{"id":164464,"date":"2020-10-20T06:00:27","date_gmt":"2020-10-20T09:00:27","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=164464"},"modified":"2020-10-19T23:28:51","modified_gmt":"2020-10-20T02:28:51","slug":"por-que-os-biomas-brasileiros-nunca-estiveram-tao-ameacados","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2020\/10\/20\/164464-por-que-os-biomas-brasileiros-nunca-estiveram-tao-ameacados.html","title":{"rendered":"Por que os biomas brasileiros nunca estiveram t\u00e3o amea\u00e7ados"},"content":{"rendered":"\n<figure class=\"wp-block-image size-large\"><img loading=\"lazy\" decoding=\"async\" width=\"1024\" height=\"819\" src=\"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/wp-content\/uploads\/2020\/10\/biomas_brasileiros-1024x819.jpg\" alt=\"\" class=\"wp-image-164465\" srcset=\"https:\/\/cdn.noticias.ambientebrasil.com.br\/wp-content\/uploads\/2020\/10\/biomas_brasileiros-1024x819.jpg 1024w, https:\/\/cdn.noticias.ambientebrasil.com.br\/wp-content\/uploads\/2020\/10\/biomas_brasileiros-300x240.jpg 300w, https:\/\/cdn.noticias.ambientebrasil.com.br\/wp-content\/uploads\/2020\/10\/biomas_brasileiros-768x614.jpg 768w, https:\/\/cdn.noticias.ambientebrasil.com.br\/wp-content\/uploads\/2020\/10\/biomas_brasileiros-1536x1229.jpg 1536w, https:\/\/cdn.noticias.ambientebrasil.com.br\/wp-content\/uploads\/2020\/10\/biomas_brasileiros.jpg 1920w\" sizes=\"(max-width: 1024px) 100vw, 1024px\" \/><figcaption>Biomas brasileiros est\u00e3o mais amea\u00e7ados do que nunca (Foto: Felipe Dias\/Unsplash)<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n<p>Nos mais de 40 anos em que frequenta a Lagoa do Peri, localizada no sul da ilha de Florian\u00f3polis e conhecida por ser a maior lagoa de \u00e1gua doce da costa de\u00a0<a href=\"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/tag\/santa-catarina\">Santa Catarina<\/a>, o pescador Osni nunca havia visto tamanha estiagem. O rio que conecta a lagoa \u00e0 casa da fam\u00edlia, no alto de um morro por onde passam cachoeiras, est\u00e1 praticamente seco. Para sair de onde mora, Osni, que h\u00e1 alguns anos tornou a casa na lagoa sua resid\u00eancia permanente, precisa carregar a canoa por alguns metros de lodo at\u00e9 finalmente alcan\u00e7ar a\u00a0<a href=\"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/tag\/agua\">\u00e1gua<\/a>\u00a0\u2014 s\u00e3o cerca de 20 minutos de remada at\u00e9 uma trilha que desemboca na estrada, que ele percorre de\u00a0<a href=\"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/tag\/bicicletas\">bicicleta<\/a>.<\/p>\n\n\n\n<p>Com pouco mais de 5 quil\u00f4metros de extens\u00e3o e 11 metros de profundidade, a lagoa \u00e9 cercada por vest\u00edgios de\u00a0<a href=\"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/tag\/mata-atlantica\">Mata Atl\u00e2ntica<\/a>\u00a0prim\u00e1ria. Os cerca de 2 mil hectares que comp\u00f5em o ecossistema s\u00e3o considerados unidade de\u00a0<a href=\"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/tag\/conservacao\">conserva\u00e7\u00e3o<\/a>. Al\u00e9m da mata em regenera\u00e7\u00e3o, abriga animais t\u00edpicos, como a lontra e o macaco-prego, e aves\u00a0<a href=\"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/tag\/ameacadas-de-extincao\">amea\u00e7adas de extin\u00e7\u00e3o<\/a>, caso da gralha azul. \u00c9 fundamental tamb\u00e9m para o abastecimento de \u00e1gua de popula\u00e7\u00e3o da Ilha, atendendo entre 102 mil e 113 mil habitantes, principalmente nas regi\u00f5es leste e sul.<\/p>\n\n\n\n<p><strong>Leia tamb\u00e9m:<\/strong><\/p>\n\n\n<ul class=\"wp-block-rss\"><li class='wp-block-rss__item'><div class='wp-block-rss__item-title'><a href='https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/clipping\/2023\/03\/07\/181612-livro-explica-elo-entre-comida-e-meio-ambiente-para-criancas.html'>Livro explica elo entre comida e meio ambiente para crian\u00e7as<\/a><\/div><\/li><li class='wp-block-rss__item'><div class='wp-block-rss__item-title'><a href='https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/clipping\/2023\/02\/27\/181561-desmatamento-da-amazonia-bate-recorde-em-fevereiro.html'>Desmatamento da Amaz\u00f4nia bate recorde em fevereiro<\/a><\/div><\/li><li class='wp-block-rss__item'><div class='wp-block-rss__item-title'><a href='https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/clipping\/2023\/02\/01\/181439-inpe-desmate-por-garimpo-na-ti-yanomami-cresceu-25-em-2022.html'>Inpe: Desmate por garimpo na TI Yanomami cresceu 25% em 2022<\/a><\/div><\/li><\/ul>\n\n\n<p>O desequil\u00edbrio \u00e9 preocupante. Em visitas t\u00e9cnicas,\u00a0pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)\u00a0j\u00e1 identificaram a morte de peixes, o aparecimento de gaivotas e gavi\u00f5es que n\u00e3o fazem parte da fauna local e a prolifera\u00e7\u00e3o de cianobact\u00e9rias t\u00f3xicas. A proximidade com o\u00a0<a href=\"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/tag\/oceano-atlantico\">Oceano Atl\u00e2ntico<\/a>\u00a0e a presen\u00e7a de um sangradouro entre o mar e a lagoa tamb\u00e9m aumentam o risco de que, se o processo de eros\u00e3o continuar, a \u00e1gua salgada acabe contaminando a doce. Mas, al\u00e9m dos perigos locais, a situa\u00e7\u00e3o na Lagoa do Peri serve de alerta para uma crise muito mais grave: os biomas brasileiros nunca estiveram t\u00e3o amea\u00e7ados.<\/p>\n\n\n\n<p>Segundo o primeiro Relat\u00f3rio Anual do Desmatamento do Brasil, divulgado no fim de maio pelo Map Biomas, o pa\u00eds perdeu em 2019 ao menos 1,2 milh\u00e3o de hectares de vegeta\u00e7\u00e3o nativa, \u00e1rea equivalente a oito vezes o munic\u00edpio de S\u00e3o Paulo. Mais da metade (60%) de toda \u00e1rea desmatada est\u00e1 na Amaz\u00f4nia, com 770 mil hectares perdidos. No in\u00edcio de junho,\u00a0o <a href=\"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/tag\/inpe\">Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe)<\/a> constatou que entre agosto de 2018 e julho de 2019 foram desmatados 10.129 km\u00b2 de floresta, \u00e1rea equivalente a mais de oito vezes a da cidade do Rio de Janeiro e maior \u00edndice desde 2008.<\/p>\n\n\n\n<p>Mas a destrui\u00e7\u00e3o tamb\u00e9m foi significativa no Cerrado (408,6 mil hectares), no Pantanal (16,5 mil hectares), na\u00a0<a href=\"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/tag\/caatinga\">Caatinga<\/a>\u00a0(12,1 mil hectares) e na Mata Atl\u00e2ntica (10,6 mil hectares). Mesmo figurando como \u00faltima da lista, a Mata Atl\u00e2ntica, bioma amea\u00e7ado desde o in\u00edcio do processo de coloniza\u00e7\u00e3o do pa\u00eds, teve um\u00a0<a href=\"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/tag\/desmatamento\">desmatamento<\/a>\u00a0significativo, com um crescimento de quase 30% entre 2018 e 2019 em rela\u00e7\u00e3o ao ano anterior (2017-2018), de acordo com a Funda\u00e7\u00e3o SOS Mata Atl\u00e2ntica.<\/p>\n\n\n\n<p>Os dados e o exemplo da situa\u00e7\u00e3o da Lagoa do Peri evidenciam a gravidade de um efeito cascata generalizado da amea\u00e7a aos biomas brasileiros. \u201cPensar no estado de Santa Catarina n\u00e3o \u00e9 s\u00f3 olhar para a Mata Atl\u00e2ntica. Ela est\u00e1 conectada com a\u00a0<a href=\"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/tag\/amazonia\">Amaz\u00f4nia<\/a>, por exemplo, n\u00e3o d\u00e1 para pensar em uma coisa sem a outra\u201d, explica o professor Lindberg Nascimento J\u00fanior, do departamento de Geoci\u00eancias da UFSC. A bi\u00f3loga Marl\u00facia Martins, pesquisadora do Museu Paraense Em\u00edlio Goeldi, em Bel\u00e9m, completa: \u201cquando pensamos em respirar, beber \u00e1gua, comer e at\u00e9 se relacionar, precisamos lembrar que para cada uma dessas atividades existe algum servi\u00e7o que os ecossistemas prestam.\u201d<\/p>\n\n\n\n<p><strong>Caminho sem volta<\/strong><br>Um bioma \u00e9 o conjunto de ecossistemas animais e vegetais que t\u00eam um certo n\u00edvel de homogeneidade ou caracter\u00edsticas pr\u00f3ximas entre si. No Brasil, h\u00e1 seis principais: segundo o IBGE, a Amaz\u00f4nia \u00e9 o maior deles, ocupando 49,5% do territ\u00f3rio nacional; o\u00a0<a href=\"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/tag\/cerrado\">Cerrado<\/a>\u00a0\u00e9 o segundo mais extenso, correspondendo a 23,3% da \u00e1rea do pa\u00eds; em seguida v\u00eam Mata Atl\u00e2ntica (13%)\u00a0<a href=\"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/tag\/caatinga\">Caatinga<\/a>\u00a0(10,1%), Pampa (2,3%) e\u00a0<a href=\"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/tag\/pantanal\">Pantanal<\/a>\u00a0(1,8%). H\u00e1 ainda o Sistema Costeiro-Marinho, que ocupa 1,7% do territ\u00f3rio em sua parte continental (superpondo-se aos outros biomas).<\/p>\n\n\n\n<figure class=\"wp-block-image size-large\"><img loading=\"lazy\" decoding=\"async\" width=\"1024\" height=\"680\" src=\"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/wp-content\/uploads\/2020\/10\/caatinga_degradacao.jpg\" alt=\"\" class=\"wp-image-164466\" srcset=\"https:\/\/cdn.noticias.ambientebrasil.com.br\/wp-content\/uploads\/2020\/10\/caatinga_degradacao.jpg 1024w, https:\/\/cdn.noticias.ambientebrasil.com.br\/wp-content\/uploads\/2020\/10\/caatinga_degradacao-300x199.jpg 300w, https:\/\/cdn.noticias.ambientebrasil.com.br\/wp-content\/uploads\/2020\/10\/caatinga_degradacao-768x510.jpg 768w\" sizes=\"(max-width: 1024px) 100vw, 1024px\" \/><figcaption>Caatinga sofre degrada\u00e7\u00e3o cr\u00f4nica mesmo em \u00e1reas sem desmatamento (Foto: Wikimedia Commons)<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n<p>Embora possam ser separados conforme suas caracter\u00edsticas, no fundo, todos est\u00e3o interligados. Na quest\u00e3o das chuvas, por exemplo, t\u00e3o importante quanto sistemas de ventos e nuvens nos oceanos \u00e9 a trajet\u00f3ria da \u00e1gua pelos chamados \u201crios voadores\u201d. Isso depende muito do equil\u00edbrio dos biomas que abastecem a atmosfera com \u00e1gua \u2014 papel desempenhado especialmente pela Amaz\u00f4nia \u2014 e a ret\u00eam no solo.\u00a0 \u00c9 por isso que o desmatamento no norte tem efeito direto na estiagem do sul do pa\u00eds e, por sua vez, em ecossistemas locais.<\/p>\n\n\n\n<p>\u00c9 tamb\u00e9m nos biomas onde vivem bilh\u00f5es de agentes polinizadores, como\u00a0<a href=\"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/tag\/abelhas\">abelhas<\/a>, vespas, formigas, moscas, borboletas, entre outros insetos. Esse conjunto das esp\u00e9cies que habitam sistemas, explica Martins, s\u00e3o fundamentais para a manuten\u00e7\u00e3o dos sistemas agr\u00edcolas. S\u00e3o eles que levam o p\u00f3len de um vegetal para outro, possibilitando reprodu\u00e7\u00e3o e crescimento. Sem eles, o cultivo de soja, caf\u00e9, laranja e ma\u00e7\u00e3, alguns dos principais produtos agr\u00edcolas do pa\u00eds, seria praticamente imposs\u00edvel, causando um grande preju\u00edzo.<\/p>\n\n\n\n<p>Um levantamento de 2019 da\u00a0Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Servi\u00e7os Ecossist\u00eamicos\u00a0mostra que, em 2018, as culturas que dependeram desses agentes responderam por US$ 12 bilh\u00f5es na economia brasileira. \u201cO impacto da degrada\u00e7\u00e3o de um bioma n\u00e3o \u00e9 s\u00f3 ambiental, mas econ\u00f4mico\u201d, explica Rubens Benini, l\u00edder da estrat\u00e9gia de restaura\u00e7\u00e3o florestal da The Nature Conservancy (TNC) na Am\u00e9rica Latina. Desmatar a Amaz\u00f4nia, na vis\u00e3o do especialista, seria \u201cmatar a galinha dos ovos de ouro\u201d do pa\u00eds.<\/p>\n\n\n\n<p>\u201cA curto prazo, o efeito negativo \u00e9 termos nossa imagem internacional arranhada\u201d, explica a pesquisadora do Em\u00edlio Goeldi. E isso j\u00e1 vem acontecendo: na \u00faltima semana de junho, fundos internacionais de investidores, que gerenciam cerca de R$ 21 trilh\u00f5es, cobraram do Brasil mais efetividade na \u00e1rea ambiental. \u201cA m\u00e9dio prazo, precisaremos de um projeto de socorro. E, a longo prazo, perderemos a sustentabilidade natural, iremos \u00e0 bancarrota, como muitas civiliza\u00e7\u00f5es j\u00e1 foram, sem futuro mesmo para o agroneg\u00f3cio.\u201d<\/p>\n\n\n\n<p>\u00c9 o que os especialistas chamam de\u00a0<em>tipping point<\/em>, ponto a partir do qual um sistema n\u00e3o consegue mais se recuperar \u2014 em geral, estimado entre 20% e 25% de degrada\u00e7\u00e3o. A Amaz\u00f4nia est\u00e1 hoje em 19%, segundo um artigo publicado em fevereiro de 2020\u00a0na revista\u00a0<em>Nature<\/em>.<\/p>\n\n\n\n<p><strong>Como chegamos aqui<\/strong><br>\u201cA situa\u00e7\u00e3o \u00e9 mais grave do que parece\u201d, diz Carlos Nobre, pesquisador aposentado do Inpe e membro da Rede de Especialistas em Conserva\u00e7\u00e3o da Natureza (RECN). \u201cDepois de grande sucesso nas pol\u00edticas ambientais do pa\u00eds at\u00e9 2012, voltamos a ter um aumento gradual no desmatamento, mas a partir de 2018 at\u00e9 o presente 2020 isso vem acontecendo com uma velocidade muito grande.\u201d<\/p>\n\n\n\n<p>Em junho, o sistema de Detec\u00e7\u00e3o de Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou 1.034,4 km\u00b2 de \u00e1rea com risco de ser desmatada. Esse n\u00famero \u00e9 o maior desde que o acompanhamento come\u00e7ou a ser feito, em 2015. No primeiro semestre deste ano, os alertas de desmatamento aumentaram 25% em compara\u00e7\u00e3o com o mesmo per\u00edodo de 2019, segundo o Inpe divulgou nesta sexta-feira (10).<\/p>\n\n\n\n<figure class=\"wp-block-image size-large\"><img loading=\"lazy\" decoding=\"async\" width=\"1024\" height=\"683\" src=\"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/wp-content\/uploads\/2020\/10\/desmatamento_na_amazonia-1024x683.jpg\" alt=\"\" class=\"wp-image-164467\" srcset=\"https:\/\/cdn.noticias.ambientebrasil.com.br\/wp-content\/uploads\/2020\/10\/desmatamento_na_amazonia-1024x683.jpg 1024w, https:\/\/cdn.noticias.ambientebrasil.com.br\/wp-content\/uploads\/2020\/10\/desmatamento_na_amazonia-300x200.jpg 300w, https:\/\/cdn.noticias.ambientebrasil.com.br\/wp-content\/uploads\/2020\/10\/desmatamento_na_amazonia-768x512.jpg 768w, https:\/\/cdn.noticias.ambientebrasil.com.br\/wp-content\/uploads\/2020\/10\/desmatamento_na_amazonia-1536x1024.jpg 1536w, https:\/\/cdn.noticias.ambientebrasil.com.br\/wp-content\/uploads\/2020\/10\/desmatamento_na_amazonia.jpg 2048w\" sizes=\"(max-width: 1024px) 100vw, 1024px\" \/><figcaption>Desmatamento na Amaz\u00f4nia (Foto: Ibama\/Flickr)<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n<p>Ao longo de 40 anos, principalmente a partir da Constitui\u00e7\u00e3o de 1988, primeira a ter um cap\u00edtulo espec\u00edfico para o\u00a0<a href=\"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/tag\/meio-ambiente\">meio ambiente<\/a>\u00a0e a impor o dever de defend\u00ea-lo e preserv\u00e1-lo para gera\u00e7\u00f5es presentes e futuras, o Brasil vinha se posicionando bem nas quest\u00f5es ambientais, conforme avaliam os especialistas. Foram sendo criadas tamb\u00e9m leis e uma s\u00e9rie de estruturas e aparatos para garantir que fossem cumpridas, como o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renov\u00e1veis (Ibama), em 1989, e o pr\u00f3prio Minist\u00e9rio do Meio Ambiente, em 1992.<\/p>\n\n\n\n<p>\u201cNos anos 1990, 1992, o Brasil liderou as discuss\u00f5es com o conceito de desenvolvimento sustent\u00e1vel, seguindo um trip\u00e9 social, econ\u00f4mico e ambiental\u201d, diz Benini, do TNC. At\u00e9 2012, foram institu\u00eddas tamb\u00e9m leis como a dos crimes ambientais, prevendo san\u00e7\u00f5es penais e administrativas para atividades que prejudicam o meio ambiente, e a de unidades de conserva\u00e7\u00e3o. O Estatuto das Cidades, de 2001, teve entre os objetivos permitir que o desenvolvimento dos munic\u00edpios n\u00e3o ocorresse em detrimento do meio ambiente.&nbsp;<\/p>\n\n\n\n<p>Em 2012, por\u00e9m, a situa\u00e7\u00e3o come\u00e7ou a mudar. Um novo C\u00f3digo Florestal, mais permissivo que os anteriores, foi aprovado depois de cinco anos de discuss\u00f5es. De l\u00e1 para c\u00e1, especialmente a partir de 2015, os \u00edndices foram aumentando gradualmente, at\u00e9 come\u00e7arem a bater recorde atr\u00e1s de recorde a partir de 2018. O que deu errado?<\/p>\n\n\n\n<p>A primeira hip\u00f3tese dos especialistas \u00e9 a redu\u00e7\u00e3o da fiscaliza\u00e7\u00e3o, que desde 2005 se tornou bastante rigorosa. Ainda que n\u00e3o prendessem diretamente os envolvidos, que em geral conseguiam escapar, os agentes capturavam e queimavam as ferramentas que eles deixavam para tr\u00e1s. \u201cOs financiadores passaram a perder muito dinheiro com isso, pois o custo de cada trator daqueles [<em>usados para derrubar \u00e1rvores<\/em>] \u00e9 alto\u201d, explica Nobre. Em 2019, no entanto, um dos principais \u00f3rg\u00e3os fiscalizadores, o Ibama, teve o or\u00e7amento cortado em 24%. Com a redu\u00e7\u00e3o das a\u00e7\u00f5es de controle, os criminosos ambientais voltaram a se sentir impunes.<\/p>\n\n\n\n<p>O maior problema, concordam os estudiosos, foi a mudan\u00e7a dr\u00e1stica no discurso pol\u00edtico, escancarado com a fala do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, durante a reuni\u00e3o ministerial de 22 de abril. Nas imagens divulgadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello, Salles falou sobre o que considerava ser uma oportunidade em meio \u00e0\u00a0<a href=\"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/tag\/pandemia\">pandemia<\/a> da <a href=\"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/tag\/covid-19\">Covid-19<\/a>. Para ele, o governo deveria aproveitar o momento, em que o foco das not\u00edcias estava voltado para a\u00a0<a href=\"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/tag\/saude\">sa\u00fade<\/a>, e mudar regras que poderiam vir a ser questionadas na Justi\u00e7a. &#8220;Precisa ter um esfor\u00e7o nosso aqui enquanto estamos neste momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque s\u00f3 se fala de Covid e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas\u201d, disse o ministro na ocasi\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n<p>\u201cEst\u00e1 havendo um desmonte na estrutura nacional de prote\u00e7\u00e3o ao meio ambiente\u201d, diz Marl\u00facia Martins. Esse desmonte, explica, vem ocorrendo com tentativas de rearranjos nas institui\u00e7\u00f5es que n\u00e3o poderiam ser feitos de forma \u201ct\u00e3o descarada\u201d. \u201cA legisla\u00e7\u00e3o n\u00e3o pode ser t\u00e3o alterada, mas todos os bons funcion\u00e1rios podem ser identificados, desautorizados e destitu\u00eddos de suas fun\u00e7\u00f5es\u201d, diz. Um exemplo marcante foi a exonera\u00e7\u00e3o do chefe de fiscaliza\u00e7\u00e3o do Ibama e do respons\u00e1vel por opera\u00e7\u00f5es contra crimes ambientais, que ocorreu em abril, ap\u00f3s opera\u00e7\u00f5es contra garimpos ilegais.<\/p>\n\n\n\n<p>\u201cO discurso adotado pelo Minist\u00e9rio do Meio Ambiente \u00e9 como um sinal verde para o crime ambiental\u201d, opina Nobre. \u201cPor mais que a pol\u00edtica ambiental do pa\u00eds tenha avan\u00e7ado muito, ela ganhou um ponto de vista conservador, no qual crescimento equivale a desenvolvimento econ\u00f4mico, colocando em xeque os recursos naturais\u201d, completa o especialista da UFSC. \u201cA natureza est\u00e1 hoje reduzida a ser fonte de recursos, n\u00e3o \u00e9 exagero dizer que hoje o maior problema \u00e9 pol\u00edtico.\u201d<\/p>\n\n\n\n<p><strong>Antes que seja tarde demais<\/strong><br>Na tentativa de conter o desmatamento na Amaz\u00f4nia, o governo criou, em fevereiro, o Conselho Nacional da Amaz\u00f4nia Legal. Composto por militares e sem a participa\u00e7\u00e3o de representantes do Ibama e da Funda\u00e7\u00e3o Nacional do \u00cdndio (Funai), o conselho n\u00e3o est\u00e1 atrelado ao Minist\u00e9rio do Meio Ambiente, e sim \u00e0 vice-presid\u00eancia da rep\u00fablica, sob o comando do general da reserva Hamilton Mour\u00e3o (PRTB). O objetivo \u00e9 propor e acompanhar pol\u00edticas p\u00fablicas regionais, al\u00e9m de coordenar a\u00e7\u00f5es de preven\u00e7\u00e3o, fiscaliza\u00e7\u00e3o e repress\u00e3o a atos il\u00edcitos.<\/p>\n\n\n\n<p>Mas o conselho at\u00e9 o momento n\u00e3o teve o resultado esperado. Em\u00a0entrevista \u00e0 Ag\u00eancia Senado, a coordenadora do Observat\u00f3rio do Clima, Suely Vaz, criticou o modelo: as For\u00e7as Armadas, na sua vis\u00e3o, n\u00e3o substituem a atua\u00e7\u00e3o de agentes especializados na fiscaliza\u00e7\u00e3o e custam caro. \u201cManter at\u00e9 2022, como o general Mour\u00e3o est\u00e1 pretendendo, significa gastar R$ 60 milh\u00f5es por m\u00eas s\u00f3 com os militares. Dois meses de a\u00e7\u00f5es, ou R$ 120 milh\u00f5es, pagam o sal\u00e1rio anual de 100 fiscais do Ibama. Esse \u00e9 o d\u00e9ficit de fiscais para todo o Brasil\u201d, disse. Procurados pela reportagem da GALILEU, tanto o Minist\u00e9rio do Meio Ambiente quanto a vice-presid\u00eancia da rep\u00fablica n\u00e3o retornaram as tentativas de contato.<\/p>\n\n\n\n<figure class=\"wp-block-image size-large\"><img loading=\"lazy\" decoding=\"async\" width=\"1024\" height=\"683\" src=\"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/wp-content\/uploads\/2020\/10\/amazonia-1024x683.jpg\" alt=\"\" class=\"wp-image-164468\" srcset=\"https:\/\/cdn.noticias.ambientebrasil.com.br\/wp-content\/uploads\/2020\/10\/amazonia-1024x683.jpg 1024w, https:\/\/cdn.noticias.ambientebrasil.com.br\/wp-content\/uploads\/2020\/10\/amazonia-300x200.jpg 300w, https:\/\/cdn.noticias.ambientebrasil.com.br\/wp-content\/uploads\/2020\/10\/amazonia-768x512.jpg 768w, https:\/\/cdn.noticias.ambientebrasil.com.br\/wp-content\/uploads\/2020\/10\/amazonia-1536x1024.jpg 1536w, https:\/\/cdn.noticias.ambientebrasil.com.br\/wp-content\/uploads\/2020\/10\/amazonia-2048x1365.jpg 2048w\" sizes=\"(max-width: 1024px) 100vw, 1024px\" \/><figcaption>Amaz\u00f4nia (Foto: Victor Caetano Andrade\/Trends in Plant Science)<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n<p>Para o especialista da RECN, a maioria das pessoas envolvidas com a causa ambiental est\u00e1 pessimista. \u201cN\u00e3o achamos que ex\u00e9rcito vai ganhar essa guerra [<em>contra o desmatamento<\/em>]\u201d, diz Carlos Nobre. Para Benini, da TNC, \u00e9 preciso tomar medidas efetivas o quanto antes. \u201cNem tudo est\u00e1 perdido, mas \u00e9 importante agir agora, n\u00e3o \u00e9 mais poss\u00edvel tapar o sol com a peneira\u201d, opina.<\/p>\n\n\n\n<p>A maior urg\u00eancia \u00e9 frear o desmatamento ilegal \u2014 o que \u00e9 menos complicado do que parece, segundo os especialistas. \u201cA curto prazo, precisamos acabar com o crime [<em>99% do desmatamento \u00e9 ilega<\/em>l]. Isso n\u00e3o \u00e9 dif\u00edcil, os sat\u00e9lites veem na hora que est\u00e1 acontecendo. Leva de um a dois meses para desmatar fazendas de mil, 2 mil hectares, \u00e9 fac\u00edlimo achar o lugar da ilegalidade\u201d, explica Nobre.<\/p>\n\n\n\n<p>Mas a popula\u00e7\u00e3o tamb\u00e9m deve se atentar para a quest\u00e3o. Uma ferramenta de controle \u00e9 praticar o consumo respons\u00e1vel, exigindo o certificado de origem dos produtos que consomem \u2014 hoje, cerca de 76% da carne produzida nas pastagens que tomam conta da Amaz\u00f4nia \u00e9 destinada ao consumo interno, segundo Nobre. \u201cExigir o certificado de origem \u00e9 dar uma vantagem para quem pratica a pecu\u00e1ria legal\u201d, opina.<\/p>\n\n\n\n<p>Afinal, por mais que pare\u00e7am impercept\u00edveis, as a\u00e7\u00f5es individuais t\u00eam impactos que n\u00e3o se limitam a proximidades geogr\u00e1ficas. Assim como nos biomas, tudo est\u00e1 interligado. Por isso, n\u00e3o \u00e9 exagero dizer que nossa pr\u00f3pria sobreviv\u00eancia depende da deles.<\/p>\n\n\n\n<p>Fonte: Galileu<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"<div class=\"mh-excerpt\"><p>O desequil\u00edbrio \u00e9 preocupante. Morte de peixes, o aparecimento de gaivotas e gavi\u00f5es que n\u00e3o fazem parte da fauna local e a prolifera\u00e7\u00e3o de cianobact\u00e9rias t\u00f3xicas. <a class=\"mh-excerpt-more\" href=\"http:\/\/localhost\/clipping\/2020\/10\/20\/164464-por-que-os-biomas-brasileiros-nunca-estiveram-tao-ameacados.html\" title=\"Por que os biomas brasileiros nunca estiveram t\u00e3o amea\u00e7ados\"><\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":164465,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[32,1587,85,79,76,54,547,43,276,42],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/164464"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=164464"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/164464\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":164469,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/164464\/revisions\/164469"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/164465"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=164464"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=164464"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=164464"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}