{"id":171810,"date":"2021-07-08T14:16:56","date_gmt":"2021-07-08T17:16:56","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=171810"},"modified":"2021-07-08T14:16:59","modified_gmt":"2021-07-08T17:16:59","slug":"chimpanzes-na-natureza-podem-nos-ensinar-sobre-envelhecimento-saudavel","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2021\/07\/08\/171810-chimpanzes-na-natureza-podem-nos-ensinar-sobre-envelhecimento-saudavel.html","title":{"rendered":"Chimpanz\u00e9s na natureza podem nos ensinar sobre envelhecimento saud\u00e1vel"},"content":{"rendered":"\n
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O chimpanz\u00e9 Yogi, observado na fotografia tirada em outubro de 2011, est\u00e1 entre os cerca de 60 animais estudados na natureza como parte do Projeto Chimpanz\u00e9s de Kibale, em Uganda.
FOTO DE\u00a0RONAN DONOVAN<\/strong><\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Quando Tia Rose morreu no in\u00edcio de 2007, era a chimpanz\u00e9 mais velha conhecida na natureza<\/a>. Com cerca de 63 anos, era muito idosa para um chimpanz\u00e9 e seus \u00faltimos meses foram dif\u00edceis. \u201cEla havia perdido todos os pelos do corpo e simplesmente se arrastava pela floresta\u201d, recorda\u00a0Emily Otali, diretora de campo do\u00a0Projeto Chimpanz\u00e9s de Kibale,\u00a0em Uganda, e Exploradora da\u00a0National Geographic<\/strong>. \u201cSenti pena dela.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Ainda assim, at\u00e9 o fim, Tia Rose conseguiu cuidar de si mesma. Chimpanz\u00e9s adultos raramente compartilham alimento, nem mesmo com os mais velhos e, por isso, animais idosos precisam continuar se esfor\u00e7ando para garantir seu pr\u00f3prio sustento. Animais que envelhecem na natureza s\u00e3o menos ativos, conta Otali, e podem enfraquecer um pouco tamb\u00e9m,\u00a0perdendo massa muscular \u00e0 medida que envelhecem. \u201cMas lidam com a velhice muito melhor do que n\u00f3s. Eles simplesmente seguem em frente, \u00e9 incr\u00edvel.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Em contrapartida, chimpanz\u00e9s em instala\u00e7\u00f5es de pesquisas biom\u00e9dicas nos Estados Unidos eram considerados geri\u00e1tricos depois dos 35 anos de idade. Quatro instala\u00e7\u00f5es mantiveram centenas de chimpanz\u00e9s durante anos, conduzindo experimentos projetados para nos ajudar a curar ou prevenir doen\u00e7as humanas. Quando esses animais em cativeiro come\u00e7aram a desenvolver doen\u00e7as familiares associadas ao envelhecimento<\/a> em humanos, como problemas card\u00edacos e diabetes, os pesquisadores ficaram perplexos com nossa tamanha semelhan\u00e7a com nossos parentes mais pr\u00f3ximos.<\/p>\n\n\n\n

Em 2015, quando os\u00a0Institutos Nacionais de Sa\u00fade (\u201cNIH\u201d, na sigla em ingl\u00eas) decidiram interromper pesquisas invasivas em chimpanz\u00e9s\u00a0e transferir os animais a santu\u00e1rios nos Estados Unidos, um relat\u00f3rio constatou que dezenas deles, muitos com menos de 60 anos, estavam fracos demais para essa mudan\u00e7a. Mas os experimentos a que foram submetidos podem ser apenas um dos motivos.<\/p>\n\n\n\n

Pesquisas com chimpanz\u00e9s na natureza e em santu\u00e1rios africanos, onde possuem bastante espa\u00e7o para se movimentar, demonstram que animais idosos na natureza apresentam uma sa\u00fade surpreendentemente melhor do que animais de laborat\u00f3rio. Esses resultados oferecem algumas li\u00e7\u00f5es n\u00edtidas sobre como cuidar dos chimpanz\u00e9s ainda mantidos em cativeiro.<\/p>\n\n\n\n

As pesquisas tamb\u00e9m sugerem que estudar os problemas de sa\u00fade de chimpanz\u00e9s<\/a> de laborat\u00f3rio pode n\u00e3o ter nos ensinado muito sobre seu envelhecimento natural. Ali\u00e1s, o destino desses chimpanz\u00e9s enfermos mantidos em cativeiro pode nos revelar mais sobre os riscos dos estilos de vida cada vez mais sedent\u00e1rios mantidos por muitos humanos modernos.<\/p>\n\n\n\n

As pessoas normalmente se tornam menos ativas \u00e0 medida que envelhecem, inspiradas pela profecia autorrealiz\u00e1vel de que seus corpos enfraquecem naturalmente e que, portanto, sua condi\u00e7\u00e3o f\u00edsica inevitavelmente se deteriorar\u00e1. No entanto at\u00e9 mesmo chimpanz\u00e9s soltos na natureza como Tia Rose, que precisava caminhar muitos quil\u00f4metros por dia para encontrar alimento, e que n\u00e3o recebem cuidados de sa\u00fade ao adoecer ou se ferir, parecem estar envelhecendo de maneira mais saud\u00e1vel, afirma\u00a0Melissa Emery Thompson,\u00a0antrop\u00f3loga da Universidade do Novo M\u00e9xico e codiretora do Projeto Chimpanz\u00e9s de Kibale.<\/p>\n\n\n\n

Estudos sobre pessoas com estilos de vida de ca\u00e7adores-coletores, muitas das quais permanecem bastante ativas at\u00e9 o fim de suas vidas, geralmente demonstram que elas permanecem saud\u00e1veis por muito mais tempo do que aqueles entre n\u00f3s que se acomodam \u00e0 medida que envelhecem, conta Emery Thompson. Por exemplo, a velocidade de caminhada dos hadzas na Tanz\u00e2nia, que mant\u00eam suas fun\u00e7\u00f5es de buscar alimento durante toda vida,\u00a0n\u00e3o parece diminuir significativamente\u00a0\u00e0 medida que envelhecem.<\/p>\n\n\n\n

\u201cN\u00e3o \u00e9 a atividade f\u00edsica, mas a falta de atividade que nos enfraquece\u201d, observa ela.<\/p>\n\n\n\n

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Cientistas observam chimpanz\u00e9s da regi\u00e3o de Kanyawara do Parque Nacional de Kibale desde 1987, ajudando a aumentar nossa compreens\u00e3o sobre o comportamento dos primatas e sua correla\u00e7\u00e3o com os humanos modernos.
FOTO DE\u00a0RONAN DONOVAN<\/strong><\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

O melhor dos dois mundos<\/h3>\n\n\n\n

No\u00a0Santu\u00e1rio de Chimpanz\u00e9s da Ilha Ngamba,\u00a0em Uganda, chimpanz\u00e9s resgatados de ca\u00e7adores ilegais vivem em grandes recintos de floresta tropical, onde podem se movimentar livremente. Passam por um exame de sa\u00fade anual, no qual os veterin\u00e1rios sedam os animais, proporcionando a oportunidade perfeita para coletar dados sobre o processo de envelhecimento.<\/p>\n\n\n\n

\u201cCom base em estudos com popula\u00e7\u00f5es de cativeiro, os cientistas acreditavam que chimpanz\u00e9s possu\u00edam n\u00edveis muito altos de colesterol\u201d, afirma\u00a0Alexandra Rosati,\u00a0antrop\u00f3loga da Universidade de Michigan. Contudo,\u00a0em um estudo recente, Rosati e seus colegas conclu\u00edram que os chimpanz\u00e9s do santu\u00e1rio da Ilha Ngamba apresentavam colesterol muito inferior ao dos chimpanz\u00e9s de laborat\u00f3rio.<\/p>\n\n\n\n

Outros indicadores de risco \u00e0 sa\u00fade cardiovascular, como peso corporal, tamb\u00e9m eram menores nos chimpanz\u00e9s da Ilha de Ngamba, conta Rosati. A explica\u00e7\u00e3o, acrescenta ela, pode ser devido \u00e0 movimenta\u00e7\u00e3o muito maior desses animais do que de chimpanz\u00e9s de laborat\u00f3rio. Eles tamb\u00e9m consomem mais frutas e plantas, algumas das quais nascem espontaneamente no recinto, e uma quantidade muito menor da ra\u00e7\u00e3o rica em nutrientes para chimpanz\u00e9s que compunha a alimenta\u00e7\u00e3o b\u00e1sica padr\u00e3o nos laborat\u00f3rios.<\/p>\n\n\n\n

Os chimpanz\u00e9s, ainda assim, apresentam alguns sinais de envelhecimento, afirma\u00a0Joshua Rukundo, ex-veterin\u00e1rio chefe e atual diretor do santu\u00e1rio da Ilha Ngamba. A inflama\u00e7\u00e3o nas articula\u00e7\u00f5es \u00e9 comum em chimpanz\u00e9s idosos, conta ele. \u201cTamb\u00e9m costumam apresentar problemas dent\u00e1rios, o que os impossibilita de ingerir alimentos fibrosos. A diminui\u00e7\u00e3o do consumo alimentar, como consequ\u00eancia disso, afeta sua imunidade, e eles se tornam suscet\u00edveis a doen\u00e7as.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Mas ele acrescenta que \u00e9 poss\u00edvel tratar a maioria desses sintomas. Por isso, no que diz respeito ao envelhecimento saud\u00e1vel, os chimpanz\u00e9s da Ilha Ngamba podem estar vivendo o melhor dos dois mundos: muito espa\u00e7o para se movimentar como fariam na natureza, associado com algumas das vantagens do cativeiro, como alimento adicional e cuidados com a sa\u00fade.<\/p>\n\n\n\n

Isso pode oferecer alguma inspira\u00e7\u00e3o sobre a melhor forma de cuidar dos chimpanz\u00e9s de laborat\u00f3rio transferidos a santu\u00e1rios nos Estados Unidos, bem como dos macacos e de muitos outros animais em zool\u00f3gicos.<\/p>\n\n\n\n

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Ao contr\u00e1rio dos demais chimpanz\u00e9s mantidos em cativeiro, chimpanz\u00e9s em santu\u00e1rios ou na natureza parecem envelhecer de maneira mais saud\u00e1vel porque permanecem ativos por toda a vida.
FOTO DE\u00a0RONAN DONOVAN<\/strong><\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

\u00c9 necess\u00e1rio moviment\u00e1-los, sen\u00e3o atrofiam<\/h3>\n\n\n\n

Recentemente, chegou-se a conclus\u00f5es semelhantes com rela\u00e7\u00e3o a uma das popula\u00e7\u00f5es de macacos mais conhecidas do mundo: os gorilas-das-montanhas no Parque Nacional dos Vulc\u00f5es, no noroeste de Ruanda, v\u00eam sendo estudados desde que\u00a0Dian Fossey\u00a0iniciou suas pesquisas na regi\u00e3o em 1967. Desde o in\u00edcio dos estudos, os pesquisadores enterraram corpos de gorilas que tiveram mortes naturais em gaiolas especiais que os protegiam de animais carniceiros, mantendo-os seguros para estudos futuros. Desde 2008, a National Geographic Society apoia a recupera\u00e7\u00e3o e o estudo desses restos mortais.<\/p>\n\n\n\n

\u201c\u00c9 um acervo bastante \u00fanico, com muito mais de cem esqueletos\u201d, afirma\u00a0Christopher Ruff,\u00a0anatomista da Universidade Johns Hopkins, permitindo aos pesquisadores analisar se os ossos de gorilas enfraquecem com a idade assim como os nossos.\u00a0Em um estudo recente,\u00a0em busca de sinais de osteoporose, que causa perda da resist\u00eancia \u00f3ssea com o avan\u00e7o do envelhecimento humano, Ruff e colegas conclu\u00edram que, embora as cavidades nos ossos dos gorilas se expandam tal qual nos humanos, a resist\u00eancia de seus ossos n\u00e3o diminui com a idade e as fraturas s\u00e3o raras.<\/p>\n\n\n\n

A variedade de plantas ricas em c\u00e1lcio no regime alimentar dos gorilas pode ser um dos motivos. Mas o fator mais importante, acredita Ruff, \u00e9 a atividade f\u00edsica. Ainda que os gorilas-das-montanhas passem muitas horas por dia sentados e comendo \u2014 como geralmente s\u00e3o mostrados em programas na televis\u00e3o, enquanto os humanos apresentam o mesmo comportamento ao assistir a televis\u00e3o \u2014 os gorilas se exercitam bastante ao subir e descer as encostas \u00edngremes da regi\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Isso \u00e9 fundamental, destaca Ruff, pois os ossos s\u00e3o constantemente remodelados em resposta \u00e0s for\u00e7as experimentadas. Ao contr\u00e1rio de pe\u00e7as de m\u00e1quinas, nossos ossos e m\u00fasculos possuem tecidos vivos que permitem que sejam reorganizados e reparados ativamente conforme s\u00e3o utilizados \u2014 e que permitem seu atrofiamento quando n\u00e3o s\u00e3o. \u201c\u00c9 necess\u00e1rio moviment\u00e1-los, sen\u00e3o atrofiam\u201d, afirma Ruff.<\/p>\n\n\n\n

Aposentadoria rejuvenescedora<\/h3>\n\n\n\n

A boa not\u00edcia \u00e0queles de n\u00f3s que est\u00e3o deixando para tr\u00e1s a inatividade dos isolamentos for\u00e7ados decorrentes da pandemia de covid-19 \u00e9 que a premissa contr\u00e1ria tamb\u00e9m \u00e9 v\u00e1lida: mais exerc\u00edcios f\u00edsicos podem ajudar a recuperar corpos enfraquecidos.<\/p>\n\n\n\n

Felizmente, muitos dos antigos chimpanz\u00e9s de laborat\u00f3rio tamb\u00e9m t\u00eam oportunidade de colocar seus m\u00fasculos envelhecidos de volta em a\u00e7\u00e3o. Centenas de chimpanz\u00e9s de laborat\u00f3rios financiados pelos NIH foram transferidos ao\u00a0Chimp Haven, santu\u00e1rio fundado em 2005 em Keithville, Louisiana, onde os s\u00edmios aposentados t\u00eam bastante espa\u00e7o adicional para se movimentar.<\/p>\n\n\n\n

Os animais no Chimp Haven n\u00e3o s\u00e3o mais utilizados em pesquisas invasivas e os requisitos para os cientistas que desejam estud\u00e1-los s\u00e3o rigorosos. Em uma declara\u00e7\u00e3o enviada \u00e0\u00a0National Geographic<\/em>, os administradores do Chimp Haven afirmam que aprovaram diversos estudos majoritariamente observacionais sobre a cogni\u00e7\u00e3o, mobilidade e microbioma dos chimpanz\u00e9s idosos sob seus cuidados. Algumas dessas iniciativas de pesquisas tamb\u00e9m poder\u00e3o um dia beneficiar a sa\u00fade humana, mas a prioridade do santu\u00e1rio no momento \u00e9 exclusivamente o bem-estar dos animais.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: National Geographic Brasil<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Animais que envelhecem na natureza s\u00e3o menos ativos, e podem enfraquecer um pouco tamb\u00e9m, perdendo massa muscular \u00e0 medida que envelhecem. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":171811,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[4019,5005,461],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/171810"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=171810"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/171810\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":171814,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/171810\/revisions\/171814"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/171811"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=171810"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=171810"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=171810"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}