1stico virgem, mas primeiro \u00e9 preciso colet\u00e1-lo e, atualmente, dois bilh\u00f5es de pessoas n\u00e3o t\u00eam acesso a sistemas de coleta de lixo. At\u00e9 2040, essa cifra dobrar\u00e1 para quatro bilh\u00f5es, principalmente em \u00e1reas rurais em pa\u00edses com m\u00e9dia e baixa renda. Para oferecer o sistema adequado de coleta e tratamento de lixo, seria preciso atender 500 mil pessoas a mais por dia, todos os dias, entre hoje e 2040, concluiu Pew. \u00c9 uma perspectiva inconceb\u00edvel, mas foi inclu\u00edda no relat\u00f3rio para informar a dimens\u00e3o dos entraves na conten\u00e7\u00e3o de res\u00edduos em escala global.<\/p>\n\n\n\n

\u201cBoa sorte com isso\u201d, diz Yoni Shiran, gerente de projetos da SYSTEMIQ e um dos coautores do artigo da Science. \u201cSe essa perspectiva n\u00e3o se concretizar, a solu\u00e7\u00e3o \u00e9 criar um sistema mais sensato.\u201d<\/p>\n\n\n\n

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EM VIAGEM A BELIZE, NOSSA REP\u00d3RTER ACEITOU UM DESAFIO: N\u00c3O UTILIZAR PL\u00c1STICOS DE USO \u00daNICO
Evitar pl\u00e1sticos de uso \u00fanico na nossa rotina j\u00e1 \u00e9 dif\u00edcil, mas a tarefa fica ainda mais complicada quando estamos longe de casa. <\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

A pandemia do coronav\u00edrus aumentou o caos. A queda nos pre\u00e7os do petr\u00f3leo barateou mais do que nunca a produ\u00e7\u00e3o de pl\u00e1stico virgem. A demanda por bens de consumo com embalagens pl\u00e1sticas descart\u00e1veis e de uso \u00fanico disparou \u00e0 medida que os compradores correram em busca de prote\u00e7\u00e3o contra o v\u00edrus. Ainda assim, Stuchtey v\u00ea um lado positivo. Antes da pandemia, as ind\u00fastrias que resistiam \u00e0 mudan\u00e7a alegavam que uma mudan\u00e7a sist\u00eamica era muito grande, muito dif\u00edcil, muito dispendiosa e demorada demais para ser feita. A covid-19 exp\u00f4s a mentira nesses argumentos depois que a escassez de papel higi\u00eanico e outras mercadorias abalou o sistema de abastecimento e virou de ponta cabe\u00e7a o transporte de cargas.<\/p>\n\n\n\n

\u201cFoi poss\u00edvel observar o quanto as cadeias de suprimentos s\u00e3o de fato capazes de se adaptar e se reconfigurar e estamos come\u00e7ando a ver a descren\u00e7a se transformar em esperan\u00e7a\u201d, afirma Stuchtey.<\/p><\/blockquote>\n\n\n\n

Conquistando cora\u00e7\u00f5es e almas<\/h3>\n\n\n\n

Winnie Lau, gerente s\u00eanior da Pew que supervisionou o projeto, afirma que n\u00e3o est\u00e1 preocupada com a resist\u00eancia dos tit\u00e3s da ind\u00fastria \u00e0s mudan\u00e7as. \u201cAinda que nossos resultados sejam surpreendentes, n\u00e3o acredito que seja poss\u00edvel mudar a mentalidade de todos. Nosso objetivo \u00e9 mudar a mentalidade das principais ind\u00fastrias, que assumir\u00e3o a lideran\u00e7a e permitir\u00e3o a defini\u00e7\u00e3o de novos padr\u00f5es de opera\u00e7\u00e3o \u00e0s empresas e partiremos desse ponto.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Com esse objetivo em mente, Alan Jope, Presidente da Unilever, esteve entre os dignit\u00e1rios na comemora\u00e7\u00e3o da conclus\u00e3o do projeto hoje em Londres. No ano passado, a gigante de bens de consumo prometeu cortar pela metade o uso de pl\u00e1sticos virgens e ajudar a coletar e processar mais embalagens pl\u00e1sticas do que vende. \u00c9 um come\u00e7o.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: National Geographic Brasil<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"