{"id":161933,"date":"2020-08-10T15:00:27","date_gmt":"2020-08-10T18:00:27","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=161933"},"modified":"2020-08-10T11:23:34","modified_gmt":"2020-08-10T14:23:34","slug":"estudo-mostra-impacto-da-mudanca-climatica-em-ecossistemas-de-agua-doce-neotropicais","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2020\/08\/10\/161933-estudo-mostra-impacto-da-mudanca-climatica-em-ecossistemas-de-agua-doce-neotropicais.html","title":{"rendered":"Estudo mostra impacto da mudan\u00e7a clim\u00e1tica em ecossistemas de \u00e1gua doce neotropicais"},"content":{"rendered":"\n
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Pesquisadores de seis pa\u00edses exploram microcosmo das brom\u00e9lias e mostram que extremos de precipita\u00e7\u00e3o devem afetar o funcionamento dos ecossistemas aqu\u00e1ticos, com maior impacto na base da cadeia alimentar (foto: Gustavo Quevedo Romero\/Unicamp)<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Karina Ninni | Ag\u00eancia FAPESP \u2013 Com o objetivo de entender como as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas podem impactar diferentes ecossistemas, 27 pesquisadores do Brasil, Argentina, Col\u00f4mbia, Costa Rica, Guiana Francesa e Porto Rico realizaram em sete lugares diferentes experimentos envolvendo o ambiente aqu\u00e1tico existente no interior das brom\u00e9lias \u2013 que serve de h\u00e1bitat para larvas de insetos e outros pequenos organismos.<\/p>\n\n\n\n

Eles descobriram que, ao contr\u00e1rio do que se poderia pensar, n\u00e3o s\u00e3o os organismos do topo da cadeia alimentar que mais sofrem com a instabilidade de chuvas, um dos efeitos esperados das mudan\u00e7as clim\u00e1ticas, mas sim os organismos da base, os menores. Os resultados da pesquisa, apoiada pela FAPESP, foram publicados na revista Nature Communications.<\/p>\n\n\n\n

Segundo o ec\u00f3logo Gustavo Quevedo Romero, primeiro autor do artigo, estudos replicados geograficamente para entender como as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas podem afetar os ecossistemas s\u00e3o raros. Por\u00e9m, necess\u00e1rios para melhor entender como cada regi\u00e3o geogr\u00e1fica e cada ecossistema ser\u00e3o impactados. E os resultados observados nos experimentos com as brom\u00e9lias contradizem parte dos estudos de ecologia com foco em mudan\u00e7as clim\u00e1ticas e resili\u00eancia das esp\u00e9cies j\u00e1 publicados.<\/p>\n\n\n\n

\u201cManipulamos quantidade e frequ\u00eancia das chuvas nos microcosmos [interior de brom\u00e9lias] seguindo modelos que preveem mudan\u00e7as clim\u00e1ticas para as pr\u00f3ximas d\u00e9cadas. No mesmo experimento, criamos tanto condi\u00e7\u00f5es de seca quanto de enchente e um \u00edndice de estabilidade hidrol\u00f3gica dentro de cada brom\u00e9lia. Assim, na amostragem, havia brom\u00e9lias com condi\u00e7\u00f5es hidrol\u00f3gicas mais est\u00e1veis, cujo volume de \u00e1gua variava pouco ao longo do tempo, e com condi\u00e7\u00f5es mais inst\u00e1veis. Verificamos que a instabilidade afetou negativamente os organismos menores. Eles ocorreram em maior quantidade nos microcosmos com condi\u00e7\u00f5es mais est\u00e1veis. J\u00e1 os predadores maiores ocorreram nas brom\u00e9lias expostas a per\u00edodos de maior seca\u201d, conta Romero, professor do Departamento de Biologia Animal da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).<\/p>\n\n\n\n

Pela literatura, acrescentou, sabe-se que animais maiores sofrem mais com as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas, especialmente porque t\u00eam menos espa\u00e7o para se alimentar. \u201cMas mostramos que, neste caso, a base da cadeia alimentar pode ser mais sens\u00edvel, e mudan\u00e7as nela podem modificar o restante dos n\u00edveis tr\u00f3ficos acima\u201d, explica o pesquisador.<\/p>\n\n\n\n

O cientista afirma que, apesar de haver varia\u00e7\u00f5es locais de suscetibilidade das esp\u00e9cies \u00e0s mudan\u00e7as clim\u00e1ticas, chamou a aten\u00e7\u00e3o dos pesquisadores o fato de encontrarem um padr\u00e3o \u00fanico, consistente, em todos os sete locais estudados: predadores s\u00e3o sempre beneficiados em ambientes mais secos, e organismos pequenos s\u00e3o prejudicados em ambientes pequenos e mais favorecidos em ambientes maiores, onde chove mais. \u201cFizemos experimentos em regi\u00f5es mais \u00e1ridas, como a de Santa F\u00e9, na Argentina, e em regi\u00f5es onde dificilmente ocorre aridez, como a Costa Rica e a Guiana Francesa. E esse padr\u00e3o se manteve.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Ele ressalta que o grupo encontrou consist\u00eancia geogr\u00e1fica nos resultados do trabalho. \u201cA raz\u00e3o da biomassa de predadores em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 biomassa de presas, que representa pir\u00e2mides ecol\u00f3gicas de biomassa, se repetiu para todas as \u00e1reas nas plantas estudadas, sendo consistente ao longo do espa\u00e7o geogr\u00e1fico, independentemente do pool de esp\u00e9cies e do fato de os organismos estarem mais ou menos adaptados \u00e0 seca.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Instabilidade<\/h3>\n\n\n\n

A pesquisa mostra que as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas, principalmente quando associadas \u00e0 seca, causam instabilidade nas redes alimentares. \u201cQuando mais predadores ocorrem em uma brom\u00e9lia com menos volume de \u00e1gua, maior o efeito de preda\u00e7\u00e3o, de cima para baixo, nas comunidades das presas. Assim, as redes alimentares se desestabilizam, o que pode gerar extin\u00e7\u00f5es locais das esp\u00e9cies, tanto de presas quanto de predadores.\u201d Em resumo: apesar de os predadores se beneficiarem nos ambientes pequenos causados pela seca, esses ambientes s\u00e3o mais inst\u00e1veis, mais propensos ao risco de extin\u00e7\u00e3o e colapsos das redes ecol\u00f3gicas.<\/p>\n\n\n\n

O grupo trabalhou com tr\u00eas n\u00edveis tr\u00f3ficos: os predadores de topo, os mesopredadores e os detrit\u00edvoros. Esses \u00faltimos s\u00e3o muito pequenos e alimentam-se de detritos. \u201cN\u00e3o vimos nenhum efeito das mudan\u00e7as clim\u00e1ticas para os mesopredadores, que n\u00e3o foram afetados pelos tratamentos que fizemos\u201d. No microcosmo das brom\u00e9lias, eles s\u00e3o representados por larvas de insetos pequenos que se alimentam de outros pequenos organismos e, geralmente, s\u00e3o considerados como esp\u00e9cies oportunistas.<\/p>\n\n\n\n

Quanto aos organismos menores, os detrit\u00edvoros e filtradores, embora se beneficiem com a chuva, tamb\u00e9m s\u00e3o afetados negativamente quando a instabilidade clim\u00e1tica \u00e9 maior e quando a quantidade de chuvas \u00e9 muito grande. \u201cComo exemplo, quando chove muito, seja numa lagoa, num lago, ou dentro de uma brom\u00e9lia, o sistema transborda e lixivia os nutrientes e microrganismos. Mostramos em outros estudos que bact\u00e9rias, microinvertebrados e nutrientes, como nitrato e fosfato, s\u00e3o grandemente lixiviados.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Microcosmos<\/h3>\n\n\n\n

Romero explica que as brom\u00e9lias s\u00e3o ambientes naturais em que os cientistas conseguem explorar diversos aspectos de um ecossistema: s\u00e3o pequenas, f\u00e1ceis de manipular e, muitas vezes, \u00e9 poss\u00edvel projetar os resultados obtidos nelas para sistemas maiores, como lagoas e lagos, pois estudos realizados nesses ambientes maiores apresentam resultados semelhantes aos realizados nos microcosmos das brom\u00e9lias.<\/p>\n\n\n\n

\u201cAs brom\u00e9lias t\u00eam distribui\u00e7\u00e3o neotropical e, apesar de serem ambientes pequenos, podem acumular at\u00e9 50 mil litros de \u00e1gua por hectare em florestas, servindo como fonte de \u00e1gua para animais terrestres, como aves e mam\u00edferos, e como ecossistemas inteiros para organismos que vivem em ambientes aqu\u00e1ticos.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Foi esse ambiente aqu\u00e1tico das brom\u00e9lias que o grupo de pesquisadores explorou. Romero explica que essas plantas s\u00e3o habitadas basicamente por insetos e pequenos crust\u00e1ceos. \u201cPredadores de topo, principalmente larvas de lib\u00e9lulas, s\u00e3o animais maiores. E os detrit\u00edvoros s\u00e3o insetos muito pequenos, como mosquitos e grupos diversos de invertebrados, como os quinonom\u00eddeos. Os predadores de topo se alimentam desses organismos menores que, por sua vez, se alimentam de part\u00edculas em suspens\u00e3o e detritos que caem das \u00e1rvores.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Protocolo comum<\/h3>\n\n\n\n

O desenho do experimento foi decidido em duas reuni\u00f5es realizadas pelo grupo. A equipe composta por pesquisadores da Fran\u00e7a, Canad\u00e1, EUA, Porto Rico, Col\u00f4mbia, Argentina e Brasil seguiu o mesmo protocolo nas sete \u00e1reas onde os experimentos foram conduzidos. Em campo, foram selecionadas 30 brom\u00e9lias em cada um dos sete locais, em um total de 210. Como cada regi\u00e3o tem uma flora diferente de brom\u00e9lias, os cientistas n\u00e3o conseguiram usar as mesmas esp\u00e9cies, utilizando as mais comuns de cada regi\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Essas plantas eram coletadas, lavadas e desinfetadas para retirada de todos os macro e microrganismos presentes, como bact\u00e9rias, fungos e outros. \u201cLavamos e limpamos bem as brom\u00e9lias, para que essas tivessem a sua biota aqu\u00e1tica \u2018come\u00e7ando do zero\u2019. Ent\u00e3o, para reiniciar as col\u00f4nias e comunidades nos ecossistemas experimentais, dividimos igualmente os detritos grossos e finos retirados previamente das 30 brom\u00e9lias e recolocamos, em cada planta, a mesma comunidade de invertebrados e grupos funcionais que havia sido retirada. Depois disso, retornamos as brom\u00e9lias para o campo e instalamos sobre elas coberturas pl\u00e1sticas individuais, tipo guarda-chuva, para que as chuvas n\u00e3o impactassem os resultados.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Os cientistas simularam o regime de chuvas de cada regi\u00e3o, conforme uma m\u00e9dia de pluviosidade dos \u00faltimos cinco anos, estabelecendo uma m\u00e9dia local com base no volume e na frequ\u00eancia das chuvas em cada s\u00edtio. \u201cManipulamos a quantidade de \u00e1gua e a frequ\u00eancia das chuvas ao longo de dois meses em cada local. Como t\u00ednhamos uma m\u00e9dia para cada regi\u00e3o geogr\u00e1fica, tudo o que variou para baixo foi considerado seca, e o que variou para cima foi considerado inunda\u00e7\u00e3o. Manipulamos os extremos, seca e enchente, e ningu\u00e9m tinha feito isso antes\u201d, detalha Romero.<\/p>\n\n\n\n

Ap\u00f3s dois meses, as plantas foram outra vez coletadas e levadas para o laborat\u00f3rio. Para saber o que havia no ecossistema, os pesquisadores removeram folha por folha de cada planta e as lavaram novamente. A pesquisa tamb\u00e9m foi apoiada por meio do projeto \u201cMudan\u00e7as clim\u00e1ticas globais e funcionamento de ecossistemas em fitotelmatas\u201d, bolsas de doutorado e p\u00f3s-doutorado da FAPESP, al\u00e9m de uma bolsa de pesquisa no exterior.<\/p>\n\n\n\n

Para o futuro, Romero afirma que h\u00e1 interesse em trabalhar manipulando estressores ambientais, como mudan\u00e7as em precipita\u00e7\u00e3o e aquecimento clim\u00e1tico, bem como polui\u00e7\u00e3o ambiental, em diversos sistemas de \u00e1gua doce.<\/p>\n\n\n\n

O artigo Extreme rainfall events alter the trophic structure in bromeliad tanks across the Neotropics pode ser lido em: www.nature.com\/articles\/s41467-020-17036-4.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: FAPESP<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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