{"id":172407,"date":"2021-08-02T12:10:27","date_gmt":"2021-08-02T15:10:27","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=172407"},"modified":"2021-08-02T12:10:30","modified_gmt":"2021-08-02T15:10:30","slug":"fossil-de-esponja-de-890-milhoes-de-anos-pode-ser-o-animal-mais-antigo-ja-encontrado","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2021\/08\/02\/172407-fossil-de-esponja-de-890-milhoes-de-anos-pode-ser-o-animal-mais-antigo-ja-encontrado.html","title":{"rendered":"F\u00f3ssil de esponja de 890 milh\u00f5es de anos pode ser o animal mais antigo j\u00e1 encontrado"},"content":{"rendered":"\n
\"\"<\/a>
Um curioso grupo de f\u00f3sseis pode ser de esponjas primitivas \u2014 parentes da bela esponja da esp\u00e9cie\u00a0Spongia officinalis<\/em>\u00a0mostrada na imagem \u2014 o que os tornaria os animais fossilizados mais antigos j\u00e1 encontrados.
FOTO DE\u00a0RASMUS LOETH PETERSEN, ALAMY STOCK PHOTO<\/strong><\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Parentes da humilde esponja-do-mar filtraram as \u00e1guas da Terra por ao menos milh\u00f5es de anos, muito antes do surgimento das primeiras plantas terrestres. Sua simplicidade levou cientistas a sugerir que as esponjas foram os primeiros animais a surgir em nosso planeta. Mas quando exatamente isso ocorreu continua sendo objeto de debate.<\/p>\n\n\n\n

Agora, um estudo publicado na revista cient\u00edfica\u00a0Nature<\/em>\u00a0sugere que\u00a0estruturas reticuladas em um recife antigo podem ser esponjas de 890 milh\u00f5es de anos. Se confirmado, as esponjas f\u00f3sseis, encontradas em rochas calc\u00e1rias de \u201cLittle Dal\u201d, no noroeste do Canad\u00e1, seriam anteriores em mais de 300 milh\u00f5es de anos aos mais antigos f\u00f3sseis animais<\/a> n\u00e3o contestados.<\/p>\n\n\n\n

No entanto, a maioria das alega\u00e7\u00f5es de formas de vida fossilizadas extremamente antigas gera controv\u00e9rsia. As criaturas que floresceram nos mares primitivos podem ter tido uma apar\u00eancia bastante diferente daquelas que nadam pelos oceanos<\/a> atuais, e n\u00e3o h\u00e1 consenso cient\u00edfico sobre o quanto e quais tipos de evid\u00eancias podem distinguir animais de outras formas de vida \u2014 ou de estruturas geol\u00f3gicas. E os f\u00f3sseis de Little Dal tamb\u00e9m n\u00e3o entram nesse consenso.<\/p>\n\n\n\n

\u201c\u00c9 semelhante ao teste psicol\u00f3gico de Rorschach, mas com alguns rabiscos em uma rocha\u201d, afirma\u00a0Jonathan Antcliffe, paleont\u00f3logo especializado em vida primitiva da Universidade de Lausanne, na Su\u00ed\u00e7a.<\/p>\n\n\n\n

Durante uma entrevista pela plataforma Zoom,\u00a0Elizabeth Turner, a \u00fanica autora do estudo, mostra uma esponja da esp\u00e9cie\u00a0Spongia officinalis<\/em>\u00a0de cor amarelo-mostarda \u2014 uma parente moderna da suposta esponja f\u00f3ssil<\/a>. Ela aponta a rede de tubos flex\u00edveis que proporcionam sua caracter\u00edstica esponjosa, explicando que a malha \u00e9 \u201cid\u00eantica\u201d \u00e0 de f\u00f3sseis analisados recentemente, bem como a de diversos\u00a0f\u00f3sseis reticulados mais novos\u00a0identificados recentemente por outros cientistas.<\/p>\n\n\n\n

\u201cParece evidente\u201d, afirma Turner, ge\u00f3loga de campo da Universidade Laurentian, em Ont\u00e1rio. Mas ela admite que a proposta de identidade animal \u00e9 pol\u00eamica. \u201c\u00c9 hora de ser publicada e divulgada entre a comunidade cient\u00edfica para discuss\u00e3o e contesta\u00e7\u00e3o.\u201d<\/p>\n\n\n\n

F\u00f3sseis suspeitos<\/h3>\n\n\n\n

Os f\u00f3sseis rec\u00e9m-descritos foram localizados nas profundezas do imponente recife Little Dal. A estrutura foi formada em uma \u00e9poca em que mares superficiais e quentes inundaram uma vasta extens\u00e3o de terra na atual regi\u00e3o da Am\u00e9rica do Norte \u2014 o passar do tempo e a movimenta\u00e7\u00e3o tect\u00f4nica secaram os mares interiores e petrificaram os recifes. Ao contr\u00e1rio de muitos recifes modernos formados por corais, os arquitetos dessa estrutura antiga foram cianobact\u00e9rias. Esses micr\u00f3bios crescem em camadas viscosas, formando montes em camadas \u00e0 medida que as areias se acumulam em suas superf\u00edcies aderentes e os minerais dissolvidos nas \u00e1guas se transformam em peda\u00e7os s\u00f3lidos como uma penugem.<\/p>\n\n\n\n

Quando fossilizadas, as estruturas microbianas em camadas s\u00e3o\u00a0conhecidas como estromat\u00f3litos. Alguns datam de\u00a03,5 bilh\u00f5es de anos atr\u00e1s, contendo alguns dos primeiros vest\u00edgios convincentes de qualquer tipo de vida na Terra.<\/p>\n\n\n\n

Turner come\u00e7ou a estudar Little Dal d\u00e9cadas atr\u00e1s como aluna de gradua\u00e7\u00e3o da Queen\u2019s University em Ont\u00e1rio. Na \u00e9poca, ela estava interessada nos m\u00e9todos de forma\u00e7\u00e3o de recifes por cianobact\u00e9rias. Mas uma s\u00e9rie de amostras peculiares com estruturas complexas chamou sua aten\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

\u201cHavia algo suspeito nelas\u201d, conta Turner. O recife Little Dal \u00e9 basicamente \u201capenas um conjunto irregular de lamina\u00e7\u00f5es\u201d, explica ela. No entanto algumas amostras incomuns da estrutura apresentavam formas tubulares ramificadas e unidas novamente em uma rede poligonal tridimensional. Ela n\u00e3o conseguia determinar o que eram as formas incomuns.<\/p>\n\n\n\n

\u201cPensei em refletir sobre a quest\u00e3o com o tempo\u201d, prossegue ela.<\/p>\n\n\n\n

Nos \u00faltimos anos, entretanto, foram obtidos cada vez mais ind\u00edcios da poss\u00edvel identidade das amostras. Em v\u00e1rios locais, os pesquisadores encontraram\u00a0redes espiraladas\u00a0com uma semelhan\u00e7a extraordin\u00e1ria com os poss\u00edveis f\u00f3sseis em\u00a0rochas muito mais recentes\u00a0do que o recife Little Dal. Eles sugeriram que as forma\u00e7\u00f5es de malhas ramificadas poderiam ser restos f\u00f3sseis de um grupo de esponjas conhecido como keratosas.<\/p>\n\n\n\n

Muitos esqueletos de esponjas s\u00e3o formados a partir de pequenas estruturas r\u00edgidas denominadas esp\u00edculas, compostas por carbonato de c\u00e1lcio ou s\u00edlica e com o formato de estrepes, dispositivos usados para furar pneus. Nos f\u00f3sseis, as estruturas s\u00e3o sinais indicativos de esponjas antigas, mas as esponjas conhecidas como keratosas n\u00e3o possuem esses esqueletos r\u00edgidos. Em vez deles, sua estrutura esponjosa resulta das redes da prote\u00edna espongina, que apresenta uma textura flex\u00edvel e el\u00e1stica, ideal para sua explora\u00e7\u00e3o comercial moderna no banho.<\/p>\n\n\n\n

Ao examinar fragmentos de rochas com a espessura de uma folha de papel ao microsc\u00f3pio, Turner comparou as semelhan\u00e7as das formas e estruturas tubulares entre as amostras de Little Dal, f\u00f3sseis anteriormente identificados como esponjas keratosas e esponjas modernas.<\/p>\n\n\n\n

D\u00e9cadas ap\u00f3s ter observado as formas incomuns, Turner finalmente se sentiu pronta para publicar sua descoberta. \u201c\u00c9 um tributo \u00e0 lentid\u00e3o da ci\u00eancia\u201d, brinca ela.<\/p>\n\n\n\n

Esponja ou algo mais?<\/h3>\n\n\n\n

O novo estudo se soma ao longo debate sobre quando surgiram os primeiros animais \u2014 e quais evid\u00eancias s\u00e3o necess\u00e1rias para confirmar que um f\u00f3ssil seja animal. Nas \u00faltimas d\u00e9cadas, o uso de rastreadores geoqu\u00edmicos da vida primitiva, conhecidos como biomarcadores, tornou-se comum para identificar poss\u00edveis criaturas, explica\u00a0Keyron Hickman-Lewis, geobi\u00f3logo especializado em micr\u00f3bios primitivos do Museu de Hist\u00f3ria Natural de Londres. Restos f\u00f3sseis de\u00a0v\u00e1rios tipos de lip\u00eddios, por exemplo, s\u00e3o comumente usados como biomarcadores.<\/p>\n\n\n\n

Contudo, desde ent\u00e3o, segundo Hickman-Lewis, muitas dessas supostas evid\u00eancias de vida primitiva se revelaram falsas. Alguns dos pretensos biomarcadores provavelmente foram devidos \u00e0 contamina\u00e7\u00e3o, ao passo que outros sinais qu\u00edmicos n\u00e3o eram indicativos infal\u00edveis de animais. Por exemplo,\u00a0cientistas descobriram recentemente que uma combina\u00e7\u00e3o\u00a0de algas e altera\u00e7\u00f5es geol\u00f3gicas poderia produzir os mesmos compostos identificados anteriormente como evid\u00eancias de esponjas antigas extra\u00eddas de sedimentos de 635 milh\u00f5es de anos em Om\u00e3.<\/p>\n\n\n\n

Assim, ap\u00f3s o grande entusiasmo inicial, Hickman-Lewis declarou: \u201ctemos uma forte suspeita de origem animal antiga\u201d.<\/p>\n\n\n\n

O estudo das redes de malhas de Little Dal promete acirrar ainda mais o debate. \u201cAcredito que as evid\u00eancias sejam convincentes\u201d, afirma\u00a0Robert Riding,\u00a0revisor do estudo, da Universidade do Tennessee em Knoxville. Ele publicou recentemente um estudo\u00a0documentando f\u00f3sseis semelhantes\u00a0associados a um estromat\u00f3lito de aproximadamente 485 milh\u00f5es de anos encontrado em Nova York.<\/p>\n\n\n\n

A associa\u00e7\u00e3o dessas esponjas com os recifes microbianos faria sentido, observa Turner. A atmosfera da Terra nem sempre foi rica em oxig\u00eanio, e a origem das esponjas \u00e9\u00a0anterior ao per\u00edodo em que esse g\u00e1s prop\u00edcio \u00e0 vida\u00a0se tornou abundante em todo o mar. Mas provavelmente teriam existido os chamados \u201co\u00e1sis de oxig\u00eanio\u201d em torno de recifes de cianobact\u00e9rias, onde os micr\u00f3bios fotossint\u00e9ticos teriam gerado o oxig\u00eanio necess\u00e1rio \u00e0s esponjas.<\/p>\n\n\n\n

\u201cA proximidade entre esses recifes e as supostas esponjas torna mais prov\u00e1vel uma origem animal\u201d, pondera Hickman-Lewis.<\/p>\n\n\n\n

Outros especialistas est\u00e3o menos convictos dessa origem, observando que a rede semelhante a uma esponja n\u00e3o \u00e9 t\u00e3o exclusiva do grupo quanto sugerido por Turner e outros. \u201cBasicamente, todas as formas da vida \u2014 bact\u00e9rias, algas, fungos, plantas, animais \u2014 podem criar estruturas semelhantes\u201d, retruca Antcliffe.<\/p>\n\n\n\n

Em uma\u00a0an\u00e1lise de evid\u00eancias das primeiras esponjas\u00a0em 2014, Antcliffe e seus colegas conclu\u00edram que os f\u00f3sseis de animais mais antigos e n\u00e3o contestados s\u00e3o esp\u00edculas de esponja encontradas no Ir\u00e3 datadas de cerca de 535 milh\u00f5es de anos atr\u00e1s \u2014 e ele afirma que nenhum estudo recente o convenceu do contr\u00e1rio.<\/p>\n\n\n\n

Muitas an\u00e1lises identificaram o que ele considera serem \u201cvest\u00edgios vagos\u201d de estruturas semelhantes a esponjas primitivas. Mas nenhuma apresenta caracter\u00edsticas inquestion\u00e1veis, como esp\u00edculas ou poros. Essa \u00faltima caracter\u00edstica foi fundamental para confirmar a identidade das t\u00e3o debatidas esponjas conhecidas como arqueociatos, outro grupo sem esp\u00edculas identificado em rochas de 523 milh\u00f5es de anos.<\/p>\n\n\n\n

Um dos desafios se resume \u00e0 dificuldade de distinguir esponjas primitivas de outros animais, afirma\u00a0Drew Muscente, paleont\u00f3logo e geobi\u00f3logo da Universidade de Harvard. Os dinossauros, por exemplo, possuem uma s\u00e9rie de caracter\u00edsticas \u00f3sseas distintivas \u2014 \u00f3rbitas oculares, suturas cranianas e muito mais \u2014 que podem ajudar os cientistas a diferenciar seus f\u00f3sseis de objetos inanimados. \u201cTodos esses pequenos detalhes est\u00e3o ausentes em uma esponja ou organismo semelhante a uma esponja\u201d, explica ele.<\/p>\n\n\n\n

Processos qu\u00edmicos abi\u00f3ticos, ou sem vida, tamb\u00e9m podem formar estruturas que parecem surpreendentemente semelhantes \u00e0 vida, acrescenta\u00a0Rachel Wood, ge\u00f3loga da Universidade de Edimburgo especializada em rochas carbon\u00e1ticas. \u201cEla pode ter raz\u00e3o. Mas acredito que \u00e9 preciso explorar e refutar todas as demais possibilidades antes de fazer uma afirma\u00e7\u00e3o t\u00e3o dr\u00e1stica como essa. \u201cEnt\u00e3o, por ora, Wood comenta: \u201cacredito que ela errou ao afirmar que sejam esponjas\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Somente uma an\u00e1lise mais aprofundada pode resolver a quest\u00e3o. Wood observa que a cria\u00e7\u00e3o de modelos tridimensionais da rede tubular permitiria uma an\u00e1lise mais detalhada das estruturas. E Riding espera que o novo estudo inspire mais cientistas a analisar mais profundamente outros estromat\u00f3litos e a pesquisar mais dessas estruturas reticuladas.<\/p>\n\n\n\n

\u201cAcredito que essa hist\u00f3ria n\u00e3o acabe aqui\u201d, observa Riding. \u201c\u00c9 apenas o come\u00e7o de uma fase bastante interessante.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Fonte: National Geographic Brasil<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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