{"id":163072,"date":"2020-09-14T19:00:37","date_gmt":"2020-09-14T22:00:37","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=163072"},"modified":"2020-09-14T14:43:03","modified_gmt":"2020-09-14T17:43:03","slug":"o-enigma-da-inospita-nuvem-de-venus-que-pode-ter-vida-extraterrestre","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2020\/09\/14\/163072-o-enigma-da-inospita-nuvem-de-venus-que-pode-ter-vida-extraterrestre.html","title":{"rendered":"O enigma da in\u00f3spita nuvem de V\u00eanus que pode ter vida extraterrestre"},"content":{"rendered":"\n
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A fosfina foi detectada na superf\u00edcie de V\u00eanus – JAXA\/ISAS\/AKATSUKI PROJECT TEAM<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

A ideia de que haja vida extraterrestre flutuando nas nuvens do planeta V\u00eanus \u00e9 uma possibilidade extraordin\u00e1ria, mas que os astr\u00f4nomos agora consideram poss\u00edvel: foi encontrado, na atmosfera do planeta, um g\u00e1s que pode indicar a presen\u00e7a de vida.<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Esse g\u00e1s \u00e9 a fosfina, uma mol\u00e9cula composta de um \u00e1tomo de f\u00f3sforo e tr\u00eas \u00e1tomos de hidrog\u00eanio. Na Terra, a fosfina est\u00e1 associada \u00e0 vida \u2014 \u00e9 produzida por micro-organismos que vivem nas entranhas de animais (como pinguins) ou em ambientes pobres em oxig\u00eanio, como p\u00e2ntanos.<\/p>\n\n\n\n

A fosfina tamb\u00e9m pode ser produzida industrialmente, mas, na natureza (ao menos na Terra), sua ocorr\u00eancia est\u00e1 sempre associada \u00e0 presen\u00e7a de organismos vivos. Ent\u00e3o, por que esse g\u00e1s foi encontrado em V\u00eanus, a 50 km da superf\u00edcie do planeta? A professora Jane Greaves e seus colegas da Universidade de Cardiff, no Reino Unido, est\u00e3o se fazendo exatamente esta mesma pergunta.<\/p>\n\n\n\n

Eles publicaram um artigo na revista cient\u00edfica Nature Astronomy detalhando a descoberta de fosfina em V\u00eanus e as investiga\u00e7\u00f5es que fizeram para tentar entender se mol\u00e9cula pode tido uma origem natural e n\u00e3o biol\u00f3gica. Mas, por enquanto, eles est\u00e3o perplexos.<\/p>\n\n\n\n

Considerando tudo o que sabemos sobre V\u00eanus e as condi\u00e7\u00f5es que existem l\u00e1, ningu\u00e9m ainda foi capaz de dar uma explica\u00e7\u00e3o para a presen\u00e7a de fosfina \u2014 na quantidade em que ela foi encontrada \u2014 que n\u00e3o envolve organismos vivos. Isso significa que uma fonte biol\u00f3gica para a subst\u00e2ncia merece considera\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

“Durante toda a minha carreira estive interessada na busca de vida em outros lugares do universo. Ent\u00e3o estou simplesmente at\u00f4nita que tenhamos encontrado uma situa\u00e7\u00e3o em que isso parece poss\u00edvel”, disse Greaves. “Mas, sim, estamos genuinamente encorajando outras pessoas a nos mostrar um fator (que explique a fosfina sem envolver a vida) que nos podemos ter deixado passar. Nossos artigos e dados podem ser acessados por outros pesquisadores; \u00e9 assim que a ci\u00eancia funciona”.<\/p>\n\n\n\n

O que exatamente a equipe detectou?<\/h2>\n\n\n\n

A equipe de Greaves primeiro identificou a fosfina em V\u00eanus usando o Telesc\u00f3pio James Clerk Maxwell, no Hava\u00ed (EUA), e depois confirmou sua presen\u00e7a usando o telesc\u00f3pio ALMA, em Atacama, no Chile.<\/p>\n\n\n\n

Os telesc\u00f3pios conseguem discernir a fosfina atrav\u00e9s de ondas de r\u00e1dio, que mudam de comprimento ao passar por ela. O g\u00e1s \u00e9 observado em latitudes m\u00e9dias no planeta, a aproximadamente 50-60 km de altitude. A concentra\u00e7\u00e3o \u00e9 pequena, perfazendo apenas 10-20 partes em cada bilh\u00e3o de mol\u00e9culas atmosf\u00e9ricas, mas, neste contexto, \u00e9 consider\u00e1vel.<\/p>\n\n\n\n

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A fosfina \u00e9 composta de um at\u00f4mo de f\u00f3sfora e tr\u00eas de hidrog\u00eanio – ESO\/M.KORNMESSER\/L.CALCADA\/NASA<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Por que a descoberta \u00e9 interessante?<\/h2>\n\n\n\n

V\u00eanus n\u00e3o est\u00e1 no topo da lista quando se pensa em possibilidade de vida em outras partes do nosso Sistema Solar. O planeta tem condi\u00e7\u00f5es atmosf\u00e9ricas in\u00f3spitas para a vida como a conhecemos. Com 96% da atmosfera composta de di\u00f3xido de carbono, ela tem um efeito estufa descontrolado. As temperaturas da superf\u00edciese parecem com as de um forno de pizza – mais de 400\u00b0 C.<\/p>\n\n\n\n

As sondas espaciais que j\u00e1 foram enviadas ao planeta sobreviveram poucos minutos antes de quebrar. No entanto, a 50 km de altura, as condi\u00e7\u00f5es melhoram um pouco. Ent\u00e3o, se realmente existe vida em V\u00eanus, \u00e9 exatamente ali que podemos esperar encontr\u00e1-la.<\/p>\n\n\n\n

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Venus \u00e9 um planeta extremamente quente – DETLEV VAN RAVENSWAAY\/SPL<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

O bioqu\u00edmico William Bains, membro da equipe que fez a descoberta e pesquisador do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), nos EUA, estudou v\u00e1rias combina\u00e7\u00f5es de diferentes compostos que deveriam estar em V\u00eanus. Ele examinou se vulc\u00f5es, rel\u00e2mpagos e at\u00e9 meteoritos poderiam desempenhar um papel na fabrica\u00e7\u00e3o da fosfina. Mas todas as rea\u00e7\u00f5es qu\u00edmicas que investigou, diz ele, s\u00e3o fracas demais para produzir a quantidade de fosfina observada.<\/p>\n\n\n\n

No entanto, as nuvens no planeta s\u00e3o grossas e compostas principalmente (75%-95%) de \u00e1cido sulf\u00farico, que \u00e9 catastr\u00f3fico para as estruturas celulares que constituem os organismos vivos na Terra.<\/p>\n\n\n\n

Para sobreviver ao \u00e1cido sulf\u00farico, acredita Bains, os micr\u00f3bios venusianos transportados pelo ar teriam que usar alguma bioqu\u00edmica desconhecida e radicalmente diferente, ou desenvolver um tipo de armadura.<\/p>\n\n\n\n

“Teoricamente uma vida nascida na \u00e1gua poderia se esconder dentro de uma esp\u00e9cie de concha protetora dentro das gotas de \u00e1cido sulf\u00farico”, disse ele ao programa Sky At Night. “Estamos falando de bact\u00e9rias que se cercariam com uma carapa\u00e7a mais resistente do que o Teflon e se fechariam completamente. Mas como se alimentam? Como trocam gases? \u00c9 um verdadeiro paradoxo.”<\/p>\n\n\n\n

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Sondas sovit\u00e9ticas enviadas a V\u00eanus sobreviveram pouco tempo no planeta<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Como tem sido a rea\u00e7\u00e3o da comunidade cient\u00edfica?<\/h2>\n\n\n\n

A comunidade cient\u00edfica est\u00e1 cautelosa e intrigada. Os autores da pesquisa dizem enfaticamente que n\u00e3o encontram vida em V\u00eanus, apenas apontam que a ideia precisa ser mais explorada. Os cientistas atualmente procuram qualquer caminho geol\u00f3gico ou abi\u00f3tico para a fosfina.<\/p>\n\n\n\n

Para Colin Wilson, professor da Universidade de Oxford que trabalhou na sonda Venus Express da Ag\u00eancia Espacial Europeia (2006-2014), as observa\u00e7\u00f5es da professora Greaves devem estimular uma nova onda de pesquisas no planeta.<\/p>\n\n\n\n

“\u00c9 realmente emocionante e levar\u00e1 a novas descobertas \u2014 mesmo que a detec\u00e7\u00e3o de fosfina original acabasse sendo uma interpreta\u00e7\u00e3o espectrosc\u00f3pica incorreta, o que eu n\u00e3o acho que ser\u00e1. Acho que a vida nas nuvens de V\u00eanus hoje \u00e9 t\u00e3o improv\u00e1vel que n\u00f3s vamos encontrar outras vias qu\u00edmicas de cria\u00e7\u00e3o de fosfina na atmosfera. Mas vamos descobrir muitas coisas interessantes sobre V\u00eanus nesta pesquisa”, diz ele \u00e0 BBC News.<\/p>\n\n\n\n

O astrobi\u00f3logo Lewis Dartnell, da Universidade de Westminster, \u00e9 igualmente cauteloso. Como pesquisador de possibilidades de vida fora da Terra, ele acha que Marte ou as luas de J\u00fapiter e Saturno s\u00e3o uma aposta melhor para encontrar vida.<\/p>\n\n\n\n

“Se a vida puder sobreviver nas nuvens superiores de V\u00eanus, vai significar que talvez seja muito comum em nossa gal\u00e1xia como um todo. Se for o caso, talvez a vida n\u00e3o precise de planetas muito semelhantes \u00e0 Terra e possa sobreviver em outros planetas terrivelmente quentes na Via L\u00e1ctea”, diz Dartnell.<\/p>\n\n\n\n

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A presen\u00e7a de fosfina em V\u00eanus foi confirmada pelo telesc\u00f3pio ALMA, no Chile – ESO<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

\u00c9 poss\u00edvel resolver o mist\u00e9rio?<\/h2>\n\n\n\n

O jeito mais certeiro de esclarecer a quest\u00e3o seria enviar uma sonda para investigar a atmosfera de V\u00eanus presencialmente.<\/p>\n\n\n\n

A NASA (ag\u00eancia espacial dos EUA) pediu recentemente aos cientistas que esbo\u00e7assem o projeto de uma poss\u00edvel miss\u00e3o emblem\u00e1tica nos anos 2030. Este projeto propunha que um aerobot<\/em> (um bal\u00e3o instrumentado) viajasse atrav\u00e9s das nuvens de V\u00eanus.<\/p>\n\n\n\n

“Os russos fizeram isso com seu bal\u00e3o Vega (em 1985)”, diz a professora Sara Seager, do MIT, membro da equipe. “Ele foi revestido com Teflon para proteg\u00ea-lo do \u00e1cido sulf\u00farico e flutuou por alguns dias, fazendo medi\u00e7\u00f5es.”<\/p>\n\n\n\n

“Poder\u00edamos definitivamente fazer algumas medi\u00e7\u00f5es no local”, diz ele. “Poder\u00edamos concentrar as got\u00edculas e medir suas propriedades. Poder\u00edamos at\u00e9 levar um microsc\u00f3pio e tentar procurar a pr\u00f3pria vida.”<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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