{"id":172927,"date":"2021-08-19T15:03:40","date_gmt":"2021-08-19T18:03:40","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=172927"},"modified":"2021-08-19T15:03:44","modified_gmt":"2021-08-19T18:03:44","slug":"chuvas-devastadoras-em-mg-em-2020-sao-efeitos-das-mudancas-climaticas","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2021\/08\/19\/172927-chuvas-devastadoras-em-mg-em-2020-sao-efeitos-das-mudancas-climaticas.html","title":{"rendered":"Chuvas devastadoras em MG em 2020 s\u00e3o efeitos das mudan\u00e7as clim\u00e1ticas"},"content":{"rendered":"\n
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Chuvas devastadoras em MG em 2020 s\u00e3o efeitos das mudan\u00e7as clim\u00e1ticas (Foto: PBH)<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

As\u00a0mudan\u00e7as clim\u00e1ticas<\/a>\u00a0foram a principal causa das\u00a0chuvas\u00a0extremas<\/a> que atingiram munic\u00edpios de\u00a0Minas Gerais<\/a>\u00a0em janeiro de 2020, resultando em cen\u00e1rios de devasta\u00e7\u00e3o. A conclus\u00e3o \u00e9 de um estudo publicado\u00a0na revista cient\u00edfica\u00a0Climate Resilience and Sustainability.<\/em><\/p>\n\n\n\n

Usando modelagem clim\u00e1tica para a regi\u00e3o, a pesquisa mostrou que os efeitos da industrializa\u00e7\u00e3o e do\u00a0aquecimento global\u00a0aumentaram em 70% a probabilidade de ocorrer precipita\u00e7\u00e3o em volumes muito acima do esperado quando comparado a cen\u00e1rios com temperatura m\u00e9dia entre 1\u00b0C e 1,1\u00b0C mais baixa.<\/p>\n\n\n\n

O trabalho tamb\u00e9m quantificou os danos no estado: mais de 90 mil pessoas ficaram temporariamente desabrigadas e houve pelo menos R$ 1,3 bilh\u00e3o (US$ 240 milh\u00f5es) em perdas computadas pelos setores p\u00fablico e privado. Os maiores preju\u00edzos foram em infraestrutura p\u00fablica (R$ 484 milh\u00f5es), moradias (R$ 352 milh\u00f5es) e com\u00e9rcio\/servi\u00e7os (R$ 290 milh\u00f5es). Do total, 41% podem ser atribu\u00eddos \u00e0s mudan\u00e7as clim\u00e1ticas induzidas por a\u00e7\u00e3o humana.<\/p>\n\n\n\n

A publica\u00e7\u00e3o do artigo acontece na semana seguinte \u00e0 divulga\u00e7\u00e3o do\u00a0relat\u00f3rio do Painel Intergovernamental sobre Mudan\u00e7as Clim\u00e1ticas (IPCC)\u00a0que foi enf\u00e1tico: os impactos das altera\u00e7\u00f5es do clima, com “inequ\u00edvoca” influ\u00eancia humana, j\u00e1 est\u00e3o afetando todas as regi\u00f5es da\u00a0Terra, com\u00a0eventos extremos\u00a0ocorrendo mais r\u00e1pido, de modo generalizado e intensificado.<\/p>\n\n\n\n

No in\u00edcio de 2020, a regi\u00e3o Sudeste do Brasil registrou enchentes e deslizamentos provocados por chuvas intensas, que resultaram em danos de infraestrutura e at\u00e9 mortes. O evento foi decorrente de uma combina\u00e7\u00e3o da intensifica\u00e7\u00e3o da zona de converg\u00eancia do Atl\u00e2ntico Sul (SACZ) com o surgimento do ciclone subtropical de Kurum\u00ed (KSC) tamb\u00e9m sobre o\u00a0Atl\u00e2ntico, contribuindo para o aumento da\u00a0umidade\u00a0em toda a regi\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Em Minas, a capital, Belo Horizonte, teve o janeiro mais chuvoso da hist\u00f3ria. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o munic\u00edpio registrou 935,2 mil\u00edmetros (mm) de precipita\u00e7\u00e3o naquele m\u00eas, o que representa quase o triplo da m\u00e9dia esperada para o per\u00edodo. Do volume total, 320,9 mm foram acumulados em apenas tr\u00eas dias. \u00c0 \u00e9poca, pelo menos 56 mortes foram relacionadas com as inunda\u00e7\u00f5es e os deslizamentos de terra.<\/p>\n\n\n\n

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Em 2020, Belo Horizonte, teve o janeiro mais chuvoso da hist\u00f3ria (Foto: Secom)<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

\u201cNossa avalia\u00e7\u00e3o traz novos\u00a0insights<\/em>\u00a0sobre a necessidade e urg\u00eancia de a\u00e7\u00f5es sobre mudan\u00e7as clim\u00e1ticas, pois j\u00e1 est\u00e3o impactando efetivamente a\u00a0sociedade\u00a0na regi\u00e3o Sudeste do Brasil. (…) Isso exige melhorias imediatas no planejamento estrat\u00e9gico com foco na mitiga\u00e7\u00e3o e adapta\u00e7\u00e3o. A gest\u00e3o e as pol\u00edticas p\u00fablicas devem evoluir a partir do\u00a0modus operandi<\/em>\u00a0de resposta a desastres, a fim de prevenir outros no futuro\u201d, escrevem os pesquisadores no trabalho, que teve apoio da FAPESP (Funda\u00e7\u00e3o de Amparo \u00e0 Pesquisa do Estado de S\u00e3o Paulo).<\/p>\n\n\n\n

A pesquisa \u00e9 parte de um workshop realizado pela Parceria para Servi\u00e7os de Ci\u00eancia do Clima (CSSP, na sigla em ingl\u00eas), organiza\u00e7\u00e3o liderada pela cientista Sarah Sparrow, da\u00a0Universidade de Oxford\u00a0(Reino Unido). O projeto \u00e9 uma colabora\u00e7\u00e3o entre institui\u00e7\u00f5es do Reino Unido e do Brasil, no qual est\u00e3o inclu\u00eddos o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e a Universidade de S\u00e3o Paulo (USP).<\/p>\n\n\n\n

Promovido online entre novembro e dezembro de 2020, em parceria com a cientista Liana Anderson, do Cemaden, o workshop tratou do m\u00e9todo chamado \u201catribui\u00e7\u00e3o de eventos\u201d, que usa a\u00a0ci\u00eancia\u00a0para avaliar as ocorr\u00eancias clim\u00e1ticas e atribuir causas a elas.<\/p>\n\n\n\n

Dois grupos de pesquisadores trabalharam paralelamente na an\u00e1lise das chuvas extremas em Minas Gerais \u2013 um se concentrou na avalia\u00e7\u00e3o da influ\u00eancia das mudan\u00e7as clim\u00e1ticas nas chuvas, enquanto o outro quantificou os impactos na popula\u00e7\u00e3o. Por fim, os trabalhos foram integrados no artigo publicado.<\/p>\n\n\n\n

\u201cA colabora\u00e7\u00e3o intensa com pesquisadores de \u00e1reas interdisciplinares permitiu que fosse realizado um trabalho de alto n\u00edvel em poucos meses com resultados consistentes\u201d, destaca Ricardo Dal\u2019Agnol, pesquisador na Divis\u00e3o de Observa\u00e7\u00e3o da Terra e Geoinform\u00e1tica do Inpe e primeiro autor do artigo.<\/p>\n\n\n\n

Modelagem<\/strong><\/p>\n\n\n\n

O modelo clim\u00e1tico utilizado para atribui\u00e7\u00e3o foi o Hadley Center Global Environmental Model vers\u00e3o 3-A (HadGEM3-A), com simula\u00e7\u00f5es de eventos extremos de tempo e\u00a0clima. Dois experimentos foram conduzidos para tra\u00e7ar cen\u00e1rios: um utilizou apenas for\u00e7as externas, como a variabilidade na irradi\u00e2ncia solar e atividades vulc\u00e2nicas naturais, fixadas em n\u00edveis de 1850 (era pr\u00e9-industrial); e o segundo considerou, al\u00e9m das causas naturais, tamb\u00e9m a a\u00e7\u00e3o humana (antropog\u00eanica) com dados atuais.<\/p>\n\n\n\n

Segundo o \u00faltimo relat\u00f3rio do IPCC, a temperatura m\u00e9dia do planeta atualmente \u00e9 1,1\u00b0C maior que a observada no per\u00edodo 1850-1900. Essa fase pr\u00e9-industrial \u00e9 usada como base para representar a temperatura antes da interfer\u00eancia humana, que elevou as emiss\u00f5es de\u00a0gases de efeito estufa, como o CO2 e o metano.<\/p>\n\n\n\n

Para avaliar a precipita\u00e7\u00e3o, os pesquisadores usaram o Clima Hazards Group InfraRed Precipitation with Station Data (CHIRPS), um banco de dados que incorpora\u00a0imagens de sat\u00e9lite\u00a0a informa\u00e7\u00f5es de esta\u00e7\u00f5es locais para criar s\u00e9ries temporais de chuva para an\u00e1lise de tend\u00eancia e de monitoramento.<\/p>\n\n\n\n

J\u00e1 as informa\u00e7\u00f5es sobre desastres, incluindo dados por munic\u00edpio, tipo, causa e danos, foram extra\u00eddas do Sistema Integrado de Informa\u00e7\u00f5es sobre Desastres (S2iD). Nesse sistema, membros da Defesa Civil ou de \u00f3rg\u00e3o governamental local preenchem formul\u00e1rio espec\u00edfico com as ocorr\u00eancias dos desastres at\u00e9 dez dias ap\u00f3s o registro. \u201cDestacamos a import\u00e2ncia de ter sistemas integrados de informa\u00e7\u00e3o de desastres, como o S2iD brasileiro, que veicula informa\u00e7\u00f5es valiosas e oportunas permitindo quantificar os impactos de eventos extremos\u201d, destacam os autores.<\/p>\n\n\n\n

A \u00e1rea do estudo ficou focada no sudeste de Minas, subdividida em 12 mesorregi\u00f5es, com 194 munic\u00edpios. O estado conta com 853 cidades no total. \u201cAs mesorregi\u00f5es mais afetadas foram a metropolitana de Belo Horizonte, Vale do Rio Doce e Zona da Mata. Juntas, foram respons\u00e1veis por 91% das perdas econ\u00f4micas p\u00fablicas e 93% das privadas, al\u00e9m de concentrar 91% da popula\u00e7\u00e3o deslocada. Tamb\u00e9m apresentaram os n\u00fameros mais preocupantes em rela\u00e7\u00e3o \u00e0s vulnerabilidades a desastres de moradores e moradias em \u00e1reas de risco\u201d, conclui o estudo.<\/p>\n\n\n\n

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Em MG, as mesorregi\u00f5es mais afetadas pelas chuvas em janeiro de 2020 foram a metropolitana de Belo Horizonte, Vale do Rio Doce e Zona da Mata (Foto: Secom)<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Os cientistas destacam ainda que, embora as chuvas tenham sido extremas com influ\u00eancia das mudan\u00e7as clim\u00e1ticas, a falta de planejamento de gest\u00e3o de risco urbano, sem estrat\u00e9gias de mitiga\u00e7\u00e3o e com investimento deficit\u00e1rio em infraestrutura, pode ser chave e ampliar os impactos para os moradores.<\/p>\n\n\n\n

\u201cO evento provavelmente afetou de forma desproporcional a popula\u00e7\u00e3o mais pobre da regi\u00e3o, que vive em situa\u00e7\u00f5es de alto risco, como em \u00e1reas com topografia \u00edngreme e m\u00e1s condi\u00e7\u00f5es de habita\u00e7\u00e3o. Portanto, interpretamos os impactos desse evento como um desastre clim\u00e1tico constru\u00eddo socialmente.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Por isso, sugerem que estudos futuros venham a investigar os efeitos de eventos clim\u00e1ticos extremos sobre popula\u00e7\u00f5es pobres e vulner\u00e1veis. \u201cPesquisas futuras tamb\u00e9m podem abordar as intera\u00e7\u00f5es cada vez mais complicadas de aspectos humanos, econ\u00f4micos e pol\u00edticos dentro dos sistemas ecol\u00f3gicos.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Segundo Dal\u2019Agnol, a modelagem criada para analisar o caso de Minas pode ser aplicada para outras regi\u00f5es. \u201cUtilizamos cen\u00e1rios do modelo, dados da chuva observados por sat\u00e9lites e identificamos as probabilidades. Seguindo a metodologia \u00e9 poss\u00edvel fazer para outros eventos. Quando pesquisamos, localizamos poucos estudos de extremos clim\u00e1ticos no Brasil. Precisamos de mais estudos como esse para identificar as regi\u00f5es mais vulner\u00e1veis \u00e0s mudan\u00e7as clim\u00e1ticas no pa\u00eds, mostrar isso para os governantes e, assim, termos pol\u00edticas p\u00fablicas para preven\u00e7\u00e3o de futuros desastres\u201d, explica.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: Galileu<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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