O secret\u00e1rio-geral da ONU, Ant\u00f3nio Guterres. Foto: ONU\/Mark Garten<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n\u201cO fato de tantas pessoas serem impedidas de acessar os mercados, impedidas de responderem \u00e0s suas pr\u00f3prias necessidades, trava o investimento, trava o crescimento econ\u00f4mico, trava o desenvolvimento\u201d, declarou.<\/p>\n\n\n\n
Guterres afirmou que a globaliza\u00e7\u00e3o teve aspectos positivos do ponto de vista do crescimento econ\u00f4mico e do aumento da riqueza no n\u00edvel mundial, mas tamb\u00e9m contribuiu para o recrudescimento das desigualdades entre os pa\u00edses e dentro deles.<\/p>\n\n\n\n
Nesse sentido, a Agenda 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustent\u00e1vel (ODS) s\u00e3o uma \u201cverdadeira carta contra as desigualdades\u201d, salientou o chefe da ONU. A agenda, acordada pela comunidade internacional em 2015, \u00e9 um conjunto de metas que inclui desde a erradica\u00e7\u00e3o da pobreza e da fome at\u00e9 a prote\u00e7\u00e3o do meio ambiente e a\u00e7\u00f5es de combate \u00e0s mudan\u00e7as clim\u00e1ticas.<\/p>\n\n\n\n
\u201cH\u00e1 todo um conjunto de situa\u00e7\u00f5es de vulnerabilidade que exige uma resposta determinada em favor da igualdade. E essa \u00e9 a campanha que fazemos junto de todos os governos, mas tamb\u00e9m junto do setor privado, da sociedade civil, porque \u00e9 essencial que todos assumam suas responsabilidades\u201d, disse Guterres.<\/p>\n\n\n\n
\u201cEstamos agora no in\u00edcio de uma nova d\u00e9cada, que chamamos D\u00e9cada de A\u00e7\u00e3o para acelerar a concretiza\u00e7\u00e3o dessa Agenda 2030. Muitos pa\u00edses adotaram esse programa como seu pr\u00f3prio programa de desenvolvimento. E hoje o pr\u00f3prio setor privado, a sociedade civil t\u00eam aderido cada vez mais essa perspectiva, que \u00e9 a perspectiva de combate \u00e0 desigualdade\u201d, salientou.<\/p>\n\n\n\n
Para Guterres, somente a a\u00e7\u00e3o coordenada e o multilateralismo poder\u00e3o ajudar o mundo a enfrentar os desafios atuais, em especial a pandemia de COVID-19 e as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas.<\/p>\n\n\n\n
\u201cVivemos uma situa\u00e7\u00e3o de muita fragilidade hoje. Temos um desenvolvimento cient\u00edfico extraordin\u00e1rio e, no entanto, um v\u00edrus microsc\u00f3pico nos p\u00f4s de joelhos. N\u00e3o temos as altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas controladas e corremos um risco ser\u00edssimo em rela\u00e7\u00e3o ao futuro do planeta\u201d, disse.<\/p>\n\n\n\n
\u201cNessa situa\u00e7\u00e3o de fragilidade, \u00e9 necess\u00e1rio compreender que se cada pa\u00eds decidir resolver os problemas por si pr\u00f3prio, n\u00e3o vamos a lugar nenhum, e essa fragilidade acabar\u00e1 sendo fatal a todos n\u00f3s. Por isso, a pedagogia que procuro fazer com humildade \u00e9 dizer que, face a desafios globais, a \u00fanica resposta poss\u00edvel \u00e9 global. N\u00f3s n\u00e3o precisamos de menos coopera\u00e7\u00e3o internacional, precisamos de mais coopera\u00e7\u00e3o internacional\u201d, salientou.<\/p>\n\n\n\n
Na avalia\u00e7\u00e3o do chefe da ONU, a crise socioecon\u00f4mica e sanit\u00e1ria provocada pela pandemia do novo coronav\u00edrus n\u00e3o foi respondida de forma articulada pelos pa\u00edses. \u201cContinua a haver desarticula\u00e7\u00e3o na resposta, e quem ganha \u00e9 o v\u00edrus\u201d, disse.<\/p>\n\n\n\n
\u201cA soberania n\u00e3o impede que os Estados cooperem e partilhem objetivos e estrat\u00e9gias, o que \u00e9 indispens\u00e1vel se quisermos controlar o v\u00edrus, o aquecimento global, se quisermos p\u00f4r ordem no ciberespa\u00e7o e nos protegermos da prolifera\u00e7\u00e3o das armas de destrui\u00e7\u00e3o em massa\u201d, salientou.<\/p>\n\n\n\n
Ainda sobre a pandemia, Guterres reconheceu que os pa\u00edses do Sul Global tiveram mais dificuldades na medida em que n\u00e3o apenas t\u00eam um n\u00edvel de desenvolvimento menor, como t\u00eam servi\u00e7os de sa\u00fade mais limitados.<\/p>\n\n\n\n
\u201cPor isso, a Am\u00e9rica Latina est\u00e1 sofrendo um impacto dram\u00e1tico em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 vida das pessoas, ao sofrimento das pessoas e em rela\u00e7\u00e3o \u00e0s economias dos Estados.\u201d<\/p>\n\n\n\n
\u201cQuero aqui oferecer toda a minha solidariedade, n\u00e3o cabe a mim dar conselhos ou fazer coment\u00e1rios, cabe oferecer solidariedade ao povo brasileiro e da Am\u00e9rica Latina e desejar que haja o mais r\u00e1pido poss\u00edvel uma conten\u00e7\u00e3o do v\u00edrus e uma reativa\u00e7\u00e3o das economias para poderem tamb\u00e9m responder aos desafios de desenvolvimento que a Am\u00e9rica Latina enfrenta neste momento.\u201d<\/p>\n\n\n\n
Emerg\u00eancia clim\u00e1tica<\/h3>\n\n\n\n Sobre a a\u00e7\u00e3o clim\u00e1tica, Guterres salientou que a preserva\u00e7\u00e3o da Amaz\u00f4nia \u00e9 t\u00e3o importante quanto a preserva\u00e7\u00e3o da natureza e das florestas em todas as partes do mundo.<\/p>\n\n\n\n
\u201cTem se falado muito sobre os inc\u00eandios e a devasta\u00e7\u00e3o na Amaz\u00f4nia, mas a verdade \u00e9 que, se repararmos, no ano passado tivemos inc\u00eandios devastadores no \u00c1rtico, na Sib\u00e9ria, na Groenl\u00e2ndia, no Canad\u00e1, na \u00c1frica, na Indon\u00e9sia\u201d, disse.<\/p>\n\n\n\n
\u201cEstamos diante de um fen\u00f4meno mundial em que a soberania dos Estados deve ser reconhecida, mas ao mesmo tempo deve haver um esfor\u00e7o coletivo para reduzir perda de florestas e reflorestar maci\u00e7amente\u201d, disse.<\/p>\n\n\n\n
Guterres lembrou que as \u00e1rvores t\u00eam um papel decisivo, n\u00e3o s\u00f3 quando ardem, uma vez que isso tem efeito negativo imediato na emiss\u00e3o de gases e no aquecimento global, mas como fonte de capta\u00e7\u00e3o de CO2 e de prote\u00e7\u00e3o da natureza.<\/p>\n\n\n\n
\u201cPor isso fiquei muito satisfeito quando vi os presidentes da Bacia da Amaz\u00f4nia assumirem no ano passado um compromisso de que iriam trabalhar em conjunto para parar o desflorestamento e aumentar o reflorestamento, e espero que esse compromisso conjunto se traduza na pr\u00e1tica.\u201d<\/p>\n\n\n\n
\u201cTemos que parar a guerra com a natureza, conter as emiss\u00f5es, atingir a neutralidade de carbono em 2050 para que a temperatura mundial n\u00e3o suba mais do que 1,5 grau Celsius em rela\u00e7\u00e3o ao per\u00edodo pr\u00e9-industrial. Se n\u00e3o fizermos isso, as consequ\u00eancias que hoje j\u00e1 s\u00e3o devastadores podem ser absolutamente catastr\u00f3ficas\u201d, alertou.<\/p>\n\n\n\n
75 anos da ONU<\/h3>\n\n\n\n Guterres comentou tamb\u00e9m o anivers\u00e1rio de 75 anos das Na\u00e7\u00f5es Unidas, comemorados este ano. Lembrando as conquistas da Organiza\u00e7\u00e3o, o chefe da ONU afirmou que esta \u00e9 a primeira vez na hist\u00f3ria da humanidade em que h\u00e1 um per\u00edodo de 75 anos sem nenhuma guerra entre as grandes pot\u00eancias.<\/p>\n\n\n\n
\u201cDurante este per\u00edodo de 75 anos, foi poss\u00edvel evitar uma grande guerra, ou at\u00e9 uma Terceira Guerra Mundial ou uma guerra nuclear que muitos consideravam poss\u00edvel. As Na\u00e7\u00f5es Unidas trabalharam largamente para conseguir isso\u201d, disse.<\/p>\n\n\n\n
No entanto, admitiu que se multiplicaram os conflitos de pequena e m\u00e9dia dimens\u00e3o. \u201cHoje, vivemos em um per\u00edodo em que j\u00e1 n\u00e3o h\u00e1 nem bipolaridade, nem unipolaridade, h\u00e1 um certo caos. As rela\u00e7\u00f5es de poder no n\u00edvel internacional n\u00e3o s\u00e3o claras, e h\u00e1 sentimento de impunidade, cada um entende que pode fazer o que quer.\u201d<\/p>\n\n\n\n
\u201cSe olharmos para a S\u00edria, para L\u00edbia ou para o I\u00eamen, verifica-se que os conflitos aparentemente civis e internos t\u00eam uma s\u00e9rie de atores envolvidos e cada um faz o que quer, n\u00e3o h\u00e1 ningu\u00e9m que controle coisa nenhuma.\u201d<\/p>\n\n\n\n
Guterres admitiu as dificuldades das Na\u00e7\u00f5es Unidas em mediar tais conflitos e conseguir levar todos os atores \u00e0 mesa de negocia\u00e7\u00e3o. \u201c\u00c9 verdade que conseguimos evitar uma guerra de grandes propor\u00e7\u00f5es, mas neste caso das Rela\u00e7\u00f5es Internacionais temos dificuldade em mediar os conflitos que existem\u201d, disse.<\/p>\n\n\n\n
Ele citou algumas realiza\u00e7\u00f5es importantes da ONU, como as opera\u00e7\u00f5es de paz, e o caso de conflitos em Lib\u00e9ria, Sierra Leoa, Costa do Marfim e Darfur, nos quais foi poss\u00edvel uma media\u00e7\u00e3o das Na\u00e7\u00f5es Unidas e posteriores opera\u00e7\u00f5es de paz. <\/p>\n\n\n\n
\u201cTudo isso \u00e9 uma amea\u00e7a s\u00e9ria \u00e0 paz e \u00e0 seguran\u00e7a para a qual, infelizmente, o Conselho de Seguran\u00e7a que temos na ONU, que como se sabe est\u00e1 muito dif\u00edcil, e onde as rela\u00e7\u00f5es entre as maiores pot\u00eancias nunca foram t\u00e3o disfuncionais como s\u00e3o hoje\u201d, disse, lembrando que isso torna dif\u00edcil resolver conflitos que v\u00e3o proliferando sobretudo em Oriente M\u00e9dio e \u00c1frica.<\/p>\n\n\n\n
Guterres concluiu com uma mensagem ao povo brasileiro, lembrando sua experi\u00eancia como primeiro-ministro de Portugal (1995-2002).<\/p>\n\n\n\n
\u201cQuando fui primeiro-ministro, penso que contribu\u00ed muito para as rela\u00e7\u00f5es entre Portugal e Brasil, foi um per\u00edodo em que se intensificaram enormemente n\u00e3o s\u00f3 as trocas culturais, mas as trocas econ\u00f4micas e o investimento econ\u00f4mico\u201d, disse.<\/p>\n\n\n\n
\u201cE sempre considerei que, para um pa\u00eds como Portugal, o Brasil deveria ser uma prioridade na sua pol\u00edtica externa. E por isso quero desejar aos meus irm\u00e3os brasileiras e brasileiros tudo de bom, ven\u00e7am a COVID-19, e que o Brasil possa encontrar um caminho de prosperidade e ao mesmo tempo de maior igualdade e realiza\u00e7\u00e3o humana para todas as brasileiras e brasileiros.\u201d<\/p>\n\n\n\n