{"id":171893,"date":"2021-07-12T15:57:43","date_gmt":"2021-07-12T18:57:43","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=171893"},"modified":"2021-07-12T15:57:46","modified_gmt":"2021-07-12T18:57:46","slug":"como-os-primatas-se-multiplicaram-e-ganharam-o-mundo-com-a-ajuda-de-balsas-acidentais","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2021\/07\/12\/171893-como-os-primatas-se-multiplicaram-e-ganharam-o-mundo-com-a-ajuda-de-balsas-acidentais.html","title":{"rendered":"Como os primatas se multiplicaram e ganharam o mundo com a ajuda de ‘balsas’ acidentais"},"content":{"rendered":"\n
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URS FLUEELER\/EYEEM\/GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Os humanos evolu\u00edram na \u00c1frica, junto com os chimpanz\u00e9s, gorilas e macacos. Mas os primatas em si parecem ter evolu\u00eddo em outro lugar \u2014 provavelmente na \u00c1sia \u2014 antes de colonizar a \u00c1frica.<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Na \u00e9poca, h\u00e1 cerca de 50 milh\u00f5es de anos, a \u00c1frica<\/a> era uma ilha isolada do resto do mundo pelo oceano. Ent\u00e3o como os primatas chegaram l\u00e1?<\/p>\n\n\n\n

Uma ponte terrestre \u00e9 a explica\u00e7\u00e3o \u00f3bvia, mas as evid\u00eancias geol\u00f3gicas atualmente refutam essa hip\u00f3tese.<\/p>\n\n\n\n

Em vez disso, nos resta um cen\u00e1rio muito mais improv\u00e1vel: os primeiros primatas podem ter feito a travessia de\u00a0rafting<\/em>\u00a0para a \u00c1frica, ou seja, boiando por centenas de quil\u00f4metros em “balsas” formadas por vegeta\u00e7\u00e3o e detritos no oceano.<\/p>\n\n\n\n

Essa dispers\u00e3o oce\u00e2nica j\u00e1 foi vista como absurda e altamente especulativa por muitos cientistas.<\/p>\n\n\n\n

Alguns ainda defendem a teoria da ponte terrestre, seja contestando as evid\u00eancias geol\u00f3gicas ou argumentando que os ancestrais dos primatas atravessaram para a \u00c1frica muito antes do que os registros f\u00f3sseis atuais sugerem, antes da separa\u00e7\u00e3o dos continentes.<\/p>\n\n\n\n

Mas h\u00e1 um consenso emergente de que a dispers\u00e3o oce\u00e2nica \u00e9 muito mais comum do que se sup\u00f4s.<\/p>\n\n\n\n

Foi descoberto que plantas, insetos, r\u00e9pteis, roedores e primatas colonizam continentes insulares dessa maneira \u2014 incluindo a not\u00e1vel travessia do Atl\u00e2ntico que levou macacos<\/a> da \u00c1frica para a Am\u00e9rica do Sul h\u00e1 35 milh\u00f5es de anos.<\/p>\n\n\n\n

Esses eventos s\u00e3o incrivelmente raros, mas, dado os enormes espa\u00e7os de tempo, eles inevitavelmente influenciam a evolu\u00e7\u00e3o \u2014 incluindo nossas pr\u00f3prias origens.<\/p>\n\n\n\n

Origens dos primatas<\/h2>\n\n\n\n

Os humanos apareceram no sul da \u00c1frica entre 200 mil e 350 mil anos atr\u00e1s. Sabemos que viemos da \u00c1frica porque nossa diversidade gen\u00e9tica \u00e9 maior l\u00e1, e h\u00e1 muitos f\u00f3sseis de humanos primitivos no continente.<\/p>\n\n\n\n

Nossos parentes mais pr\u00f3ximos, chimpanz\u00e9s e gorilas, tamb\u00e9m s\u00e3o nativos da \u00c1frica, assim como babu\u00ednos e macacos.<\/p>\n\n\n\n

Mas os parentes vivos mais pr\u00f3ximos dos primatas \u2014 l\u00eamures-voadores, musaranhos e roedores \u2014 todos vivem na \u00c1sia ou, no caso dos roedores, evolu\u00edram l\u00e1.<\/p>\n\n\n\n

Os f\u00f3sseis fornecem evid\u00eancias um tanto conflitantes, mas tamb\u00e9m sugerem que os primatas<\/a> surgiram fora da \u00c1frica.<\/p>\n\n\n\n

O parente mais velho dos primatas, o Purgatorius, viveu h\u00e1 65 milh\u00f5es de anos, logo ap\u00f3s o desaparecimento dos dinossauros. \u00c9 de Montana, nos Estados Unidos.<\/p>\n\n\n\n

Os primatas de fato mais antigos tamb\u00e9m surgiram fora da \u00c1frica.<\/p>\n\n\n\n

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Os l\u00eamures chegaram a Madagascar h\u00e1 cerca de 20 milh\u00f5es de anos, muito depois da ilha ter se separado do continente – ANUP SHAH\/GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

O Teilhardina, parente de macacos e s\u00edmios, viveu h\u00e1 55 milh\u00f5es de anos em toda a \u00c1sia, Am\u00e9rica do Norte e Europa. Os primatas chegaram \u00e0 \u00c1frica mais tarde.<\/p>\n\n\n\n

F\u00f3sseis semelhantes a l\u00eamures apareceram h\u00e1 50 milh\u00f5es de anos, e f\u00f3sseis semelhantes a macacos, h\u00e1 cerca de 40 milh\u00f5es de anos.<\/p>\n\n\n\n

Mas a \u00c1frica se separou da Am\u00e9rica do Sul e se tornou uma ilha h\u00e1 100 milh\u00f5es de anos, e s\u00f3 se conectou com a \u00c1sia h\u00e1 20 milh\u00f5es de anos.<\/p>\n\n\n\n

Se os primatas colonizaram a \u00c1frica durante os 80 milh\u00f5es de anos em que o continente passou isolado, eles precisaram ent\u00e3o atravessar o oceano.<\/p>\n\n\n\n

Travessias oce\u00e2nicas<\/h2>\n\n\n\n

A ideia de dispers\u00e3o oce\u00e2nica \u00e9 central para a teoria da evolu\u00e7\u00e3o. Estudando as Ilhas Gal\u00e1pagos, Charles Darwin viu apenas algumas tartarugas, iguanas, cobras e um pequeno mam\u00edfero roedor.<\/p>\n\n\n\n

Mais longe no mar, em ilhas como o Taiti, havia apenas pequenos lagartos.<\/p>\n\n\n\n

Darwin argumentou que era dif\u00edcil explicar esses padr\u00f5es com base no criacionismo \u2014 nesse caso, esp\u00e9cies semelhantes deveriam existir em todos os lugares \u2014, mas faziam sentido se as esp\u00e9cies atravessassem a \u00e1gua para colonizar ilhas, com menos esp\u00e9cies sobrevivendo para colonizar ilhas mais distantes.<\/p>\n\n\n\n

Ele estava certo. Estudos mostram que as tartarugas s\u00e3o capazes de sobreviver semanas flutuando sem comida ou \u00e1gua \u2014 elas provavelmente boiaram at\u00e9 chegar a Gal\u00e1pagos.<\/p>\n\n\n\n

E em 1995, iguanas varridas da costa por furac\u00f5es foram levadas para 300 km de dist\u00e2ncia, com vida, ap\u00f3s pegarem carona sobre os destro\u00e7os. As iguanas de Gal\u00e1pagos provavelmente viajaram dessa maneira.<\/p>\n\n\n\n

Tais travessias s\u00e3o improv\u00e1veis de dar certo. Uma feliz combina\u00e7\u00e3o de condi\u00e7\u00f5es \u2014 uma grande jangada de vegeta\u00e7\u00e3o, correntes e ventos certos, uma popula\u00e7\u00e3o vi\u00e1vel, um desembarque na hora certa \u2014 \u00e9 necess\u00e1ria para uma coloniza\u00e7\u00e3o bem-sucedida.<\/p>\n\n\n\n

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O rafting pode explicar por que certas ilhas \u2014 Gal\u00e1pagos, por exemplo \u2014 abrigam esp\u00e9cies como iguanas marinhas, e outras n\u00e3o – PABLO COZZAGLIO\/GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Muitos animais levados pelo mar simplesmente morrem de sede ou fome antes de chegar \u00e0s ilhas. A maioria nunca desembarca em terra firme \u2014 desaparece no mar e vira comida de tubar\u00e3o. \u00c9 por isso que as ilhas oce\u00e2nicas, especialmente as mais distantes, t\u00eam poucas esp\u00e9cies.<\/p>\n\n\n\n

rafting <\/em>j\u00e1 foi tratado como uma novidade evolutiva: algo curioso que acontecia em lugares obscuros como Gal\u00e1pagos, mas irrelevante para a evolu\u00e7\u00e3o nos continentes.<\/p>\n\n\n\n

Mas, desde ent\u00e3o, verificou-se que jangadas de vegeta\u00e7\u00e3o ou ilhas flutuantes \u2014 grupos de \u00e1rvores arrastadas para o mar \u2014 podem na verdade explicar muitas distribui\u00e7\u00f5es de animais em todo o mundo.<\/p>\n\n\n\n

‘Rafting’<\/h2>\n\n\n\n

V\u00e1rios raftings <\/em>de primatas s\u00e3o bem estabelecidos. Hoje, Madagascar tem uma fauna diversificada de l\u00eamures. Os l\u00eamures chegaram da \u00c1frica h\u00e1 cerca de 20 milh\u00f5es de anos.<\/p>\n\n\n\n

Como Madagascar \u00e9 uma ilha desde a era dos dinossauros, eles aparentemente fizeram rafting <\/em>no Canal de Mo\u00e7ambique, com 400 km de largura.<\/p>\n\n\n\n

Curiosamente, os f\u00f3sseis sugerem que o estranho aie-aie<\/em> atravessou para Madagascar separadamente dos outros l\u00eamures.<\/p>\n\n\n\n

Ainda mais extraordin\u00e1rio \u00e9 a exist\u00eancia de macacos na Am\u00e9rica do Sul: bugios, macacos-aranha e saguis.<\/p>\n\n\n\n

Eles chegaram h\u00e1 35 milh\u00f5es de anos, novamente da \u00c1frica. Tiveram que cruzar o Atl\u00e2ntico \u2014 que era mais estreito na \u00e9poca, mas ainda tinha 1.500 km de largura.<\/p>\n\n\n\n

Da Am\u00e9rica do Sul, os macacos fizeram rafting <\/em>novamente: para a Am\u00e9rica do Norte, depois duas vezes para o Caribe.<\/p>\n\n\n\n

Mas para que isso pudesse acontecer, a dispers\u00e3o oce\u00e2nica por rafting <\/em>precisou levar primeiro os primatas para a \u00c1frica: uma delas levou o ancestral dos l\u00eamures, e outra transportou o ancestral dos macacos, s\u00edmios e de n\u00f3s mesmos.<\/p>\n\n\n\n

Pode parecer implaus\u00edvel \u2014 e ainda n\u00e3o est\u00e1 totalmente claro de onde eles vieram \u2014 mas nenhum outro cen\u00e1rio se encaixa nas evid\u00eancias.<\/p>\n\n\n\n

rafting <\/em>explica como os roedores colonizaram a \u00c1frica, depois a Am\u00e9rica do Sul. Provavelmente tamb\u00e9m explica como animais do clado Afrotheria, que inclui elefantes e porcos-da-terra, chegaram \u00e0 \u00c1frica.<\/p>\n\n\n\n

Os marsupiais, que evolu\u00edam na Am\u00e9rica do Norte, possivelmente foram transportados por rafting <\/em>para a Am\u00e9rica do Sul, depois para a Ant\u00e1rtida e, finalmente, para a Austr\u00e1lia.<\/p>\n\n\n\n

Outras travessias oce\u00e2nicas incluem a viagem de ratos para a Austr\u00e1lia e a jornada de tenreques, mangustos e hipop\u00f3tamos para Madagascar.<\/p>\n\n\n\n

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As tartarugas gigantes podem sobreviver semanas sem \u00e1gua, o que significa que poderiam ter sobrevivido a longas viagens de jangada pelo oceano – ALEXIS ROSENFELD\/GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

As travessias oce\u00e2nicas n\u00e3o s\u00e3o uma trama evolutiva secund\u00e1ria, s\u00e3o centrais para a hist\u00f3ria. Elas explicam a evolu\u00e7\u00e3o dos macacos, elefantes, cangurus, roedores, l\u00eamures \u2014 e a nossa.<\/p>\n\n\n\n

E mostram que a evolu\u00e7\u00e3o nem sempre \u00e9 impulsionada por processos comuns do dia a dia, mas tamb\u00e9m por eventos bizarramente improv\u00e1veis.<\/p>\n\n\n\n

Macroevolu\u00e7\u00e3o<\/h2>\n\n\n\n

Uma das grandes sacadas de Darwin foi a ideia de que eventos cotidianos \u2014 pequenas muta\u00e7\u00f5es, preda\u00e7\u00e3o, competi\u00e7\u00e3o \u2014 poderiam mudar esp\u00e9cies lentamente, com o tempo.<\/p>\n\n\n\n

Mas, ao longo de milh\u00f5es ou bilh\u00f5es de anos, eventos raros, de baixa probabilidade e alto impacto tamb\u00e9m acontecem.<\/p>\n\n\n\n

Alguns s\u00e3o extremamente destrutivos, como impactos de asteroides, erup\u00e7\u00f5es vulc\u00e2nicas e eras glaciais \u2014 ou v\u00edrus que saltam de hospedeiros.<\/p>\n\n\n\n

Mas outros s\u00e3o criativos, como duplica\u00e7\u00f5es de genoma, transfer\u00eancia de genes entre esp\u00e9cies multicelulares \u2014 e rafting<\/em>.<\/p>\n\n\n\n

O papel que o rafting <\/em>desempenhou na nossa hist\u00f3ria mostra o quanto a evolu\u00e7\u00e3o se resume ao acaso.<\/p>\n\n\n\n

Se algo tivesse acontecido de forma diferente \u2014 o tempo estivesse ruim, o mar agitado, a jangada chegasse a uma ilha deserta, houvesse predadores famintos \u00e0 espera na praia, nenhum macho a bordo \u2014 a coloniza\u00e7\u00e3o teria fracassado.<\/p>\n\n\n\n

Nada de macacos, s\u00edmios \u2014 ou humanos.<\/p>\n\n\n\n

Parece que nossos ancestrais contrariaram todas as probabilidades, fazendo a Mega-Sena parecer uma aposta segura.<\/p>\n\n\n\n

Se tudo tivesse acontecido de maneira diferente, a evolu\u00e7\u00e3o da vida poderia parecer bem diferente. No m\u00ednimo, n\u00e3o estar\u00edamos aqui para nos perguntar sobre isso.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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