{"id":173946,"date":"2021-10-04T12:51:10","date_gmt":"2021-10-04T15:51:10","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=173946"},"modified":"2021-10-04T12:51:12","modified_gmt":"2021-10-04T15:51:12","slug":"guerrilheiros-colombianos-atravessam-fronteira-por-garimpo-ilegal-na-amazonia","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2021\/10\/04\/173946-guerrilheiros-colombianos-atravessam-fronteira-por-garimpo-ilegal-na-amazonia.html","title":{"rendered":"Guerrilheiros colombianos atravessam fronteira por garimpo ilegal na Amaz\u00f4nia"},"content":{"rendered":"\n
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O rio Japur\u00e1, na fronteira entre o Brasil e a Col\u00f4mbia, \u00e9 afluente do rio Solim\u00f5es – GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Estrangeiros suspeitos de liga\u00e7\u00e3o com uma dissid\u00eancia das antigas For\u00e7as Armadas Revolucion\u00e1rias da Col\u00f4mbia (Farc) est\u00e3o entrando em territ\u00f3rio brasileiro atra\u00eddos pelo avan\u00e7o do garimpo ilegal de ouro no Brasil nos rios da Amaz\u00f4nia. A informa\u00e7\u00e3o consta de documentos obtidos pela BBC News Brasil e foi confirmada pela Pol\u00edcia Federal.<\/strong><\/p>\n\n\n\n

As investiga\u00e7\u00f5es apontam que os dissidentes est\u00e3o extorquindo garimpeiros ilegais que atuam de forma clandestina nos rios da regi\u00e3o e cobrando uma esp\u00e9cie de “ped\u00e1gio” para poderem continuar trabalhando. Em agosto, a PF e o Ex\u00e9rcito brasileiro realizaram uma opera\u00e7\u00e3o no munic\u00edpio de Japur\u00e1 (AM), a 745 quil\u00f4metros de Manaus, depois de receberem informa\u00e7\u00f5es de que havia dissidentes na \u00e1rea urbana da cidade. Dois colombianos foram presos.<\/p>\n\n\n\n

As Farc eram um dos grupos armados que, por quase 50 anos, esteve em conflito com o governo colombiano. Em 2016, comandantes da organiza\u00e7\u00e3o e o ent\u00e3o presidente da Col\u00f4mbia, Juan Manuel Santos, firmaram um cessar-fogo que previa o desarmamento da organiza\u00e7\u00e3o e a possibilidade de o grupo participar da vida pol\u00edtica do pa\u00eds. Em 2017, a maioria dos rebeldes se desmobilizou e passou a formar o partido pol\u00edtico For\u00e7a Alternativa Revolucion\u00e1ria do Comum, tamb\u00e9m conhecida pela sigla Farc. Mais de oito mil fuzis foram entregues pelos guerrilheiros.<\/p>\n\n\n\n

Parte deles, por\u00e9m, decidiu n\u00e3o aderir ao acordo e continuou a atuar na regi\u00e3o, especialmente em territ\u00f3rio amaz\u00f4nico. S\u00e3o esses dissidentes que as autoridades brasileiras acreditam que estejam ingressando em territ\u00f3rio nacional desde ent\u00e3o. Nos \u00faltimos anos, servi\u00e7os de intelig\u00eancia receberam a informa\u00e7\u00e3o de que alguns deles fazem a “escolta” de carregamentos de drogas enviadas da Col\u00f4mbia para o Brasil pelos rios da regi\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Os documentos obtidos pela BBC News Brasil fazem parte de uma investiga\u00e7\u00e3o conduzida pela Pol\u00edcia Federal ap\u00f3s a opera\u00e7\u00e3o de agosto e que tramita, agora, na Justi\u00e7a Federal do Amazonas. Segundo eles, a novidade agora \u00e9 que esses dissidentes est\u00e3o extorquindo garimpeiros ilegais brasileiros que atuam na extra\u00e7\u00e3o ilegal de ouro nos rios da regi\u00e3o, especialmente nos rios Puru\u00e9 e Joamim. O processo cont\u00e9m fotos tiradas por informantes da PF que mostram homens armados com fuzis e uniformes semelhantes aos usados pelos guerrilheiros abordando dragas de garimpo.<\/p>\n\n\n\n

Segundo o superintendente da Pol\u00edcia Federal no Amazonas, Leandro Almada, h\u00e1 suspeitas de que o ouro extra\u00eddo ilegalmente no Brasil esteja sendo usado para financiar as atividades dos dissidentes na Col\u00f4mbia.<\/p>\n\n\n\n

“Indiv\u00edduos supostamente dissidentes de grupos paramilitares estrangeiros atuariam na faixa de fronteira da regi\u00e3o de Japur\u00e1 e teriam envolvimento com o tr\u00e1fico de entorpecentes, realizando escoltas de carregamentos de drogas e, mais recentemente, atuando na extors\u00e3o de garimpeiros ilegais que atuam na regi\u00e3o de fronteira. N\u00e3o temos dados concretos, mas existe a possibilidade de tais recursos estarem sendo utilizados para o financiamento desses grupos baseados no exterior”, disse o delegado em nota enviada \u00e0 BBC Brasil.<\/p>\n\n\n\n

“Segundo levantamentos na regi\u00e3o, os dissidentes ingressam ilegalmente em territ\u00f3rio nacional, muitas vezes com documentos falsos, e atuam nas \u00e1reas de garimpo da faixa de fronteira abordando ribeirinhos e garimpeiros, ou infiltrados na zona urbana de Japur\u00e1, onde adquirem mantimentos”, explicou o delegado.<\/p>\n\n\n\n

A suspeita de que dissidentes estejam usando o ouro ilegal brasileiro chama aten\u00e7\u00e3o porque, na Col\u00f4mbia, h\u00e1 pelo menos nove anos existem registros de que grupos paramilitares comando minas ilegais no pa\u00eds vizinho.<\/p>\n\n\n\n

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Soldados em forma\u00e7\u00e3o no pelot\u00e3o de fronteira de Vila Bittencourt, \u00e0s margens do rio Japur\u00e1, na divisa com a Col\u00f4mbia – VALTER CAMPANATO\/AG\u00caNCIA BRASIL<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

“Isso \u00e9 algo que aconteceu na Col\u00f4mbia. H\u00e1 minas ilegais administradas pelas Farc e outros grupos ilegais no meu pa\u00eds, de modo que n\u00e3o me estranharia que esses criminosos que atravessam a fronteira comecem a atuar dessa maneira no Brasil”, disse o embaixador da Col\u00f4mbia no Brasil, Dario Montoya Mejia.<\/p>\n\n\n\n

O diplomata afirmou tamb\u00e9m que as autoridades dos dois pa\u00edses v\u00eam intensificado as a\u00e7\u00f5es de coopera\u00e7\u00e3o na regi\u00e3o para sufocar atividades de organiza\u00e7\u00f5es criminosas.<\/p>\n\n\n\n

Bilhetes com carimbo das Farc<\/h2>\n\n\n\n

Entre os ind\u00edcios que, segundo a PF, ligam o casal colombiano preso em agosto deste ano a grupos dissidentes das Farc est\u00e3o um bilhete apreendido com o casal que contem o carimbo da Frente Carolina Ramirez, um dos sub-grupos da dissid\u00eancia das Farc que atua no sul da Col\u00f4mbia. O casal foi encontrado depois de invadir a casa de uma moradora de Japur\u00e1 ao fugir da pol\u00edcia e do Ex\u00e9rcito.<\/p>\n\n\n\n

A investiga\u00e7\u00e3o da PF suspeita de que a dupla atuava como emiss\u00e1rios respons\u00e1veis por obter mantimentos, rem\u00e9dios e outros insumos para dar suporte ao grupo na selva. Al\u00e9m do bilhete, a PF encontrou um uniforme camuflado, botas, artigos para sobreviv\u00eancia na selva e uma balan\u00e7a de precis\u00e3o. As suspeitas aumentaram depois que um laudo de peritos da PF constatou que a mulher detida apresentou nomes e documentos falsos \u00e0s autoridades brasileiras.<\/p>\n\n\n\n

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Carta com carimbo da Frente Carolina Ramirez foi encontrada com casal preso pela PF. Policia suspeita que a dupla trabalhe para o grupo – REPRODU\u00c7\u00c3O<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Em seu depoimento, a dona da casa invadida, cujo nome n\u00e3o ser\u00e1 divulgado por motivos de seguran\u00e7a, disse ter sentido amea\u00e7ada.<\/p>\n\n\n\n

“A\u00ed, na hora que eles entraram, empurraram a porta e quase jogaram as duas (sua filha e cunhada) a\u00ed embaixo e falaram que iam ficar a\u00ed e foram direto pro meu quarto. A gente pediu para sair, n\u00e3o sa\u00edram. Falaram que iam ficar a\u00ed, porque se eles n\u00e3o ficassem a\u00ed n\u00e3o, (a gente) sabia o que podia acontecer [\u2026] Me senti (amea\u00e7ada) [\u2026] se a gente n\u00e3o fizer o que eles est\u00e3o pedindo, (a gente) se lasca depois”, disse.<\/p>\n\n\n\n

Japur\u00e1 \u00e9 um munic\u00edpio localizado no extremo oeste do Amazonas, com pouco mais de 1,7 mil habitantes e 55,8 mil quil\u00f4metros quadrados e coberta majoritariamente pela floresta amaz\u00f4nica. \u00c9 uma das \u00e1reas mais remotas do Brasil, equivalente a 35 vezes o tamanho da cidade de S\u00e3o Paulo.<\/p>\n\n\n\n

Sua \u00fanica liga\u00e7\u00e3o f\u00edsica com a capital do estado, Manaus, \u00e9 o rio Japur\u00e1, em uma viagem que pode levar at\u00e9 uma semana. Nas \u00faltimas d\u00e9cadas, o munic\u00edpio se tornou uma importante porta de entrada para drogas produzidas na Col\u00f4mbia com destino ao Brasil, especialmente o “skunk”, uma esp\u00e9cie de maconha considerada mais potente que a maconha normal.<\/p>\n\n\n\n

O ambiente passou a ficar ainda mais tenso com o avan\u00e7o da extra\u00e7\u00e3o ilegal de ouro na regi\u00e3o. Segundo a PF, nos \u00faltimos tr\u00eas anos, houve um aumento da atividade garimpeira na \u00e1rea. Dezenas de dragas e centenas de garimpeiros aproveitam a pouca fiscaliza\u00e7\u00e3o das autoridades na regi\u00e3o e levam dragas que revolvem o leito do rio em busca do min\u00e9rio ao mesmo tempo em que liberam merc\u00fario na \u00e1gua e no ar. Apesar desse cen\u00e1rio, a cidade conta com apenas dois policiais civis e seis policiais militares.<\/p>\n\n\n\n

“Japur\u00e1 fica numa regi\u00e3o muito isolada e muito pobre e que precisa de um refor\u00e7o da seguran\u00e7a”, reconhece o chefe do Departamento de Investiga\u00e7\u00f5es sobre Narc\u00f3ticos (Denarc) da Pol\u00edcia Civil do Amazonas, Paulo Mavignier.<\/p>\n\n\n\n

Regi\u00e3o \u00e9 pr\u00f3xima a local de conflitos<\/h2>\n\n\n\n
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O munic\u00edpio de Japur\u00e1 fica em uma das regi\u00f5es mais isoladas da Amaz\u00f4nia e faz fronteira com a Col\u00f4mbia – REPRODU\u00c7\u00c3O<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

A pris\u00e3o da dupla e os relatos sobre a presen\u00e7a de dissidentes da guerrilha colombiana em Japur\u00e1 trouxe de volta a lembran\u00e7a de um epis\u00f3dio ocorrido h\u00e1 30 anos em uma regi\u00e3o pr\u00f3xima \u00e0 cidade, mais precisamente no rio Tra\u00edra, que corre pela divisa entre o Brasil e a Col\u00f4mbia. No dia 26 de fevereiro de 1991, um destacamento do Ex\u00e9rcito foi atacado por guerrilheiros das Farc. Na ocasi\u00e3o, tr\u00eas militares brasileiros morreram.<\/p>\n\n\n\n

Como resposta, o Brasil mobilizou aproximadamente 400 militares para a regi\u00e3o durante a Opera\u00e7\u00e3o Tra\u00edra, em mar\u00e7o daquele mesmo ano. Registros feitos pela imprensa \u00e0 \u00e9poca indicam que pelo menos sete colombianos foram mortos.<\/p>\n\n\n\n

O professor do Departamento de Estudos Estrat\u00e9gicos da Universidade Federal Fluminense, Thiago Fernandes, explica que atividades ilegais como tr\u00e1fico de seres humanos, drogas e de armas s\u00e3o comuns em regi\u00f5es de fronteira, especialmente naquelas marcadas pelo isolamento como a do Brasil com a Col\u00f4mbia. Ele diz, no entanto, que o epis\u00f3dio ocorrido em Japur\u00e1 mostra que avan\u00e7o do garimpo ilegal no Brasil funciona como um fator de atra\u00e7\u00e3o para grupos criminosos estrangeiros.<\/p>\n\n\n\n

“Os garimpos servem de polo de atra\u00e7\u00e3o. Esse ouro vai atraindo esses outros grupos ilegais, incluindo as Farc e dissidentes. O avan\u00e7o do garimpo ilegal no Brasil cria mais uma oportunidade de financiamento para esses grupos criminosos. \u00c9 compreens\u00edvel que eles avancem em nosso territ\u00f3rio em busca de uma nova fonte de renda”, afirmou.<\/p>\n\n\n\n

A BBC News Brasil questionou o Ex\u00e9rcito sobre o epis\u00f3dio ocorrido em Japur\u00e1 e que medidas est\u00e3o sendo tomadas sobre o ingresso de dissidentes no Brasil.<\/p>\n\n\n\n

Em nota, o Ex\u00e9rcito disse que recebeu as informa\u00e7\u00f5es sobre a exist\u00eancia de dissidentes na regi\u00e3o por meio de den\u00fancias feitas pela popula\u00e7\u00e3o do munic\u00edpio e que “realiza, diuturnamente, opera\u00e7\u00f5es preventivas e repressivas com o intuito de combater os il\u00edcitos praticados nas regi\u00f5es de fronteira”.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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