{"id":161865,"date":"2020-08-07T22:16:16","date_gmt":"2020-08-08T01:16:16","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=161865"},"modified":"2020-08-07T22:16:16","modified_gmt":"2020-08-08T01:16:16","slug":"pegamos-bacterias-do-ar-mais-puro-da-terra-para-ajudar-a-resolver-um-misterio-de-modelagem-climatica","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/redacao\/traducoes\/2020\/08\/07\/161865-pegamos-bacterias-do-ar-mais-puro-da-terra-para-ajudar-a-resolver-um-misterio-de-modelagem-climatica.html","title":{"rendered":"Pegamos bact\u00e9rias do ar mais puro da Terra para ajudar a resolver um mist\u00e9rio de modelagem clim\u00e1tica"},"content":{"rendered":"\n

O Oceano Ant\u00e1rtico \u00e9 uma vasta faixa de \u00e1guas abertas que circunda todo o planeta entre a Ant\u00e1rtica e as massas de terra do hemisf\u00e9rio sul. \u00c9 o lugar mais nublado da Terra, e a quantidade de luz solar que se reflete ou atravessa essas nuvens desempenha um papel surpreendentemente importante no clima global. Afeta os padr\u00f5es clim\u00e1ticos, as correntes oce\u00e2nicas, a cobertura de gelo do mar da Ant\u00e1rtica, a temperatura da superf\u00edcie do mar e at\u00e9 as chuvas nos tr\u00f3picos.<\/p>\n\n\n\n

Mas, devido ao Oceano Ant\u00e1rtico ser t\u00e3o remoto, houveram poucos estudos reais sobre as nuvens da regi\u00e3o. Por causa dessa falta de dados, os modelos de computador que simulam os climas presentes e futuros superestimam a quantidade de luz solar que atinge a superf\u00edcie do oceano em compara\u00e7\u00e3o com o que os sat\u00e9lites realmente observam. A principal raz\u00e3o para essa imprecis\u00e3o \u00e9 devido \u00e0 forma como os modelos simulam nuvens, mas ningu\u00e9m sabia exatamente por que as nuvens estavam `apagadas\u00b4. Para que os modelos funcionassem corretamente, os pesquisadores precisavam entender como as nuvens estavam se formando.<\/p>\n\n\n\n

Para descobrir o que realmente est\u00e1 acontecendo nas nuvens sobre o Oceano Ant\u00e1rtico, um pequeno ex\u00e9rcito de cientistas atmosf\u00e9ricos, incluindo n\u00f3s, foi descobrir como e quando as nuvens se formam nesta parte remota do mundo. O que descobrimos foi surpreendente – ao contr\u00e1rio dos oceanos do Hemisf\u00e9rio Norte, o ar que amostramos sobre o Oceano Ant\u00e1rtico quase n\u00e3o continha part\u00edculas da terra. Isso significa que as nuvens podem ser diferentes daquelas acima de outros oceanos, e podemos usar esse conhecimento para ajudar a melhorar os modelos clim\u00e1ticos.<\/p>\n\n\n\n

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O fato de as nuvens conterem pequenas got\u00edculas de l\u00edquido, de cristais de gelo ou ambos \u00e9 influenciado pelas part\u00edculas no ar. Kathryn Moore, CC BY-ND.<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Nuvens de gelo e nuvens l\u00edquidas<\/h4>\n\n\n\n

As nuvens s\u00e3o feitas de min\u00fasculas got\u00edculas de \u00e1gua, de cristais de gelo, ou geralmente uma mistura dos dois. Elas se formam em pequenas part\u00edculas no ar. O tipo de part\u00edcula desempenha um grande papel na determina\u00e7\u00e3o da forma\u00e7\u00e3o de uma gota de l\u00edquido ou de um cristal de gelo. Essas part\u00edculas podem ser naturais – como a maresia, p\u00f3len, poeira ou at\u00e9 bact\u00e9rias – ou de fontes humanas como carros, fog\u00f5es, usinas de energia e assim por diante.<\/p>\n\n\n\n

Para o olho n\u00e3o treinado, uma nuvem de gelo e uma nuvem de l\u00edquido s\u00e3o muito parecidas, mas t\u00eam propriedades muito diferentes. As nuvens de gelo refletem menos luz solar, precipitam mais e n\u00e3o duram tanto quanto as nuvens l\u00edquidas. \u00c9 importante para o tempo – e para os modelos clim\u00e1ticos – saber quais tipos de nuvens existem.<\/p>\n\n\n\n

Os modelos clim\u00e1ticos tendem a prever muitas nuvens de gelo sobre o Oceano Ant\u00e1rtico e poucas nuvens l\u00edquidas em compara\u00e7\u00e3o com as leituras de sat\u00e9lite. Mas as medi\u00e7\u00f5es de sat\u00e9lite ao redor dos p\u00f3los s\u00e3o dif\u00edceis de fazer e menos precisas do que outras regi\u00f5es, ent\u00e3o quer\u00edamos coletar evid\u00eancias diretas de quantas nuvens l\u00edquidas est\u00e3o realmente presentes e determinar por que havia mais do que os modelos preveem.<\/p>\n\n\n\n

Este era o mist\u00e9rio: Por que existem mais nuvens l\u00edquidas do que os modelos pensam que existem? Para resolver isso, precis\u00e1vamos saber quais tipos de part\u00edculas est\u00e3o flutuando na atmosfera ao redor da Ant\u00e1rtica.<\/p>\n\n\n\n

Antes de irmos at\u00e9 l\u00e1, tivemos algumas pistas.<\/p>\n\n\n\n

Estudos de modelagem anteriores sugeriram que as part\u00edculas formadoras de gelo encontradas no Oceano Ant\u00e1rtico podem ser muito diferentes daquelas encontradas no hemisf\u00e9rio norte. A poeira \u00e9 uma grande semeadora de nuvens de gelo, mas devido \u00e0 falta de fontes de terra empoeiradas no hemisf\u00e9rio sul, alguns cientistas levantaram a hip\u00f3tese de que outros tipos de part\u00edculas podem estar conduzindo a forma\u00e7\u00e3o de nuvens de gelo sobre o Oceano Ant\u00e1rtico.<\/p>\n\n\n\n

Como a maioria dos modelos \u00e9 baseada em dados do hemisf\u00e9rio norte, se as part\u00edculas na atmosfera fossem de alguma forma diferentes no hemisf\u00e9rio sul, isso poderia explicar os erros.<\/p>\n\n\n\n

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Usamos esses instrumentos de amostragem para capturar bact\u00e9rias transportadas pelo ar e determinar de onde vinha o ar e as part\u00edculas que originam \u00e0s nuvens. Kathryn Moore.<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Mapas bacterianos<\/h4>\n\n\n\n

\u00c9 dif\u00edcil medir diretamente a composi\u00e7\u00e3o das part\u00edculas sobre o Oceano Ant\u00e1rtico – simplesmente n\u00e3o h\u00e1 muitas part\u00edculas ao redor. Ent\u00e3o, para nos ajudar a rastrear o que est\u00e1 dentro das nuvens, usamos uma abordagem indireta: as bact\u00e9rias no ar.<\/p>\n\n\n\n

A atmosfera est\u00e1 cheia de micro-organismos que s\u00e3o carregados por centenas a milhares de quil\u00f4metros pelas correntes de ar antes de retornar \u00e0 Terra. Essas bact\u00e9rias s\u00e3o como placas de ve\u00edculos aerotransportadas, s\u00e3o \u00fanicas e informam de onde o carro – ou o ar – veio. Como os cientistas sabem onde vive a maioria das bact\u00e9rias, \u00e9 poss\u00edvel olhar para os micr\u00f3bios em uma amostra de ar e determinar de onde veio esse ar. E, uma vez que voc\u00ea sabe disso, tamb\u00e9m pode prever de onde v\u00eam as part\u00edculas do ar – o mesmo lugar em que as bact\u00e9rias normalmente vivem.<\/p>\n\n\n\n

A fim de coletar amostras de bact\u00e9rias transportadas pelo ar nesta remota regi\u00e3o oce\u00e2nica, um de n\u00f3s embarcou no Australian Marine National Facility R \/ V Investigator para uma expedi\u00e7\u00e3o de seis semanas. O tempo estava turbulento e as ondas muitas vezes eram brancas, mas por um a dois dias de cada vez, sug\u00e1vamos o ar da proa do navio por meio de um filtro que captava as part\u00edculas transportadas pelo ar e as bact\u00e9rias. Em seguida, congelamos os filtros para manter o DNA bacteriano intacto.<\/p>\n\n\n\n

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As bact\u00e9rias no ar acima do Oceano Ant\u00e1rtico s\u00e3o locais, quase inteiramente as mesmas bact\u00e9rias que vivem nas \u00e1guas abaixo. Thomas Hill, CC BY-ND.<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Bact\u00e9rias oce\u00e2nicas sozinhas<\/h4>\n\n\n\n

Na maioria das regi\u00f5es oce\u00e2nicas do mundo, especialmente no hemisf\u00e9rio norte, onde h\u00e1 muita terra, o ar cont\u00e9m part\u00edculas marinhas e terrestres. Isso \u00e9 o que esper\u00e1vamos encontrar no sul.<\/p>\n\n\n\n

Com os filtros congelados em seguran\u00e7a em nosso laborat\u00f3rio no Colorado, extra\u00edmos o DNA da bact\u00e9ria e o sequenciamos para determinar quais esp\u00e9cies capturamos. Para nossa surpresa, as bact\u00e9rias eram essencialmente todas as esp\u00e9cies marinhas que vivem no Oceano Ant\u00e1rtico. Quase n\u00e3o encontramos bact\u00e9rias terrestres.<\/p>\n\n\n\n

Se as bact\u00e9rias eram do oceano, ent\u00e3o elas eram as part\u00edculas formadoras de nuvens. Essa era a resposta que procur\u00e1vamos.<\/p>\n\n\n\n

As part\u00edculas de nuclea\u00e7\u00e3o de gelo s\u00e3o muito raras na \u00e1gua do mar e as part\u00edculas marinhas s\u00e3o muito boas para formar nuvens l\u00edquidas. Tendo principalmente part\u00edculas marinhas no ar, esper\u00e1vamos que as nuvens fossem feitas majoritariamente de got\u00edculas l\u00edquidas, que \u00e9 o que observamos. Uma vez que a maioria dos modelos trata as nuvens nesta regi\u00e3o da mesma forma que tratam as nuvens no hemisf\u00e9rio norte, que \u00e9 mais empoeirado, n\u00e3o \u00e9 de se admirar que os modelos estejam fora da realidade para essa regi\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Daqui para frente<\/h4>\n\n\n\n

Agora que sabemos que as nuvens do Oceano Ant\u00e1rtico no ver\u00e3o est\u00e3o sendo formadas por part\u00edculas puramente marinhas, precisamos descobrir se o mesmo \u00e9 verdadeiro em outras esta\u00e7\u00f5es e em altitudes mais elevadas. O projeto maior, que envolveu avi\u00f5es e navios, deu aos cientistas atmosf\u00e9ricos uma ideia muito melhor das nuvens, tanto pr\u00f3ximas \u00e0 superf\u00edcie do oceano quanto no alto da atmosfera. Os modeladores clim\u00e1ticos entre n\u00f3s j\u00e1 est\u00e3o incorporando esses novos dados em seus modelos e esperamos ter resultados para compartilhar em breve.<\/p>\n\n\n\n

Descobrir que as part\u00edculas transportadas pelo ar sobre o Oceano Ant\u00e1rtico s\u00e3o principalmente provenientes do oceano \u00e9 uma descoberta not\u00e1vel. Isso n\u00e3o apenas melhora os modelos clim\u00e1ticos globais, mas tamb\u00e9m significa que confirmamos que o Oceano Ant\u00e1rtico \u00e9 uma das regi\u00f5es mais ambientalmente intocadas da Terra – um lugar que provavelmente mudou muito pouco devido \u00e0s atividades humanas. Esperamos que nosso trabalho melhore os modelos clim\u00e1ticos, mas tamb\u00e9m forne\u00e7a aos pesquisadores uma base de como \u00e9 um ambiente marinho verdadeiramente intocado.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: The Conversation \/ Kathryn Moore, Jun Uetake e Thomas Hill
Tradu\u00e7\u00e3o: Reda\u00e7\u00e3o Ambientebrasil \/ Maria Beatriz Ayello Leite
Para ler a reportagem original em ingl\u00eas acesse: <\/em>https:\/\/theconversation.com\/we-caught-bacteria-from-the-most-pristine-air-on-earth-to-help-solve-a-climate-modeling-mystery-140041<\/a> <\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Os modelos clim\u00e1ticos superestimaram a quantidade de luz solar que atinge o Oceano Ant\u00e1rtico. Isso ocorre porque as nuvens l\u00e1 s\u00e3o diferentes das nuvens de qualquer outro lugar. O DNA bacteriano nos ajudou a entender o motivo. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":2,"featured_media":161891,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4132],"tags":[595,2233,4731,96,3910,4730,4405],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/161865"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=161865"}],"version-history":[{"count":33,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/161865\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":161906,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/161865\/revisions\/161906"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/161891"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=161865"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=161865"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=161865"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}