{"id":171587,"date":"2021-06-28T14:51:19","date_gmt":"2021-06-28T17:51:19","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=171587"},"modified":"2021-06-28T14:51:23","modified_gmt":"2021-06-28T17:51:23","slug":"brasil-volta-a-apostar-em-energia-nuclear","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2021\/06\/28\/171587-brasil-volta-a-apostar-em-energia-nuclear.html","title":{"rendered":"Brasil volta a apostar em energia nuclear"},"content":{"rendered":"\n
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O complexo nuclear de Angra: duas usinas est\u00e3o prontas, a terceira teve obras paralisadas em 2015<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

O governo Jair Bolsonaro<\/a> retoma nesta semana o controverso projeto de constru\u00e7\u00e3o da usina nuclear<\/a> de Angra 3, no Rio de Janeiro. As obras foram iniciadas ainda durante a ditadura, em 1984, mas est\u00e3o paralisadas desde 2015, ap\u00f3s esc\u00e2ndalo de corrup\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

At\u00e9 o momento, 65% das obras est\u00e3o finalizadas, ao custo de R$ 7,8 bilh\u00f5es. Para o resto, estima-se que ser\u00e3o necess\u00e1rios mais 15 bilh\u00f5es. O edital j\u00e1 foi lan\u00e7ado, e o processo continua nesta ter\u00e7a-feira (29\/06), com a abertura de propostas do setor privado.<\/p>\n\n\n\n

O objetivo \u00e9 adiantar as atividades de constru\u00e7\u00e3o antes mesmo da contrata\u00e7\u00e3o da empresa que far\u00e1 a obra em sua totalidade. Segundo a Eletrobras, estatal do setor de energia el\u00e9trica, mostraram interesse na conclus\u00e3o de Angra 3 mais de 20 empresas, como a Westinghouse (EUA), EDF (Fran\u00e7a) e Rosatom (R\u00fassia), al\u00e9m de CNNC e SNPTC (China).<\/p>\n\n\n\n

No Brasil, a explora\u00e7\u00e3o da\u00a0energia nuclear<\/a> \u00e9\u00a0monop\u00f3lio da Uni\u00e3o, segundo a Constitui\u00e7\u00e3o. O governo Bolsonaro quer, com o edital, atrair um parceiro para a Eletronuclear, subsidi\u00e1ria da Eletrobras respons\u00e1vel pela usina.<\/p>\n\n\n\n

O ministro de Minas e Energia, almirante Bento Albuquerque, defende a constru\u00e7\u00e3o de usinas nucleares como alternativa para minimizar crises h\u00eddricas como a\u00a0atravessada pelo Brasil atualmente.<\/p>\n\n\n\n

Se conclu\u00edda, a unidade ter\u00e1 uma pot\u00eancia de 1,4 GW e poder\u00e1 atender 4,5 milh\u00f5es de pessoas. Para cr\u00edticos, o custo \u00e9 muito alto frente \u00e0 capacidade de gera\u00e7\u00e3o da usina.<\/p>\n\n\n\n

Projeto dos anos 1970<\/h2>\n\n\n\n

A retomada das obras gera, al\u00e9m disso, apreens\u00e3o entre especialistas, que veem Angra 3 como um projeto obsoleto. Uma usina essencialmente id\u00eantica na Alemanha, parceiro hist\u00f3rico do Brasil no desenvolvimento de energia nuclear, foi desligada devido aos riscos.<\/p>\n\n\n\n

“A tecnologia de Angra 3 \u00e9 basicamente a mesma do projeto original, definido h\u00e1 mais de 40 anos”, diz C\u00e9lio Bermann, professor associado do Instituto de Energia e Ambiente da USP. “As mudan\u00e7as alegadas pelo governo s\u00e3o superficiais, n\u00e3o atingem os equipamentos mais importantes. Essa \u00e9 uma pseudomoderniza\u00e7\u00e3o.”<\/p>\n\n\n\n

O Minist\u00e9rio das Minas e Energia (MME) n\u00e3o v\u00ea problema no fato de a usina ter sido planejada nos anos 1970. Procurada pela DW Brasil, a pasta disse que foram feitas “mudan\u00e7as na concep\u00e7\u00e3o original” e incorporadas “moderniza\u00e7\u00f5es tecnol\u00f3gicas” ao longo do tempo.<\/p>\n\n\n\n

V\u00e1rias altera\u00e7\u00f5es ainda est\u00e3o previstas, segundo o minist\u00e9rio, que cita “a ado\u00e7\u00e3o de controles digitais” e “um refor\u00e7o na resist\u00eancia a terremotos e maremotos”, desenvolvido depois do desastre de Fukushima, em 2011, no Jap\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Angra 3 foi planejada no \u00e2mbito do Acordo Nuclear Brasil-Alemanha, assinado em 1975. As obras foram paralisadas ap\u00f3s descoberta de um esquema de corrup\u00e7\u00e3o\u00a0investigado pela Opera\u00e7\u00e3o Lava Jato. As investiga\u00e7\u00f5es levaram \u00e0 pris\u00e3o de executivos da Eletronuclear, como o almirante Othon Pinheiro da Silva, ex-chefe da companhia.<\/p>\n\n\n\n

Alemanha n\u00e3o aprovaria Angra 3 hoje<\/h2>\n\n\n\n

Com uma experi\u00eancia de quase 40 anos em v\u00e1rios minist\u00e9rios alem\u00e3es na \u00e1rea de seguran\u00e7a nuclear e prote\u00e7\u00e3o contra a radia\u00e7\u00e3o, o engenheiro Dieter Majer diz \u00e0 DW Brasil que hoje uma usina baseada no modelo previsto para Angra 3 n\u00e3o seria aprovada na Alemanha, “por n\u00e3o corresponder \u00e0 situa\u00e7\u00e3o atual no campo da ci\u00eancia e da tecnologia”.<\/p>\n\n\n\n

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Em 2012, protesto na Alemanha pedia o fim de Angra 3: um ano antes, Merkel decretara o fim da energia nuclear no pa\u00eds<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Pouco depois da cat\u00e1strofe na usina nuclear japonesa de Fukushima, em 2011, a chanceler federal alem\u00e3, Angela Merkel, se comprometeu a desligar todas as usinas nucleares do pa\u00eds. \u00c0 \u00e9poca, os planos determinaram a paralisa\u00e7\u00e3o das oito unidades mais antigas do pa\u00eds, al\u00e9m do fechamento de outras nove, at\u00e9 2022.<\/p>\n\n\n\n

Majer lembra que a usina de Grafenrheinfeld – “essencialmente id\u00eantica \u00e0s unidades de Angra 2 e Angra 3” – teve que ser retirada precocemente da rede, depois do acidente de Fukushima. O motivo foram “d\u00e9ficits de seguran\u00e7a relevantes”, mesmo ap\u00f3s ser modernizada ao longo dos anos.<\/p>\n\n\n\n

Para atingir os atuais padr\u00f5es internacionais tecnol\u00f3gicos e cient\u00edficos, Angra 3 teria que ser totalmente replanejada, segundo o especialista alem\u00e3o: “Uma reforma apropriada n\u00e3o \u00e9 poss\u00edvel em termos de tecnologia de constru\u00e7\u00e3o e maquin\u00e1rio.”<\/p>\n\n\n\n

Na contram\u00e3o da Alemanha, o governo Bolsonaro promete agora voltar a investir no setor, considerado priorit\u00e1rio. Entre os motivos para a retomada, o Minist\u00e9rio das Minas e Energia cita “os grandes recursos de ur\u00e2nio” e o “pleno dom\u00ednio do ciclo do combust\u00edvel nuclear” j\u00e1 alcan\u00e7ado pelo Brasil, al\u00e9m da necessidade de instala\u00e7\u00e3o “de 8 a 10 GW de fonte nuclear”. <\/p>\n\n\n\n

A Eletrobras destaca que Angra 3 vai produzir “energia limpa”, “ao contr\u00e1rio das termel\u00e9tricas movidas a combust\u00edveis f\u00f3sseis”, que precisam ser acionadas para aliviar hidrel\u00e9tricas em caso de estiagem.<\/p>\n\n\n\n

Especialista denuncia falta de transpar\u00eancia<\/h2>\n\n\n\n

Autora de tr\u00eas livros sobre a quest\u00e3o nuclear no Brasil, entre eles, Bomba at\u00f4mica! Pra qu\u00ea? Brasil e energia nuclear<\/em>, rec\u00e9m-lan\u00e7ado em vers\u00e3o ebook, a jornalista Tania Malheiros diz que o acesso a informa\u00e7\u00f5es sobre o setor ficou mais dif\u00edcil no governo Bolsonaro.<\/p>\n\n\n\n

Segundo Malheiros, h\u00e1 cerca de um ano, a usina de Angra 2 precisou ser desligada “depois que foram detectados problemas de ferrugem nos tubos das varetas de combust\u00edvel nuclear”. Mas, apesar de seus in\u00fameros pedidos de explica\u00e7\u00e3o, “nada foi divulgado”. “N\u00e3o h\u00e1 transpar\u00eancia”, afirma.<\/p>\n\n\n\n

A jornalista lembra que o hist\u00f3rico da usina \u00e9 marcado por “den\u00fancias de corrup\u00e7\u00e3o e sangria de recursos provocada por m\u00e1 gest\u00e3o”, e lamenta a d\u00edvida acumulada pela Eletronuclear, gestora de Angra 3, que ainda deve R$ 6,6 bilh\u00f5es ao BNDES e \u00e0 Caixa Econ\u00f4mica Federal. “S\u00f3 por causa de uma \u00fanica usina, o Brasil produziu uma d\u00edvida dessa ordem. Como chegamos a esse ponto?”, indaga.<\/p>\n\n\n\n

Acordo com a Alemanha em xeque<\/h2>\n\n\n\n

Assinado nos anos 1970, o Acordo Nuclear Brasil-Alemanha prev\u00ea uma coopera\u00e7\u00e3o bilateral para “uso pac\u00edfico da energia nuclear”. Pelo acordo, oito usinas nucleares seriam constru\u00eddas – mas apenas Angra 2 virou realidade. Angra 3 deve entrar em opera\u00e7\u00e3o em 2026, se os planos do governo Bolsonaro derem certo.<\/p>\n\n\n\n

At\u00e9 l\u00e1, no entanto, \u00e9 poss\u00edvel que o acordo n\u00e3o esteja mais em vigor. Renovado a cada cinco anos, ele expira em 2025. Ele poder\u00e1 ser torpedeado pelo Partido Verde alem\u00e3o, que, segundo pesquisas, tem chances de fazer parte de uma coaliz\u00e3o de governo ap\u00f3s as elei\u00e7\u00f5es gerais de setembro na Alemanha. Para os verdes, o pa\u00eds deveria se tornar um modelo mundial para o abandono da energia nuclear.<\/p>\n\n\n\n

O governo alem\u00e3o admite que a situa\u00e7\u00e3o mudou. Em resposta \u00e0 DW Brasil, o Minist\u00e9rio do Meio Ambiente disse que, com a mudan\u00e7a de atitude do governo federal da Alemanha em rela\u00e7\u00e3o ao uso de energia at\u00f4mica, “os acordos e arranjos de coopera\u00e7\u00e3o bilateral da d\u00e9cada de 1970” na \u00e1rea do uso pac\u00edfico da energia at\u00f4mica com o Brasil “tornaram-se, em grande parte, obsoletos”.<\/p>\n\n\n\n

Mas, para o governo alem\u00e3o, eles ainda podem ser \u00fateis em termos de coopera\u00e7\u00e3o bilateral, para melhorar a seguran\u00e7a das instala\u00e7\u00f5es nucleares por meio de trabalho t\u00e9cnico e cient\u00edfico conjunto. O que n\u00e3o significa um sinal verde para novas instala\u00e7\u00f5es: “A Alemanha se recusar\u00e1 a trabalhar em conjunto para construir novas usinas nucleares” com o Brasil, disse o Minist\u00e9rio.<\/p>\n\n\n\n

Segundo o Minist\u00e9rio de Minas e Energia brasileiro, o acordo nuclear com a Alemanha “ainda \u00e9 relevante para o Brasil”. Tanto Angra 2 quanto Angra 3, segundo o minist\u00e9rio, “contam com tecnologia alem\u00e3 Siemens\/KWU (hoje, Framatome ANP), que continua a fornecer suporte t\u00e9cnico” para as duas usinas.<\/p>\n\n\n\n

Para o professor Bermann, com ou sem acordo, o Brasil corre o risco de ficar sem a consultoria t\u00e9cnica alem\u00e3. “Com o tempo, n\u00e3o haver\u00e1 mais ningu\u00e9m na Alemanha com capacidade para dar esse suporte. Mesmo que os competentes institutos do setor queiram dar assist\u00eancia, eles n\u00e3o estar\u00e3o mais trabalhando com essa tecnologia, que j\u00e1 est\u00e1 superada.”<\/p>\n\n\n\n

Obra seria mais barata que o desmonte<\/h2>\n\n\n\n

Do investimento total de R$ 15 bilh\u00f5es previstos para Angra 3, a Eletrobras j\u00e1 liberou R$ 1,052 bilh\u00e3o em 2020, e tem previstos mais R$ 2,447 bilh\u00f5es para 2021, segundo o Minist\u00e9rio das Minas e Energia. A usina \u00e9 vista como “fundamental” para o fornecimento de energia para a regi\u00e3o Sudeste.<\/p>\n\n\n\n

O professor de Engenharia Nuclear da Coppe\/UFRJ e e ex-presidente da Ind\u00fastrias Nucleares do Brasil (INB) Aquilino Senra defende a conclus\u00e3o de Angra 3. Para ele, “seria necess\u00e1rio arcar com um preju\u00edzo de cerca R$ 15 bilh\u00f5es de reais para o desmonte da estrutura j\u00e1 existente, a quita\u00e7\u00e3o de empr\u00e9stimos j\u00e1 realizados, multas contratuais e a desativa\u00e7\u00e3o completa do canteiro de obras”.<\/p>\n\n\n\n

Para\u00a0cr\u00edticos, por\u00e9m, o alto custo do desmonte “\u00e9 um argumento a mais” para se abrir m\u00e3o da energia nuclear. “Isso, sem falar na quest\u00e3o da seguran\u00e7a e do lixo at\u00f4mico, at\u00e9 hoje sem uma solu\u00e7\u00e3o definitiva”, diz Bermann. “Temos alternativas, como a e\u00f3lica, a solar e a biomassa \u2013 que s\u00e3o intermitentes, mas podem ser gerenciadas em conjunto com a hidr\u00e1ulica, e assegurar energia o tempo todo”, resume.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: Deutsche Welle<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"