{"id":171594,"date":"2021-06-28T15:22:02","date_gmt":"2021-06-28T18:22:02","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=171594"},"modified":"2021-06-28T15:22:07","modified_gmt":"2021-06-28T18:22:07","slug":"a-megalopole-perdida-que-bombava-com-festas-mil-anos-atras-nos-eua","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2021\/06\/28\/171594-a-megalopole-perdida-que-bombava-com-festas-mil-anos-atras-nos-eua.html","title":{"rendered":"A megal\u00f3pole perdida que ‘bombava’ com festas mil anos atr\u00e1s nos EUA"},"content":{"rendered":"\n
\"\"<\/a>
Em 1050 d.C, Cahokia era maior do que Paris – MATTGUSH\/GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Mil anos atr\u00e1s, o assentamento Cahokia, \u00e0s margens do Rio Mississipi \u2014 pr\u00f3ximo \u00e0 atual cidade americana de St Louis, no Missouri \u2014 era conhecido pelas festas que duravam dias.<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Multid\u00f5es se acotovelavam por espa\u00e7o em pra\u00e7as enormes. Bebidas energizadas com cafe\u00edna passavam de m\u00e3o em m\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

As pessoas gritavam suas apostas enquanto atletas arremessavam lan\u00e7as e pedras.<\/p>\n\n\n\n

E os cahokianos faziam um verdadeiro banquete: ao escavar seus antigos dep\u00f3sitos de lixo, arque\u00f3logos<\/a> encontraram 2 mil carca\u00e7as de veados de um \u00fanico evento social. A log\u00edstica deve ter sido impressionante.<\/p>\n\n\n\n

As coisas est\u00e3o mais calmas atualmente em Cahokia, um pl\u00e1cido s\u00edtio arqueol\u00f3gico da Unesco. Mas os imponentes montes de terra lembram o legado da maior cidade pr\u00e9-colombiana ao norte do M\u00e9xico.<\/p>\n\n\n\n

Cahokia era um centro cosmopolita de linguagem, arte e espiritualidade. E sua popula\u00e7\u00e3o pode ter chegado a 30 mil habitantes em 1050 d.C. durante seu apogeu \u2014 sendo maior do que Paris na \u00e9poca.<\/p>\n\n\n\n

No entanto, o que Cahokia n\u00e3o tinha \u00e9 o que a torna surpreendente, escreve Annalee Newitz em seu recente livro Four Lost Cities: A Secret History of the Urban Age<\/em> (“Quatro cidades perdidas: a hist\u00f3ria secreta da era urbana”, em tradu\u00e7\u00e3o livre).<\/p>\n\n\n\n

A enorme cidade carecia de um mercado permanente, desconstruindo as velhas suposi\u00e7\u00f5es de que o com\u00e9rcio \u00e9 o princ\u00edpio organizador por tr\u00e1s de toda urbaniza\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

“Cahokia era realmente um centro cultural, em vez de um centro comercial. Ainda fico surpresa, me perguntando: ‘Onde eles comercializavam? Quem estava ganhando dinheiro?'”.<\/p>\n\n\n\n

“A resposta \u00e9 que n\u00e3o estavam. N\u00e3o foi por isso que constru\u00edram esse espa\u00e7o”, explica Newitz.<\/p>\n\n\n\n

\"\"<\/a>
Setenta dos montes originais de Cahokia est\u00e3o protegidos hoje como Patrim\u00f4nio Mundial da Unesco – MICHAEL S LEWIS\/GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Newitz n\u00e3o \u00e9 a \u00fanica que se surpreende. A suposi\u00e7\u00e3o de que o com\u00e9rcio \u00e9 a chave para a vida urbana definiu por muito tempo a vis\u00e3o ocidental do passado, explica o arque\u00f3logo Timothy Pauketat, que estudou Cahokia por d\u00e9cadas.<\/p>\n\n\n\n

“\u00c9 definitivamente um vi\u00e9s que influenciou os primeiros arque\u00f3logos”, diz ele.<\/p>\n\n\n\n

Ao escavar cidades na Mesopot\u00e2mia, pesquisadores encontraram evid\u00eancias de que o com\u00e9rcio era o princ\u00edpio organizador por tr\u00e1s de seu desenvolvimento e, em seguida, usaram o mesmo crit\u00e9rio para cidades antigas em todo o mundo.<\/p>\n\n\n\n

“As pessoas achavam que essa era a base de todas as cidades primitivas. Isso levou a gera\u00e7\u00f5es de arque\u00f3logos buscando por esse tipo de coisa em todos os lugares”, acrescenta.<\/p>\n\n\n\n

Mas eles n\u00e3o encontraram isso em Cahokia, que Pauketat acredita ter sido concebida como um lugar para unir os mundos dos vivos e dos mortos.<\/p>\n\n\n\n

Para muitas culturas com ra\u00edzes na antiga Cahokia, “a \u00e1gua \u00e9 a barreira entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos”.<\/p>\n\n\n\n

Localizada em uma paisagem que combina terra firme com p\u00e2ntano, Cahokia pode ter servido como uma esp\u00e9cie de encruzilhada espiritual.<\/p>\n\n\n\n

“\u00c9 uma cidade constru\u00edda entre a \u00e1gua e a terra seca”, diz Pauketat.<\/p>\n\n\n\n

Os moradores vivos se estabeleciam nos locais mais secos, enquanto os t\u00famulos eram reservados aos locais mais \u00famidos.<\/p>\n\n\n\n

O mapeamento a laser do local revelou cal\u00e7adas elevadas que ligam as “vizinhan\u00e7as” dos vivos e dos mortos, passarelas f\u00edsicas que literalmente unem os dois reinos.<\/p>\n\n\n\n

\"\"<\/a>
Acredita-se que Cahokia pode ter sido uma encruzilhada espiritual – MATT CHAMPLIN\/GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

E se viver no limiar dos dois mundos soa hoje um tanto quanto sombrio, os cahokianos pareciam ver sua cidade natal como um lugar festivo.<\/p>\n\n\n\n

Em seu livro, Newitz escreve que os planejadores urbanos de Cahokia criaram estruturas e espa\u00e7os p\u00fablicos dedicados inteiramente a reuni\u00f5es de massa, lugares em que as pessoas eram arrebatadas pela alegria das experi\u00eancias coletivas.<\/p>\n\n\n\n

A mais espetacular de todas era a pra\u00e7a principal de 20 hectares, onde pelo menos 10 mil pessoas podiam se juntar para celebra\u00e7\u00f5es em um espa\u00e7o monumental rodeado por pir\u00e2mides de terra.<\/p>\n\n\n\n

“\u00c9 dif\u00edcil capturar a intensidade, a grandiosidade, a multidimensionalidade de um evento como esse”, diz Pauketat.<\/p>\n\n\n\n

Por dias, comidas e bebidas eram transportadas para a cidade, onde um ex\u00e9rcito de cozinheiros alimentava as pessoas que chegavam para as festividades.<\/p>\n\n\n\n

Os arsenais de animais ca\u00e7ados, frutas, verduras e legumes se transformavam em um banquete compartilhado.<\/p>\n\n\n\n

Os visitantes dormiam em alojamentos tempor\u00e1rios ou em casas de amigos, indo para a pra\u00e7a para bailes, b\u00ean\u00e7\u00e3os e outros eventos.<\/p>\n\n\n\n

Na pra\u00e7a, a energia vibrante da multid\u00e3o se transformava em um rugido coletivo quando os espectadores apostavam em competi\u00e7\u00f5es de\u00a0chunkey<\/em>.<\/p>\n\n\n\n

\"\"<\/a>
As antigas ru\u00ednas de Cahokia ficam perto da cidade americana de St Louis, no Missouri – JBYARD\/GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

A disputa come\u00e7ava quando um jogador rolava um disco de pedra pela superf\u00edcie lisa do solo.<\/p>\n\n\n\n

Concentrados, centenas de atletas arremessavam suas lan\u00e7as enquanto a pedra ainda quicava e rolava.<\/p>\n\n\n\n

O vencedor era aquele cuja lan\u00e7a pousava mais perto da pedra, como numa partida de bocha gigante jogada com proj\u00e9teis mortais.<\/p>\n\n\n\n

Os elevados postes presentes na pra\u00e7a principal podem ter proporcionado outro espet\u00e1culo atl\u00e9tico, conta Pauketat.<\/p>\n\n\n\n

Ele imagina que os homens subiam nos postes ou se amarravam neles para dan\u00e7ar no ar, um ritual ainda praticado em algumas regi\u00f5es maias da Mesoam\u00e9rica.<\/p>\n\n\n\n

“Na cerim\u00f4nia mesoamericana, voc\u00ea tem esses postes grandes e altos de cipreste, e quatro caras que se vestem como homens-p\u00e1ssaros e ‘voam’ ao redor deles”, revela.<\/p>\n\n\n\n

\"\"<\/a>
Maior cidade pr\u00e9-colombiana ao norte do M\u00e9xico, Cahokia mesclava arte, espiritualidade e celebra\u00e7\u00e3o – CARVER MOSTARDI\/ALAMY<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

“Havia esses postes em Cahokia.”<\/p>\n\n\n\n

Pingentes de concha, penas e couro fino faziam parte dos trajes mais elaborados para tais eventos, explica Pauketat.<\/p>\n\n\n\n

Os cahokianos adoravam vermelho, branco e preto; as pessoas enfeitavam o cabelo com coques, moicanos e plumas. Tatuagens adornavam alguns corpos e rostos.<\/p>\n\n\n\n

Quando as festas terminavam, os cahokianos jogavam o lixo em fossas que hoje servem como registro do que comiam e bebiam juntos.<\/p>\n\n\n\n

Uma d\u00e9cada atr\u00e1s, an\u00e1lises de pe\u00e7as de cer\u00e2mica encontradas por arque\u00f3logos em Cahokia revelaram biomarcadores para uma esp\u00e9cie de azevinho, conhecida como yaupon<\/em>, que \u00e9 a \u00fanica planta nativa da Am\u00e9rica do Norte que cont\u00e9m cafe\u00edna .<\/p>\n\n\n\n

Os cahokianos, ao que parece, mantinham as festividades acontecendo em parte por causa do efeito da cafe\u00edna.<\/p>\n\n\n\n

E como a \u00e1rea nativa de\u00a0yaupon<\/em>\u00a0fica a centenas de quil\u00f4metros do local da cidade, sabemos que eles faziam um esfor\u00e7o significativo para obt\u00ea-la.<\/p>\n\n\n\n

\"\"<\/a>
O trabalho arqueol\u00f3gico est\u00e1 em andamento no s\u00edtio hist\u00f3rico de Cahokia – TOM UHLMAN\/ALAMY<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Isso, por sua vez, pode ter consolidado o uso da planta em rituais.<\/p>\n\n\n\n

“Parte do valor dela est\u00e1 na dificuldade de ser adquirida”, diz a antrop\u00f3loga Patricia Crown, que conduziu a an\u00e1lise das pe\u00e7as de cer\u00e2mica.<\/p>\n\n\n\n

“Voc\u00ea tinha que ter as conex\u00f5es para poder obter a subst\u00e2ncia se fosse realmente importante para o seu sistema religioso.”<\/p>\n\n\n\n

Setenta dos montes de terra originais ainda se encontram protegidos na regi\u00e3o, e uma longa escadaria leva ao cume do Monte dos Monges, com vista para a pra\u00e7a principal.<\/p>\n\n\n\n

Com audioguias, os visitantes atuais percorrem um trajeto de 10 km que serpenteia por pastagens, florestas e p\u00e2ntanos.<\/p>\n\n\n\n

Mais uma vez, como nos tempos antigos, uma constela\u00e7\u00e3o de postes altos se alinha com o sol nascente para marcar a passagem das esta\u00e7\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n

O centro tur\u00edstico no local apresenta cenas recriadas da vida na cidade, junto com exibi\u00e7\u00f5es de ferramentas de pedra e cer\u00e2mica moldadas h\u00e1 milhares de anos por habilidosas m\u00e3os cahokianas.<\/p>\n\n\n\n

A vida moderna n\u00e3o est\u00e1 longe: Cahokia est\u00e1 cercada por um trecho de rodovias interestaduais e sub\u00farbios americanos.<\/p>\n\n\n\n

Mas n\u00e3o foi o desenvolvimento moderno que colocou um fim \u00e0 hist\u00f3ria emocionante de Cahokia.<\/p>\n\n\n\n

\"\"<\/a>
Postes altos alinhados com o sol nascente marcavam as esta\u00e7\u00f5es do ano no apogeu de Cahokia – MOSTARDI PHOTOGRAPHY\/ALAMY<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Os cahokianos acabaram simplesmente optando por abandonar a cidade, impelidos aparentemente por uma mistura de fatores ambientais e humanos, como a mudan\u00e7a no clima que paralisou a agricultura, a viol\u00eancia ou enchentes desastrosas.<\/p>\n\n\n\n

Por volta de 1400, as pra\u00e7as e montes j\u00e1 estavam silenciosos.<\/p>\n\n\n\n

Quando os europeus se depararam pela primeira vez com os not\u00e1veis montes \u200b\u200bem Cahokia, eles viram uma civiliza\u00e7\u00e3o perdida, explica Newitz em seu livro.<\/p>\n\n\n\n

Eles se perguntaram se um povo antigo havia constru\u00eddo Cahokia e depois desaparecido, levando consigo a cultura brilhante e a sofistica\u00e7\u00e3o que outrora floresciam no solo das terras baixas do Rio Mississippi, onde a terra \u00e9 enriquecida por inunda\u00e7\u00f5es ribeirinhas.<\/p>\n\n\n\n

Mas o povo de Cahokia, \u00e9 claro, n\u00e3o desapareceu.<\/p>\n\n\n\n

Eles simplesmente partiram, e com eles a influ\u00eancia de Cahokia se espalhou para lugares remotos, onde alguns de seus passatempos mais amados s\u00e3o apreciados at\u00e9 hoje.<\/p>\n\n\n\n

yaupon<\/em> que eles adoravam beber est\u00e1 voltando \u00e0 moda como um ch\u00e1 local sustent\u00e1vel que pode ser colhido na floresta.<\/p>\n\n\n\n

O chunkey \u2014 o jogo favorito de Cahokia \u2014 tamb\u00e9m nunca saiu de cena. Em algumas comunidades ind\u00edgenas, atraiu uma nova gera\u00e7\u00e3o de jovens atletas e est\u00e1 na lista de jogos da comunidade Cherokee.<\/p>\n\n\n\n

Mas vai muito al\u00e9m disso. Os cahokianos adoravam relaxar fazendo um bom churrasco e eventos esportivos, uma combina\u00e7\u00e3o que, observa Newitz, \u00e9 visivelmente familiar a quase todos os americanos modernos.<\/p>\n\n\n\n

“N\u00f3s festejamos assim por todo Estados Unidos<\/a>“, diz ela.<\/p>\n\n\n\n

“Eles se encaixam perfeitamente na hist\u00f3ria americana.”<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Mil anos atr\u00e1s, o assentamento Cahokia, \u00e0s margens do Rio Mississipi \u2014 pr\u00f3ximo \u00e0 atual cidade americana de St Louis, no Missouri \u2014 era conhecido pelas festas que duravam dias. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":171595,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[1681,1063,1922],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/171594"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=171594"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/171594\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":171602,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/171594\/revisions\/171602"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/171595"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=171594"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=171594"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=171594"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}