{"id":171679,"date":"2021-07-01T15:38:26","date_gmt":"2021-07-01T18:38:26","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=171679"},"modified":"2021-07-01T15:38:29","modified_gmt":"2021-07-01T18:38:29","slug":"por-que-e-dificil-desenvolver-um-medicamento-contra-a-covid-19","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2021\/07\/01\/171679-por-que-e-dificil-desenvolver-um-medicamento-contra-a-covid-19.html","title":{"rendered":"Por que \u00e9 dif\u00edcil desenvolver um medicamento contra a covid-19?"},"content":{"rendered":"\n
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Estrutura simples dos v\u00edrus oferece poucos alvos farmacol\u00f3gicos para que um medicamento possa atuar de maneira eficaz<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Quando a pandemia de covid-19<\/a> foi declarada pela Organiza\u00e7\u00e3o Mundial da Sa\u00fade (OMS), em mar\u00e7o do ano passado, j\u00e1 havia uma corrida cient\u00edfica em andamento nos grandes laborat\u00f3rios do mundo: a busca pela solu\u00e7\u00e3o. Nove meses mais tarde, vacinas j\u00e1 come\u00e7avam a ser aplicadas em massa. Mas se a preven\u00e7\u00e3o \u00e0 doen\u00e7a est\u00e1 na ponta da agulha, e o rem\u00e9dio para quem for infectado?<\/p>\n\n\n\n

“Ainda n\u00e3o existe um rem\u00e9dio que traga uma cura para a covid. Existem alguns medicamentos antivirais que parecem interferir na replica\u00e7\u00e3o do v\u00edrus, e isso d\u00e1 uma chance maior ao nosso organismo para combater a infec\u00e7\u00e3o. Mas nada que seja 100% efetivo”, afirma o microbiologista Leandro Lobo, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).<\/p>\n\n\n\n

As dificuldades para conseguir um rem\u00e9dio do tipo esbarram na pr\u00f3pria natureza \u2014 e indicam um longo caminho. O v\u00edrus \u00e9 uma estrutura muito simples, tanto que pela biologia nem \u00e9 considerado um ser vivo. Trata-se apenas de um envolt\u00f3rio lip\u00eddico com material gen\u00e9tico e algumas prote\u00ednas. Justamente essa simplicidade \u00e9 a salva\u00e7\u00e3o dos v\u00edrus.<\/p>\n\n\n\n

“[Os v\u00edrus] oferecem poucos alvos farmacol\u00f3gicos para que um medicamento possa atuar de maneira eficaz e espec\u00edfica”, explica a biom\u00e9dica Ana Paula Herrmann, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e coordenadora do portal FarmacoL\u00f3gica.<\/p>\n\n\n\n

Especializado em planejamento de f\u00e1rmacos, o qu\u00edmico Adriano Andricopulo, professor da Universidade de S\u00e3o Paulo (USP) contextualiza que, dadas as dificuldades para o desenvolvimento de um novo medicamento, muitos esfor\u00e7os cient\u00edficos foram empregados em algo relativamente comum na \u00e1rea: o reposicionamento de drogas j\u00e1 existentes e aprovadas, utilizadas no combate a outras doen\u00e7as.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 por isso que muitos estudos foram e seguem sendo realizados nesse sentido. “\u00c9 um processo que possui limita\u00e7\u00f5es, ocorre por tentativa e erro”, contextualiza o professor. Mesmo assim, pode ser mais r\u00e1pido do que todo o caminho para o desenvolvimento de um medicamento do zero \u2014 o que, segundo o especialista, envolve duas etapas fundamentais bastante complexas: a descoberta, pr\u00e9-cl\u00ednica; e o desenvolvimento em si, que visa a garantir seguran\u00e7a e efic\u00e1cia. “A ci\u00eancia leva tempo”, comenta.<\/p>\n\n\n\n

Atalhos<\/h2>\n\n\n\n

Um grupo internacional de pesquisadores liderados por cientistas da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e da Universidade de Giessen, na Alemanha, partiu de um modelo computacional para criar um atalho para essas tentativas e erros. O estudo foi publicado nesta quarta-feira pela revista cient\u00edfica Science Advances<\/em>.<\/p>\n\n\n\n

A partir de uma an\u00e1lise de como o Sars-Cov-2, o coronav\u00edrus<\/a> causador da covid-19,\u00a0interage com as prote\u00ednas da c\u00e9lula hospedeira, eles partiram de 1.917 drogas e identificaram 200 medicamentos j\u00e1 aprovados e em uso que poderiam ser reaproveitados para a nova doen\u00e7a. Um total de 126 se mostrou efetivo quanto \u00e0 inibi\u00e7\u00e3o da replica\u00e7\u00e3o do\u00a0v\u00edrus.<\/p>\n\n\n\n

Apenas dois deles foram validados em testes in vitro: o proguanil (um medicamento antimal\u00e1rico) e a sulfassalazina (usado para tratar artrite reumatoide) demonstraram a a\u00e7\u00e3o antiviral sem danificar as c\u00e9lulas.<\/p>\n\n\n\n

Este \u00e9 um ponto importante, ali\u00e1s. Tem a ver com um conceito chamado toxicidade seletiva, conforme explica o microbiologista Lobo. Como o v\u00edrus se utiliza das c\u00e9lulas humanas para se replicar, \u00e9 necess\u00e1rio chegar a uma droga que consiga “mat\u00e1-lo” sem causar grandes danos ao nosso organismo. “\u00c9 preciso de alvos bem espec\u00edficos, o que \u00e0s vezes \u00e9 muito dif\u00edcil”, salienta o cientista.<\/p>\n\n\n\n

A\u00ed reside a dificuldade em avan\u00e7ar para as etapas seguintes dos testes in vitro, ou seja, aqueles realizados em condi\u00e7\u00f5es laboratoriais, com c\u00e9lulas fora do corpo humano.<\/p>\n\n\n\n

“Nesta etapa [laboratorial], muitas vezes se usam concentra\u00e7\u00f5es do medicamento que n\u00e3o podem ser utilizadas em humanos, porque s\u00e3o muito altas e estariam em n\u00edveis t\u00f3xicos. \u00c9 o caso da ivermectina. Quando foi usada [em testes], constatou-se que foi muito mais alta [a dosagem necess\u00e1ria para que fosse eficaz contra o coronav\u00edrus], se tornando t\u00f3xica para a gente. Isso fez com que o medicamento fosse invi\u00e1vel”, diz Lobo.<\/p>\n\n\n\n

No artigo cient\u00edfico publicado nesta quarta, os pesquisadores estrangeiros citam especificamente o proguanil e a sulfassalazina e ressaltam que a an\u00e1lise “abre novos caminhos para o r\u00e1pido reaproveitamento de medicamentos<\/a> aprovados para testes cl\u00ednicos”.<\/p>\n\n\n\n

Herrmann frisa que esse tipo de estudo, nessa fase, deve ser tratado apenas como levantamento de hip\u00f3teses. “Em geral, come\u00e7amos com uma grande quantidade de mol\u00e9culas promissoras, muita coisa que tem afinidade em modelagem computacional, [algumas delas] que t\u00eam efic\u00e1cia em ensaios in vitro”, contextualiza ela. “Mas muitas simplesmente n\u00e3o funcionam na fase cl\u00ednica, por diversas raz\u00f5es.”<\/p>\n\n\n\n

Descartada por diversos estudos s\u00e9rios e cujo uso tem sido bastante politizado, a cloroquina apareceu entre os 200 medicamentos do estudo publicado na Science Advances<\/em>. Questionado pela reportagem da DW Brasil, o pesquisador Namshik Han, um dos autores do artigo e chefe de intelig\u00eancia artificial no Milner Therapeutics Institute, de Cambridge, afirmou estar ciente das controv\u00e9rsias acerca do rem\u00e9dio.<\/p>\n\n\n\n

“Nosso estudo foi focado em compreender o mecanismo da doen\u00e7a covid e identificar candidatos promissores para o reposicionamento de medicamentos”, pontua. “Algumas pesquisas adicionais s\u00e3o necess\u00e1rias a partir dos resultados [apresentados nesta quarta]. Temos estudado outros \u00e2ngulos e esperamos publicar novos resultados em breve.”<\/p>\n\n\n\n

Possibilidades<\/h2>\n\n\n\n

“A verdade \u00e9 que [mais de um ano depois do come\u00e7o da pandemia] n\u00e3o h\u00e1 nada de sensacional para combater o v\u00edrus, mas alguns rem\u00e9dios t\u00eam sido \u00fateis”, afirma Andricopulo.\u00a0\u00danico medicamento aprovado no Brasil para a doen\u00e7a, o remdesivir\u00a0\u00e9 um antiviral cujos resultados “s\u00e3o modestos aos pacientes internados com as formas moderada ou grave da doen\u00e7a”, explica o qu\u00edmico.<\/p>\n\n\n\n

“O remdesivir n\u00e3o \u00e9 usado em larga escala, a evid\u00eancia cl\u00ednica \u00e9 muito limitada. Foi desenvolvido originalmente para [combater] ebola, n\u00e3o funcionou e acabou redirecionado para covid-19”, aponta Herrmann.<\/p>\n\n\n\n

J\u00e1 o anti-inflamat\u00f3rio dexametasona tem sido usado no tratamento de pacientes graves de covid-19 \u2014 mas n\u00e3o atua diretamente no controle do v\u00edrus, e sim nos processos inflamat\u00f3rios em decorr\u00eancia da doen\u00e7a.<\/p>\n\n\n\n

De qualquer forma, vale o alerta: nada de uso indiscriminado. “H\u00e1 evid\u00eancias de que ele seja eficaz na redu\u00e7\u00e3o da mortalidade, mas s\u00f3 faz sentido ser usado em pessoas que est\u00e3o com a doen\u00e7a mais avan\u00e7ada”, alerta Herrmann. “Ou ele pode inibir o sistema imune.”<\/p>\n\n\n\n

“A cloroquina est\u00e1 totalmente descartada, pois todos os principais\u00a0estudos s\u00e9rios demonstraram sua inefic\u00e1cia cl\u00ednica e risco de efeitos adversos graves”, pontua Andricopulo.<\/p>\n\n\n\n

A ivermectina, por sua vez,\u00a0ainda vem sendo considerada em estudos cl\u00ednicos \u2014 mas com poucas chances de sucesso. Na semana passada, a\u00a0Universidade de Oxford divulgou que o medicamento estaria sendo testado clinicamente contra a covid-19,\u00a0\u00a0e isso alimentou fake news no Brasil, com mensagens deturpando que a prestigiada institui\u00e7\u00e3o teria conclu\u00eddo que o mesmo era eficaz no combate \u00e0 doen\u00e7a.<\/p>\n\n\n\n

“Oxford provavelmente incluiu esse medicamento no teste cl\u00ednico porque h\u00e1 resultados in vitro [com dosagens mais altas do que o seguro para humanos], e esse clamor popular de quem insiste que a droga funciona”, avalia Lobo.<\/p>\n\n\n\n

Coquetel de anticorpos usado em Trump<\/h2>\n\n\n\n

Quando o ent\u00e3o presidente dos Estados Unidos Donald Trump foi internado depois de uma infec\u00e7\u00e3o por Sars-Cov-2, no ano passado, noticiou-se que ele teria utilizado tr\u00eas medicamentos: dexametasona, remdesivir e um coquetel da empresa americana Regeneron.<\/p>\n\n\n\n

Este \u00faltimo foi\u00a0criado j\u00e1 dentro do contexto da covid-19.\u00a0“Trata-se de um\u00a0coquetel de anticorpos monoclonais\u00a0“, diz Lobo. “\u00c9 uma estrat\u00e9gia bem interessante: \u00e9 o anticorpo j\u00e1 pronto, injetado nas pessoas que foram expostas ao v\u00edrus. Tem tido certo sucesso.”<\/p>\n\n\n\n

Anticorpos monoclonais s\u00e3o produzidos em laborat\u00f3rio e supostamente conseguem exterminar o v\u00edrus ap\u00f3s uma infec\u00e7\u00e3o. Monoclonal significa que os anticorpos usados \u200b\u200bs\u00e3o todos iguais e atacam o v\u00edrus em um alvo claramente definido.<\/p>\n\n\n\n

O coquetel da Regeneron cont\u00e9m dois anticorpos monoclonais. De acordo com a empresa de biotecnologia, o tratamento leva a uma redu\u00e7\u00e3o da carga viral, ou seja, da quantidade de v\u00edrus detect\u00e1veis, e a uma redu\u00e7\u00e3o mais r\u00e1pida dos sintomas.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: Deutsche Welle<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"