{"id":172898,"date":"2021-08-18T14:21:20","date_gmt":"2021-08-18T17:21:20","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=172898"},"modified":"2021-08-18T14:21:23","modified_gmt":"2021-08-18T17:21:23","slug":"como-brasileiros-comem-tubarao-sem-saber-e-ameacam-preservacao-da-especie","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2021\/08\/18\/172898-como-brasileiros-comem-tubarao-sem-saber-e-ameacam-preservacao-da-especie.html","title":{"rendered":"Como brasileiros comem tubar\u00e3o sem saber e amea\u00e7am preserva\u00e7\u00e3o da esp\u00e9cie"},"content":{"rendered":"\n
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Dados preliminares de levantamento aos quais a BBC News Brasil teve acesso mostram que 69% “n\u00e3o sabem que carne de ca\u00e7\u00e3o \u00e9 de tubar\u00e3o” – GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Voc\u00ea j\u00e1 comeu tubar\u00e3o? Provavelmente, n\u00e3o. Mas, e ca\u00e7\u00e3o?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Se sim, voc\u00ea n\u00e3o est\u00e1 sozinho. Segundo dados preliminares de uma sondagem encomendada por pesquisadores brasileiros aos quais a BBC News Brasil teve acesso, praticamente sete em cada 10 brasileiros (69%) “n\u00e3o sabem que carne de ca\u00e7\u00e3o \u00e9 de tubar\u00e3o”.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 a\u00ed que est\u00e1 o problema \u2014 sem saber, comemos tubar\u00e3o<\/a>, um peixe com alto n\u00edvel de toxicidade e cuja popula\u00e7\u00e3o vem reduzindo em n\u00famero ao redor do mundo nas \u00faltimas d\u00e9cadas.<\/p>\n\n\n\n

E n\u00e3o comemos pouco \u2014 o Brasil \u00e9 o maior importador e consumidor de carne de tubar\u00e3o do mundo, apesar de a grande maioria dos brasileiros n\u00e3o ter ideia disso “por falta de rotulagem adequada”, alertam as pesquisadoras Bianca Rangel e Nathalie Gil em entrevista \u00e0 BBC News Brasil.<\/p>\n\n\n\n

Essa rotulagem incorreta, aliada aos pre\u00e7os atraentes e \u00e0 falta de uma pol\u00edtica p\u00fablica adequada, fazem do Brasil uma amea\u00e7a para a preserva\u00e7\u00e3o da esp\u00e9cie<\/a> \u2014 uma pesquisa estimou que a popula\u00e7\u00e3o de tubar\u00f5es e arraias no mundo caiu 71% desde 1970, ao passo que a pesca predat\u00f3ria desses animais aumentou 18 vezes.<\/p>\n\n\n\n

Neste sentido, uma maior conscientiza\u00e7\u00e3o da popula\u00e7\u00e3o sobre o que vai parar em sua mesa “pode ajudar na preserva\u00e7\u00e3o dos tubar\u00f5es”, diz Rangel, do Departamento de Fisiologia do Instituto de Bioci\u00eancias da Universidade de S\u00e3o Paulo (USP).<\/p>\n\n\n\n

“Em vez de ser embalada com rotulagem adequada, a carne de tubar\u00e3o \u00e9 vendida no Brasil normalmente como ca\u00e7\u00e3o, um nome amb\u00edguo usado para v\u00e1rias esp\u00e9cies”, acrescenta Gil, da Sea Shepherd Brasil, ONG de conserva\u00e7\u00e3o da vida marinha.<\/p>\n\n\n\n

“Ou seja, os brasileiros n\u00e3o sabem que est\u00e3o comendo tubar\u00e3o”, ressaltam as pesquisadoras.<\/p>\n\n\n\n

Prova disso est\u00e1 nas conclus\u00f5es iniciais do levantamento que abre esta reportagem. A pesquisa foi realizada pela ag\u00eancia independente de pesquisa Blend e comissionada pela Sea Sheperd Brasil com 5 mil brasileiros em todo o territ\u00f3rio nacional.<\/p>\n\n\n\n

Recentemente, Rangel e Gil, em conjunto com tr\u00eas outros pesquisadores, escreveram um artigo,\u00a0publicado na prestigiada revista Science, em que alertam sobre essa situa\u00e7\u00e3o e sugerem como o Brasil pode ajudar a proteger a popula\u00e7\u00e3o de tubar\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n

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Brasil \u00e9 maior importador e consumidor de carne de tubar\u00e3o – GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Importa\u00e7\u00e3o e consumo<\/h2>\n\n\n\n

Segundo explicam as pesquisadoras, o Brasil se tornou o principal destino de carca\u00e7as de tubar\u00e3o sem barbatanas. Por ano, nosso consumo anual \u00e9 de cerca de 45 mil toneladas.<\/p>\n\n\n\n

As barbatanas s\u00e3o uma iguaria no mercado asi\u00e1tico e podem alcan\u00e7ar valores astron\u00f4micos \u2014 seu quilo pode ultrapassar US$ 1,5 mil (cerca de R$ 8 mil).<\/p>\n\n\n\n

Mas h\u00e1 pouca demanda pela carne de tubar\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

E, como a imensa maioria dos pa\u00edses pro\u00edbe a pesca do peixe apenas para o com\u00e9rcio exclusivo desse item \u2014 ou seja, retirando as nadadeiras e descartando a carca\u00e7a no mar (o chamado “finning”) \u2014 o que sobra do animal acaba tendo desembarque certo: o Brasil.<\/p>\n\n\n\n

Curiosamente, o Brasil foi o primeiro pa\u00eds a assinar tratado ratificando a proibi\u00e7\u00e3o dessa pr\u00e1tica.<\/p>\n\n\n\n

“O Brasil, maior importador mundial de carne de tubar\u00e3o, compra carca\u00e7as e bifes de tubar\u00e3o sem barbatanas de pa\u00edses que atuam no com\u00e9rcio de barbatanas, como China e Espanha, e do Uruguai, que exporta carne processada de tubar\u00e3o”, diz o artigo.<\/p>\n\n\n\n

“No Brasil, embora tubar\u00f5es protegidos n\u00e3o possam ser legalmente comercializados por pescadores ou empres\u00e1rios locais, eles podem ser importados sem quaisquer restri\u00e7\u00f5es”.<\/p>\n\n\n\n

“Al\u00e9m disso, \u00e9 obrigat\u00f3rio fornecer informa\u00e7\u00f5es para uma rotulagem adequada apenas se o peixe congelado importado pertencer \u00e0 fam\u00edlia Salmonidae <\/em>(que inclui o salm\u00e3o e a truta) ou \u00e0 fam\u00edlia Gadidae <\/em>(que inclui o bacalhau e a arinca)”.<\/p>\n\n\n\n

Segundo os pesquisadores, “apesar do crescente debate sobre a rotulagem incorreta de tubar\u00f5es entre organiza\u00e7\u00f5es n\u00e3o governamentais e comunidades acad\u00eamicas, nenhuma medida governamental foi implementada”.<\/p>\n\n\n\n

“Como resultado, os consumidores no Brasil continuam sem saber que est\u00e3o comprando carne de tubar\u00e3o e contribuindo para o decl\u00ednio de esp\u00e9cies vulner\u00e1veis de tubar\u00e3o”, afirmam.<\/p>\n\n\n\n

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Grande predador, tubar\u00e3o est\u00e1 no topo de cadeia alimentar e, por isso, n\u00edvel de toxicidade de sua carne \u00e9 maior – GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Riscos para sa\u00fade<\/h2>\n\n\n\n

Rangel e Gil alertam ainda para o risco \u00e0 sa\u00fade relacionado ao consumo da carne<\/a> de tubar\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

“Como se trata de um grande predador, um animal topo de cadeia alimentar, o n\u00edvel de toxicidade de sua carne \u00e9 maior. Ou seja, existe um risco \u00e0 sa\u00fade para quem come tubar\u00e3o. E o pior: sem saber disso”, diz Gil.<\/p>\n\n\n\n

Por um processo de bioacumula\u00e7\u00e3o, o tubar\u00e3o agrega metais pesados, como merc\u00fario e ars\u00eanio, presentes nos organismos que lhe serviram de alimento. Ingeridas al\u00e9m da conta, essas subst\u00e2ncias podem causar danos cerebrais.<\/p>\n\n\n\n

Um par\u00e2metro de consumo de merc\u00fario vem da Organiza\u00e7\u00e3o Mundial de Sa\u00fade (OMS). Ela preconiza o limite di\u00e1rio de 0,5 miligrama desse metal por quilo.<\/p>\n\n\n\n

Estudo publicado em 2008, por\u00e9m, revela que, em amostras de Prionace glauca<\/em>, ou tubar\u00e3o-azul, a esp\u00e9cie de tubar\u00e3o mais pescada no mundo, o \u00edndice presente excedeu em mais de duas vezes o limite di\u00e1rio.<\/p>\n\n\n\n

N\u00e3o por menos, a Food and Drug Administration (FDA), ag\u00eancia federal americana que regula alimentos e medicamentos, n\u00e3o recomenda a inclus\u00e3o de tubar\u00e3o no card\u00e1pio de gr\u00e1vidas, de mulheres que estejam amamentando e de crian\u00e7as, seja em que quantidade for.<\/p>\n\n\n\n

A\u00e7\u00e3o urgente<\/h2>\n\n\n\n

No artigo, os pesquisadores defendem uma “a\u00e7\u00e3o urgente em todo o mundo, especialmente no Brasil”.<\/p>\n\n\n\n

“Como primeiro passo, o governo brasileiro deve divulgar amplamente o fato de que o ca\u00e7\u00e3o pode se referir \u00e0 carne de tubar\u00e3o”.<\/p>\n\n\n\n

“O pa\u00eds deve exigir que todos os produtos nacionais e importados sejam rotulados com seus nomes cient\u00edficos em toda a cadeia de abastecimento, garantindo o monitoramento preciso das esp\u00e9cies no sistema e permitindo que os consumidores decidam se comem uma esp\u00e9cie em risco de extin\u00e7\u00e3o”.<\/p>\n\n\n\n

“Como resultado de tais mudan\u00e7as, a demanda provavelmente diminuiria, limitando o mercado de tubar\u00f5es com barbatanas removidas ilegalmente. O Brasil tamb\u00e9m poderia proteger tubar\u00f5es em todo o mundo proibindo a importa\u00e7\u00e3o de esp\u00e9cies amea\u00e7adas de extin\u00e7\u00e3o”.<\/p>\n\n\n\n

“Por causa do papel descomunal do Brasil no com\u00e9rcio global de tubar\u00f5es, essas mudan\u00e7as podem melhorar muito os esfor\u00e7os de conserva\u00e7\u00e3o”, concluem.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"