{"id":172761,"date":"2021-08-13T15:10:45","date_gmt":"2021-08-13T18:10:45","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=172761"},"modified":"2021-08-13T15:10:52","modified_gmt":"2021-08-13T18:10:52","slug":"como-o-clima-extremo-propicio-para-incendios-tem-o-potencial-de-resfriar-o-planeta","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2021\/08\/13\/172761-como-o-clima-extremo-propicio-para-incendios-tem-o-potencial-de-resfriar-o-planeta.html","title":{"rendered":"Como o clima extremo prop\u00edcio para inc\u00eandios tem o potencial de resfriar o planeta"},"content":{"rendered":"\n

O calor extremo costuma provocar inc\u00eandios florestais graves, e este ano n\u00e3o ser\u00e1 uma exce\u00e7\u00e3o, com\u00a0ondas de calor sem precedentes\u00a0alimentando enormes focos de inc\u00eandios no oeste dos Estados Unidos e do Canad\u00e1, assim como\u00a0na regi\u00e3o do Mediterr\u00e2neo\u00a0e na\u00a0Sib\u00e9ria. Mas, paradoxalmente, inc\u00eandios florestais mais intensos podem provocar o efeito oposto nas temperaturas ao resfriar a superf\u00edcie terrestre, tanto em n\u00edvel regional quanto global.<\/p>\n\n\n\n

A fuma\u00e7a densa dos inc\u00eandios bloqueia temporariamente a luz solar, que n\u00e3o atinge o solo, e pode fazer com que as temperaturas regionais diminuam v\u00e1rios graus. A fuma\u00e7a de inc\u00eandios florestais tamb\u00e9m pode causar o resfriamento global ao aumentar a reflexividade das nuvens presentes na camada mais baixa da atmosfera ou\u00a0bloquear a penetra\u00e7\u00e3o da luz do sol\u00a0na camada mais alta da atmosfera, semelhante ao efeito causado por erup\u00e7\u00f5es vulc\u00e2nicas.<\/p>\n\n\n\n

Cientistas passaram a\u00a0analisar\u00a0esses efeitos recentemente, sendo que o primeiro registro de resfriamento global induzido pela fuma\u00e7a de inc\u00eandios florestais detectado por pesquisadores ocorreu na Austr\u00e1lia nos anos de 2019 e 2020. O efeito \u00e9 muito pequeno comparado ao aquecimento global causado por humanos e pesquisadores afirmam ser muito cedo para prever seu papel no sistema clim\u00e1tico como um todo.<\/p>\n\n\n\n

Por\u00e9m, com temporadas de inc\u00eandios cada vez mais intensas em todo o mundo e o desencadeamento de ondas de\u00a0clima prop\u00edcio para inc\u00eandios\u00a0na Am\u00e9rica do Norte e em outros lugares durante o ver\u00e3o, a busca por respostas tornou-se cada vez mais urgente.<\/p>\n\n\n\n

\u201cEst\u00e1 muito claro que pesquisas relacionadas ao efeito dos inc\u00eandios florestais no clima s\u00e3o relevantes\u201d, afirma Sergey Khaykin, especialista em climas prop\u00edcios para inc\u00eandios da Universidade Sorbonne, na Fran\u00e7a.<\/p>\n\n\n\n

C\u00e9u mais escuro, nuvens mais claras<\/h3>\n\n\n\n

Um\u00a0coquetel\u00a0de part\u00edculas min\u00fasculas, vapor de \u00e1gua e gases \u00e9 lan\u00e7ado no ar cada vez que um inc\u00eandio florestal ocorre. Carregada pelo vento, a fuma\u00e7a desses inc\u00eandios pode poluir o ar em um raio de centenas a milhares de quil\u00f4metros. Moradores do nordeste dos Estados Unidos foram os primeiros a observar esse efeito, em meados de julho, quando uma onda de fuma\u00e7a proveniente de um inc\u00eandio florestal no sul do Canad\u00e1 flutuou sobre as cidades de Nova York, Filad\u00e9lfia e Washington D.C., avermelhando o p\u00f4r do sol e desencadeando\u00a0alertas sobre a qualidade do ar. No fim de julho, a fuma\u00e7a causada por inc\u00eandios florestais canadenses\u00a0espalhou-se pelo estado de Minnesota, causando n\u00edveis \u201csem precedentes\u201d de polui\u00e7\u00e3o do ar. H\u00e1 pouco tempo, a cidade de Atenas tamb\u00e9m\u00a0sofreu com a fuma\u00e7a\u00a0causada por inc\u00eandios florestais que assolaram \u00e1reas pr\u00f3ximas. Atualmente, o\u00a0Dixie Fire\u00a0\u00e9 o maior inc\u00eandio do estado da Calif\u00f3rnia, que destruiu mais de 100 casas e arrasou uma cidade hist\u00f3rica.<\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m de ser\u00a0prejudicial \u00e0 sa\u00fade, a fuma\u00e7a densa de inc\u00eandios florestais que pairam perto do solo pode bloquear a luz em n\u00edveis suficientes para reduzir as temperaturas da superf\u00edcie.\u00a0Desde meados da d\u00e9cada de 1950, cientistas tem mensurado esse efeito ao comparar as temperaturas em dias de fuma\u00e7a intensa com as\u00a0temperaturas previstas para ocorrer na aus\u00eancia dela.<\/p>\n\n\n\n

\u201cO efeito varia dependendo da dist\u00e2ncia da origem do inc\u00eandio, do seu tamanho e da quantidade de fuma\u00e7a gerada\u201d, explica Robert Field, cientista pesquisador do Instituto Goddard de Estudos Espaciais da Nasa. Mas, quando a fuma\u00e7a do inc\u00eandio \u00e9 espessa o suficiente, continua Field, \u201c\u00e9 poss\u00edvel obter um breve efeito de resfriamento de cinco graus Celsius\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Field descreve esses efeitos de resfriamento como \u201cocasionais\u201d e \u201cquase uma curiosidade acad\u00eamica\u201d se comparados aos impactos da fuma\u00e7a de inc\u00eandios florestais na sa\u00fade p\u00fablica. No entanto\u00a0pesquisas\u00a0realizadas durante a temporada de inc\u00eandios florestais de 2019 e 2020 na Austr\u00e1lia apontam outra maneira, potencialmente muito mais significativa, atrav\u00e9s da qual a fuma\u00e7a de inc\u00eandios florestais pode resfriar a superf\u00edcie terrestre.<\/p>\n\n\n\n

\"\"<\/a>
Fuma\u00e7a de inc\u00eandios florestais paira sobre Canberra, na Austr\u00e1lia, em 23 de janeiro de 2020. Em 2020, os inc\u00eandios no pa\u00eds causaram um efeito tempor\u00e1rio de resfriamento global.
FOTO DE\u00a0MARK EVANS, GETTY IMAGES<\/strong><\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Em um estudo publicado recentemente na revista cient\u00edfica\u00a0Geophysical Research Letters<\/em>, cientistas do Centro Nacional de Pesquisa Atmosf\u00e9rica relataram que os inc\u00eandios australianos produziram tanta fuma\u00e7a na atmosfera do Hemisf\u00e9rio Sul a ponto de desencadear um efeito de resfriamento global \u201cforte e r\u00e1pido\u201d de cerca de 0,06 grau Celsius. De acordo com o principal autor do estudo, John Fasullo, isso ocorreu devido \u00e0 maneira com que as part\u00edculas de fuma\u00e7a interagiram com as nuvens na camada mais baixa da atmosfera, ou troposfera.<\/p>\n\n\n\n

Part\u00edculas de fuma\u00e7a agem como sementes para o vapor d\u2019\u00e1gua formar got\u00edculas, resultando em nuvens menores, com mais got\u00edculas e que refletem mais luz solar. Mesmo que as nuvens n\u00e3o retenham a fuma\u00e7a por muito tempo, os inc\u00eandios florestais australianos duraram meses, lan\u00e7ando mais e mais fuma\u00e7a na atmosfera, tornando as nuvens mais claras.<\/p>\n\n\n\n

\u201cN\u00e3o \u00e9 um efeito impactante, mas ao abranger o Oceano Ant\u00e1rtico inteiro, ele se torna cumulativo\u201d, comenta Fasullo.<\/p>\n\n\n\n

De fato, o impacto parece ter se propagado por todo o sistema clim\u00e1tico. Modelos criados por pesquisadores mostraram que, no Hemisf\u00e9rio Sul, o resfriamento induzido pela fuma\u00e7a alterou a rota de um cintur\u00e3o cr\u00edtico de tempestades tropicais, a\u00a0Zona de Converg\u00eancia Intertropical,\u00a0movendo-a mais ao norte. Fasullo diz que essa mudan\u00e7a pode ter contribu\u00eddo para os efeitos do fen\u00f4meno\u00a0La Ni\u00f1a\u00a0no ano passado, que esfriou a temperatura da superf\u00edcie do oceano na regi\u00e3o do Pac\u00edfico Equatorial Oriental, embora mais pesquisas sejam necess\u00e1rias para confirmar essa hip\u00f3tese.<\/p>\n\n\n\n

No entanto, de acordo com Fasullo, n\u00e3o restam d\u00favidas de que \u201cinc\u00eandios florestais podem gerar uma condi\u00e7\u00e3o clim\u00e1tica pr\u00f3pria ou instigar uma resposta clim\u00e1tica\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Clima alimentado pelo fogo<\/h3>\n\n\n\n

A pesquisa de Fasullo destaca os efeitos de resfriamento na camada mais baixa da atmosfera provocados pela fuma\u00e7a, mas ocasionalmente ela rompe a troposfera e chega \u00e0 estratosfera, camada atmosf\u00e9rica que tem in\u00edcio a cerca de 16 quil\u00f4metros de altura. Nesse ponto, \u00e9 poss\u00edvel ocorrer efeitos adicionais no clima.<\/p>\n\n\n\n

A fuma\u00e7a atinge a estratosfera quando o calor provocado por um inc\u00eandio intenso cria uma corrente ascendente que se combina com a umidade da atmosfera gerando nuvens carregadas. Conhecidas como piroc\u00famulos, essas\u00a0nuvens alimentadas pelo fogo\u00a0podem atuar como chamin\u00e9s, canalizando a fuma\u00e7a at\u00e9 a camada mais alta da atmosfera, onde ela pode circundar o planeta e permanecer l\u00e1 durante meses.<\/p>\n\n\n\n

Esse efeito aconteceu na Austr\u00e1lia, no fim de 2019 e in\u00edcio de 2020, quando uma \u201cgrande rajada\u201d in\u00e9dita de 38 piroc\u00famulos impulsionou cerca de um milh\u00e3o de toneladas m\u00e9tricas de fuma\u00e7a at\u00e9 a estratosfera inferior.\u00a0Uma pesquisa\u00a0conduzida por Khaykin e publicada em setembro passado mostrou que a fuma\u00e7a formou uma sombra sobre a superf\u00edcie da Terra por v\u00e1rios meses, provavelmente produzindo um pequeno efeito adicional de resfriamento global, al\u00e9m de clarear as nuvens.<\/p>\n\n\n\n

Algo semelhante pode acontecer neste ano.<\/p>\n\n\n\n

H\u00e1 ind\u00edcios de que a temporada de inc\u00eandios no oeste da Am\u00e9rica do Norte come\u00e7ar\u00e1 de forma intensa, com os meses de junho e julho apresentando\u00a0temperaturas excepcionalmente quentes\u00a0e\u00a0diversos inc\u00eandios florestais\u00a0na Calif\u00f3rnia, noroeste do Pac\u00edfico e Col\u00fambia Brit\u00e2nica. Al\u00e9m dos inc\u00eandios, cientistas testemunharam uma torrente de piroc\u00famulos, come\u00e7ando com uma enorme nuvem de fogo na\u00a0Col\u00fambia Brit\u00e2nica\u00a0em 30 de junho, que expeliu fuma\u00e7a\u00a0a uma altura de cerca de 16 quil\u00f4metros. Esse evento deu in\u00edcio \u201cao que se tornou uma onda de nuvens piroc\u00famulos que durou v\u00e1rios dias\u201d, conta David Peterson, cientista do Laborat\u00f3rio de Pesquisa Naval e pesquisador desse tipo de nuvem.<\/p>\n\n\n\n

Entre o fim de maio e o dia 2 de agosto, o Canad\u00e1 testemunhou 49 forma\u00e7\u00f5es de eventos de piroc\u00famulos, incluindo uma rajada de\u00a010 nuvens\u00a0no dia 15 de julho, que ocupa o segundo lugar no\u00a0ranking\u00a0<\/em>de grandes eclos\u00f5es australianas, em termos de n\u00famero de tempestades de fogo que ocorreram durante um \u00fanico epis\u00f3dio. Outras 21 nuvens piroc\u00famulos se formaram na regi\u00e3o continental dos Estados Unidos durante o ver\u00e3o. Peterson afirma que, se analisados em conjunto, este \u00e9 o maior n\u00famero de nuvens piroc\u00famulos observadas na Am\u00e9rica do Norte desde 2013, ano em que cientistas come\u00e7aram a manter registros detalhados deste fen\u00f4meno.<\/p>\n\n\n\n

Khaykin, que assim como outros cientistas na Sib\u00e9ria est\u00e1 rastreando a forma\u00e7\u00e3o de nuvens piroc\u00famulos, afirma que at\u00e9 o momento elas lan\u00e7aram consideravelmente menos fuma\u00e7a na estratosfera do que a eclos\u00e3o australiana do ano passado. Mas a situa\u00e7\u00e3o pode mudar, j\u00e1 que ainda faltam v\u00e1rios meses para o fim da temporada de inc\u00eandios florestais e condi\u00e7\u00f5es quentes e secas persistem em grande parte do Ocidente.<\/p>\n\n\n\n

Khaykin acrescenta que, enquanto a rajada australiana de nuvens piroc\u00famulos propagou fuma\u00e7a para\u00a0altitudes excepcionalmente altas, neste ano, a fuma\u00e7a est\u00e1 sendo injetada na parte inferior da estratosfera, local onde as nuvens cirros se formam. Ele explica que isso pode levar a uma \u201cintera\u00e7\u00e3o melhor de nuvens de aerossol\u201d na estratosfera, \u201cfen\u00f4meno realmente pouco conhecido\u201d.<\/p>\n\n\n\n

\u201cAinda estamos come\u00e7ando a compreender a magnitude e a import\u00e2ncia dos efeitos dos inc\u00eandios florestais\u201d, ele conclui.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: National Geographic Brasil<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

O calor extremo costuma provocar inc\u00eandios florestais graves, e este ano n\u00e3o ser\u00e1 uma exce\u00e7\u00e3o, com\u00a0ondas de calor sem precedentes\u00a0alimentando enormes focos de inc\u00eandios. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":172762,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[487,46,2999],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/172761"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=172761"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/172761\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":172763,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/172761\/revisions\/172763"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/172762"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=172761"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=172761"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=172761"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}