{"id":16704,"date":"2004-10-29T00:00:00","date_gmt":"2004-10-29T00:00:00","guid":{"rendered":""},"modified":"2010-04-12T15:31:09","modified_gmt":"2010-04-12T18:31:09","slug":"span-alignleftaraucarias-como-deixar-uma-situacao-ruim-ainda-piorbrspanfontfont-size1span-alignrightluciano-pizzattospanfont","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/exclusivas\/2004\/10\/29\/16704-span-alignleftaraucarias-como-deixar-uma-situacao-ruim-ainda-piorbrspanfontfont-size1span-alignrightluciano-pizzattospanfont.html","title":{"rendered":"\u201dArauc\u00e1rias: como deixar uma situa\u00e7\u00e3o ruim ainda pior!\u201d\r\n<\/span><\/font>Luciano Pizzatto<\/span><\/font>"},"content":{"rendered":"

As florestas de arauc\u00e1rias, o Pinheiro do Paran\u00e1, uma das duas \u00fanicas esp\u00e9cies de con\u00edferas nativas do nosso pa\u00eds, est\u00e3o novamente na berlinda, com a justa preocupa\u00e7\u00e3o pela sua dr\u00e1stica redu\u00e7\u00e3o da cobertura original, que se estendia do Rio Grande do Sul at\u00e9 a transi\u00e7\u00e3o de Minas Gerais.<\/p>\n

Sua desconsidera\u00e7\u00e3o como esp\u00e9cie relevante e ecossistema \u00fanico chegou ao ponto at\u00e9 mesmo de ser extinto desta categoria, e chamado genericamente de Mata Atl\u00e2ntica, contrariando a maioria dos pesquisadores e a hist\u00f3ria natural do pa\u00eds, e atendendo a milit\u00e2ncia e outros interesses.<\/p>\n

Para alguns, sou suspeito para falar do tema, j\u00e1 que sou madeireiro de quarta gera\u00e7\u00e3o, ou at\u00e9 mesmo um tipo de ecologista de motoserra, como li a algum tempo. Para outros, e para mim particularmente, sei que minha fam\u00edlia, e mais 500 fam\u00edlias de funcion\u00e1rios, vivemos a 85 anos, em uma mesma empresa, manejando as mesmas propriedades, com 60% de cobertura florestal de Arauc\u00e1rias, \u00e1reas certificadas pelo FSC, Planos de Manejo com relat\u00f3rios de auditoria externa independente a v\u00e1rios anos, detentor de v\u00e1rias premia\u00e7\u00f5es incluindo o Primeiro Pr\u00eamio Nacional de Ecologia\/86, 5 teses de doutorado avaliando o manejo executado, e alguns outros detalhes compensadores.<\/p>\n

Mesmo assim, esta Empresa e \u00e1reas florestais – como algo em funcionamento – jamais tiveram a honra de serem visitadas formalmente por t\u00e9cnicos do MMA ou IBAMA, para especificamente verificarem o que de bom ou de ruim j\u00e1 foi feito. N\u00e3o para multar ou fiscalizar, s\u00f3 tentar aprender – mas esta \u00e9 outra hist\u00f3ria.<\/p>\n

A verdade, \u00e9 que com a experi\u00eancia e o resultado conseguido at\u00e9 hoje, n\u00e3o tenho d\u00favidas de que a situa\u00e7\u00e3o da Arauc\u00e1ria como esp\u00e9cie econ\u00f4mica \u00e9 muito ruim, e que sua sustentabilidade vem diminuindo a cada ano.<\/p>\n

Lendo uma palestra do meu bisav\u00f4, no primeiro Congresso Florestal Brasileiro, em Curitiba (PR), l\u00e1 pelos idos de 1952, sinto como se estivesse lendo um relat\u00f3rio rec\u00e9m publicado. O tema \u00e9 recorrente: falta de pol\u00edtica florestal, descaso p\u00fablico, avan\u00e7o da fronteira agr\u00edcola, necessidade de plantar e est\u00edmulo aos que conservam as florestas de Arauc\u00e1ria.<\/p>\n

Fui diretor de Parques Nacionais e Reservas do IBDF\/IBAMA em 88\/89, e o mesmo tema era discutido, com a agravante que desde o Instituto Nacional do Pinho, que antecedeu o IBDF, o setor produtivo j\u00e1 pagava taxas ao Governo com a finalidade de que fossem plantadas Arauc\u00e1rias, e hoje, em Pleno 2004, as mesmas taxas, chamadas de reposi\u00e7\u00e3o florestal ou outros adjetivos, se perdem na burocracia, custeio, e o reflorestamento continua um detalhe esquecido.<\/p>\n

Nas mesmas mem\u00f3rias, encontrei um mapa de 1948, onde no Estado do Paran\u00e1 estava demarcada toda a regi\u00e3o centro-sul como j\u00e1 explorada pela Ind\u00fastria Madeireira, e o restante do Paran\u00e1 como florestas de Arauc\u00e1rias inexploradas. Hoje, o lugar que restam florestas remanescentes de Arauc\u00e1ria \u00e9 exatamente onde se indicava sua j\u00e1 explora\u00e7\u00e3o em 48, e o restante onde estavam intocadas \u00e9 hoje o grande e necess\u00e1rio p\u00f3lo agropecu\u00e1rio do Estado.<\/p>\n

Al\u00e9m da experi\u00eancia como empres\u00e1rio e engenheiro florestal, fiz v\u00e1rias campanhas no in\u00edcio da vida p\u00fablica, onde distribu\u00ed em algumas cidades, incluindo Curitiba, algumas mudinhas de Arauc\u00e1ria, algo como 1 milh\u00e3o de \u00e1rvores em cinco campanhas. Uma delas foi plantada pelo meu sogro em seu jardim, e h\u00e1 alguns anos, quando ela completava a jovem idade de 17\/18 anos ele me serviu Pinh\u00f5es (sementes da Arauc\u00e1ria) colhidos desta \u00e1rvore, ou seja, a vida se renovava, com os filhos da \u00e1rvore plantada, em menos de vinte anos.<\/p>\n

Uma breve observa\u00e7\u00e3o: n\u00e3o estou nem defendendo nem acusando ningu\u00e9m, apenas registrando alguns fatos ….<\/p>\n

Quando o sucesso do Manejo Ambiental desenvolvido na d\u00e9cada de 70\/80 foi reconhecido com v\u00e1rias premia\u00e7\u00f5es e divulga\u00e7\u00e3o, conceitos como o da intera\u00e7\u00e3o flora\/fauna, de corredores de biodivesidade, da quebra da homogeneidade dos reflorestamentos com ex\u00f3ticas atrav\u00e9s da manuten\u00e7\u00e3o de nativas em baixo grau em seu interior, e outras atividades hoje usuais, come\u00e7aram a se expandir em todo pa\u00eds e em especial no nosso munic\u00edpio de Gal. Carneiro – PR, e a maioria
\ndas propriedades passaram a manter Arauc\u00e1rias, com a certeza de ser uma boa atitude e um bom neg\u00f3cio.<\/p>\n

Mas a diminui\u00e7\u00e3o dos remanescentes produtivos continuou, e por diversos motivos, a tese do imobilismo venceu, quando a mais de dois anos foi suspenso o corte desta esp\u00e9cie, para que as autoridades definissem uma pol\u00edtica de seu uso racional (prazo de 1 ano n\u00e3o cumprido) e a fiscaliza\u00e7\u00e3o e a\u00e7\u00f5es duras foram implementadas contra os \u201ccriminosos\u201d que cortam uma esp\u00e9cie em extin\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Qual extin\u00e7\u00e3o? Como esp\u00e9cie, n\u00e3o creio e nem os geneticistas que consultei. Como esp\u00e9cie econ\u00f4mica relevante. Talvez sim, por sua substitui\u00e7\u00e3o em 95% do mercado com o Pinus spp.<\/p>\n

E a decis\u00e3o. Melhorou a grave situa\u00e7\u00e3o da esp\u00e9cie. N\u00e3o! A mais singela avalia\u00e7\u00e3o demonstra que destru\u00edmos o conceito de sustentabilidade, dando prote\u00e7\u00e3o integral e \u00eanfase \u00e0 fun\u00e7\u00e3o ecol\u00f3gica, e tentando suspender, mesmo que momentaneamente, as fun\u00e7\u00f5es econ\u00f4micas e sociais.<\/p>\n

As \u00e1reas do nosso exemplo do Munic\u00edpio de General Carneiro, passaram a ser citadas como um dos munic\u00edpios de maior desmatamento nos \u00faltimos 2 anos, se contrapondo a relativa conserva\u00e7\u00e3o dos \u00faltimos 20 anos. Em qualquer munic\u00edpio da regi\u00e3o centro-sul do Paran\u00e1 e norte de Santa Catarina, a Arauc\u00e1ria \u00e9 sin\u00f4nimo de \u201carvore maldita\u201d (que injusti\u00e7a!). Se algumas \u00e1rvores adultas s\u00e3o mantidas sob a for\u00e7a do Estado, do Minist\u00e9rio P\u00fablico, de ONGs e alguns entusiastas, qualquer mudinha que se regenerar rapidamente est\u00e1 sendo arrancada. O argumento: como posso deixar nascer um problema na minha vida.<\/p>\n

Um argumento revoltante para alguns, mas l\u00f3gico e natural para aquele que pensa ou foi induzido a pensar que se aquela mudinha de Arauc\u00e1ria crescer ele n\u00e3o poder\u00e1 mais cortar nem usar seu peda\u00e7o de terra a boa atitude virou um mau neg\u00f3cio. Nem sabe que algu\u00e9m apenas suspendeu o manejo da esp\u00e9cie para procurar ou pensar em uma solu\u00e7\u00e3o, pois o que \u00e9 divulgado \u00e9 que est\u00e1 tudo proibido, fim da esp\u00e9cie, mega-opera\u00e7\u00f5es com for\u00e7a policial, e outras manchetes.<\/p>\n

\u00c9 isto que gera a intocabilidade. Um modelo n\u00e3o sustent\u00e1vel. Hist\u00f3ria j\u00e1 vivida por Estados como o Rio Grande do Sul que por lei estadual proibiu o corte de \u00e1rvores na d\u00e9cada de oitenta, e conseguiu desestabilizar todo o sistema, at\u00e9 ter que revogar uma lei idealista, mas inaplic\u00e1vel.<\/p>\n

Interessante \u00e9 que com o dinheiro que foi gasto na \u00faltima opera\u00e7\u00e3o de fiscaliza\u00e7\u00e3o conjunta da Arauc\u00e1ria de Santa Catarina e Paran\u00e1, daria para produzir e fomentar o plantio de mais milh\u00f5es de \u00e1rvores. Dezenas de vezes mais do que o necess\u00e1rio para garantir a esp\u00e9cie. Poderiam at\u00e9 ser plantadas em campanhas nos milhares de quil\u00f4metros de margens das rodovias dos Estados de sua distribui\u00e7\u00e3o natural, formando um imenso tecido de distribui\u00e7\u00e3o de suas sementes, em pouco tempo.<\/p>\n

Mas n\u00e3o. Deixamos de fazer o \u00f3bvio. Valorizar uma esp\u00e9cie, estimular seu f\u00e1cil plantio, criar unidades de conserva\u00e7\u00e3o representativas, manter um banco de germoplasma em v\u00e1rias localidades, para simplesmente dizer: parem tudo por uns anos enquanto pensamos, sem lembrar que a vida n\u00e3o p\u00e1ra.<\/p>\n

Espero poder continuar a manejar esta esp\u00e9cie. Cortar bem menos que o incremento natural da floresta e com este recurso cuidar e proteger os remanescentes, gerar empregos, manter a fauna e flora acompanhante, permitir que mais 4 ou 40 gera\u00e7\u00f5es da minha fam\u00edlia e das 500 fam\u00edlias que trabalham na nossa ind\u00fastria florestal tamb\u00e9m vivam.<\/p>\n

E se o exemplo que j\u00e1 funciona n\u00e3o serve, ent\u00e3o digam o que fazer, menos dizer: pare tudo e n\u00e3o viva enquanto n\u00e3o sabemos (e n\u00e3o aceitamos ver o que voc\u00ea j\u00e1 fez).<\/p>\n

Mesmo assim, plante \u00e1rvores. Plante florestas produtivas intercaladas com reservas de nativas e \u00e1reas de preserva\u00e7\u00e3o. Plante Arauc\u00e1rias. A raz\u00e3o demora mas vence.<\/p>\n

Luciano Pizzatto, Eng. Florestal, Empres\u00e1rio do setor, Diretor de Parques
\nNacionais e Reservas do IBDF\/IBAMA 88\/89, Deputado de 1989\/2003, detentor do Pr\u00eamio Nacional de Ecologia.<\/em><\/p>\n

As opini\u00f5es expressas no texto s\u00e3o de inteira responsabilidade do autor, n\u00e3o representando o pensamento do Portal ambientebrasil<\/span>.<\/strong><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Em um artigo que conta o conflito da conserva\u00e7\u00e3o com os que preferem o imobilismo para tentar proteger o Pinheiro do Paran\u00e1, a Arauc\u00e1ria, Luciano Pizzatto que pertence a uma fam\u00edlia de madeireiros, traduz a ang\u00fastia dos que convivem no meio rural e n\u00e3o compreendem os danos irrepar\u00e1veis que a suspens\u00e3o do corte desta esp\u00e9cie est\u00e3o trazendo para seus \u00faltimos remanescentes, atrav\u00e9s de mais uma pol\u00edtica bem intencionada mas equivocada. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":0,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4,3],"tags":[],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/16704"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=16704"}],"version-history":[{"count":0,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/16704\/revisions"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=16704"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=16704"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=16704"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}