{"id":172593,"date":"2021-08-10T14:15:10","date_gmt":"2021-08-10T17:15:10","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=172593"},"modified":"2021-08-10T14:15:12","modified_gmt":"2021-08-10T17:15:12","slug":"gostar-de-ostras-frescas-pode-ajudar-o-planeta","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2021\/08\/10\/172593-gostar-de-ostras-frescas-pode-ajudar-o-planeta.html","title":{"rendered":"Gostar de ostras frescas pode ajudar o planeta"},"content":{"rendered":"\n
\"\"<\/a>
Ostras prontas para serem contadas nas margens do rio Damariscotta, no estado do Maine, Estados Unidos. Cerca de 75% das ostras do estado s\u00e3o provenientes do rio Damariscotta, que \u00e9 um ponto importante da Trilha da Ostra do Maine.
FOTO DE\u00a0GREGORY REC, PORTLAND PORTLAND PRESS HERALD\/GETTY IMAGES<\/strong><\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Ao lan\u00e7armos \u00e2ncora, aprendi o segredo para abrir a ostra<\/a> perfeitamente: introduza delicadamente a faca na dobradi\u00e7a posterior da concha e sorva a ostra mais fresca de sua vida. O molusco havia sido colhido minutos antes de nossa chegada, por meio das gaiolas flutuantes ao lado de nosso barco em uma se\u00e7\u00e3o isolada da\u00a0<\/a>Ba\u00eda de Casco, em Maine.<\/p>\n\n\n\n

\u201cH\u00e1 uma nascente de \u00e1gua doce na Ilha Upper Goose que drena direto para a fazenda e corta a salinidade da \u00e1gua, ent\u00e3o nossa ostra \u00e9 muito mais brilhante, com um sabor mais equilibrado, levemente parecido com o do pepino-do-mar\u201d, diz Cameron Barner, que tem forma\u00e7\u00e3o avan\u00e7ada na \u00e1rea de aquicultura, \u00e9 propriet\u00e1rio de uma fazenda de ostras e foi o meu guia tur\u00edstico naquela tarde. \u201cSe voc\u00ea subir o rio para colher as ostras ou comer as que se depositam no fundo do rio, provar\u00e1 um sabor mineral mais intenso.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Passeios por fazendas de ostras, como esse da fazenda\u00a0Love Point Oysters, e trilhas sem acompanhamento de guias para aprecia\u00e7\u00e3o de bivalves est\u00e3o surgindo nos Estados Unidos.\u00a0A pandemia de covid-19\u00a0fez com que a tend\u00eancia estagnasse, mas com o relaxamento das restri\u00e7\u00f5es de viagens, os entusiastas de ostras est\u00e3o retomando esse tipo de turismo. Ao longo da\u00a0Trilha da Ostra do Maine, que foi reinaugurada em junho, os turistas gastron\u00f4micos podem ser premiados com diversas experi\u00eancias e visitas a locais diferentes, incluindo a fazenda Love Point. Outras trilhas podem ser encontradas em\u00a0Louisiana,\u00a0Virg\u00ednia, na\u00a0Carolina do Norte\u00a0e\u00a0em Washington, o maior produtor de aquicultura do pa\u00eds.\u00a0<\/p>\n\n\n\n

\"\"<\/a>
Em mar\u00e7o de 2020, volunt\u00e1rios utilizaram cestos recolher conchas de ostras em restaurantes, que ser\u00e3o transportadas e utilizadas na constru\u00e7\u00e3o de canteiros de ostras na Reserva Marinha Jack Dunster, em Long Beach, no estado da Calif\u00f3rnia.
FOTO DE\u00a0BRITTANY MURRAY, MEDIANEWS GROUP\/LONG BEACH PRESS-TELEGRAM\/GETTY IMAGES<\/strong><\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Mas esses passeios n\u00e3o apresentam apenas as experi\u00eancias de sorver e descascar as conchas. Eles tamb\u00e9m oferecem aprendizado. Nas trilhas, os visitantes aprendem sobre como ostras cultivadas de forma sustent\u00e1vel ajudam a restaurar as devastadas popula\u00e7\u00f5es de ostras da natureza. Ostras cultivadas n\u00e3o prejudicam ou dependem de forma alguma de seus familiares selvagens. Na verdade, elas ajudam a semear popula\u00e7\u00f5es de ostras fora das aquiculturas, limpar cursos de \u00e1gua e alimentar muitas esp\u00e9cies de peixes.<\/p>\n\n\n\n

\u201cAntes eram s\u00f3 as pessoas mais velhas que gostavam de ostras\u201d, diz Barner, de 27 anos. Agora, os jovens tamb\u00e9m experimentam diversos sabores sutis de ostra e querem participar de uma solu\u00e7\u00e3o para o meio ambiente<\/a> tamb\u00e9m.<\/p>\n\n\n\n

\u201cMuitos se interessam por oportunidades de carreira em que seja poss\u00edvel, al\u00e9m de ganhar a vida na natureza, fazer o bem para o meio ambiente\u201d, explica Robert Jones, l\u00edder global de aquicultura da organiza\u00e7\u00e3o sem fins lucrativos\u00a0Nature Conservancy.<\/p>\n\n\n\n

O decl\u00ednio das ostras selvagens<\/h3>\n\n\n\n

O ser humano consome ostras h\u00e1 mais de\u00a0165 mil\u00a0anos. De acordo com um estudo realizado pela revista cient\u00edfica\u00a0Science Advances<\/em>, as pr\u00e1ticas dos nativos americanos promoviam sa\u00fade aos recifes de ostras por milhares de anos antes da chegada dos colonizadores europeus.\u00a0<\/em>Na Gr\u00e9cia e na Roma antigas, os ricos consideravam ostras uma iguaria. Nos Estados Unidos e na Europa no in\u00edcio do s\u00e9culo 19, as ostras eram\u00a0uma fonte popular e barata de prote\u00edna para a classe trabalhadora.<\/p>\n\n\n\n

Mas a pesca excessiva, as doen\u00e7as causadas por polui\u00e7\u00e3o dos rios e as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas tornaram os recifes de ostras\u00a0um dos\u00a0habitats<\/em>\u00a0mais amea\u00e7ados do mundo.\u00a0Por volta de\u00a02012, popula\u00e7\u00f5es inteiras\u00a0quase desapareceram\u00a0em lugares como a\u00a0Ba\u00eda de Chesapeake,\u00a0Ba\u00eda de Apalachicola\u00a0e em todo o\u00a0estado de Washington.<\/p>\n\n\n\n

Com a demanda por ostras criadas em cativeiro e \u201ccultivadas\u201d de maneira sustent\u00e1vel a partir de sementes para virarem pratos em restaurantes, e ao aprofundar nosso conhecimento sobre ostras, estamos ajudando a restaurar os recifes de ostras naturais.<\/p>\n\n\n\n

Ostras cultivadas s\u00e3o uma resposta<\/h3>\n\n\n\n

S\u00e3o muitos os benef\u00edcios ecol\u00f3gicos da aquicultura de ostras, come\u00e7ando com um processo de cultivo que quase n\u00e3o emite gases de efeito estufa e quase n\u00e3o utiliza \u00e1gua, ra\u00e7\u00f5es, fertilizantes ou alimentos. As larvas de certas ostras cultivadas, chamadas diploides, escapam das gaiolas para semear sozinhas a popula\u00e7\u00e3o de ostras selvagens.<\/p>\n\n\n\n

O que os turistas aprendem ao longo das trilhas de ostras \u00e9 que cada bivalve de \u00e1gua salgada \u00e9 um min\u00fasculo v\u00e1cuo oce\u00e2nico e, sem recifes de ostras suficientes, nossos mananciais se tornam mais turvos. As ostras podem filtrar 50 gal\u00f5es de \u00e1gua por dia de poluentes como o nitrog\u00eanio, presente nas \u00e1guas devido ao escoamento agr\u00edcola e \u00e0s mudan\u00e7as clim\u00e1ticas. As ostras expelem esses poluentes ou os absorvem em suas conchas e tecidos (e \u00e9 por isso que n\u00e3o se deve comer ostras provenientes de qualquer canal).<\/p>\n\n\n\n

\"\"<\/a>
As larvas de ostra, como as da Ba\u00eda de Netarts, no estado de Oregon, s\u00e3o chamadas de diploides. As larvas de certas ostras cultivadas escapam das gaiolas para semear sozinhas a popula\u00e7\u00e3o de ostras.
FOTO DE\u00a0DAVID LIITTSCHWAGER, NATGEO IMAGE COLLECTION<\/strong><\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Tanto ostras selvagens quanto ostras cultivadas \u2014 que s\u00e3o mantidas em \u00e1gua limpa, obedecendo a rigorosos regulamentos \u2014 consomem algas e filtram outras part\u00edculas, permitindo que mais luz solar alcance o fundo do oceano, promovendo o crescimento de zosteras,\u00a0habitat<\/em>\u00a0para muitas esp\u00e9cies.<\/p>\n\n\n\n

Assim como o coral, as ostras, quando juntas, formam recifes que evitam a eros\u00e3o do solo, protegem a terra de tempestades e mar\u00e9s e agem como pequenos santu\u00e1rios marinhos para outros peixes. Centenas de esp\u00e9cies de peixes tamb\u00e9m crescem, comem e acasalam em gaiolas de ostras em cativeiro, de acordo com um estudo publicado recentemente no peri\u00f3dico\u00a0Reviews in Aquaculture<\/em>, o primeiro estudo que quantificou esse processo em uma escala global.<\/p>\n\n\n\n

\u201cVisto que o cultivo realmente tem um benef\u00edcio positivo para a biodiversidade<\/a>, devemos encoraj\u00e1-lo mais e permitir que as pessoas produzam fazendas de ostras em locais onde h\u00e1 maior necessidade de\u00a0habitats<\/em>\u201d, afirma Jones da Nature Conservancy e autor principal do artigo.<\/p>\n\n\n\n

Essa rela\u00e7\u00e3o colaborativa entre os criadores de ostras e os conservacionistas ocorrem em cursos d\u2019\u00e1gua j\u00e1 bastante prejudicados, como a\u00a0Ba\u00eda de Chesapeake, que abriga uma das principais reservas de ostras do mundo, e o porto de Nova York, com o projeto\u00a0Billion Oyster Project.<\/p>\n\n\n\n

\u201cA qualidade da \u00e1gua \u00e9 muito importante para o turismo, pois alimenta o setorde frutos do mar. Ent\u00e3o quanto mais ostras tivermos, mais saud\u00e1vel ser\u00e1 a \u00e1gua\u201d, diz Tanner Council, da Chesapeake Oyster Alliance, uma coaliz\u00e3o financiada pela organiza\u00e7\u00e3o sem fins lucrativos Chesapeake Bay Foundation, que pretende adicionar 10 bilh\u00f5es de novas ostras \u00e0 ba\u00eda at\u00e9 2025.<\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m disso, no segundo semestre do ano passado, a Nature Conservancy se comprometeu a comprar 5 milh\u00f5es de ostras excedentes de mais de cem fazendas \u2014 que foram obrigadas a fechar seus restaurantes que serviam alimentos crus durante a pandemia \u2014 e\u00a0devolver os bivalves \u00e0 natureza\u00a0para restaurar os recifes de ostras.<\/p>\n\n\n\n

P\u00e9rolas de sabedoria<\/h3>\n\n\n\n

Como o pessoal da fazenda Love Point Oyster gosta de dizer, o consumidor prop\u00f5e a maneira como tratamos nosso planeta. Cada vez que um turista que passa pela Trilha da Ostra do Maine entra em um barco ou caiaque para visitar uma fazenda, compra ostras direto de um fazendeiro ou come meia d\u00fazia delas em um bar de frutos do mar ou\u00a0foodtruck<\/em>\u00a0de ostras, isso beneficia n\u00e3o apenas a ind\u00fastria das ostras, mas tamb\u00e9m o meio ambiente.<\/p>\n\n\n\n

\"\"<\/a>
Nesta foto de 2018, clientes do bar de frutos do mar The Shop, na cidade de Portland, em Maine, sorvem ostras durante uma aula de descasque de conchas.
FOTO DE\u00a0BEN MCCANNA, PORTLAND PORTLAND PRESS HERALD\/GETTY IMAGES<\/strong><\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

De volta \u00e0 fazenda Love Point, devoro quase uma d\u00fazia de ostras-americanas\u2014 conhecidas como Crassostrea virginica<\/em>, uma das apenas cinco esp\u00e9cies cultivadas na Am\u00e9rica do Norte. Ben Hamilton, copropriet\u00e1rio da Love Point, sugere jogar as conchas de volta \u00e0 \u00e1gua para neutralizar o \u00e1cido prejudicial do di\u00f3xido de carbono presente na \u00e1gua da ba\u00eda.<\/p>\n\n\n\n

Hamilton me ensinou que \u201co c\u00e1lcio eventualmente chega \u00e0 coluna d\u2019\u00e1gua e ajuda a tamponar a acidez da \u00e1gua, neutralizando os efeitos do CO2\u201d. Muitos\u00a0restaurantes est\u00e3o \u201creciclando\u201d suas cascas de ostra para restaurar os recifes.<\/p>\n\n\n\n

Como \u00e0s mudan\u00e7as clim\u00e1ticas continuam prejudicando as popula\u00e7\u00f5es de peixes e a concorr\u00eancia no mercado da pesca continua acirrada, alguns pescadores, como um jovem pescador de lagosta que conheci e trabalha para a Love Point, encontram uma fonte de renda mais est\u00e1vel como criadores de ostras. Quanto a Hamilton, ele n\u00e3o se arrepende de abandonar um emprego com carga hor\u00e1ria de 120 horas por semana em Wall Street. \u201cO mundo pode ser muito pessimista, mas o amor \u00e9 a raz\u00e3o de tudo, certo?\u201d, declara o copropriet\u00e1rio da Love Point, acrescentando que sua mudan\u00e7a de carreira inspirou o nome de sua empresa.<\/p>\n\n\n\n

\u201cAs ostras exigem pouco do ambiente natural e d\u00e3o muito em troca. Elas devoram os fitopl\u00e2nctons da \u00e1gua e s\u00e3o uma fonte de prote\u00edna, que traz muito benef\u00edcio \u00e0s pessoas\u201d, conclui Hamilton. \u201cEssa \u00e9 uma hist\u00f3ria que merece ser compartilhada\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: National Geographic Brasil<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"