{"id":172401,"date":"2021-08-02T11:55:14","date_gmt":"2021-08-02T14:55:14","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=172401"},"modified":"2021-08-02T11:55:17","modified_gmt":"2021-08-02T14:55:17","slug":"como-os-vinicultores-alemaes-enfrentam-a-ressaca-da-enchente","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2021\/08\/02\/172401-como-os-vinicultores-alemaes-enfrentam-a-ressaca-da-enchente.html","title":{"rendered":"Como os vinicultores alem\u00e3es enfrentam a ressaca da enchente"},"content":{"rendered":"\n
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“Flutwein” do Ahrtal, “originalmente enlameado”<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Os vinicultores da regi\u00e3o de Ahrtal, no oeste da Alemanha<\/a>, dizem que esta \u00e9 sua pior safra, e \u00e9 claro que t\u00eam raz\u00e3o. E no entanto valem cada centavo os 120 euros doados a eles, por exemplo, em troca de seis garrafas de vinho com o selo especial de qualidade “originalverschlammt<\/em>” (originalmente enlameado). Pois o dinheiro do “Flutwein”, o vinho da enchente, beneficia os 50 produtores cujas adegas foram atingidas pelas recentes inunda\u00e7\u00f5es na regi\u00e3o, e que agora est\u00e3o praticamente diante da ru\u00edna total.<\/p>\n\n\n\n

Entre eles est\u00e1 Benno Gilles, um dos mais atingidos pelo desastre meteorol\u00f3gico. Quando a \u00e1gua chegou, o vinicultor de Marienthal se entrincheirou no s\u00f3t\u00e3o com a fam\u00edlia e os h\u00f3spedes de seu hotel-pens\u00e3o, e viu com os pr\u00f3prios olhos as massas d’\u00e1gua arrastarem embora sua exist\u00eancia: “Eu trabalho h\u00e1 40 anos como vinicultor, uma firma familiar de terceira gera\u00e7\u00e3o. E em poucas horas tinha ido tudo embora.”<\/p>\n\n\n\n

Sua vin\u00edcola \u00e9 uma parada\u00a0muito apreciada\u00a0pelos excursionistas da Rotweinwanderweg, a rota do vinho tinto do vale do rio Ahr. Al\u00e9m de saborear a bebida produzida por Gilles \u2013 25\u00a0mil litros por ano \u2013, os visitantes podem tamb\u00e9m pernoitar num dos cinco quartos da pens\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

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Enchente causou estragos extensos nos vinhedos do oeste alem\u00e3o<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Pequenos produtores foram os mais atingidos<\/h2>\n\n\n\n

No entanto, duas semanas ap\u00f3s a enchente<\/a>, Marienthal ainda lembra um palco de guerra, e o vinhedo de Gilles \u00e9 uma devasta\u00e7\u00e3o s\u00f3. “Calculo que se foram umas 10\u00a0mil garrafas e todas as minhas m\u00e1quinas. E tamb\u00e9m meio hectare da minha planta\u00e7\u00e3o. Se tiver sorte, vou poder produzir no ano que vem, para salvar a safra de 2022.”<\/p>\n\n\n\n

Em sua adega, 8 mil litros de vinho jazem em gigantescos ton\u00e9is de carvalho, que agora \u00e9 preciso engarrafar, ao lado de milhares de garrafas imundas. Mas: “Vamos conseguir. A gente n\u00e3o desiste!”, assegura o empres\u00e1rio.<\/p>\n\n\n\n

Tamb\u00e9m o vizinho Paul Schumacher s\u00f3 pensou por um momento em jogar tudo para o alto, quando a torrente praticamente destruiu seu vinhedo. Depois que a \u00e1gua baixou, a geladeira do sal\u00e3o de h\u00f3spedes estava pendurada no lustre do teto. “No primeiro dia, pensei: meu Deus, e agora? Mas, se as finan\u00e7as permitirem, vamos tentar continuar.”<\/p>\n\n\n\n

Pelo menos Schumacher conseguiu salvar 20 mil de suas garrafas de vinho, quase todas ainda com a etiqueta. Ele acaba de mand\u00e1-las para serem lavadas pelos produtores de frutas das redondezas. Tamb\u00e9m em sua adega, nada menos do que 42 barris aguardam engarrafamento. Antes da inunda\u00e7\u00e3o, ele exportava para a Dinamarca, B\u00e9lgica, at\u00e9 Eslov\u00e1quia.<\/p>\n\n\n\n

Seu sonho de vida sempre foi produzir o pr\u00f3prio vinho. Mais de 20 anos atr\u00e1s, Schumacher come\u00e7ou bem pequeno, at\u00e9 comprar o vinhedo em Marienthal em 2006. Com cinco hectares de \u00e1rea de cultivo, assim como Gilles ele n\u00e3o \u00e9 um dos grandes produtores de Ahrtal. E foram eles que a cat\u00e1strofe atingiu com maior dureza.<\/p>\n\n\n\n

“Calculo que os 60% dos vinicultores n\u00e3o t\u00eam seguro contra desastres naturais, eu tamb\u00e9m n\u00e3o”, comenta Schumacher. “Mas o vinho \u00e9 o motor econ\u00f4mico para tudo, hot\u00e9is, gastronomia e trabalhadores manuais dependem da viticultura. Se ela n\u00e3o funcionar mais, a coisa vai ficar muito feia por aqui.”<\/p>\n\n\n\n

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Grande produtor Peter Kriechel se empenha pela recupera\u00e7\u00e3o de toda a regi\u00e3o<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

“Originalmente enlameado”<\/h2>\n\n\n\n

O homem que n\u00e3o quer permitir que isso aconte\u00e7a n\u00e3o mede esfor\u00e7os, no momento, para colocar sua vin\u00edcola em perfeita ordem ap\u00f3s a enchente. Peter Kriechel \u00e9 o maior produtor da regi\u00e3o, e ao mesmo tempo presidente da associa\u00e7\u00e3o Ahrwein, encarregada do marketing dos vinicultores locais. Foi ele que, juntamente com a dona de restaurante Linda Kleber, teve a ideia do “Flutwein”.<\/p>\n\n\n\n

A coisa funciona assim: quem faz uma doa\u00e7\u00e3o pode adquirir pela internet os vinhos que n\u00e3o se perderam na cheia, no estado em que foram resgatados. As garrafas sujas de lama t\u00eam potencial de se tornar s\u00edmbolo da regi\u00e3o, simbolizando, ao mesmo tempo, a cat\u00e1strofe e o clima de renascimento.<\/p>\n\n\n\n

A iniciativa, implementada em apenas tr\u00eas dias, j\u00e1 est\u00e1 prestes a ultrapassar a marca de 1\u00a0milh\u00e3o de euros. “Perdemos toda infraestrutura aqui, n\u00e3o h\u00e1 pontes, nem estradas, nem \u00e1gua, eletricidade, g\u00e1s, possivelmente at\u00e9 o ano que vem”, relata Kriechel. “Toda a economia foi destru\u00edda numa dimens\u00e3o inimagin\u00e1vel, vai ser uma maratona chegarmos at\u00e9 onde est\u00e1vamos.”<\/p>\n\n\n\n

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Duas semanas ap\u00f3s a cat\u00e1strofe, vale do rio Ahr mostra marcas de destrui\u00e7\u00e3o<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Solidariedade sem limites<\/h2>\n\n\n\n

Kriechel teve que se despedir de mais de um quarto de suas 200 mil garrafas estocadas, ap\u00f3s a inunda\u00e7\u00e3o da adega. Por 12 dias ficou sem eletricidade. Todas as m\u00e1quinas, como as prensas, est\u00e3o quebradas. Seus 22 empregados ainda passam para l\u00e1 e para c\u00e1 pela f\u00e1brica, de lavadora de alta press\u00e3o em punho. “Em compara\u00e7\u00e3o com os outros vinicultores, por\u00e9m, n\u00f3s aqui em Ahrweiler ainda sa\u00edmos s\u00f3 com uns arranh\u00f5es. Muitos colegas perderam tudo, n\u00e3o sobrou sequer uma \u00fanica garrafa.”<\/p>\n\n\n\n

A solidariedade que se manifesta de forma impressionante na regi\u00e3o tamb\u00e9m uniu os vinicultores, n\u00e3o s\u00f3 na iniciativa Flutwein. Nos vinhedos do Ahrtal, 60 colegas da regi\u00e3o do rio Mosela e de outras partes da Alemanha se empenharam diariamente para, de algum modo, salvar a safra de 2021: concorrentes se transformaram em amigos que arrega\u00e7am as mangas na hora do aperto.<\/p>\n\n\n\n

Pode-se comprar o vinho da enchente online at\u00e9 1\u00ba de setembro. No momento, Peter Kriechel organiza a log\u00edstica para as entregas. Ele est\u00e1 plenamente convencido de que as garrafas n\u00e3o apenas servem para decorar qualquer boa adega, como podem tranquilamente ser bebidas.<\/p>\n\n\n\n

“Acabo de receber um telefonema do laborat\u00f3rio que tirou amostras dos vinhos. Eles dizem que o conte\u00fado n\u00e3o foi prejudicado, em absoluto, nada impede o consumo. Isso \u00e9 muito importante para n\u00f3s \u2013 embora a ideia do donativo esteja em primeiro plano, \u00e9 claro.”<\/p>\n\n\n\n

Fonte: Deutsche Welle<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"