{"id":162618,"date":"2020-09-01T12:30:03","date_gmt":"2020-09-01T15:30:03","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=162618"},"modified":"2020-09-01T11:09:04","modified_gmt":"2020-09-01T14:09:04","slug":"o-que-menos-pessoas-no-planeta-significariam-para-o-meio-ambiente","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2020\/09\/01\/162618-o-que-menos-pessoas-no-planeta-significariam-para-o-meio-ambiente.html","title":{"rendered":"O que menos pessoas no planeta significariam para o meio ambiente?"},"content":{"rendered":"\n

Extremistas de direita v\u00eam defendendo a diminui\u00e7\u00e3o de determinadas popula\u00e7\u00f5es para reduzir aquecimento global. Mudan\u00e7as clim\u00e1ticas, por\u00e9m, s\u00e3o impulsionadas muito mais por consumo excessivo do que pela superpopula\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

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Pouco antes de matar 22 a tiros, a maioria de origem latina, em El Paso, no Texas, h\u00e1 pouco mais de um ano, um supremacista branco escreveu em seu manifesto online: “Se conseguirmos nos livrar de pessoas suficientes, ent\u00e3o nosso modo de vida poder\u00e1 ser mais sustent\u00e1vel.” Ele se inspirou no terrorista de Christchurch, na Nova Zel\u00e2ndia, que cinco meses antes havia matado 51 mu\u00e7ulmanos em ataques a duas mesquitas e fora identificado como um “ecofascista”.<\/p>\n\n\n\n

Nem os medos nem as a\u00e7\u00f5es dos dois homens s\u00e3o fundamentados pela ci\u00eancia.<\/p>\n\n\n\n

A natalidade est\u00e1 caindo, as pessoas est\u00e3o envelhecendo e, no final do s\u00e9culo, o n\u00famero de habitantes em quase todos os pa\u00edses da Terra diminuir\u00e1, de acordo com um estudo recente publicado na revista Lancet. Longe de uma crise de superpopula\u00e7\u00e3o, os dem\u00f3grafos se perguntam de onde vir\u00e3o as pr\u00f3ximas gera\u00e7\u00f5es de jovens.<\/p>\n\n\n\n

O estudo do Instituto de M\u00e9tricas e Avalia\u00e7\u00f5es de Sa\u00fade (IHME) projeta que o n\u00famero de pessoas no planeta atingir\u00e1 o pico de 9,7 bilh\u00f5es daqui a apenas quatro d\u00e9cadas, antes de cair para 8,8 bilh\u00f5es at\u00e9 o final do s\u00e9culo.<\/p>\n\n\n\n

Em 80 anos, pa\u00edses como Espanha e Jap\u00e3o reduziriam seu tamanho pela metade. A China encolheria quase a mesma taxa, deixando a \u00cdndia e a Nig\u00e9ria como os maiores pa\u00edses do mundo. Somente em 12 pa\u00edses, incluindo Som\u00e1lia e Sud\u00e3o do Sul, haveria beb\u00eas suficientes para manter as popula\u00e7\u00f5es est\u00e1veis. Nos demais, suas popula\u00e7\u00f5es estariam em processo de envelhecimento. <\/p>\n\n\n\n

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A popula\u00e7\u00e3o da China deve cair 48% em 80 anos<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

E se o mundo atingir as metas de educa\u00e7\u00e3o universal e contracep\u00e7\u00e3o \u2013 a for\u00e7a motriz positiva por tr\u00e1s da queda da natalidade \u2013 haveria 1,5 bilh\u00e3o de pessoas a menos em 2100 do que h\u00e1 hoje.<\/p>\n\n\n\n

Essa mudan\u00e7a geogr\u00e1fica transformaria as sociedades. Quem pagaria pelos cuidados de sa\u00fade dos idosos? Os pa\u00edses lutariam por jovens migrantes? Quando, se de fato, as pessoas chegariam \u00e0 aposentadoria?<\/p>\n\n\n\n

Ela tamb\u00e9m levanta uma quest\u00e3o que tem perseguido o movimento ambientalista por d\u00e9cadas e est\u00e1 sendo cada vez mais usada pela extrema direita: menos pessoas n\u00e3o deveriam ser uma boa not\u00edcia para o planeta?<\/p>\n\n\n\n

A superpopula\u00e7\u00e3o \u00e9 uma ideia conveniente. Para alguns, ela significa que seu consumo n\u00e3o \u00e9 o que est\u00e1 prejudicando o planeta, mas a grande massa de pessoas \u2013 portanto, n\u00e3o faz muito sentido mudar o comportamento.<\/p>\n\n\n\n

O estudo do IHME aponta que menos habitantes no mundo significaria menos emiss\u00f5es de carbono, menos estresse nos sistemas alimentares globais e menos chance de “transgredir as fronteiras planet\u00e1rias”. Mas o problema, dizem os cientistas, \u00e9 que as pessoas n\u00e3o emitem carbono de forma igual.<\/p>\n\n\n\n

“Essa \u00e9 uma an\u00e1lise extremamente superficial”, afirma Arvind Ravikumar, professor assistente de engenharia de energia na Universidade de Ci\u00eancia e Tecnologia de Harrisburg, na Pensilv\u00e2nia.<\/p>\n\n\n\n

Emiss\u00f5es desiguais<\/h3>\n\n\n\n

O crescimento populacional aumentou as emiss\u00f5es de gases de efeito estufa, de acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudan\u00e7as Clim\u00e1ticas (IPCC) da ONU, mas ele \u00e9 ofuscado pelo aumento das emiss\u00f5es por pessoa, que est\u00e1 vinculado \u00e0 renda. A popula\u00e7\u00e3o dos pa\u00edses mais ricos emite 50 vezes mais do que a das na\u00e7\u00f5es mais pobres \u2013 e \u00e9 nesses pa\u00edses de baixa renda e emiss\u00e3o que o n\u00famero de habitantes est\u00e1 crescendo mais rapidamente.<\/p>\n\n\n\n

“\u00c0s vezes, tenta-se usar a popula\u00e7\u00e3o como uma forma de livrar os pa\u00edses ricos da culpa”, avalia Zeke Hausfather, cientista clim\u00e1tico do Instituto Breakthrough, na Calif\u00f3rnia, “quando, na realidade, o nosso consumo e o nosso n\u00edvel de atividade econ\u00f4mica impulsionam as emiss\u00f5es mais do que a quantidade populacional.” <\/p>\n\n\n\n

Um mundo com muitos utilizando energia limpa poderia gerar menos emiss\u00f5es do que um planeta com poucos usando combust\u00edveis f\u00f3sseis. Pa\u00edses grandes e de r\u00e1pido crescimento, como China e \u00cdndia, est\u00e3o construindo pain\u00e9is solares e turbinas e\u00f3licas baratas que poderiam reduzir suas emiss\u00f5es totais, mesmo com o aumento da renda e da popula\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

J\u00e1 pa\u00edses em desenvolvimento em toda a \u00c1frica e outras partes da \u00c1sia est\u00e3o lutando para garantir empr\u00e9stimos para a infraestrutura verde. At\u00e9 agora, as na\u00e7\u00f5es ricas n\u00e3o conseguiram cumprir com a promessa, que fizeram no \u00e2mbito do Acordo de Paris, de entregar 100 bilh\u00f5es de d\u00f3lares por ano para ajudar os pa\u00edses mais pobres a combater as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas.<\/p>\n\n\n\n

“N\u00e3o podemos dizer a esses pa\u00edses: ‘est\u00e1 bem, j\u00e1 temos muitos gases de efeito estufa e voc\u00eas deveriam parar de usar energia'”, afirmou Leiwen Jiang, associado s\u00eanior do Conselho para as Popula\u00e7\u00f5es, em Nova York, e ex-autor do IPCC. “Mas podemos ajud\u00e1-los a melhorar sua tecnologia.”<\/p>\n\n\n\n

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Embora as taxas de natalidade abaixo do esperado possam fazer pouco para reduzir as emiss\u00f5es nos pa\u00edses pobres, elas poderiam ajud\u00e1-los a lidar com o aquecimento global de uma maneira diferente. Se as mulheres tivessem apenas o n\u00famero de filhos que quisessem, elas poderiam assumir mais trabalhos remunerados, disse Jiang. E esse impulso econ\u00f4mico poderia ajudar as comunidades sem dinheiro a responder \u00e0s crescentes ondas de calor, inunda\u00e7\u00f5es e tempestades, decorrentes das mudan\u00e7as clim\u00e1ticas.<\/p>\n\n\n\n

O conceito de superpopula\u00e7\u00e3o tem um passado sombrio. Mesmo se a premissa de que mais pessoas significam mais emiss\u00f5es fosse aceita, qual seria sua solu\u00e7\u00e3o, questiona Ravikumar. “Se ela \u00e9 reduzir vigorosamente a popula\u00e7\u00e3o, qual grupo populacional deve ser reduzido?”<\/p>\n\n\n\n

Como os terroristas em El Paso e Christchurch, governos ao longo da hist\u00f3ria espezinharam os direitos de grupos marginalizados ao controlar suas popula\u00e7\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n

Pa\u00edses como os EUA e Canad\u00e1 esterilizaram mulheres ind\u00edgenas \u00e0 for\u00e7a na segunda metade do s\u00e9culo 20, enquanto a Austr\u00e1lia fez o mesmo com pessoas com necessidades especiais. Em 1976, encorajada por doadores estrangeiros que tornaram os pacotes de ajuda dependentes do controle populacional, a \u00cdndia esterilizou 6,2 milh\u00f5es de homens, em sua maioria pobres. Acredita-se que mais de 2 mil homens tenham morrido por causa de opera\u00e7\u00f5es malfeitas.<\/p>\n\n\n\n

A partir do final da d\u00e9cada de 1970, a China restringiu o crescimento populacional atrav\u00e9s de multas, esteriliza\u00e7\u00e3o e abortos for\u00e7ados sob a pol\u00edtica draconiana de um filho que durou d\u00e9cadas. Hoje em dia, o pa\u00eds continua com tais pr\u00e1ticas contra as mulheres da etnia uigur, segundo uma reportagem publicada no m\u00eas passado pela ag\u00eancia de not\u00edcias Associated Press.<\/p>\n\n\n\n

Modelos populacionais divergentes<\/h3>\n\n\n\n

As mulheres est\u00e3o tendo menos filhos em todo o mundo, porque mais meninas v\u00e3o \u00e0 escola e devido ao aumento do acesso \u00e0 m\u00e9todos anticoncepcionais. Ambos s\u00e3o objetivos dos direitos humanos, mesmo antes de considerar o meio ambiente.<\/p>\n\n\n\n

Mas os dem\u00f3grafos discordam sobre at\u00e9 que ponto \u2013 e qu\u00e3o r\u00e1pido \u2013 a natalidade continuar\u00e1 caindo.<\/p>\n\n\n\n

Enquanto o IHME projeta que a popula\u00e7\u00e3o mundial come\u00e7ar\u00e1 a diminuir em 2064, as Na\u00e7\u00f5es Unidas esperam que ela continue crescendo ao longo do s\u00e9culo. A diferen\u00e7a populacional entre os dois modelos \u00e9 de cerca de 2 bilh\u00f5es de pessoas at\u00e9 2100, e as incertezas s\u00e3o t\u00e3o grandes que ambos os grupos de pesquisa aceitam a possibilidade da uma tend\u00eancia contr\u00e1ria.<\/p>\n\n\n\n

Uma raz\u00e3o para essa discrep\u00e2ncia \u00e9 que a ONU, ao contr\u00e1rio do IHME, projeta que os \u00edndices de natalidade se recuperar\u00e3o \u00e0 medida que os pa\u00edses se tornem mais ricos.<\/p>\n\n\n\n

Pesquisas mostram que mulheres em toda a Europa e Am\u00e9rica do Norte t\u00eam menos filhos do que gostariam devido a barreiras como cuidados infantis caros, press\u00f5es relacionadas ao trabalho e homens que n\u00e3o assumem uma parte justa das tarefas dom\u00e9sticas. Ao remover alguns desses obst\u00e1culos, pa\u00edses como a Alemanha t\u00eam registrado um aumento na natalidade. <\/p>\n\n\n\n

“As proje\u00e7\u00f5es da ONU incorporam um otimismo de que o longo arco do progresso humano continuar\u00e1”, disse Sara Hertog, uma dem\u00f3grafa da ONU, acrescentando que as mudan\u00e7as nas taxas de natalidade n\u00e3o s\u00e3o nem boas nem m\u00e1s not\u00edcias. “Espero que o n\u00edvel de natalidade reflita o n\u00famero de crian\u00e7as que as pessoas querem ter.”<\/p>\n\n\n\n

Adapta\u00e7\u00e3o: Fernando Caulyt<\/p>\n\n\n\n

Fonte: Deutsche Welle<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"