{"id":173973,"date":"2021-10-05T17:22:12","date_gmt":"2021-10-05T20:22:12","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=173973"},"modified":"2021-10-05T17:22:15","modified_gmt":"2021-10-05T20:22:15","slug":"animais-do-pantanal-aprendem-a-mendigar-comida-para-sobreviver-na-seca","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2021\/10\/05\/173973-animais-do-pantanal-aprendem-a-mendigar-comida-para-sobreviver-na-seca.html","title":{"rendered":"Animais do Pantanal aprendem a ‘mendigar comida’ para sobreviver na seca"},"content":{"rendered":"\n
\"\"<\/a>
Macaco com a pata estendida; primatas aprenderam a ‘pedir comida’ aos humanos em meio \u00e0 situa\u00e7\u00e3o adversa no Pantanal, dizem ONGs – FUNDA\u00c7\u00c3O ECOTR\u00d3PICA<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

A sucess\u00e3o de eventos adversos no Pantanal, que sofreu inc\u00eandios devastadores em 2020, perdeu parte importante de sua superf\u00edcie de \u00e1gua e vive seca hist\u00f3rica neste ano, pode estar tendo efeitos nos h\u00e1bitos dos animais que vivem ali – a come\u00e7ar pela oferta de comida dispon\u00edvel a eles.<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Embora estabelecer (ou n\u00e3o) uma rela\u00e7\u00e3o causal direta dependa de estudos aprofundados, profissionais que atuam no Pantanal observam algumas mudan\u00e7as.<\/p>\n\n\n\n

“O fogo pode estar menos intenso (neste ano), mas a fome e a seca est\u00e3o mais presentes”, diz \u00e0 BBC News Brasil Ilvanio Martins, presidente da Funda\u00e7\u00e3o Ecotr\u00f3pica, que gerencia quatro reservas ambientais no Pantanal – uma delas praticamente inteira consumida pelas queimadas no ano passado.<\/p>\n\n\n\n

“A fome n\u00e3o \u00e9 t\u00e3o escandalosa quanto o fogo, mas seu efeito \u00e9 ainda mais devastador. Ela \u00e9 severa e silenciosa. E afeta toda a cadeia (ecol\u00f3gica). A \u00e1rvore que queimou n\u00e3o floriu; as que floriram n\u00e3o germinaram tantas sementes, e da\u00ed conseguem alimentar uma quantidade menor de p\u00e1ssaros e roedores”, ele relata.<\/p>\n\n\n\n

Um exemplo s\u00e3o as \u00e1rvores de ip\u00ea, que segundo Martins s\u00e3o fonte de alimento aos animais. “E a florada dos ip\u00eas foi muito mais t\u00edmida neste ano.”<\/p>\n\n\n\n

Est\u00e3o fazendo falta tamb\u00e9m muitas palmeiras que alimentavam e abrigavam araras azuis e roedores.<\/p>\n\n\n\n

Segundo Jorge Salom\u00e3o, veterin\u00e1rio da organiza\u00e7\u00e3o Ampara Animal Silvestre no Pantanal, muitos animais haviam tido sucesso em se adaptar ao ambiente ap\u00f3s os inc\u00eandios do ano passado: se deslocando e migrando para outras \u00e1reas do bioma, eles conseguiam, de alguma forma, se alimentar.<\/p>\n\n\n\n

“O que complicou muito, neste ano, foi a seca”, explica o veterin\u00e1rio \u00e0 BBC News Brasil.<\/p>\n\n\n\n

“Ent\u00e3o os animais sa\u00edram de uma situa\u00e7\u00e3o cr\u00edtica (de fogo) e emendaram na seca mais intensa dos \u00faltimos dez anos.”<\/p>\n\n\n\n

Mudan\u00e7a de h\u00e1bitos e ‘mendic\u00e2ncia’<\/h2>\n\n\n\n

A seca reduz as \u00e1reas naturais dispon\u00edveis para os animais se banharem, tomarem \u00e1gua e se alimentarem.<\/p>\n\n\n\n

Ilvanio Martins conta que, em uma de suas visitas recentes a campo, em setembro, se deparou com “animais debilitados, perambulando”.<\/p>\n\n\n\n

“Quando esses animais n\u00e3o encontram a \u00e1gua que antes estava ali, eles se desorientam.”<\/p>\n\n\n\n

\"\"<\/a>
Integrantes da Funda\u00e7\u00e3o Ecotr\u00f3pica preparando alimentos a serem cedidos aos animais; seca reduziu a oferta de comida natural – FUNDA\u00c7\u00c3O ECOTR\u00d3PICA<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Al\u00e9m disso, nos pontos em que a \u00e1gua deixou de fluir com a mesma intensidade de antes, os peixes n\u00e3o conseguiram se reproduzir no mesmo volume, ele explica. Portanto, deixaram de ser fonte de alimentos para as aves.<\/p>\n\n\n\n

Segundo Martins, a consequ\u00eancia \u00e9 que parte dos animais precisou mudar de h\u00e1bitos para obter comida. Alguns passaram a “furtar” alimentos de cozinhas e restaurantes ou de locais dos quais antes n\u00e3o ousariam se aproximar.<\/p>\n\n\n\n

Outros passaram a comer alimentos diferentes do que normalmente comeriam. “Vimos macacos e periquitos comendo manga verde, que n\u00e3o seria parte da dieta deles.”<\/p>\n\n\n\n

Macacos passaram, tamb\u00e9m, a estender a pata a humanos, pedindo comida – “como se fossem mendigos”, diz Martins -, porque descobriram que s\u00e3o capazes de conseguir alimentos dessa forma.<\/p>\n\n\n\n

Para o veterin\u00e1rio Jorge Salom\u00e3o, por\u00e9m, esse comportamento dos macacos vem do fato de eles terem se condicionado a contar mais com os alimentos distribu\u00eddos pelos humanos.<\/p>\n\n\n\n

“Teve essa mudan\u00e7a de comportamento, mas acho que ela se deve muito ao assistencialismo feito no ano passado (para minimizar os danos dos inc\u00eandios)”, explica.<\/p>\n\n\n\n

“Os primatas aprendem muito r\u00e1pido, passaram a pegar comida da m\u00e3o da gente. Mas eu acho que \u00e9 uma altera\u00e7\u00e3o comportamental mais por eles terem perdido o medo de se aproximar do que pela dificuldade (em conseguir comida).”<\/p>\n\n\n\n

\"\"<\/a>
Macacos se alimentando de melancia deixada por volunt\u00e1rios; Pantanal vive seca hist\u00f3rica ap\u00f3s inc\u00eandios devastadores do ano passado – CHICO FERREIRA VIA FUNDA\u00c7\u00c3O ECOTR\u00d3PICA<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

O zootenista Thiago Gra\u00e7a tamb\u00e9m notou mudan\u00e7as de h\u00e1bito “absurdas e n\u00e3o naturais” dos animais por culpa da escassez.<\/p>\n\n\n\n

Ao verem a comida ofertada pelos humanos, “os animais chegam com uma voracidade alarmante, com o desespero da fome”, diz Gra\u00e7a, que \u00e9 t\u00e9cnico da organiza\u00e7\u00e3o GRAD (Grupo de Resgate de Animais em Desastres).<\/p>\n\n\n\n

“O Pantanal perdeu muita \u00e1rvore frut\u00edfera, muito material verde e muita fauna tamb\u00e9m. N\u00e3o \u00e9 natural eles se aproximarem tanto da gente.”<\/p>\n\n\n\n

Na opini\u00e3o da bi\u00f3loga e zo\u00f3loga Daniella Fran\u00e7a, da organiza\u00e7\u00e3o pantaneira Chalana Esperan\u00e7a, os animais parecem estar passando fome em consequ\u00eancia da seca e dos inc\u00eandios, mas os relatos ainda precisam ser analisados caso a caso e devidamente estudados para estabelecer uma rela\u00e7\u00e3o causal.<\/p>\n\n\n\n

“O que podemos fazer, por enquanto, \u00e9 nos basear em situa\u00e7\u00f5es que j\u00e1 tenham ocorrido no passado e, \u00e9 claro, tentar ajudar com a dessedenta\u00e7\u00e3o (combate \u00e0 sede) e alimenta\u00e7\u00e3o em locais estrat\u00e9gicos, como fizemos no ano passado, mas sempre aprendendo com os erros”, diz ela.<\/p>\n\n\n\n

Do ponto de vista t\u00e9cnico, ela explica, isso passa por evitar ao m\u00e1ximo dar alimentos errados para alguns tipos de animais (por exemplo, alimentos que possam expor os bichos a bact\u00e9rias \u00e0s quais n\u00e3o est\u00e3o acostumados) ou deixar a comida muito perto da rodovia Transpantaneira (onde os animais correm o risco de serem atropelados).<\/p>\n\n\n\n

Portanto, diz ela, a oferta de comida tem de passar pelo crivo de especialistas no ecossistema pantaneiro.<\/p>\n\n\n\n

Essa oferta humana – especializada – de alimentos e \u00e1gua tem sido necess\u00e1ria, explicam as organiza\u00e7\u00f5es, para amenizar a situa\u00e7\u00e3o cr\u00edtica de animais neste momento.<\/p>\n\n\n\n

A Ampara Silvestre tem alugado caminh\u00f5es-pipa que comportam 50 mil litros de \u00e1gua para irrigar lugares onde habitualmente haveria \u00e1gua natural e que, portanto, s\u00e3o frequentados pelos animais.<\/p>\n\n\n\n

“Mas o tempo est\u00e1 muito seco. Ent\u00e3o de onde tirar 50 mil litros de \u00e1gua? Estamos tirando de po\u00e7os, mas n\u00e3o d\u00e1 para fazer isso por muito tempo. Temos que torcer para que chova logo”, diz Salom\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Nesses mesmos lugares alagados, os membros da ONG tamb\u00e9m colocam comida.<\/p>\n\n\n\n

“Compramos (o peixe) tuvira dos pescadores e deixamos para as lontras, ariranhas – \u00e9 uma comida do pr\u00f3prio bioma”, explica Salom\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

“Tamb\u00e9m deixamos frutas e verduras, como banana, mam\u00e3o, batata doce e ma\u00e7\u00e3. \u00c9 complexo, porque n\u00e3o \u00e9 o que os animais comeriam normalmente. Mas tomamos cuidado ao escolher para que, mesmo que mais deles (frutas e verduras) nas\u00e7am pela dispers\u00e3o de sementes, n\u00e3o prejudiquem o bioma nem atrapalhem as esp\u00e9cies nativas.”<\/p>\n\n\n\n

Ovos, que s\u00e3o fonte de prote\u00edna, tamb\u00e9m t\u00eam sido devorados por muitos animais, explica Thiago Gra\u00e7a. “At\u00e9 mesmo as cascas dos ovos, os pequenos pedacinhos, est\u00e3o sendo comidos. \u00c9 uma situa\u00e7\u00e3o surreal.”<\/p>\n\n\n\n

Bioma amea\u00e7ado<\/h2>\n\n\n\n
\"\"<\/a>
\u00c1rea sendo irrigada artificialmente pela Ampara Animal, para minimizar aus\u00eancia de \u00e1gua para os animais da regi\u00e3o – REPRODU\u00c7\u00c3O\/AMPARA ANIMAL<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Com a comida mais escassa, esses mesmos animais ter\u00e3o mais dificuldade em cumprir um papel ecol\u00f3gico importante: o de dispersar sementes pela mata e ajudar a renov\u00e1-la, afirma Martins. Dessa forma, a fome dos animais contribui para um ciclo vicioso na regi\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Historicamente, prossegue, “o Pantanal n\u00e3o \u00e9 um ambiente pronto e acabado: ele est\u00e1 em constante mudan\u00e7a e constru\u00e7\u00e3o, em sua altern\u00e2ncia entre cheia e vazante”.<\/p>\n\n\n\n

O que preocupa, por\u00e9m, \u00e9 que as \u00e1reas afetadas pelas secas e pelo fogo intenso est\u00e3o com uma terra mais arenosa e empobrecida, afirma ele.<\/p>\n\n\n\n

“A terra perde nutrientes e capacidade de gerar vida”, diz Martins. “A semente cozinha no ch\u00e3o e n\u00e3o brota. Esse ‘agrestamento’ \u00e9 percept\u00edvel por aqui.”<\/p>\n\n\n\n

Nos inc\u00eandios do ano passado, quase um ter\u00e7o de todo o Pantanal foi consumido pelo fogo.<\/p>\n\n\n\n

De janeiro de 2020 at\u00e9 meados deste ano, as queimadas haviam destru\u00eddo 3,8 milh\u00f5es de hectares nesse bioma, afetando ao menos 65 milh\u00f5es de animais vertebrados nativos e 4 bilh\u00f5es de invertebrados, aponta um estudo publicado em junho por pesquisadores das organiza\u00e7\u00f5es ambientais ICMBio, PrevFogo\/Ibama e Embrapa Pantanal, feito com base na densidade das esp\u00e9cies presentes nos locais afetados.<\/p>\n\n\n\n

Esses animais sofreram tanto impacto direto – como ferimentos ou morte – ou indireto, pela perda de seu habitat.<\/p>\n\n\n\n

\"\"<\/a>
Animais em \u00e1rea irrigada pela Ampara Animal Selvagem no Pantanal; situa\u00e7\u00e3o da fauna \u00e9 considerada preocupante – REPRODU\u00c7\u00c3O\/AMPARA ANIMAL<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Neste ano, a seca provoca quedas hist\u00f3ricas nos n\u00edveis dos rios pantaneiros e traz risco de devasta\u00e7\u00e3o ainda mais grave, segundo ambientalistas ouvidos pela C\u00e2mara dos Deputados em julho em audi\u00eancia na Comiss\u00e3o de Queimadas nos Biomas Brasileiros.<\/p>\n\n\n\n

“Desde o fim da d\u00e9cada de 1990, o per\u00edodo seco tem ficado mais seco e tamb\u00e9m o per\u00edodo chuvoso tem ficado mais seco”, disse na audi\u00eancia, segundo a Ag\u00eancia C\u00e2mara, Gilvan de Oliveira, coordenador de Ci\u00eancias da Terra do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).<\/p>\n\n\n\n

“De 2010 em diante, temos um predom\u00ednio de chuva abaixo da m\u00e9dia. Ent\u00e3o algo realmente est\u00e1 acontecendo no Pantanal, e obviamente chama a aten\u00e7\u00e3o o per\u00edodo 2020-2021. Neste ano, n\u00e3o \u00e9 poss\u00edvel somente fazer orienta\u00e7\u00e3o ou informativos: t\u00eam que ocorrer a\u00e7\u00f5es efetivas”, disse.<\/p>\n\n\n\n

Segundo dados de sat\u00e9lite analisados pela organiza\u00e7\u00e3o MapBiomas, o Pantanal – que \u00e9 a maior plan\u00edcie \u00famida do planeta – perdeu 29% de sua superf\u00edcie alagada nos \u00faltimos 30 anos.<\/p>\n\n\n\n

A seca prejudica a reprodu\u00e7\u00e3o de animais, como peixes, e propicia que mais inc\u00eandios ocorram.<\/p>\n\n\n\n

Com a oferta humana de alimentos, “estamos atendendo uma demanda emergencial neste per\u00edodo de seca, que espero que pare quando a chuva volte”, afirma Thiago Gra\u00e7a.<\/p>\n\n\n\n

No entanto, a preocupa\u00e7\u00e3o \u00e9 que, \u00e0 medida que o Pantanal fica cada vez mais exaurido, n\u00e3o consiga se regenerar e se preparar para as temporadas de seca futuras.<\/p>\n\n\n\n

“A cada ano o Pantanal parece que vai precisar mais da nossa ajuda”, conclui.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

A sucess\u00e3o de eventos adversos no Pantanal, pode estar tendo efeitos nos h\u00e1bitos dos animais que vivem ali – a come\u00e7ar pela oferta de comida dispon\u00edvel a eles. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":173974,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[405,487,42],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/173973"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=173973"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/173973\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":173979,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/173973\/revisions\/173979"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/173974"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=173973"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=173973"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=173973"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}