{"id":173392,"date":"2021-09-06T16:01:44","date_gmt":"2021-09-06T19:01:44","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=173392"},"modified":"2021-09-06T16:01:47","modified_gmt":"2021-09-06T19:01:47","slug":"a-ciencia-resolvera-o-problema-das-algas-nas-praias-mexicanas","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2021\/09\/06\/173392-a-ciencia-resolvera-o-problema-das-algas-nas-praias-mexicanas.html","title":{"rendered":"A ci\u00eancia resolver\u00e1 o problema das algas nas praias mexicanas?"},"content":{"rendered":"\n
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Ac\u00famulos de algas em decomposi\u00e7\u00e3o recobrem a praia do Parque Los Fundadores, na regi\u00e3o mexicana de Playa del Carmen, em 4 de julho de 2021. A macroalga denominada sarga\u00e7o chega \u00e0s costas caribenhas a cada primavera e ver\u00e3o, ocasionando problemas ecol\u00f3gicos e prejudicando a economia do turismo.
FOTO DE\u00a0EYEPIX\/NURPHOTO\/AP<\/strong><\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Com faixas de areia dourada contornadas por fileiras de palmeiras atr\u00e1s e \u00e1guas azuis cristalinas do mar \u00e0 frente, as praias do caribe\u00a0mexicano\u00a0s\u00e3o famosas por sua beleza de cart\u00e3o-postal. Mas agora, nas primaveras e nos ver\u00f5es, a costa de Iucat\u00e3 entre Canc\u00fan e Tulum foi invadida por ac\u00famulos de algas marinhas, cobrindo a praia com um odor sulfuroso de decomposi\u00e7\u00e3o e tornando quase imposs\u00edvel entrar na \u00e1gua.<\/p>\n\n\n\n

Essa macroalga \u00e9 denominada sarga\u00e7o e est\u00e1 causando\u00a0problemas nesse para\u00edso.<\/p>\n\n\n\n

O crescimento das algas \u00e9 c\u00edclico e at\u00e9 ben\u00e9fico em quantidades normais. Normalmente as algas florescem e permanecem no oceano, oferecendo um habitat<\/em> flutuante a peixes, camar\u00f5es, enguias, tartarugas e aves. \u201c\u00c9 um habitat<\/em> fundamental \u2014 geralmente chamado de \u2018bosque dourado\u2019 do oceano\u201d, conta Chuanmin Hu, professor de Oceanografia \u00d3ptica da Universidade do Sul da Fl\u00f3rida.<\/p>\n\n\n\n

Mas agora a alga marinha est\u00e1 formando a\u00a0maior flora\u00e7\u00e3o de algas do mundo\u00a0\u2014 e n\u00e3o se limita ao oceano. Desde 2011, grandes quantidades chegaram \u00e0 costa do Caribe, entre as Pequenas Antilhas e a pen\u00ednsula mexicana de Iucat\u00e3. Em mar aberto, enormes camadas flutuantes de algas\u00a0impedem a luz solar de alcan\u00e7ar os recifes de coral; \u00e0 medida que se decomp\u00f5em, as algas marinhas liberam subst\u00e2ncias prejudiciais \u00e0 fauna marinha. E o problema est\u00e1 em expans\u00e3o: dados de sat\u00e9lite da Nasa indicaram recentemente um cintur\u00e3o de algas flutuantes com\u00a0quase nove mil quil\u00f4metros de comprimento.<\/p>\n\n\n\n

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Funcion\u00e1rio recolhe sarga\u00e7o de praia perto de Tulum, no estado de Quintana Roo, M\u00e9xico, em maio de 2019. Hot\u00e9is e\u00a0resorts<\/em>\u00a0ao longo da costa contratam trabalhadores em per\u00edodo integral (e gastam milhares de d\u00f3lares) na tentativa de impedir o ac\u00famulo de algas marinhas no litoral.
FOTO DE\u00a0DANIEL SLIM, AFP\/GETTY IMAGES<\/strong><\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Uma vez na praia, as pilhas de sarga\u00e7o\u00a0impedem que tartarugas marinhas\u00a0botem ovos nas margens e retornem ao oceano. Al\u00e9m disso, o odor da alga \u00e9 desagrad\u00e1vel e causa dores de cabe\u00e7a e n\u00e1useas entre os banhistas.<\/p>\n\n\n\n

Os cientistas atribuem a explos\u00e3o no crescimento de algas ao aumento do\u00a0despejo de res\u00edduos agr\u00edcolas e esgoto\u00a0no rio Amazonas no Brasil, bem como ao aquecimento da \u00e1gua e ao fen\u00f4meno da ressurg\u00eancia no leste do Oceano Atl\u00e2ntico.<\/p>\n\n\n\n

Desde o in\u00edcio da crise h\u00e1 uma d\u00e9cada, a quantidade de algas marinhas que chega \u00e0 costa apresenta uma varia\u00e7\u00e3o sazonal. A \u201ctemporada de sarga\u00e7o\u201d geralmente cobre as praias entre abril e agosto. Alguns anos, como em 2018, apresentaram flora\u00e7\u00f5es bastante expressivas, e 2021 parece ser \u201cum dos anos recordistas\u201d, afirma Hu. \u201cN\u00e3o \u00e9 mais um fen\u00f4meno ocasional \u2014 agora ocorre regularmente.\u201d<\/p>\n\n\n\n

O problema est\u00e1 provocando uma crise econ\u00f4mica e tamb\u00e9m ecol\u00f3gica. No estado de Quintana Roo, no M\u00e9xico, onde o turismo representa\u00a087% do PIB do estado, o excesso de sarga\u00e7o constitui uma amea\u00e7a bastante urgente aos meios de subsist\u00eancia. Ent\u00e3o, o que fazer para det\u00ea-la?<\/p>\n\n\n\n

Problema ecol\u00f3gico com impacto econ\u00f4mico<\/h3>\n\n\n\n

Mais de dois milh\u00f5es de passageiros passaram pelo Aeroporto Internacional de Canc\u00fan em junho de 2021, o maior n\u00famero desde fevereiro de 2020. Ao longo da Riviera Maya, no M\u00e9xico, as ocupa\u00e7\u00f5es se recuperaram aos n\u00edveis anteriores \u00e0 pandemia, e um dos motivos \u00e9 que as medidas de restri\u00e7\u00e3o da covid-19 n\u00e3o s\u00e3o impostas aos turistas no pa\u00eds. Mas o sarga\u00e7o pode voltar a afastar os visitantes. \u201cAntes do novo coronav\u00edrus, o sarga\u00e7o j\u00e1 havia afetado as reservas de passagens e hot\u00e9is\u201d, afirma Zach Rabinor, diretor executivo da ag\u00eancia de turismo\u00a0Journey Mexico. \u201c\u00c9 um problema constante.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Ap\u00f3s a invas\u00e3o de sarga\u00e7o em 2018, as taxas de ocupa\u00e7\u00e3o de hot\u00e9is na Riviera Maya sofreram uma redu\u00e7\u00e3o de 2,87%. Para compensar, os hot\u00e9is baixaram os pre\u00e7os, transferiram turistas insatisfeitos a outras propriedades e ofereceram passeios em atra\u00e7\u00f5es distantes da praia.<\/p>\n\n\n\n

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Marta Garcia, cientista mexicana, examina sarga\u00e7o no Instituto de Ci\u00eancias Marinhas de Puerto Morelos, no M\u00e9xico. Pesquisadores e empresas buscam formas de aproveitar a alga como fertilizante e at\u00e9 mesmo como biocombust\u00edvel.
FOTO DE\u00a0RODRIGO ARANGUA, AFP\/GETTY IMAGES<\/strong><\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n
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Mulher pendura folhas de papel feitas de sarga\u00e7o para secar em Canc\u00fan. As folhas ser\u00e3o utilizadas em cadernos, um dos muitos produtos (entre sabonetes, sapatos, tijolos de constru\u00e7\u00e3o) que os empres\u00e1rios esperam que possam transformar o tormento em uma atividade lucrativa.
FOTO DE\u00a0RODRIGO ARANGUA, AFP\/GETTY IMAGES<\/strong><\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Nesse mesmo ano, os hot\u00e9is entre Canc\u00fan e Puerto Morelos, ao sul, gastaram cerca de US$ 200 mil em cada uma dessas regi\u00f5es com sal\u00e1rios da equipe de limpeza de praias e transporte de algas marinhas a locais de descarte. Muitos tamb\u00e9m contrataram barcos especializados de remo\u00e7\u00e3o, que podem custar\u00a0at\u00e9 US$ 1 milh\u00e3o, e barreiras mar\u00edtimas de sarga\u00e7o que custam mais de US$ 100 por metro linear. Rabinor estima que \u201chot\u00e9is de m\u00e9dio porte em frente a grandes extens\u00f5es de praias est\u00e3o\u00a0gastando milhares de d\u00f3lares por dia\u00a0com a retirada, ou talvez at\u00e9 mais, durante \u00e9pocas de pico de algas\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Mallory Jones, agente de viagens, visitou a Riviera Maya em maio de 2021. Os funcion\u00e1rios do resort<\/em> em que se hospedou tentaram eliminar as algas, mas, segundo ela, seus esfor\u00e7os \u201cn\u00e3o foram p\u00e1reo para a m\u00e3e natureza\u201d. Montes de sarga\u00e7o a afastaram da areia e frustraram seus planos de andar de caiaque. \u201cFoi decepcionante. Eu evitaria essa \u00e9poca do ano para viagens pessoais\u201d, sugere ela. J\u00e1 para os clientes \u201cque fazem quest\u00e3o de uma bela praia com \u00e1guas cristalinas, eu recomendaria evitar completamente o M\u00e9xico. A situa\u00e7\u00e3o est\u00e1 muito imprevis\u00edvel.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Retirada por rastelo, trator ou barco<\/h3>\n\n\n\n

Retirar ou desviar quilos e mais quilos de algas marinhas, que por vezes s\u00e3o trazidos a cada nova onda que quebra, n\u00e3o se trata de uma simples quest\u00e3o de recolher o material em um balde e jog\u00e1-lo fora.<\/p>\n\n\n\n

Barreiras mar\u00edtimas de algas marinhas usam redes ou boias para capturar ou\u00a0conter o sarga\u00e7o. Barcos equipados com mecanismos de coleta tamb\u00e9m podem retirar a mat\u00e9ria vegetal da \u00e1gua, mas podem ser dispendiosos. \u201cPoucos hot\u00e9is disp\u00f5em desses barcos\u201d, afirma Rosa Rodr\u00edguez-Mart\u00ednez, pesquisadora da Universidade Nacional Aut\u00f4noma do M\u00e9xico, que estuda o sarga\u00e7o desde 2015. \u201cA maioria usa as barreiras para desviar as algas a \u2018pontos de coleta\u2019 e utiliza esteiras mec\u00e2nicas ou escavadeiras para carregar as algas nos caminh\u00f5es.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Alguns hot\u00e9is descartam o sarga\u00e7o em \u00e1reas pr\u00f3ximas, ao passo que outros o levam a pontos de descarte na mata. \u201cNenhum dos pontos de descarte, entretanto, foi preparado de forma adequada para evitar a lixivia\u00e7\u00e3o (de l\u00edquidos contaminados) aos len\u00e7\u00f3is d\u2019\u00e1gua\u201d, acrescenta Rodr\u00edguez-Mart\u00ednez.<\/p>\n\n\n\n

H\u00e1 dois anos, o presidente do M\u00e9xico Andr\u00e9s Manuel L\u00f3pez Obrador\u00a0incumbiu a Marinha mexicana\u00a0de ajudar a deter a mar\u00e9 de algas antes de atingir a costa. At\u00e9 hoje, os barcos da Marinha, tripulados por 300 pessoas, coletam sarga\u00e7o das barreiras instaladas no mar. Em maio de 2021, haviam sido coletadas mais de 10 mil toneladas.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 um empreendimento gigantesco. Mas as algas n\u00e3o d\u00e3o tr\u00e9gua.<\/p>\n\n\n\n

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Trabalhadores retiram sarga\u00e7o de praia em Playa del Carmen usando rastelos e um trator. As algas marinhas cobrem as praias de Iucat\u00e3, no M\u00e9xico, desde 2011.
FOTO DE\u00a0B\u00c9N\u00c9DICTE DESRUS, SIPA USA\/AP<\/strong><\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Transformando o tormento em atividade lucrativa?<\/h3>\n\n\n\n

Por ora, segundo os cientistas, a \u00fanica maneira de suprimir o sarga\u00e7o seria em sua origem, explica Rodr\u00edguez-Mart\u00ednez. \u201cOs pa\u00edses precisam reduzir os nutrientes despejados no mar e tomar medidas para atenuar as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas.\u201d Contudo, como o Brasil continua convertendo florestas tropicais em propriedades rurais que empregam fertilizantes, as flora\u00e7\u00f5es de algas podem se tornar permanentes.<\/p>\n\n\n\n

Os cientistas est\u00e3o estudando usos alternativos para as algas. Jaya Jayaraman, microbi\u00f3logo vegetal, e sua equipe da Universidade das \u00cdndias Ocidentais em Trinidad e Tobago usaram sarga\u00e7o para criar um bioestimulante agr\u00edcola que funciona menos como um fertilizante tradicional e \u201cmais como um rem\u00e9dio que promove o crescimento vegetal\u201d, afirma Jayaraman. Seu laborat\u00f3rio tamb\u00e9m est\u00e1 tentando converter sarga\u00e7o em material de compostagem e de constru\u00e7\u00e3o. Em 2020, pesquisadores bioqu\u00edmicos das universidades de Exeter e Bath foram os pioneiros em um m\u00e9todo de convers\u00e3o bioqu\u00edmica \u00e0 base de sal que poderia ajudar a transformar o\u00a0sarga\u00e7o em biocombust\u00edvel.<\/p>\n\n\n\n

Outras empresas est\u00e3o descobrindo usos comerciais sustent\u00e1veis para o sarga\u00e7o. A C-Combinator, biofabricante porto-riquenha, transforma algas marinhas colhidas em Quintana Roo em couro vegetal, cosm\u00e9ticos e insumos agr\u00edcolas. Em Playa del Carmen, a\u00a0BioMaya\u00a0faz parcerias com mulheres de vilarejos maias locais para converter algas processadas em sab\u00e3o que \u00e9 vendido a hospitais e hot\u00e9is.<\/p>\n\n\n\n

\u201cAo criar mais produtos sofisticados ou de alta demanda a partir de algas marinhas, podemos estimular sua coleta\u201d, afirma Jorge Vega Matos, da C-Combinator.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: National Geographic Brasil<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

A costa de Iucat\u00e3 entre Canc\u00fan e Tulum foi invadida por ac\u00famulos de algas marinhas, cobrindo a praia com um odor sulfuroso de decomposi\u00e7\u00e3o. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":173393,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[2414,36,4911],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/173392"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=173392"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/173392\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":173398,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/173392\/revisions\/173398"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/173393"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=173392"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=173392"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=173392"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}