{"id":173768,"date":"2021-09-24T15:14:11","date_gmt":"2021-09-24T18:14:11","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=173768"},"modified":"2021-09-24T15:15:24","modified_gmt":"2021-09-24T18:15:24","slug":"hibridos-de-mamute-e-elefante-poderao-ser-criados-em-dez-anos-mas-deveriam","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2021\/09\/24\/173768-hibridos-de-mamute-e-elefante-poderao-ser-criados-em-dez-anos-mas-deveriam.html","title":{"rendered":"H\u00edbridos de mamute e elefante poder\u00e3o ser criados em dez anos. Mas deveriam?"},"content":{"rendered":"\n
\"\"<\/a>
Esta escultura de Damien Hirst, de um esqueleto dourado de mamute, em exposi\u00e7\u00e3o em Miami Beach, na Fl\u00f3rida, recebeu o nome de \u2018Desaparecido, mas n\u00e3o esquecido\u2019. Mas se a Colossal, uma nova startup<\/em>, conseguir genes do extinto mamute-lanoso, a esp\u00e9cie poder\u00e1 ganhar vida em elefantes-asi\u00e1ticos hibridizados e adaptados ao frio.
FOTO DE JEFFREY GREENBERG, EDUCATION IMAGES, UNIVERSAL IMAGES GROUP VIA GETTY<\/strong><\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

O geneticista de Harvard, George Church, cofundou uma nova empresa com um objetivo audacioso: projetar um elefante semelhante ao extinto mamute-lanoso. A Colossal pretende utilizar o DNA do mamute-lanoso para produzir um elefante-asi\u00e1tico hibridizado que possa suportar climas \u00e1rticos. <\/p>\n\n\n\n

Com os animais h\u00edbridos, o objetivo em longo prazo da empresa \u00e9 transformar regi\u00f5es de tundras hoje cobertas de musgos em estepes formadas por gram\u00edneas, como eram durante a \u00e9poca do Pleistoceno \u2013 per\u00edodo que abrangeu diversas eras glaciais e que foi interrompido h\u00e1 11,7 mil anos. Alguns cientistas levantam a hip\u00f3tese de que, em grandes propor\u00e7\u00f5es, essa revers\u00e3o poderia reduzir futuras mudan\u00e7as clim\u00e1ticas com a desacelera\u00e7\u00e3o do degelo do permafrost \u00e1rtico. Ao longo do processo, a Colossal pretende criar biotecnologias inovadoras e lucrativas, como ferramentas que complementem os procedimentos tradicionais utilizados para conserva\u00e7\u00e3o do meio ambiente.<\/p>\n\n\n\n

\u201cEstamos recuperando genes, n\u00e3o esp\u00e9cies\u201d, afirma Church. \u201cNa verdade, o objetivo do trabalho \u00e9 criar um elefante resistente ao frio que seja completamente compat\u00edvel com o elefante-asi\u00e1tico, que est\u00e1 em risco de extin\u00e7\u00e3o.\u201d<\/p>\n\n\n\n

A ideia de usar a biotecnologia para resgatar esp\u00e9cies em extin\u00e7\u00e3o, ou mesmo extintas, n\u00e3o \u00e9 nova. Em 2009, pesquisadores obtiveram sucesso ao clonar uma subesp\u00e9cie de \u00edbex extinta em 2000, embora o clone tenha sobrevivido apenas por alguns minutos. Em abril, o Zool\u00f3gico de San Diego e a organiza\u00e7\u00e3o sem fins lucrativos Revive & Restore, sediada na Calif\u00f3rnia, anunciaram que a clonagem de uma doninha-de-patas-pretas \u2013 esp\u00e9cie em risco de extin\u00e7\u00e3o \u2013, com o objetivo de restaurar a diversidade gen\u00e9tica em projetos de reprodu\u00e7\u00e3o em cativeiro. <\/p>\n\n\n\n

H\u00e1 anos o plano de \u201cressuscitar\u201d um mamute por meio do DNA sequenciado do gigante extinto aparece em manchetes de todo o mundo.<\/p>\n\n\n\n

\u201cGrande parte dos processos cient\u00edficos foram conclu\u00eddos; eles s\u00f3 precisavam desse subs\u00eddio e de foco\u201d, conta Bem Lamm, cofundador da Colossal e empreendedor que fundou recentemente a empresa Hypergiant. \u201cDepois de dois anos trabalhando nisso, \u00e9 emocionante poder contar o que estamos fazendo.\u201d<\/p>\n\n\n\n

N\u00e3o espere que os pseudomamutes surjam t\u00e3o cedo. Os planos da Colossal dependem de uma s\u00e9rie de tecnologias que ainda n\u00e3o foram testadas em elefantes. Mesmo no cronograma mais otimista, Church diz que o primeiro filhote h\u00edbrido da Colossal levar\u00e1 seis anos para ser concebido. Uma manada autossustent\u00e1vel, ent\u00e3o, pode levar d\u00e9cadas.<\/p>\n\n\n\n

Mesmo em est\u00e1gios iniciais, os projetos da Colossal promovem debates relevantes sobre o real significado da extin\u00e7\u00e3o de uma esp\u00e9cie \u2013 e como a biotecnologia pode e deve ser usada nos casos de extin\u00e7\u00e3o hoje. Com a presen\u00e7a da Colossal, essas quest\u00f5es j\u00e1 n\u00e3o est\u00e3o mais no campo te\u00f3rico, observa Tori Herridge, bi\u00f3loga especialista em mamutes do Museu de Hist\u00f3ria Natural de Londres. \u201cMinha primeira rea\u00e7\u00e3o foi: agora a coisa est\u00e1 ficando s\u00e9ria\u201d, lembra a bi\u00f3loga.<\/p>\n\n\n\n

Bem-vindo ao Parque Pleistoceno<\/h3>\n\n\n\n

O sonho de Church de criar um mamute h\u00edbrido come\u00e7ou depois de uma entrevista concedida por ele ao The New York Times<\/em>, em 2008, sobre o projeto de sequenciamento do genoma do mamute-lanoso.<\/p>\n\n\n\n

A ideia surgiu como um grande enigma intelectual. Mas, nos anos seguintes, Church come\u00e7ou a trabalhar com Stewart Brand e Ryan Phelan, fundadores da Revive & Restore, sediada na Calif\u00f3rnia. Brand e Phelan pretendem usar a biotecnologia para ajudar a proteger esp\u00e9cies amea\u00e7adas e resgatar esp\u00e9cies extintas.<\/p>\n\n\n\n

\u201cNa verdade, a desextin\u00e7\u00e3o e o que chamamos de resgate gen\u00e9tico representam esperan\u00e7a; \u00e9 uma maneira de reparar alguns danos que os humanos causaram ao longo dos s\u00e9culos\u201d, diz Phelan. \u201cN\u00e3o \u00e9 uma quest\u00e3o de nostalgia, \u00e9 uma quest\u00e3o de biodiversidade.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Brand e Phelan convidaram Church para as primeiras confer\u00eancias mundiais sobre desextin\u00e7\u00e3o, realizadas em 2012 e 2013 na sede da National Geographic Society, em Washington, DC. (A National Geographic Partners, que produziu este artigo, \u00e9 uma joint venture<\/em> entre a The Walt Disney Company e a organiza\u00e7\u00e3o sem fins lucrativos National Geographic Society).<\/p>\n\n\n\n

Foi nessas confer\u00eancias que Church conheceu Sergey Zimov, ecologista russo e diretor da Esta\u00e7\u00e3o de Ci\u00eancia do Nordeste em Cherskiy, na Rep\u00fablica de Sakha. Zimov come\u00e7ou a estudar o permafrost siberiano na d\u00e9cada de 1980 e, desde ent\u00e3o, alerta sobre as grandes quantidades de metano e di\u00f3xido de carbono que podem vazar para a atmosfera durante o processo de degelo.<\/p>\n\n\n\n

\u201cN\u00e3o \u00e9 uma quest\u00e3o de nostalgia, \u00e9 uma quest\u00e3o de biodiversidade.\u201d<\/p>POR RYAN PHELAN<\/strong>
REVIVE & RESTORE<\/cite><\/blockquote>\n\n\n\n

Zimov tamb\u00e9m pesquisa como manter o carbono no solo. Desde 1996, Zimov e seu filho, Nikita, trabalharam no Parque do Pleistoceno, uma \u00e1rea cercada de tundra, perto de Cherskiy. Os Zimovs introduziram alces, bis\u00f5es, renas, camelos-bactrianos e outros herb\u00edvoros de grande porte na regi\u00e3o para estudar o impacto que esses animais poderiam causar no ambiente.<\/p>\n\n\n\n

H\u00e1 milhares de anos, durante o Pleistoceno, grande parte da Europa, \u00c1sia e Am\u00e9rica do Norte estava coberta por estepes formadas de gram\u00edneas densamente povoadas por diversos herb\u00edvoros. H\u00e1 10 mil anos, muitos desses herb\u00edvoros, como os mamutes, foram extintos em grande parte do mundo. Provavelmente as atividades humanas, como a ca\u00e7a, foram uma das causas das extin\u00e7\u00f5es. Com a extin\u00e7\u00e3o desses animais de pasto, as pastagens deram lugar a arbustos, \u00e1rvores e musgos, produzindo a tundra e a taiga que vemos hoje.<\/p>\n\n\n\n

Os mamutes, segundo os Zimov, eram essenciais para a manuten\u00e7\u00e3o das pastagens produtivas do antigo \u00c1rtico. As enormes criaturas derrubavam \u00e1rvores, revolviam a terra e fertilizavam o solo com seu esterco, ajudando no crescimento das gramas. As passadas pesadas dos p\u00e9s dos mamutes tamb\u00e9m abriam camadas de neve e gelo no solo, permitindo que o frio do \u00c1rtico penetrasse mais profundamente no permafrost. <\/p>\n\n\n\n

\u201cSe o ecossistema do \u00e1rtico fosse um corpo\u201d, ilustra Nikita Zimov, \u201co mamute seria seu bra\u00e7o direito.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Embora o Parque Pleistoceno n\u00e3o tenha seu bra\u00e7o direito, os herb\u00edvoros que ainda habitam essas regi\u00f5es podem j\u00e1 estar transformando o solo. Em um estudo publicado no ano passado, os Zimovs constataram que, durante o inverno, os solos compactados dentro do Parque Pleistoceno podem ficar cerca de 12 graus Celsius mais frios do que os solos fora do parque.<\/p>\n\n\n\n

\"\"<\/a>
O parque Pleistoceno, com seus lagos e vegeta\u00e7\u00e3o verdejante, visto do alto. 
FOTO DE KATIE ORLINSKY, NAT GEO IMAGE COLLECTION<\/strong><\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

A perspectiva de recuperar as pastagens \u00e9 \u201cuma hip\u00f3tese animadora\u201d, diz Jacquelyn Gill, paleoecologista da Universidade do Maine, considerando o impacto que os elefantes de hoje t\u00eam em seus habitats<\/em>. No entanto, ela observa que ainda n\u00e3o se conhece todos os detalhes de como funcionavam os ecossistemas onde os mamutes-lanosos estavam inseridos, o que complica as iniciativas para reproduzi-los hoje.<\/p>\n\n\n\n

\u201cUsar isso como uma justificativa para um projeto como esse \u2013 que tem grandes considera\u00e7\u00f5es ecol\u00f3gicas, sociais, \u00e9ticas e bio\u00e9ticas \u2013 \u00e9 \u2018colocar a carro\u00e7a na frente dos bois\u2019\u201d, acrescenta Gill.<\/p>\n\n\n\n

Sem economia nos gastos<\/h3>\n\n\n\n

Ainda assim, o projeto dos Zimovs estimulou Church e os conservacionistas da Revive & Restore a levar a cabo pesquisas mais s\u00e9rias sobre o DNA de mamutes e c\u00e9lulas de elefante. <\/p>\n\n\n\n

At\u00e9 recentemente, as pesquisas no laborat\u00f3rio de Church sobre elefantes e mamutes envolviam volunt\u00e1rios que trabalhavam meio per\u00edodo e que eram substitu\u00eddos frequentemente. Nenhuma dessas pesquisas foi publicada em peri\u00f3dicos, para a infelicidade de especialistas que n\u00e3o fazem parte da equipe. Church diz que o laborat\u00f3rio est\u00e1 prestes a apresentar dois estudos para publica\u00e7\u00e3o nos pr\u00f3ximos meses.<\/p>\n\n\n\n

Outro obst\u00e1culo foi que o laborat\u00f3rio conduziu as pesquisas gen\u00e9ticas com um or\u00e7amento limitado, de cerca de US$ 10 mil (cerca de R$ 53 mil) por ano, contando com uma doa\u00e7\u00e3o de US$ 100 mil (R$ 530 mil) do investidor\u00a0Peter Thiel\u00a0e o apoio da Revive & Restore.\u00a0<\/p>\n\n\n\n

Por outro lado, a Colossal tem US$ 15 milh\u00f5es (quase R$ 80 mi) \u00e0 sua disposi\u00e7\u00e3o, arrecadados de um grupo de investidores, incluindo empresas de capital de risco do Vale do Sil\u00edcio e do famoso coach<\/em> Tony Robbins. O financiamento da Colossal apoiar\u00e1 as pesquisas em andamento do laborat\u00f3rio de Church sobre c\u00e9lulas de elefante, bem como o pr\u00f3prio laborat\u00f3rio da empresa, que ser\u00e1 dirigido por Eriona Hysolli, ex-pesquisadora de p\u00f3s-doutorado do laborat\u00f3rio de Church que agora \u00e9 chefe de ci\u00eancias biol\u00f3gicas da empresa.<\/p>\n\n\n\n

Beth Shapiro, paleogeneticista da Universidade da Calif\u00f3rnia, na cidade Santa Cruz, diz que o modelo de financiamento da Colossal pode ser transformador para geneticistas que trabalham na \u00e1rea de conserva\u00e7\u00e3o de esp\u00e9cies. \u201c\u00c9 uma nova e importante fonte de recursos que est\u00e1 sendo investida diretamente em projetos que s\u00e3o do interesse de todos\u201d, diz ela.<\/p>\n\n\n\n

Para nortear as pesquisas, a empresa recrutou consultores cient\u00edficos, dois deles j\u00e1 atuaram em pesquisas sobre elefantes ou mamutes: o geneticista Michael Hofreiter, da Universidade de Potsdam, que estuda mamutes e outros animais do Pleistoceno, e o zo\u00f3logo de Oxford Fritz Vollrath, que estuda o comportamento de aranhas e elefantes n\u00e3o extintos.<\/p>\n\n\n\n

Entre os consultores da empresa tamb\u00e9m est\u00e3o dois grandes bioeticistas da \u00e1rea de edi\u00e7\u00e3o gen\u00f4mica: R. Alta Charo, da Universidade de Wisconsin, na cidade de Madison, e S. Matthew Liao, da Universidade de Nova York. (O engenheiro qu\u00edmico da Universidade de Stanford Joseph DeSimone, membro do conselho consultivo cient\u00edfico da Colossal, tamb\u00e9m \u00e9 membro do conselho de curadores da National Geographic Society).<\/p>\n\n\n\n

Bi\u00f3logos encontram um caminho<\/h3>\n\n\n\n

O objetivo final da Colossal \u00e9 substituir genes-chave suficientes no genoma do elefante-asi\u00e1tico para criar uma esp\u00e9cie \u201csubstituta\u201d, que se adapte ao frio do \u00c1rtico, como os mamutes.<\/p>\n\n\n\n

Os \u00faltimos ancestrais comuns de mamutes-lanosos e elefantes-asi\u00e1ticos viveram h\u00e1 seis milh\u00f5es de anos, explica Herridge, mas as duas esp\u00e9cies ainda compartilham mais de 99,9% do DNA. Por\u00e9m, o genoma do elefante se estende por cerca de tr\u00eas bilh\u00f5es de pares de bases. Isso significa que h\u00e1 mais de um milh\u00e3o de diferen\u00e7as individuais entre os genomas do elefante-asi\u00e1tico e do mamute-lanoso que ainda devem ser analisados pelos cientistas. <\/p>\n\n\n\n

At\u00e9 o momento, Lamm e Hysolli explicam que a equipe da Colossal pretende obter um m\u00ednimo de 60 genes de mamute, incluindo genes que informem sobre a gordura do animal, a capacidade do sangue em reter oxig\u00eanio em baixas temperaturas e seu pelo desgrenhado (sua marca registrada).<\/p>\n\n\n\n

A inser\u00e7\u00e3o dos genes relevantes do mamute no DNA do elefante-asi\u00e1tico exigiria uma s\u00e9rie de edi\u00e7\u00f5es gen\u00e9ticas de uma s\u00f3 vez. Mas esse \u00e9 um problema que o laborat\u00f3rio de Church j\u00e1 conseguiu solucionar em outras esp\u00e9cies. Sua equipe utilizou a poderosa t\u00e9cnica de edi\u00e7\u00e3o de genes Crispr-Cas9 para editar o genoma de porco em dezenas de pontos diferentes ao mesmo tempo, com o objetivo de produzir porcos que pudessem ter \u00f3rg\u00e3os transplantados em humanos com seguran\u00e7a.<\/p>\n\n\n\n

Pelo menos um desses genes de mamute foi testado em ratos transg\u00eanicos de laborat\u00f3rio. Mas genes individuais podem ter diversos efeitos poss\u00edveis em todo o genoma, e o efeito final de um gene nas caracter\u00edsticas de um organismo se resume a quando, onde e quanto esse gene se manifesta dentro do corpo. Esse tipo de regula\u00e7\u00e3o depende parcialmente de trechos de DNA que ainda n\u00e3o s\u00e3o bem compreendidos em mamutes extintos.<\/p>\n\n\n\n

Church diz que os pesquisadores da Colossal devem ser capazes de rastrear diversos obst\u00e1culos poss\u00edveis no in\u00edcio do desenvolvimento de um embri\u00e3o h\u00edbrido. Dito isso, o cientista reconhece que algumas caracter\u00edsticas projetadas \u2013 como as orelhas do animal, que precisam ser pequenas para evitar ulcera\u00e7\u00f5es \u2013 n\u00e3o podem ser verificadas antes de se chegar nos est\u00e1gios finais do desenvolvimento embrion\u00e1rio.<\/p>\n\n\n\n

Mas a principal preocupa\u00e7\u00e3o da Colossal \u00e9 o processo pelo qual desenvolver\u00e1 seus embri\u00f5es. Os elefantes-asi\u00e1ticos est\u00e3o em risco de extin\u00e7\u00e3o, portanto, para evitar o uso de barrigas de aluguel, a empresa afirma que desenvolver\u00e1 um \u00fatero artificial de elefante.<\/p>\n\n\n\n

Experimentos anteriores com cordeiros e camundongos mostraram que \u00fateros artificiais podem sustentar fetos prematuros por at\u00e9 quatro semanas, ou sustentar embri\u00f5es de cinco dias de idade por at\u00e9 seis dias. Mas, at\u00e9 agora, Church diz que nenhum \u00fatero artificial foi utilizado durante todo o per\u00edodo de gesta\u00e7\u00e3o de qualquer mam\u00edfero.<\/p>\n\n\n\n

Para cumprir as metas, a Colossal precisaria primeiramente conquistar o mundo com os elefantes modernos. A gesta\u00e7\u00e3o dos elefantes dura aproximadamente dois anos e os filhotes nascem pesando mais de 90 quilos.<\/p>\n\n\n\n

A Colossal tamb\u00e9m precisa de uma produ\u00e7\u00e3o autossustent\u00e1vel de c\u00e9lulas de elefantes-asi\u00e1ticos. Church explica que a empresa deve desenvolver uma linha de c\u00e9lulas-tronco pluripotentes induzidas, que foram bioquimicamente alteradas para um estado primordial que as permite se transformar em diversos tipos de c\u00e9lulas poss\u00edveis, como ovos. Esses tipos de c\u00e9lulas-tronco foram criados para outros mam\u00edferos amea\u00e7ados, incluindo o rinoceronte-branco-do-norte, mas ainda n\u00e3o para elefantes.<\/p>\n\n\n\n

Pontos negativos<\/h3>\n\n\n\n

Qualquer experimento que envolva animais apresenta desafios \u00e9ticos. Se a Colossal conseguir criar um filhote h\u00edbrido saud\u00e1vel, as expectativas aumentam. Os elefantes s\u00e3o animais longevos e inteligentes, que vivem em sociedades matriarcais complexas e multigeracionais.<\/p>\n\n\n\n

A pesquisa sobre mamutes antigos sugere que eles compartilhavam muitas dessas caracter\u00edsticas sociais. Ent\u00e3o, como o primeiro h\u00edbrido de mamute e elefante dever\u00e1 ser tratado e socializado? E como um futuro rebanho desses h\u00edbridos aprenderia a sobreviver no \u00c1rtico \u2013 e restauraria a cultura de mamutes do zero?<\/p>\n\n\n\n

\u201cN\u00e3o se trata apenas de dar vida a esses animais, mas de ter certeza de que, uma vez que existam, eles possam viver uma vida pr\u00f3spera\u201d, diz Liao, bioeticista da Universidade de Nova York e membro do conselho consultivo cient\u00edfico da Colossal. \u201cCaso contr\u00e1rio, estar\u00edamos sendo cru\u00e9is com esses animais.\u201d<\/p>\n\n\n\n

A Colossal e os Zimov t\u00eam um acordo n\u00e3o oficial de que o Parque Pleistoceno poder\u00e1 hospedar alguns dos futuros mamutes da empresa. Por enquanto, esse experimento est\u00e1 limitado a 20 km2<\/sup>, com planos eventuais para preencher uma \u00e1rea de 144 km2<\/sup>.<\/p>\n\n\n\n

Entretanto os elefantes migrat\u00f3rios de hoje podem percorrer dist\u00e2ncias muito longas, assim como os mamutes-lanosos. Um estudo recente de uma presa de mamute-lanoso de 17 mil anos constatou que o jovem macho havia caminhado milhares quil\u00f4metros ao longo de sua vida \u00fatil de 28 anos, cruzando grande parte do Alasca dos dias modernos. Se os objetivos da Colossal forem alcan\u00e7ados, seria necess\u00e1rio reconstituir milh\u00f5es de quil\u00f4metros quadrados de tundra \u00e1rtica para causar algum impacto no clima global. <\/p>\n\n\n\n

A extens\u00e3o dessas mudan\u00e7as propostas geraria grandes problemas relacionados ao uso do solo e haveria impactos sobre a vida selvagem existente no \u00c1rtico e sobre a governan\u00e7a global. E o que poderia acontecer com os aproximadamente 180 mil inu\u00edtes \u2013 povos que sofrem risco direto em um \u00c1rtico desgastado e em r\u00e1pida muta\u00e7\u00e3o na R\u00fassia, no Canad\u00e1, nos Estados Unidos e na Groenl\u00e2ndia?<\/p>\n\n\n\n

\u201cFrancamente, fico bastante hesitante quando os cientistas colonizadores querem criar um mundo particular\u201d, diz Daniel Heath Justice, pesquisador de estudos ind\u00edgenas e historiador de cultura animal na Universidade de Vancouver, na Col\u00fambia Brit\u00e2nica. Ele observa que a biotecnologia pode ser uma ferramenta \u00fatil para conserva\u00e7\u00e3o das esp\u00e9cies, mas acrescenta que o trabalho nesse sentido, como a pesquisa da Colossal, \u201cn\u00e3o pode ser liderado apenas por interesses n\u00e3o ind\u00edgenas\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Em nota, a Colossal afirmou que \u201cn\u00e3o haver\u00e1 impacto sobre as tribos ind\u00edgenas que atualmente vivem na \u00e1rea\u201d e que sua \u201cmaior prioridade \u00e9 o compromisso com a conserva\u00e7\u00e3o e preserva\u00e7\u00e3o de todas as esp\u00e9cies, inclusive os humanos\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Os defensores da empresa argumentam que, se a Colossal conseguir cumprir essa prioridade, as esp\u00e9cies vivas se beneficiar\u00e3o, mesmo que um h\u00edbrido de mamute e elefante nunca venha a existir. Com o financiamento da Colossal, o laborat\u00f3rio de Church est\u00e1 trabalhando em uma maneira de sintetizar o herpesv\u00edrus endoteliotr\u00f3pico do elefante. Esse v\u00edrus infecta e mata uma grande quantidade de elefantes-asi\u00e1ticos jovens, mas n\u00e3o pode ser cultivado com seguran\u00e7a em laborat\u00f3rios. Cultivar seria um primeiro passo crucial para a cria\u00e7\u00e3o de tratamentos e vacinas.<\/p>\n\n\n\n

\u201cA \u00fanica linha de argumento realista e razo\u00e1vel para esses tipos de tecnologias\u201d, diz Shapiro, o geneticista da Universidade da Calif\u00f3rnia, \u201c\u00e9 ajudar as esp\u00e9cies que est\u00e3o vivas a prosperar em um ambiente em constante mudan\u00e7a habitado por humanos.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Fonte: National Geographic Brasil<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

O geneticista de Harvard,\u00a0George Church, cofundou uma nova empresa com um objetivo audacioso: projetar um elefante semelhante ao extinto mamute-lanoso. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":173769,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[1128,3418,5030],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/173768"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=173768"}],"version-history":[{"count":2,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/173768\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":173773,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/173768\/revisions\/173773"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/173769"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=173768"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=173768"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=173768"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}