{"id":174195,"date":"2021-10-15T14:16:18","date_gmt":"2021-10-15T17:16:18","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=174195"},"modified":"2021-10-15T14:16:21","modified_gmt":"2021-10-15T17:16:21","slug":"apesar-do-aspecto-repugnante-parasitas-mantem-os-ecossistemas-interligados","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2021\/10\/15\/174195-apesar-do-aspecto-repugnante-parasitas-mantem-os-ecossistemas-interligados.html","title":{"rendered":"Apesar do aspecto repugnante, parasitas mant\u00eam os ecossistemas interligados"},"content":{"rendered":"\n
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Ancil\u00f3stomos parasitas se agarram \u00e0 barbatana caudal de uma til\u00e1pia-azul.
FOTO DE\u00a0JOEL SARTORE, NATIONAL GEOGRAPHIC PHOTO ARK<\/strong><\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Muitas pessoas sentem repulsa e a maioria jamais deixaria um parasita habitar seu corpo intencionalmente. Apenas a palavra \u201cparasita\u201d \u2014 que vem do grego \u201calimentar-se junto a\u201d \u2014 \u00e9 suficiente para causar arrepios.<\/p>\n\n\n\n

Mas o parasitismo deve ser respeitado como \u201cuma forma de vida excepcionalmente bem-sucedida\u201d, observa\u00a0Jimmy Bernot, bi\u00f3logo evolutivo do Museu Nacional Smithsoniano de Hist\u00f3ria Natural em Washington, D.C., nos Estados Unidos. Animais, plantas, fungos, bact\u00e9rias e v\u00edrus podem ser parasitas, de\u00a0morcegos-vampiros\u00a0a peixes\u00a0Lophiiformes<\/em>\u00a0de \u00e1guas profundas, cujos min\u00fasculos machos mordem as f\u00eameas e assim se prendem permanentemente a elas.<\/p>\n\n\n\n

O parasitismo \u00e9 uma forma de simbiose \u2014 uma rela\u00e7\u00e3o estreita entre dois organismos. Embora alguns parasitas, chamados de parasitoides, sejam fatais para seus hospedeiros, muitos n\u00e3o causam grandes problemas. Outros at\u00e9\u00a0protegem seus hospedeiros de outros parasitas, como\u00a0v\u00edrus que protegem bact\u00e9rias contra antibi\u00f3ticos. Fator negativo para quem est\u00e1 tomando o medicamento, mas positivo para o pequeno pat\u00f3geno.<\/p>\n\n\n\n

Parasitas coletam nutrientes de seus hospedeiros de diversas maneiras: alguns, denominados ectoparasitas, literalmente bebem o sangue ou se alimentam da pele de seus hospedeiros. Outros, denominados endoparasitas, instalam-se no interior de seus hospedeiros \u2014 como t\u00eanias ou\u00a0moscas da fam\u00edlia\u00a0Oestridae<\/em>.<\/p>\n\n\n\n

N\u00e3o h\u00e1 estimativas s\u00f3lidas de quantas esp\u00e9cies existem no mundo, mas alguns especialistas acreditam\u00a0que existam muito mais esp\u00e9cies de parasitas do que animais \u201cindependentes\u201d\u00a0\u2014 e a maioria dos parasitoides provavelmente ainda n\u00e3o foi descoberta.<\/p>\n\n\n\n

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Pessoa removendo sanguessuga da pele na \u00c1rea de Conserva\u00e7\u00e3o do Vale de Danum, em Born\u00e9u, na Mal\u00e1sia.
FOTO DE\u00a0MATTIAS KLUM, NAT GEO IMAGE COLLECTION<\/strong><\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

O fato de existirem h\u00e1 muito tempo n\u00e3o surpreende, considerando que a estrat\u00e9gia de sobreviv\u00eancia dos parasitas \u00e9 se infiltrar em outras formas de vida. A primeira intera\u00e7\u00e3o parasita-hospedeiro constatada em registro f\u00f3ssil foi de\u00a0um verme que se alojou\u00a0em um braqui\u00f3pode semelhante a um molusco,\u00a0h\u00e1 515 milh\u00f5es de anos.<\/p>\n\n\n\n

\u201cQuando analisamos cadeias alimentares ou redes ecol\u00f3gicas, descobrimos, em alguns casos, que os parasitas constituem mais da metade das conex\u00f5es entre as esp\u00e9cies\u201d, conta\u00a0Mackenzie Kwak, parasitologista da Universidade Nacional de Singapura. \u201cA uni\u00e3o entre esses ecossistemas s\u00e3o os parasitas.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m de sanguessugas<\/h3>\n\n\n\n

Sanguessugas s\u00e3o um tipo de verme e possivelmente os parasitas mais conhecidos. Existem\u00a0700 esp\u00e9cies, mas apenas cerca de metade delas sugam sangue. Elas vivem em todos os lugares da Terra, exceto na Ant\u00e1rtica terrestre \u2014 mas nos oceanos ao redor do continente polar existem sanguessugas com tent\u00e1culos que lembram\u00a0dedos sujos.<\/p>\n\n\n\n

Parasitas s\u00e3o ainda mais habilidosos. Alguns exemplos s\u00e3o as moscas-sapeiras,\u00a0que preferem viver nas narinas dos anf\u00edbios, ou os peixes-comedores-de-l\u00edngua,\u00a0crust\u00e1ceos que se agarram \u00e0 l\u00edngua de um peixe, um dos poucos exemplos de parasita que literalmente destr\u00f3i o \u00f3rg\u00e3o do hospedeiro e o substitui.<\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m de viver de seus hospedeiros, os parasitas\u00a0adaptaram maneiras de esteriliz\u00e1-los,\u00a0invadir o sistema imunol\u00f3gico\u00a0ou at\u00e9 mesmo influenciar o comportamento desses animais. Alguns fungos\u00a0Cordyceps<\/em>, por exemplo,\u00a0transformam seus insetos hospedeiros, como formigas, em \u201czumbis\u201d, for\u00e7ando-os a subir bem acima do solo \u2014 um local ideal para dispersar os esporos do fungo \u2014 antes de mat\u00e1-los. Os esporos caem no ch\u00e3o, pousando em um novo inseto e, dessa forma, dando sequ\u00eancia ao ciclo.<\/p>\n\n\n\n

Alguns parasitas roubam recursos de outros seres indiretamente. O\u00a0cuco-canoro, um parasita de ninhada que faz com que outras aves criem sua prole, coloca seus ovos no ninho de outra ave, a qual cria os filhotes sozinha.<\/p>\n\n\n\n

Pequeno, mas poderoso<\/h3>\n\n\n\n

Alguns parasitas, embora pequenos, podem ter efeitos gigantescos nos ecossistemas aos quais pertencem. A simples erva da esp\u00e9cie Rhinanthus minor<\/em> \u00e9 uma planta parasita nativa da Europa que finca suas ra\u00edzes na grama e filtra sua umidade at\u00e9 que seque.<\/p>\n\n\n\n

\u201cEssencialmente, onde n\u00e3o existem ervas R. minor<\/em>, prados de flores silvestres se transformam em pastagens\u201d, explica Kwak. \u201cQuando h\u00e1 a presen\u00e7a de ervas R. minor<\/em>, as gram\u00edneas hipercompetitivas enfraquecem e, ent\u00e3o, brota uma maravilhosa diversidade de flores em um prado de flores silvestres.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Ao substituir gram\u00edneas por flores silvestres, a\u00a0R. minor<\/em>\u00a0tamb\u00e9m atrai\u00a0insetos polinizadores\u00a0que, por sua vez, atraem aves e anf\u00edbios.<\/p>\n\n\n\n

\u201cNa realidade, ervas R. minor<\/em> constroem a base que sustenta todo o prado de flores silvestres e ajudam essas sens\u00edveis flores silvestres a prevalecerem\u201d, salienta Kwak.<\/p>\n\n\n\n

Parasitas de parasitas<\/p>\n\n\n\n

Denomina-se hiperparasita o animal parasit\u00e1rio que hospeda outro parasita \u2014 fen\u00f4meno\u00a0bastante comum. A vespa parasita\u00a0Hyposoter horticola<\/em>\u00a0\u00e9 parasitada pela\u00a0Mesochorus cf. stigmaticus<\/em>, outra vespa que p\u00f5e seus ovos na larva da vespa\u00a0H. horticola<\/em>.<\/p>\n\n\n\n

Em alguns casos raros, pode at\u00e9 haver hiper-hiperparasitas, como\u00a0um fungo que se hospeda em um parasit\u00e1rio de outro fungo que, por sua vez, parasita uma \u00e1rvore. Na Nova Zel\u00e2ndia, o fungo\u00a0Rhinotrichella globulifera<\/em>\u00a0se alimenta de partes mortas do fungo\u00a0Hypomyces c.f. aurantius<\/em>\u00a0que, por sua vez, se alimenta de fungos poliporos\u00a0Fomes hemitephrus<\/em>, que coloniza faias.<\/p>\n\n\n\n

Salve os sugadores de sangue <\/p>\n\n\n\n

Apesar de sua import\u00e2ncia, os parasitas s\u00e3o \u201cbastante negligenciados\u201d, afirma\u00a0Jessica Stephenson, professora assistente da Universidade de Pittsburgh que estuda o parasitismo evolutivo.<\/p>\n\n\n\n

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Um fungo do g\u00eanero\u00a0Ophiocordyceps<\/em>\u00a0brota dos restos de sua formiga hospedeira.
FOTO DE\u00a0ANAND VARMA, NAT GEO IMAGE COLLECTION<\/strong><\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Os programas de conserva\u00e7\u00e3o, por exemplo, frequentemente negligenciam esses organismos. Os parasitas s\u00e3o mais amea\u00e7ados do que outros organismos, de diversas maneiras, principalmente pelas\u00a0mudan\u00e7as clim\u00e1ticas.\u00a0Em primeiro lugar, existem os efeitos diretos do aumento das temperaturas globais, que no passado causaram in\u00fameras\u00a0extin\u00e7\u00f5es em massa. Mas se um \u00fanico hospedeiro de diversos parasitas for extinto, ele pode exterminar v\u00e1rias esp\u00e9cies de parasitas de uma s\u00f3 vez.<\/p>\n\n\n\n

\u201cDada a sua hiperdiversidade, isso pode significar que os parasitas hospedam a maioria das esp\u00e9cies amea\u00e7adas de extin\u00e7\u00e3o\u201d, escreveram Kwan e\u00a0seus coautores em um estudo de 2020\u00a0que reitera um \u201cplano global de conserva\u00e7\u00e3o de parasitas\u201d. O artigo descreve diversas maneiras de proteger os parasitas, como list\u00e1-los como esp\u00e9cies protegidas.\u00a0<\/strong><\/p>\n\n\n\n

\u201cPraticamente todo animal amea\u00e7ado de extin\u00e7\u00e3o acarreta o risco de extin\u00e7\u00e3o de parasitas, muitos deles sendo de esp\u00e9cies novas\u201d, afirma Kwak.<\/p>\n\n\n\n

Kwak foi\u00a0um dos primeiros a documentar o risco de extin\u00e7\u00e3o do carrapato da esp\u00e9cie\u00a0Amblyomma javanense<\/em>, que se hospeda no\u00a0pangolim-malaio, criticamente amea\u00e7ado de extin\u00e7\u00e3o, origin\u00e1rio do sudeste da \u00c1sia. Ele tamb\u00e9m deu o nome comum em ingl\u00eas a um dos parasitas mais raros da Austr\u00e1lia, a pulga da esp\u00e9cie\u00a0Stephanocircus domrowi<\/em>, parasitoide do gamb\u00e1\u00a0Gymnobelideus leadbeateri<\/em>,\u00a0<\/em>criticamente amea\u00e7ado de extin\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 importante observar que essas iniciativas de conserva\u00e7\u00e3o n\u00e3o se aplicam a parasitas humanos ou de gado, como o verme-da-guin\u00e9, que causa uma doen\u00e7a debilitante na qual o verme emerge da pele de uma pessoa, de acordo com o estudo.<\/p>\n\n\n\n

Mas em muitos outros casos, salienta Kwak, \u201cessas esp\u00e9cies n\u00e3o s\u00e3o necessariamente prejudiciais para seus hospedeiros. Os parasitas s\u00e3o apenas passageiros nessa longa jornada evolutiva… e vale a pena proteg\u00ea-los visando \u00e0 integridade e estabilidade do ecossistema\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: National Geographic Brasil<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

O parasitismo \u00e9 uma forma de simbiose \u2014 uma rela\u00e7\u00e3o estreita entre dois organismos. Alguns parasitas, chamados de parasitoides, s\u00e3o fatais para seus hospedeiros. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":174196,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[405,577,4831],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/174195"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=174195"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/174195\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":174199,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/174195\/revisions\/174199"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/174196"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=174195"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=174195"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=174195"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}