{"id":173247,"date":"2021-09-02T14:10:43","date_gmt":"2021-09-02T17:10:43","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=173247"},"modified":"2021-09-02T14:10:46","modified_gmt":"2021-09-02T17:10:46","slug":"como-as-mudancas-climaticas-impulsionam-furacoes-como-o-ida","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2021\/09\/02\/173247-como-as-mudancas-climaticas-impulsionam-furacoes-como-o-ida.html","title":{"rendered":"Como as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas impulsionam furac\u00f5es como o Ida"},"content":{"rendered":"\n
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Um dia ap\u00f3s o furac\u00e3o Ida atingir a costa do estado da Louisiana, nos Estados Unidos, como uma tempestade de categoria quatro, socorristas pilotam barco de resgate por rua inundada na cidade de LaPlace. A tempestade intensificou rapidamente da categoria um a quatro em menos de um dia. Aumentos de intensidade t\u00e3o acentuados em t\u00e3o pouco tempo podem se tornar cada vez mais comuns devido ao aquecimento do Golfo do M\u00e9xico causado pelas mudan\u00e7as clim\u00e1ticas.
FOTO DE\u00a0LUKE SHARRETT, BLOOMBERG\/GETTY IMAGES<\/strong><\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Ap\u00f3s atingir o estado americano da Louisiana no domingo, 29 de setembro, como uma tempestade de categoria quatro, o furac\u00e3o Ida avan\u00e7ou pelo Alabama e Tennessee em dire\u00e7\u00e3o \u00e0 costa leste dos Estados Unidos, gerando um clima ainda mais severo na forma de chuvas e ventos geradores de tornados.<\/p>\n\n\n\n

Em seu rastro, o Ida deixou milh\u00f5es de moradores sem energia em Nova Orleans e nos seus arredores \u2014 talvez por semanas. Os estragos no estado foram resultado de rajadas de vento que alcan\u00e7aram quase 300 quil\u00f4metros por hora, enchentes de mais de dois metros e chuvas torrenciais.<\/p>\n\n\n\n

A tempestade se intensificou em quest\u00e3o de horas, evoluindo de praticamente uma brisa a uma tempestade avassaladora, alimentada por bols\u00f5es de \u00e1guas extremamente quentes no Golfo do M\u00e9xico, cuja temperatura atualmente est\u00e1 em cerca de 30 graus Celsius, ou seja, v\u00e1rios graus\u00a0acima da m\u00e9dia.<\/p>\n\n\n\n

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Pessoas retiram galhos de sua propriedade em Bourg, na Louisiana, em 30 de agosto de 2021, um dia ap\u00f3s a chegada do furac\u00e3o Ida. \u00c0 medida que socorristas vasculham os escombros, espera-se que o n\u00famero de mortos no furac\u00e3o Ida suba \u201cconsideravelmente\u201d, alertou o governador da Louisiana na segunda-feira.
FOTO DE\u00a0MARK FELIX, AFP\/GETTY IMAGES<\/strong><\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

\u201cH\u00e1 tanta energia armazenada que, assim que um furac\u00e3o se forma, ele \u00e9 alimentado com mais energia e se torna um monstro\u201d, afirma Barry Keim, climatologista do estado da Louisiana.<\/p>\n\n\n\n

Especialistas afirmam que o furac\u00e3o Ida \u00e9 um exemplo\u00a0de como poder\u00e3o ser as tempestades em um planeta em aquecimento. Ele atingiu a Costa do Golfo logo ap\u00f3s a publica\u00e7\u00e3o de um\u00a0importante relat\u00f3rio da Organiza\u00e7\u00e3o das Na\u00e7\u00f5es Unidas\u00a0que encontrou fortes ind\u00edcios de que as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas deixar\u00e3o os furac\u00f5es mais lentos, com mais precipita\u00e7\u00e3o e com mais capacidade de apresentar uma expans\u00e3o explosiva.<\/p>\n\n\n\n

\u201cO Ida \u00e9 mais um exemplo do aumento na intensidade dos furac\u00f5es\u201d, observa Jill Trepanier, especialista em climas extremos da Universidade Estadual da Louisiana.<\/p>\n\n\n\n

\u00c0 exce\u00e7\u00e3o do furac\u00e3o Laura no ano passado e uma tempestade sem nome em 1856, nenhuma tempestade com ventos t\u00e3o fortes havia atingido o estado. Os estragos e preju\u00edzos econ\u00f4micos causados pela tempestade podem chegar a US$ 80 bilh\u00f5es, segundo as primeiras estimativas da AccuWeather, empresa de previs\u00f5es meteorol\u00f3gicas.<\/p>\n\n\n\n

Tempestades mais potentes por vir?<\/h3>\n\n\n\n

Para determinar a influ\u00eancia exata das mudan\u00e7as clim\u00e1ticas sobre o furac\u00e3o Ida, os cientistas ter\u00e3o que realizar os chamados estudos de atribui\u00e7\u00e3o. Nesses estudos, modelos de computador reexecutam as previs\u00f5es sob as condi\u00e7\u00f5es atmosf\u00e9ricas e oce\u00e2nicas que existiriam com e sem emiss\u00f5es de gases de efeito estufa. Esses estudos comprovaram que as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas contribu\u00edram substancialmente para a intensidade da recente onda de calor no noroeste do Pac\u00edfico, o furac\u00e3o Harvey em 2017 e o furac\u00e3o Florence em 2018. Mas podem levar meses para ser conclu\u00eddos.<\/p>\n\n\n\n

Na aus\u00eancia desses estudos mais precisos, os cientistas reconhecem v\u00e1rias associa\u00e7\u00f5es entre as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas e o furac\u00e3o Ida, apontando para certas caracter\u00edsticas compat\u00edveis com o ar e os oceanos mais quentes.<\/p>\n\n\n\n

Um dos aspectos mais impressionantes do Ida foi a velocidade com que passou de um ponto no radar a um grande furac\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

\u201cH\u00e1 poucos dias, ele nem sequer existia\u201d, afirma Daniel Horton, especialista em climas extremos da Universidade Northwestern. Tr\u00eas dias antes de se tornar uma tempestade, \u201cao olhar o mapa, n\u00e3o havia nenhum sinal de furac\u00e3o no Golfo\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Esse tipo de crescimento acelerado \u00e9 denominado pelos meteorologistas como intensifica\u00e7\u00e3o r\u00e1pida \u2014 definida como um aumento de cerca de 56 quil\u00f4metros por hora em menos de 24 horas. O Ida, entretanto, ultrapassou em muito esse par\u00e2metro, com um aumento de cerca de 104 quil\u00f4metros por hora na metade desse intervalo.<\/p>\n\n\n\n

O Ida surgiu de uma depress\u00e3o tropical no sul do Caribe, um local comum de in\u00edcio de tempestades durante o pico da temporada de furac\u00f5es. Na tarde de s\u00e1bado, era um furac\u00e3o de categoria um, com ventos de cerca de 165 quil\u00f4metros por hora. Mas ent\u00e3o passou por Cuba e encontrou a chamada Corrente de Loop, uma corrente oce\u00e2nica de \u00e1guas quentes no Caribe que circula pelo Golfo do M\u00e9xico.<\/p>\n\n\n\n

\u201cEssa \u00e1gua excepcionalmente quente basicamente criou uma supervia de \u00e1guas quentes para essa tempestade. Ela impulsionou a energia da tempestade e permitiu que alcan\u00e7asse a categoria quatro\u201d, explica Keim.<\/p>\n\n\n\n

Um estudo publicado em 2019 no peri\u00f3dico\u00a0Nature Communications<\/em>\u00a0encontrou evid\u00eancias preliminares de que as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas provavelmente deixaram a intensifica\u00e7\u00e3o r\u00e1pida mais comum. Nos \u00faltimos anos, alguns dos furac\u00f5es mais devastadores foram resultado da intensifica\u00e7\u00e3o r\u00e1pida: o\u00a0furac\u00e3o Laura, em 2020, o\u00a0furac\u00e3o Michael, em 2018, e o\u00a0furac\u00e3o Harvey em 2017. E embora seja normal o oceano passar por per\u00edodos de aquecimento natural que podem impulsionar furac\u00f5es, o estudo verificou um aumento na intensifica\u00e7\u00e3o r\u00e1pida al\u00e9m das flutua\u00e7\u00f5es naturais, afirma Kieran Bhatia, autor principal do estudo.<\/p>\n\n\n\n

Ao contr\u00e1rio dos registros de precipita\u00e7\u00e3o ou estiagem, os registros de tempestades com intensifica\u00e7\u00e3o r\u00e1pida remontam apenas a cerca de 40 anos, observa Bhatia. Mas os cientistas correm para tentar entender o fen\u00f4meno e os efeitos das mudan\u00e7as clim\u00e1ticas sobre ele.<\/p>\n\n\n\n

\u201cA intensifica\u00e7\u00e3o r\u00e1pida \u00e9 um fen\u00f4meno que transforma uma tempestade de um desastre natural previs\u00edvel, que pode ser detectado com cinco ou seis dias de anteced\u00eancia, em algo imprevis\u00edvel\u201d, prossegue ele.<\/p>\n\n\n\n

Diante de uma tempestade t\u00e3o repentina, o estado da Louisiana teve dificuldades para se preparar. Nova Orleans n\u00e3o teve tempo de implementar uma evacua\u00e7\u00e3o obrigat\u00f3ria. Embora os meteorologistas sejam especialistas em prever os locais e ocasi\u00f5es em que ocorrer\u00e3o tempestades, prever sua intensidade \u00e9 mais complexo e\u00a0a intensifica\u00e7\u00e3o r\u00e1pida dificulta ainda mais essa previs\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

No futuro, os cientistas acreditam que n\u00e3o ser\u00e1 mais poss\u00edvel prever furac\u00f5es, embora se espere que sejam mais intensos.\u00a0Ao longo do s\u00e9culo 20, as temperaturas dos oceanos aumentaram incessantemente, n\u00e3o apenas na superf\u00edcie, mas tamb\u00e9m em grandes profundidades. Furac\u00f5es que poderiam ter sido contidos por \u00e1guas oce\u00e2nicas mais frias abaixo da superf\u00edcie agora podem acessar um vasto suprimento de \u00e1gua quente, que serve para impulsion\u00e1-los.<\/p>\n\n\n\n

\u201cOs furac\u00f5es que forem detectados provavelmente ser\u00e3o os mais intensos, o que significa que deve haver mais tempestades nas principais classes de furac\u00f5es: as categorias tr\u00eas, quatro ou cinco\u201d, conta Keim.<\/p>\n\n\n\n

Tempestades lentas e com mais precipita\u00e7\u00e3o<\/h3>\n\n\n\n

Embora o futuro exato da intensifica\u00e7\u00e3o r\u00e1pida permane\u00e7a sob estudo, os cientistas podem afirmar com seguran\u00e7a que as eleva\u00e7\u00f5es nas temperaturas deixar\u00e3o os furac\u00f5es mais lentos e com mais precipita\u00e7\u00e3o: para cada grau Celsius de aquecimento, a atmosfera poder\u00e1 conter mais 7% de umidade \u2014 e, portanto, mais chuva \u2014 e, como os polos est\u00e3o aquecendo mais r\u00e1pido do que os tr\u00f3picos, acredita-se que haja um enfraquecimento nos ventos que movimentam os furac\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n

Quando o furac\u00e3o Ida tocou o solo, seu avan\u00e7o reduziu para cerca de 16 quil\u00f4metros por hora: n\u00e3o foi a tempestade com o avan\u00e7o mais lento dos \u00faltimos anos, mas foi o suficiente para expor Nova Orleans a quase 40 cent\u00edmetros de chuva e ventos fortes por mais tempo. Para efeito de compara\u00e7\u00e3o, no ano passado, o furac\u00e3o Laura deslocou-se sobre o sudeste da Louisiana a 32 quil\u00f4metros por hora.<\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m disso, a topografia da Louisiana desempenhou um papel importante na movimenta\u00e7\u00e3o lenta do Ida. As tempestades dependem da \u00e1gua quente do oceano para se intensificarem e, quando o furac\u00e3o atingiu o porto de Fourchon, os p\u00e2ntanos e brejos continuaram a lhe proporcionar energia e a manter sua intensidade\u00a0intacta. Esses mesmos p\u00e2ntanos, entretanto, tamb\u00e9m ajudam a limitar um dos impactos mais letais dos furac\u00f5es: \u201cparedes\u201d de \u00e1gua que sobem do mar. Havia uma previs\u00e3o de que o furac\u00e3o Ida produziria uma enchente de quase cinco metros, mas os primeiros relatos indicam que alcan\u00e7ou metade dessa altura.\u00a0Meteorologistas propositalmente emitem alertas sobre os piores cen\u00e1rios\u00a0para incentivar moradores dos locais de risco a evacuar.<\/p>\n\n\n\n

Embora, em terra, o furac\u00e3o Ida tenha avan\u00e7ado a um ritmo mais lento do que a\u00a0m\u00e9dia dos animais mais velozes, ele despejou chuva suficiente para provocar\u00a0transbordamentos em diques na Par\u00f3quia de Plaquemines e enchentes\u00a0em plan\u00edcies ao sul de Nova Orleans. Parte dessas enchentes foi causada pelo fen\u00f4meno denominado mar\u00e9 de tempestade, que foi alto o suficiente para\u00a0inundar cidades costeiras. E como os p\u00e2ntanos da Louisiana est\u00e3o sendo eliminados \u00e0 velocidade de um campo de futebol por hora, haver\u00e1 cada vez menos prote\u00e7\u00e3o contra as enchentes provenientes das \u00e1guas do oceano.<\/p>\n\n\n\n

Conforme as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas tornarem as tempestades mais extremas, as comunidades costeiras ter\u00e3o que se adaptar a um clima mais perigoso.<\/p>\n\n\n\n

\u201cA conclus\u00e3o \u00e9 que atualmente se contam com planos, sejam planos de evacua\u00e7\u00e3o, infraestrutura ou empreendimentos, que n\u00e3o consideram a nova realidade (com altera\u00e7\u00f5es na frequ\u00eancia e intensidade de fen\u00f4menos extremos devido \u00e0s mudan\u00e7as clim\u00e1ticas), ent\u00e3o \u00e9 preciso atualiz\u00e1-los\u201d, alerta Horton, da Universidade Northwestern.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: National Geographic Brasil<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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