{"id":172487,"date":"2021-08-05T15:39:52","date_gmt":"2021-08-05T18:39:52","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=172487"},"modified":"2021-08-05T15:39:55","modified_gmt":"2021-08-05T18:39:55","slug":"por-que-a-italia-sofre-para-conter-incendios-florestais","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2021\/08\/05\/172487-por-que-a-italia-sofre-para-conter-incendios-florestais.html","title":{"rendered":"Por que a It\u00e1lia sofre para conter inc\u00eandios florestais"},"content":{"rendered":"\n
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Praias devastadas: Le Capannine em Cat\u00e2nia, Sic\u00edlia<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

A Europa Meridional atravessa uma das piores ondas de calor das \u00faltimas d\u00e9cadas, e Gr\u00e9cia, Espanha, Chipre, Turquia e It\u00e1lia<\/a> enfrentam graves inc\u00eandios florestais<\/a>. Neste \u00faltimo pa\u00eds, eles j\u00e1 duram semanas, e diversas regi\u00f5es do centro e sul perderam dezenas de milhares de hectares de florestas.<\/p>\n\n\n\n

Na ilha da Sardenha, botanistas est\u00e3o alarmados com a dizima\u00e7\u00e3o da biodiversidade local e com o n\u00famero de oliveiras seculares destru\u00eddas. Na Sic\u00edlia, a regi\u00e3o mais afetada, o fogo chegou at\u00e9 a cidade portu\u00e1ria de Cat\u00e2nia, exigindo a retirada de 150 cidad\u00e3os por mar e o fechamento do aeroporto por v\u00e1rias horas.<\/p>\n\n\n\n

Desde 15 de junho, bombeiros do pa\u00eds j\u00e1 foram chamados mais de 37 mil vezes, das quais 1.500 apenas no domingo (01\/08). Os apertos dos italianos para lidarem com a situa\u00e7\u00e3o s\u00e3o uma combina\u00e7\u00e3o de responsabilidades pol\u00edticas, burocracia na prote\u00e7\u00e3o florestal e poss\u00edveis atividades criminosas: segundo a Coldiretti, a maior associa\u00e7\u00e3o de agricultores do pa\u00eds, pelo menos 60% dos inc\u00eandios foram criminosos.<\/p>\n\n\n\n

Poss\u00edvel a\u00e7\u00e3o criminosa<\/h2>\n\n\n\n

Em 2 de agosto, dois incendi\u00e1rios foram presos na cidade rural de Troina, na prov\u00edncia central siciliana de Enna, onde est\u00e3o sendo constru\u00eddas numerosas usinas el\u00e9tricas movidas a vento. “Temos que prestar muita aten\u00e7\u00e3o \u00e0 hip\u00f3tese de o setor e\u00f3lico querer debilitar os fazendeiros locais, for\u00e7ando-os a irem fazer alguma outra coisa”, declarou ao jornal La Repubblica<\/em> o prefeito de Troina, Fabio Venezia.<\/p>\n\n\n\n

Ou seja, as usinas furtam terreno \u00e0 agricultura, e a destrui\u00e7\u00e3o das propriedades visaria for\u00e7ar os agricultores a venderem suas terras. Para evitar tais constela\u00e7\u00f5es, uma lei nacional datando do ano 2000 pro\u00edbe a mudan\u00e7a do uso das \u00e1reas atingidas por inc\u00eandios durante os 15 anos seguintes ao fogo. No entanto, cabe \u00e0s autoridades locais aplic\u00e1-la, e ela prev\u00ea algumas exce\u00e7\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n

As suspeitas est\u00e3o sendo investigadas pela comiss\u00e3o siciliana anti-m\u00e1fia institu\u00edda pelo parlamento da ilha. No momento, ela toma depoimentos de propriet\u00e1rios que teriam sido abordados por intermedi\u00e1rios oferecendo-se para vender suas terras a afiliados do setor de energia e\u00f3lica.<\/p>\n\n\n\n

“\u00c9 necess\u00e1rio refletir sobre o que est\u00e1 acontecendo”, reivindicou o presidente da comiss\u00e3o anti-m\u00e1fia no site de not\u00edcias Live Sicilia. “Tem havido uma procura espasm\u00f3dica por terrenos que poderiam ser adquiridos por 30 mil euros o hectare, enquanto 200 requerimentos para projetos fotovoltaicos j\u00e1 foram apresentados ao governo regional.”<\/p>\n\n\n\n

Os procuradores da Sic\u00edlia e outras regi\u00f5es abriram inqu\u00e9ritos sobre as ocorr\u00eancias de inc\u00eandios provocados intencionalmente, por\u00e9m ainda n\u00e3o se provou a exist\u00eancia de um esquema criminoso.<\/p>\n\n\n\n

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Fogo consumiu milhares de hectares na regi\u00e3o de Cuglieri, Sardenha<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Bombeiros em apuros<\/h2>\n\n\n\n

\u00c0 parte as hip\u00f3teses criminais, a rea\u00e7\u00e3o lenta ao fogo tamb\u00e9m tem se provado extremamente problem\u00e1tica. H\u00e1 anos os bombeiros queixam-se de n\u00e3o poderem garantir servi\u00e7os adequados, devido \u00e0 insufici\u00eancia financeira e falta de pessoal.<\/p>\n\n\n\n

Em 2016, uma lei fundiu o Corpo Florestal do Estado (CFS) e os carabinieri<\/em>, a pol\u00edcia militar da It\u00e1lia: desse modo, os corpos de bombeiros, que costumam operar em \u00e1reas urbanas, ficaram respons\u00e1veis pela maioria das fun\u00e7\u00f5es de controle de inc\u00eandios florestais.<\/p>\n\n\n\n

Como a preven\u00e7\u00e3o do fogo \u00e9 gerida em n\u00edvel regional, os respectivos governos t\u00eam que fechar protocolos de coopera\u00e7\u00e3o peri\u00f3dicos com os corpos de bombeiros, embora estes nem sempre disponham dos meios para combater os inc\u00eandios nas \u00e1reas rurais, agora duramente atingidas pela seca.<\/p>\n\n\n\n

De acordo com autoridades locais, os reservat\u00f3rios da Sic\u00edlia disp\u00f5em de cerca de 78 milh\u00f5es de metros c\u00fabicos de \u00e1gua a menos do que em 2020, seu n\u00edvel mais baixo na \u00faltima d\u00e9cada. Em rea\u00e7\u00e3o, o governo siciliano alocou 20 milh\u00f5es de euros para os agricultores ampliarem suas capacidades de reserva h\u00eddrica.<\/p>\n\n\n\n

Um relat\u00f3rio de 2020 do Centro Nacional de Pesquisa da It\u00e1lia (CNR) indicou que 70% da Sic\u00edlia est\u00e1 amea\u00e7ada de desertifica\u00e7\u00e3o. Na ilha da Sardenha, no centro-sul, essa percentagem \u00e9 de 30%, e na Ap\u00falia, no “salto da bota” da pen\u00ednsula, de 50%.<\/p>\n\n\n\n

Fogo alimentado pela burocracia<\/h2>\n\n\n\n

Ainda assim, nos \u00faltimos 30 anos o volume de bosques cresceu 25% na It\u00e1lia, de 9 milh\u00f5es para 11,4 milh\u00f5es de hectares, e cobre 38% do territ\u00f3rio nacional \u2013 a mesma propor\u00e7\u00e3o que a da Alemanha, cuja \u00e1rea \u00e9 cerca de 55 mil quil\u00f4metros maior.<\/p>\n\n\n\n

Um dos motivos para a expans\u00e3o das florestas \u00e9 o decl\u00ednio demogr\u00e1fico nas \u00e1reas rurais. No entanto, “o setor florestal \u00e9 ainda, em parte, condicionado por uma cultura que data do s\u00e9culo 19, quando o pa\u00eds adotou uma legisla\u00e7\u00e3o estrita para prote\u00e7\u00e3o dos bosques e criou uma for\u00e7a policial florestal especial”, explica o professor Davide Pettenella, do Departamento de Territ\u00f3rio e Sistemas Agro-Florestais da Universidade de P\u00e1dua.<\/p>\n\n\n\n

“De fato, os instrumentos mais poderosos de pol\u00edtica florestal ainda s\u00e3o coer\u00e7\u00f5es regulat\u00f3rias. \u00c9 preciso uma mudan\u00e7a de paradigma: de ‘proteger proibindo’ para ‘valorizar gerindo’.”<\/p>\n\n\n\n

Em 2020, por exemplo, o Conselho de Estado, \u00f3rg\u00e3o m\u00e1ximo do sistema italiano de Justi\u00e7a administrativa, decidiu que as autoridades locais encarregadas da gest\u00e3o florestal na Toscana n\u00e3o podiam derrubar \u00e1rvores sem permiss\u00e3o pr\u00e9via da Superintend\u00eancia de Paisagismo, o que acrescentou mais uma camada de burocracia e ralenta os trabalhos.<\/p>\n\n\n\n

Em 1\u00ba de agosto \u00faltimo, um inc\u00eandio atravessou a Pineta Dannunziana, a floresta urbana de pinheiros de Pescara, for\u00e7ando 800 fam\u00edlias a abandonarem suas resid\u00eancias. Houve pelo menos 12 feridos, entre os quais uma menina de cinco anos, e turistas foram for\u00e7ados a fugir da praia, quando as chamas se aproximaram dos estabelecimentos balne\u00e1rios.<\/p>\n\n\n\n

“A Pineta Dannunziana \u00e9 considerada pela lei como ‘reserva natural integral’, portanto n\u00e3o pode estar sujeita a gest\u00e3o florestal, apesar das advert\u00eancias dos agr\u00f4nomos”, explicou na ocasi\u00e3o o prefeito de Pescara, Carlo Masci. “A vegeta\u00e7\u00e3o rasteira queimou muito r\u00e1pido.”<\/p>\n\n\n\n

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It\u00e1lia foi criticada por n\u00e3o alocar nem um euro dos 235 bilh\u00f5es de um fundo europeu para prote\u00e7\u00e3o de suas matas<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Oportunidade perdida de ajuda da UE<\/h2>\n\n\n\n

Organiza\u00e7\u00f5es ambientais criticam a It\u00e1lia por haver perdido a oportunidade de pelo menos refor\u00e7ar sua prote\u00e7\u00e3o florestal, oferecida pelo NextGenerationEU, o plano da Uni\u00e3o Europeia para sustentar a recupera\u00e7\u00e3o econ\u00f4mica de seus Estados-membros atingidos pela pandemia de coronav\u00edrus.<\/p>\n\n\n\n

Duramente afetado pela covid-19, o pa\u00eds foi o maior benefici\u00e1rio do fundo, com 235,14 bilh\u00f5es de euros. No entanto, o Plano Nacional de Recupera\u00e7\u00e3o e Resili\u00eancia (PNRR) apresentado por Roma “n\u00e3o aloca sequer um euro para as florestas”, observa Marco Bussone, presidente da Uni\u00e3o Nacional das Comunas, Comunidades e Entidades de Montanha (Uncem). “S\u00f3 h\u00e1 140 milh\u00f5es de euros para ‘comunidades verdes’ \u2013 comunidades ecossustent\u00e1veis das montanhas \u2013, que obtivemos com muito esfor\u00e7o.”<\/p>\n\n\n\n

Em 2018, o governo italiano aprovou uma lei inovadora de gest\u00e3o florestal, descrita por Bussone como “uma das melhores da Europa<\/a>“. No entanto, ela n\u00e3o foi devidamente implementada por n\u00e3o estar devidamente respaldada pelos recursos necess\u00e1rios, que, segundo a Uncem, seriam de no m\u00ednimo 100\u00a0milh\u00f5es de euros por ano. Na opini\u00e3o de Bussone, “uma situa\u00e7\u00e3o absurda para um pa\u00eds feito de bosques, como a It\u00e1lia”.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: Deutsche Welle<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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