{"id":171591,"date":"2021-06-28T14:59:09","date_gmt":"2021-06-28T17:59:09","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=171591"},"modified":"2021-06-28T14:59:12","modified_gmt":"2021-06-28T17:59:12","slug":"lagarto-revela-como-zoologicos-podem-sem-querer-estimular-trafico-de-animais","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2021\/06\/28\/171591-lagarto-revela-como-zoologicos-podem-sem-querer-estimular-trafico-de-animais.html","title":{"rendered":"Lagarto revela como zool\u00f3gicos podem, sem querer, estimular tr\u00e1fico de animais"},"content":{"rendered":"\n
\"\"<\/a>
Nativos de Born\u00e9u, lagartos da esp\u00e9cie\u00a0Lanthanotus borneensis<\/em>\u00a0n\u00e3o eram vistos h\u00e1 d\u00e9cadas, at\u00e9 que pesquisadores encontraram um em 2008. Este esp\u00e9cime no zool\u00f3gico de Budapeste \u00e9 um dos que est\u00e3o agora em exibi\u00e7\u00e3o em zool\u00f3gicos da Europa e dos Estados Unidos.
FOTO DE\u00a0JOEL SARTORE, NATIONAL GEOGRAPHIC PHOTO ARK<\/strong><\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Quando uma equipe de pesquisadores come\u00e7ou a explorar uma selva na parte indon\u00e9sia de Born\u00e9u em uma manh\u00e3 de maio de 2008, eles n\u00e3o tinham ideia de que encontrariam uma \u201craridade da herpetologia\u201d durante uma pausa para o almo\u00e7o. Sentado ao lado de um riacho, um dos membros da equipe indon\u00e9sia avistou um lagarto amarelo-acastanhado, com cerca de 30 cent\u00edmetros de comprimento, rosto como o de um dinossauro de desenho animado e escamas pronunciadas, parecendo um minicrocodilo.<\/p>\n\n\n\n

Era um lagarto da esp\u00e9cie\u00a0Lanthanotus borneensis<\/em>, o primeiro esp\u00e9cime encontrado na natureza em d\u00e9cadas. A not\u00edcia da\u00a0redescoberta, anunciada em um artigo de 2012, se espalhou rapidamente entre os entusiastas de r\u00e9pteis.<\/p>\n\n\n\n

A Indon\u00e9sia e a Mal\u00e1sia possuem leis rigorosas de prote\u00e7\u00e3o a esses lagartos h\u00e1 d\u00e9cadas, o que significa que \u00e9 proibido mant\u00ea-los em cole\u00e7\u00f5es ou comercializ\u00e1-los. Nenhum dos dois pa\u00edses\u00a0sancionou legalmente sua exporta\u00e7\u00e3o, mas o artigo de 2012 despertou repentinamente o interesse pela esp\u00e9cie entre colecionadores, que estavam dispostos a pagar milhares de d\u00f3lares por um \u00fanico lagarto. Os autores inadvertidamente forneceram informa\u00e7\u00f5es suficientes para alertar ca\u00e7adores ilegais sobre onde encontrar os lagartos.<\/p>\n\n\n\n

Especialistas estimam que cerca de 200 esp\u00e9cimes \u2014 alguns provenientes da natureza, outros nascidos de animais capturados na natureza \u2014 foram comercializados entre 2013 e 2016, principalmente no Jap\u00e3o, Europa e Estados Unidos. A maioria acabou nas m\u00e3os de colecionadores, mas zool\u00f3gicos<\/a> credenciados tamb\u00e9m estiveram envolvidos no com\u00e9rcio.<\/p>\n\n\n\n

Contudo um\u00a0relat\u00f3rio publicado em 14 de junho na revista cient\u00edfica\u00a0Nature Conservation<\/em>\u00a0afirma que muitos \u2014 at\u00e9 mesmo a maioria \u2014 dos 70 lagartos da esp\u00e9cie em zool\u00f3gicos credenciados na Europa e nos Estados Unidos parecem apontar ao com\u00e9rcio ilegal. Tecnicamente, os zool\u00f3gicos podem n\u00e3o ter infringido nenhuma lei, mas Vincent Nijman, autor do artigo e ecologista conservacionista da Universidade Oxford Brookes, no Reino Unido, espera que o artigo fa\u00e7a os zool\u00f3gicos considerarem com mais cuidado a complicada \u00e9tica e \u00f3tica profissional de obter animais com proced\u00eancias question\u00e1veis.<\/p>\n\n\n\n

\u201cSe os zool\u00f3gicos querem ser levados a s\u00e9rio em suas declara\u00e7\u00f5es contra o com\u00e9rcio ilegal de animais selvagens e contribuir de modo positivo para a conserva\u00e7\u00e3o, eles precisam ser impec\u00e1veis nessa quest\u00e3o\u201d, declara Nijman. \u201cAs organiza\u00e7\u00f5es devem dar o bom exemplo.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Thomas Ziegler, curador de r\u00e9pteis do Zool\u00f3gico de Col\u00f4nia, na Alemanha, que possui quatro esp\u00e9cimes desses lagartos, concorda que os zool\u00f3gicos enfrentam um dilema \u00e9tico agora que os animais est\u00e3o dispon\u00edveis para comercializa\u00e7\u00e3o. Mas ele acredita que zool\u00f3gicos credenciados t\u00eam justificativas quando decidem adquirir a esp\u00e9cie. \u201cDevemos deix\u00e1-los morrer \u2014 desaparecer em propriedades privadas porque n\u00e3o podemos ficar com eles? Dessa forma, podemos perder a esp\u00e9cie\u201d, afirma ele. \u201cOs zool\u00f3gicos t\u00eam o potencial de atuar como arcas modernas, salvando as esp\u00e9cies.\u201d<\/p>\n\n\n\n

N\u00e3o est\u00e1 claro como o lagarto L. borneensis<\/em> \u2014 que \u00e9 \u00fanico do ponto de vista evolutivo e representa a \u00fanica esp\u00e9cie viva da fam\u00edlia Lanthanotidae \u2014sobrevive na natureza. Eles foram encontrados no noroeste de Born\u00e9u, incluindo o estado de Sarawak, na Mal\u00e1sia, e a prov\u00edncia de Kalimantan, na Indon\u00e9sia. \u00c9 prov\u00e1vel que a esp\u00e9cie seja considerada \u201cvulner\u00e1vel\u201d, comenta Mark Auliya, herpetologista do Museu de Pesquisa Zool\u00f3gica Alexander Koenig, na Alemanha, que faz parte de uma equipe que avalia a condi\u00e7\u00e3o do animal na natureza para a Uni\u00e3o Internacional para Conserva\u00e7\u00e3o da Natureza.<\/p>\n\n\n\n

Para aumentar a prote\u00e7\u00e3o dos lagartos, a Conven\u00e7\u00e3o sobre o Com\u00e9rcio Internacional das Esp\u00e9cies da Fauna e da Flora Silvestres Amea\u00e7adas de Extin\u00e7\u00e3o (Cites, na sigla em ingl\u00eas), \u00f3rg\u00e3o que regulamenta o com\u00e9rcio global de vida selvagem,\u00a0proibiu seu com\u00e9rcio\u00a0sem autoriza\u00e7\u00e3o em 2016.<\/p>\n\n\n\n

Mas a essa altura, os lagartos j\u00e1 estavam sendo vendidos pela internet e em feiras de exibi\u00e7\u00e3o de r\u00e9pteis. Negociantes comerciais e colecionadores respondem pela maior parte do com\u00e9rcio, de acordo com especialistas e\u00a0relat\u00f3rios investigativos. Mas 11 zool\u00f3gicos credenciados na Europa mant\u00eam pelo menos 60 dos lagartos da esp\u00e9cie e, em fevereiro de 2021, o Zool\u00f3gico Audubon, em Nova Orleans, adquiriu 10 esp\u00e9cimes do Zool\u00f3gico de Praga, na Rep\u00fablica Tcheca.<\/p>\n\n\n\n

Historicamente, zool\u00f3gicos trabalharam juntamente com comerciantes que capturavam animais na natureza. Por d\u00e9cadas, diversos zool\u00f3gicos adquiriram esp\u00e9cies principalmente para fins de entretenimento, sem muita preocupa\u00e7\u00e3o com o potencial impacto do com\u00e9rcio de animais selvagens em termos de conserva\u00e7\u00e3o. No entanto, nos \u00faltimos anos, as associa\u00e7\u00f5es de zool\u00f3gicos e suas institui\u00e7\u00f5es associadas credenciadas t\u00eam promovido cada vez mais seu papel na conserva\u00e7\u00e3o dos animais, tornando-se tamb\u00e9m\u00a0defensores ativos\u00a0contra a ca\u00e7a ilegal\u00a0e o\u00a0tr\u00e1fico de esp\u00e9cies<\/a>.<\/p>\n\n\n\n

Seis tratadores e funcion\u00e1rios de zool\u00f3gicos entrevistados para esta mat\u00e9ria disseram que todos os animais da esp\u00e9cie L. borneensis<\/em> que estavam sob seus cuidados foram adquiridos legalmente para fins de pesquisa e conserva\u00e7\u00e3o. Eles afirmam que os animais em cativeiro poderiam servir como uma reserva gen\u00e9tica caso a esp\u00e9cie seja extinta na natureza.<\/p>\n\n\n\n

Reconstruindo origens<\/h3>\n\n\n\n

Nijman usou informa\u00e7\u00f5es coletadas de m\u00eddias sociais e not\u00edcias, registros em um banco de dados da ind\u00fastria de zool\u00f3gicos e discuss\u00f5es com autoridades da Cites, comerciantes e tratadores de zool\u00f3gicos para descobrir as origens dos L. borneensis<\/em> em 13 zool\u00f3gicos credenciados e tr\u00eas n\u00e3o credenciados. Um zool\u00f3gico credenciado adquiriu seus lagartos somente por meio de confiscos, como quando agentes alfandeg\u00e1rios apreendem animais que traficantes tentavam contrabandear atrav\u00e9s de fronteiras. Os demais obtiveram seus esp\u00e9cimes principalmente por meio de comerciantes e outros zool\u00f3gicos. Nijman argumenta que muitos desses animais parecem ter sido capturados na natureza ou s\u00e3o descendentes de esp\u00e9cimes capturados.<\/p>\n\n\n\n

O Zool\u00f3gico Audubon, por exemplo, obteve 10 lagartos criados em cativeiro no Zool\u00f3gico de Praga, que os criou a partir de sete animais obtidos em 2016 do iZoo, uma instala\u00e7\u00e3o n\u00e3o credenciada na prefeitura de Shizuoka, no Jap\u00e3o. O iZoo, por sua vez, criou os animais exportados para o Zool\u00f3gico de Praga a partir de esp\u00e9cimes\u00a0capturados na natureza, reconhece Tsuyoshi Shirawa, propriet\u00e1rio do iZoo e maior negociante de r\u00e9pteis e animais ex\u00f3ticos do Jap\u00e3o. (Shirawa passou mais de dois anos na pris\u00e3o ap\u00f3s ser condenado em 2007 sob acusa\u00e7\u00f5es de registro fraudulento e com\u00e9rcio de outras esp\u00e9cies de r\u00e9pteis protegidas.)<\/p>\n\n\n\n

Quando entrevistei Shirawa em 2016 para\u00a0um livro\u00a0que estava escrevendo, ele me disse que n\u00e3o violou nenhuma lei quando adquiriu e negociou os animais porque n\u00e3o havia retirado nenhum esp\u00e9cime da Mal\u00e1sia ou Indon\u00e9sia. O Jap\u00e3o, ao contr\u00e1rio dos Estados Unidos, n\u00e3o reconhece as leis de vida selvagem de outros pa\u00edses. Assim, uma vez que uma esp\u00e9cie protegida em um pa\u00eds \u00e9 contrabandeada para o Jap\u00e3o, ela se torna legal.<\/p>\n\n\n\n

\u201cTalvez a esp\u00e9cie seja protegida na Indon\u00e9sia, talvez n\u00e3o \u2014 mas \u00e9 uma lei nacional e vigente apenas na Indon\u00e9sia\u201d, Shirawa argumentou.<\/p>\n\n\n\n

A mesma lacuna jur\u00eddica existe na Europa para animais que n\u00e3o s\u00e3o regulamentados por legisla\u00e7\u00f5es nacionais ou possuem restri\u00e7\u00f5es comerciais pela Cites. Como resultado, o com\u00e9rcio de L. borneensis<\/em> para pa\u00edses europeus aumentou antes de 2017, quando os regulamentos da Cites entraram em vigor.<\/p>\n\n\n\n

Por exemplo, em 2014, Sandra Altherr, cofundadora da Pro Wildlife, uma organiza\u00e7\u00e3o conservacionista alem\u00e3, recebeu uma den\u00fancia de que dois alem\u00e3es estavam capturando ilegalmente esses lagartos na Indon\u00e9sia e os contrabandeando.<\/p>\n\n\n\n

Pouco depois, comerciantes em toda a Europa \u2014 incluindo Alemanha, Ucr\u00e2nia, Rep\u00fablica Tcheca e Fran\u00e7a \u2014 come\u00e7aram a\u00a0divulgar a venda de\u00a0L. borneensis<\/em>\u00a0on-line<\/em>, de acordo com um relat\u00f3rio de investiga\u00e7\u00e3o de 2014 do grupo de monitoramento de com\u00e9rcio de animais selvagens Traffic, do qual Nijman \u00e9 coautor. Um desses anunciantes foi Robert Seipp, um traficante de animais ex\u00f3ticos na Alemanha que, em 1986, foi\u00a0condenado por tr\u00e1fico de r\u00e9pteis\u00a0na Austr\u00e1lia. Ele tamb\u00e9m comercializou\u00a0L. borneensis<\/em>\u00a0em 2014, juntamente com outros animais, na maior exposi\u00e7\u00e3o de r\u00e9pteis da Europa, em Hamm, Alemanha.<\/p>\n\n\n\n

De acordo com o artigo de Nijman publicado na revista cient\u00edfica Nature Conservation<\/em>, em 2014 Seipp tamb\u00e9m forneceu quatro esp\u00e9cimes do lagarto para o Jardim Zool\u00f3gico e Bot\u00e2nico de Budapeste. Todas essas transa\u00e7\u00f5es foram legais.<\/p>\n\n\n\n

Seipp n\u00e3o respondeu aos pedidos de entrevista.<\/p>\n\n\n\n

Alega\u00e7\u00f5es de com\u00e9rcio legal<\/h3>\n\n\n\n

Shirawa me contou que, al\u00e9m de trabalhar com pessoas que contrabandeavam os lagartos para fora da Indon\u00e9sia, ele importou alguns legalmente da Mal\u00e1sia. Outros negociantes de r\u00e9pteis tamb\u00e9m afirmam que as autoridades malaias emitiram licen\u00e7as legais de exporta\u00e7\u00e3o para os lagartos.<\/p>\n\n\n\n

J\u00fcrgen Schmidt, criador profissional de r\u00e9pteis na \u00c1ustria, relatou em um e-mail<\/em> que em 2016 importou legalmente oito lagartos de uma empresa negociante de r\u00e9pteis da Mal\u00e1sia localizado perto de Kuala Lumpur, chamada Versus Creation.<\/p>\n\n\n\n

Schmidt \u201c\u00e9 um dos melhores criadores que conhe\u00e7o\u201d, declara Anton Weissenbacher, curador e especialista em r\u00e9pteis do Zool\u00f3gico de Sch\u00f6nbrunn, em Viena. O zool\u00f3gico obteve quatro L. borneensis<\/em> criados em cativeiro por Schmidt em 2017. \u201cN\u00e3o ter\u00edamos trabalhado com ele se tiv\u00e9ssemos a m\u00ednima sensa\u00e7\u00e3o de que havia algo errado ou estranho\u201d, afirma Weissenbacher.<\/p>\n\n\n\n

A Versus Creation n\u00e3o respondeu aos pedidos de entrevista.<\/p>\n\n\n\n

Schmidt afirma conhecer tr\u00eas outras pessoas que dizem ter importado legalmente um total de 20 a 30 lagartos da Mal\u00e1sia e da Indon\u00e9sia.<\/p>\n\n\n\n

Funcion\u00e1rios do governo de ambos os pa\u00edses contestam isso. Eles afirmam que nunca foram concedidas permiss\u00f5es de exporta\u00e7\u00e3o para a esp\u00e9cie.<\/p>\n\n\n\n

As autoridades em Sarawak nunca emitiram licen\u00e7as de exporta\u00e7\u00e3o da esp\u00e9cie para fora do pa\u00eds ou mesmo de Born\u00e9u para outras partes da Mal\u00e1sia, afirma Melvin Gumal, chefe de conserva\u00e7\u00e3o da biodiversidade e divis\u00e3o de pesquisa da Sarawak Forestry Corporation, o \u00f3rg\u00e3o governamental que emite licen\u00e7as comerciais da Cites.<\/p>\n\n\n\n

\u201cSarawak tem um problema com isso\u201d, reitera Gumal sobre o com\u00e9rcio dos lagartos. \u201cEm primeiro lugar, \u00e9 ilegal. E tamb\u00e9m \u00e9 anti\u00e9tico\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Na Indon\u00e9sia, por outro lado, os comerciantes de r\u00e9pteis podem ter se aproveitado de uma brecha na burocracia decorrente da confus\u00e3o com o nome cient\u00edfico e o nome em ingl\u00eas dos animais. Os comerciantes podiam solicitar permiss\u00f5es usando um nome para os lagartos que n\u00e3o constava na legisla\u00e7\u00e3o indon\u00e9sia, conseguindo driblar a inspe\u00e7\u00e3o da alf\u00e2ndega. (Essa confus\u00e3o foi esclarecida em 2018.)<\/p>\n\n\n\n

\u201cHavia muitas maneiras de burlar a lei para contrabandear a esp\u00e9cie\u201d, declara Amir Hamidy, herpetologista do Instituto de Ci\u00eancias da Indon\u00e9sia e membro da equipe da Cites no pa\u00eds.<\/p>\n\n\n\n

Mas, segundo ele, isso n\u00e3o muda o fato de que os L. borneensis<\/em> s\u00e3o uma esp\u00e9cie protegida. \u201cIsso \u00e9 contrabando.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Uma obriga\u00e7\u00e3o maior<\/h3>\n\n\n\n

Nem o zool\u00f3gico de Budapeste nem o de Praga responderam aos pedidos de entrevistas. Bob Lessnau, vice-presidente e curador geral do Zool\u00f3gico Audubon, escreveu por e-mail<\/em> que ele e seus colegas consideraram o artigo de Nijman \u201cbaseado em presun\u00e7\u00f5es\u201d e \u201csem material de origem factual para apoiar suas afirma\u00e7\u00f5es\u201d.<\/p>\n\n\n\n

\u201cN\u00f3s claramente tomamos os devidos cuidados e obtivemos todas as autoriza\u00e7\u00f5es e permiss\u00f5es das autoridades designadas\u201d, afirma Lessnau, referindo-se aos 10 lagartos do Zool\u00f3gico de Praga. \u201cN\u00e3o constatamos evid\u00eancias de que os animais tenham sido adquiridos ilegalmente.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Dan Ashe, presidente e diretor executivo da Associa\u00e7\u00e3o de Zool\u00f3gicos e Aqu\u00e1rios, uma organiza\u00e7\u00e3o sem fins lucrativos e \u00f3rg\u00e3o de certifica\u00e7\u00e3o que representa mais de 240 instala\u00e7\u00f5es nos Estados Unidos e no exterior, considera o argumento de Nijman \u201cconfuso\u201d.<\/p>\n\n\n\n

\u201cEle declarou amplamente que os zool\u00f3gicos t\u00eam uma obriga\u00e7\u00e3o maior do que o cumprimento da lei\u201d, comenta Ashe. Mas o cumprimento da lei \u201c\u00e9 a maneira de combatermos o tr\u00e1fico\u201d, ele continua, e Nijman \u201cn\u00e3o est\u00e1 mostrando que algu\u00e9m deixou de cumprir a lei\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Mas, considerando as brechas na legisla\u00e7\u00e3o europeia e japonesa, simplesmente seguir a lei \u00e0s vezes n\u00e3o \u00e9 suficiente, afirma Chris Shepherd, diretor executivo da Monitor, uma organiza\u00e7\u00e3o de pesquisa sem fins lucrativos dedicada a esp\u00e9cies pouco conhecidas no com\u00e9rcio de animais selvagens. \u201cIsso basicamente significa que n\u00e3o h\u00e1 problema em infringir as leis em \u00e1reas de ocorr\u00eancia das esp\u00e9cies e em adquirir animais de proced\u00eancia ilegal\u201d, explica ele.<\/p>\n\n\n\n

Outras pessoas no setor dos zool\u00f3gicos afirmam que Nijman levanta quest\u00f5es importantes. \u201cOs zool\u00f3gicos e aqu\u00e1rios, como parte de seus cuidados, t\u00eam a responsabilidade de evitar o apoio \u00e0 exporta\u00e7\u00e3o ilegal de animais\u201d, declara Danny de Man, vice-diretor executivo da Associa\u00e7\u00e3o Europeia de Zool\u00f3gicos e Aqu\u00e1rios (Eaza, na sigla em ingl\u00eas), o organismo de certifica\u00e7\u00e3o de zool\u00f3gicos na Europa. \u201cEsse artigo \u00e9 bastante oportuno, porque acredito que ele nos ajudar\u00e1 a analisar nossas pol\u00edticas e procedimentos e, se necess\u00e1rio, ajust\u00e1-los.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Ivan Reh\u00e1k, presidente do grupo de r\u00e9pteis da Eaza, que mant\u00e9m um livro de registros geneal\u00f3gicos n\u00e3o oficial dos L. borneensis<\/em>, concorda que a origem dos indiv\u00edduos cativos da esp\u00e9cie \u201c\u00e9 problem\u00e1tica\u201d. Mas, segundo ele, os zool\u00f3gicos n\u00e3o causaram o com\u00e9rcio ilegal ou impulsionaram a demanda original por esses lagartos, e os zool\u00f3gicos n\u00e3o t\u00eam os recursos para ir al\u00e9m da lei quando se trata de investigar as origens dos animais que adquirem.<\/p>\n\n\n\n

\u201cAcredito que os zool\u00f3gicos deveriam ser capazes de provar a legalidade e proced\u00eancia de qualquer animal adquirido\u201d, afirma Shepherd. \u201cA responsabilidade n\u00e3o deveria recair sobre pessoas como o Nijman.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Argumentos \u00e9ticos<\/h3>\n\n\n\n

Mesmo que se saiba que um animal tem origens question\u00e1veis, ainda existem \u201cmuitas quest\u00f5es \u00e9ticas\u201d que devem ser consideradas quando se decide adquiri-lo, afirma Reh\u00e1k. No caso do L. borneensis<\/em>, os zool\u00f3gicos podem desempenhar pap\u00e9is valiosos no manejo de popula\u00e7\u00f5es em cativeiro e na participa\u00e7\u00e3o em iniciativas de conserva\u00e7\u00e3o \u201cpara ajudar a garantir a sobreviv\u00eancia da esp\u00e9cie no futuro\u201d, explica ele.<\/p>\n\n\n\n

Comerciantes e tratadores de zool\u00f3gicos frequentemente\u00a0citam a perda de\u00a0habitat<\/em>\u00a0como justificativa para manter popula\u00e7\u00f5es cativas de\u00a0L. borneensis<\/em>\u00a0e de outros animais \u2014 para preserv\u00e1-los no caso de a esp\u00e9cie ser extinta na natureza.<\/p>\n\n\n\n

A maioria dos conservacionistas concorda que um cativeiro cuidadosamente administrado, com um plano para reintroduzir animais na natureza, \u00e9 algo garantido para esp\u00e9cies \u00e0 beira da extin\u00e7\u00e3o. Por exemplo, um programa de reprodu\u00e7\u00e3o em cativeiro lan\u00e7ado no final da d\u00e9cada de 1980 salvou o condor-da-calif\u00f3rnia, criticamente amea\u00e7ado de extin\u00e7\u00e3o. Mas para esp\u00e9cies como o\u00a0L. borneensis<\/em>, que n\u00e3o est\u00e3o a ponto de entrar em colapso, simplesmente citar a destrui\u00e7\u00e3o do\u00a0habitat<\/em>\u00a0como uma raz\u00e3o para mant\u00ea-los em cativeiro \u201c\u00e9 um argumento generalizado e inaceit\u00e1vel\u201d, afirma Auliya. Grande parte das florestas de plan\u00edcie de Born\u00e9u est\u00e1 sendo convertida em planta\u00e7\u00f5es de dendezeiros, mas os lagartos parecem ser capazes de sobreviver em ambientes que sofreram interfer\u00eancias. Especialistas tamb\u00e9m n\u00e3o sabem dizer se a ca\u00e7a ilegal<\/a> est\u00e1 causando o decl\u00ednio da popula\u00e7\u00e3o, explica Auliya.<\/p>\n\n\n\n

\u201cSempre apresentam esse tipo de argumento, mas eu o considero muito fraco\u201d, concorda Hamidy. \u201cN\u00e3o \u00e9 uma justificativa para manter os animais enjaulados.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Gumal acrescenta que as autoridades malaias conhecem mais de meia d\u00fazia de locais estritamente protegidos onde vivem os lagartos, inclusive em parques nacionais, o que enfraquece o argumento da perda de habitat<\/em>. Ele tamb\u00e9m diz que est\u00e1 incomodado com o fato de que cientistas e autoridades da Mal\u00e1sia e da Indon\u00e9sia n\u00e3o fizeram parte das discuss\u00f5es entre zool\u00f3gicos ocidentais sobre a conserva\u00e7\u00e3o do L. borneensis<\/em>.<\/p>\n\n\n\n

Do jeito que as coisas est\u00e3o agora, \u201cos pa\u00edses com recursos os est\u00e3o perdendo para comerciantes inescrupulosos\u201d, explica ele, descrevendo isso como uma situa\u00e7\u00e3o que contraria as melhores pr\u00e1ticas para a distribui\u00e7\u00e3o justa e equitativa dos benef\u00edcios da biodiversidade.<\/p>\n\n\n\n

O\u00a0L. borneensis<\/em>\u00a0oferece aos zool\u00f3gicos uma chance n\u00e3o apenas de reavaliar seu envolvimento com essa esp\u00e9cie em particular, afirma Shepherd, mas de analisar sua abordagem geral para aquisi\u00e7\u00e3o de animais. \u201cEsse artigo \u00e9 muito oportuno, porque destaca um problema que realmente precisa ser resolvido\u201d, declara ele. \u201cSe for para os zool\u00f3gicos terem um papel importante na conserva\u00e7\u00e3o, esse tipo de situa\u00e7\u00e3o precisa ser resolvida.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Fonte: National Geographic Brasil<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Especialistas estimam que cerca de 200 esp\u00e9cimes \u2014 alguns provenientes da natureza, outros nascidos de animais capturados na natureza \u2014 foram comercializados entre 2013 e 2016, principalmente no Jap\u00e3o, Europa e Estados Unidos. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":171592,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[319,40,1335],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/171591"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=171591"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/171591\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":171593,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/171591\/revisions\/171593"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/171592"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=171591"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=171591"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=171591"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}